Capítulo 5

1698 Words
Com um gemido frustrado Dean girou na cama escondendo o rosto no travesseiro ao ouvir a chuva batendo em sua janela. Claro que, morando em Warbury já deveria estar acostumado. A cidade parecia se tornar cada vez mais chuvosa. Entretanto a tempestade que caía nesse dia era atípica. Ele até ouvia trovoadas. Provavelmente até o clima da cidade percebeu seu estado de espírito e resolveu lhe fazer companhia. Felizmente estava na casa dos pais ou sentiria o peso da solidão. Acreditava, embora negasse firmemente que estava a um passo de desenvolver um quadro de depressão. Estava saindo menos que o normal e o nível de diversão era quase zero. Nem mesmo as férias prêmio que foi forçado a tirar surtiram efeito. Ele simplesmente não sentia vontade de nada. Tanta apatia provocou aflição na família e amigos que não entendiam seus motivos. Sabiam que havia uma mulher assombrando sua mente, mas não conseguiam acreditar que alguém que tenha visto apenas duas vezes pudesse mexer tanto com o rapaz. Na noite anterior, quando comemoraram o aniversário de sua mãe Isabell, Chloe tentou conversar com o irmão e fazê-lo falar. Entretanto seus esforços foram em vão. Porém, obstinada como sempre, Chloe não se intimidou com o olhar irritado que Dean lhe deu. Aproveitando que o irmão dormiu na casa dos pais e que Oscar saiu cedo para o trabalho ela se arrumou com o esmero de sempre e saiu com a intenção de arrancar de Dean o que o deixava tão aflito. Foi recebida pela mãe, que observava a chuva sentada em uma cadeira na varanda. Isabell adorava o clima da cidade e talvez só por isso Markus tenha aceitado permanecer em Warbury, já que recebeu propostas muito boas para trabalhar em Nova York. — Oi mãe, bom dia. — Bom dia querida. Pensei que fosse dormir até mais tarde. — Nada. Oscar foi trabalhar e eu pensava coisas demais para conseguir ficar na cama. — Seu irmão? Chloe suspirou e se sentou no braço da cadeira onde a mãe estava. — Não está preocupada mãe? Dean está ficando depressivo. — Estou. Tentei falar com ele, sugeri uma consulta a um psicólogo, mas nada. Pelo jeito veio tentar falar com ele. — Tentar não... eu vou falar com ele. Já acordou? — Passei no quarto dele há alguns minutos, ainda estava na cama.. Chloe se levantou e após dar um beijo no rosto da mãe adentrou a casa indo direto ao quarto do irmão no segundo andar. Entrou sem bater e estranhou ao ver a cama vazia. Mas Dean escolheu esse momento para sair do banheiro com o rosto ainda amarrotado, apesar da umidade denunciar que tinha acabado de jogar água, talvez numa tentativa de acordar. Ele gemeu quase desesperado ao ver a irmã parada ali. Ela arqueou a sobrancelha perfeita e cruzou os braços em frente ao corpo. — Esse muxoxo de desagrado foi para mim? Porque se foi eu vou socar sua cara. — Você sabe que foi e não vai socar nada. Não se bate em cachorro morto. Ela rolou os olhos e se sentou na cama, batendo ao seu lado para que ele se sentasse. Sabendo que não haveria nada no mundo que impedisse a irmã de ter a conversa que pretendia, Dean se sentou ao lado dela. — Bom... eu já sei que se trata de uma mulher que viu apenas duas vezes. Mas não sei de mais nada, exceto que você anda jogado feito um cão maltrapilho por ai. Portanto, trate de falar tudo antes que eu arranque sua língua. — Chloe... sempre tão carinhosa. — Sem brincadeiras, Dean. É sério... estamos todos preocupados com você. — Eu sei. Sei que estou agindo como um i*****l, mas não estou conseguindo alcançar um ponto de equilíbrio entende? — Talvez eu entenda se você me contar tudo desde o começo. Não foi o fato de saber que Chloe o infernizaria o resto do dia que fez com que Dean contasse tudo. Na verdade ele estava cansado de guardar aquilo dentro de si, cansado de tentar encontrar uma solução para o seu caso quase impossível. Apesar de ser um tanto afoita e impaciente, a irmã era uma boa ouvinte e permitiu que ele contasse tudo, desde quando viu Makenzie Cannon pela primeira vez no pub ate sua partida, sem que ele sequer tivesse chance de conhecê-la melhor. Quando terminou seu relato, ambos permaneceram em silêncio. Dean aliviado e Chloe pensativa. — Diga alguma coisa. — Pediu quando o silêncio começou a incomodá-lo. — Sou um louco, não é? — Não. Você apenas sofreu a tal paixão a primeira vista.. O que me assusta é ver você se afundando em uma depressão por causa de uma mulher que provavelmente você nunca mais verá. — Eu sei! Eu sei e é isso que está me enlouquecendo. Como posso estar tão louco para tê-la por perto se não sei nada a respeito dela, exceto que é linda, apanha do namorado e está grávida dele? — Meu irmão... eu sempre o incentivei a encontrar uma garota legal e se amarrar. E o entendia quando dizia que a garota certa ainda não tinha aparecido. Mas agora eu me sinto na obrigação de dizer siga em frente e tente esquecer essa Makenzie. Você não faz ideia de onde ela esteja e isso foi há oito meses! Além do mais ela estava grávida. Já deve estar dando a luz e... — Chloe suspirou pesadamente. —Parou para pensar nisso? Ou você já superou sua aversão a crianças? Ele engoliu seco e balançou negativamente a cabeça ouvindo o suspiro quase impaciente da irmã. — Você não acha que está na hora de buscar uma ajuda especializada a respeito disso? — Eu já busquei lembra? — E você foi quantas vezes? Duas? Três? As coisas não são assim de uma hora para outra, Dean. Olha... eu sei que você era muito novo e aquele experiência foi traumática para você, mas... — Chloe... não. Agora, não por favor. — Ok. Eu não vou insistir. Mas infelizmente tenho que ser severa com você nesse momento. Primeiro... se você não tem a mínima esperança de encontrar essa mulher... siga em frente. Vá se divertir e quem sabe encontrar alguém legal. Não se esqueça... caso por um milagre você a reencontre e queira algo a mais com ela, essa mulher tem um filho. É um pacote completo, Dean. Não da para escolher um ou outro. Ela se levantou e deixou um beijo na cabeça do irmão saindo do quarto. Não gostava de ser tão rude com ele, mas não via solução para essa situação. Amargurado, Dean admitiu que a irmã tinha razão. Não era saudável continuar com essa obsessão. Precisava seguir em frente e esquecer aquela ruiva. **** Um sorriso genuíno enfeitava o rosto de Kenzie enquanto caminhava observando a bela fileira de casas de pedra. Na pequena Bibury em Gloucestershire, Inglaterra, ela descobriu seu pequeno pedaço de paraíso. Embora sentisse muita saudade de Warbury não poderia dizer que não estava amando aquele lugar. Desde o momento em que pisou no pequeno vilarejo em companhia de Paige ela sentiu a paz que tanto necessitava. Foram apenas dois meses no Texas antes de se mudarem para la. Na pequena e acolhedora casa que pertenceu aos avós de Paige ela viveu dias tranquilos, longe de toda a preocupação com a pessoa que atualmente mais repugnava na vida. Sabia, através de alguns amigos chegados de Paige que Harvey estava colocando a cidade de cabeça para baixo a procura dela. A amiga se encarregou de deixar várias pistas falsas sobre o paradeiro das duas. Não queria aquele canalha de volta à vida de Kenzie. Pensar nisso trouxe de volta à sua mente alguém que ela lutava para esquecer. Dean. Aquele nome e aquele rosto rondavam sua mente dia e noite. E não poderia ser de outra maneira já que Paige insistiu por um bom tempo para que ela entrasse em contato com ele. Mas não havia sentido em fazer isso. Eles nunca mais iam se ver novamente. Foi o que pensou logo que chegaram ali. Agora, com a doença da mãe de Paige ela não viu outra opção a não ser voltar para Warbury. Não queria ficar sozinha na Inglaterra prestes a dar a luz. Felizmente soube por fonte segura que Harvey fora promovido na empresa e seu novo cargo exigia que ficasse pelo menos quatro meses trabalhando na Irlanda. Sendo assim ela teria tempo para recolocar sua vida em ordem e pensar no que faria se algum dia eles se reencontrassem. Precisava garantir sua segurança e de sua pequena. Ela já sabia que teria uma menina. — Sentirei falta daqui. — Falou parando à porta de casa e deslizando a mão pelo ventre. — Talvez algum dia possamos voltar a morar aqui, meu anjo. Passou as mãos no rosto secando as lágrimas que já transbordavam de seus olhos. Foram apenas cinco meses ali com Paige, mas as duas tinham uma boa história para relembrar daqui a alguns anos. Porque sim... daqui a alguns anos esperava ter a amiga ainda em sua vida. O que Paige fez por ela não tinha preço e ela se sentia eternamente em dívida com ela. — Kenzie? Está sentindo alguma coisa? Ouviu a voz preocupada de Paige que através da janela viu a amiga parada aos prantos do lado de fora. Rapidamente abriu a porta e foi até ela colocando a mão em seu ventre. — Está tudo bem? — Sim. Só... emocionada. Pensando nos dias bons que passamos aqui. — Ow... eu também já estou saudosa. — Obrigada por tudo Paige. Do fundo do coração. — Você é minha melhor amiga. Não precisa agradecer. Além do mais... eu ganhei uma afilhada. Se inclinou e deu um beijo na barriga de Kenzie. Imediatamente a pequena se moveu fazendo as duas rirem. — Viu? Ela já me ama. — Eu também amo você. Paige a abraçou e fechou os olhos. Prometeu que cuidaria de Kenzie e nunca mais permitiria que o canalha se aproximasse novamente. E ela faria o impossível para manter mãe e filha seguras. Nem que para isso precisasse fazer o que prometeu a Kenzie que jamais faria.
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