A Lua de Sangue

06 - Greta Leblanc

Greta Leblanc

Levanto da cama e procuro com o olhar por Thalan ou até mesmo por Vandon, mas não havia nenhum dos dois dentro da toca, com certeza ele já deve estar na sede onde nosso pai Hazel fica. Deixo o calor da transformação me consuma e logo podia ver os pelos da pata de Ísis. Minha loba estava em alerta, talvez algo que estava pairando no ar.

Passo por baixo da queda d’água, molhando os meus pelos e lembro do pouco de sangue que havia na pelagem entre minhas pernas. Com um cuidado extremo me limpo até que fico satisfeita em me ver branca novamente.

Podia sentir a euforia de Ísis em minha consciência, ela estava feliz por finalmente ser aceita por Thalan e Vandon.

“Eu também estou feliz!”

Murmuro e ouço a minha loba grunhido é como se ela não acreditasse no que estava pensando e a toda poderosa da minha loba, diminui a sua corrida para dar atenção ao que estava dizendo.

“Sabe que temos que ter cuidado e se nosso pai não aceitar e os anciões?”

Penso cruzando os braços, é como se me sentasse e observasse a minha loba que não queria aceitar o que pode ser uma realidade.

Thalan é o filho do alfa da nossa alcateia, se realmente acontecer uma guerra, algumas coisas podem acontecer.

“Ele não nos deixará”

Ísis praticamente rosna em minha cabeça. Posso sentir a fúria que ela estava sentindo e tenho certeza que com a raiva que emanava de dentro dela será difícil voltar para a minha forma humana.

Decido me calar, não quero minha loba frustrada é perigoso para ela e principalmente para mim que ficarei presa dentro dela até que ela se acalme e me permita sair.

Voltamos correr e em pouco tempo estava entrando em nossa casa, respiro fundo e vou para o meu quarto, sinto os cheiros de meu pai Hazel e minha mãe Tara. Não tenho palavras para expressar toda a gratidão que tenho por eles cuidarem de mim, quando fui simplesmente abandonada na frente de sua porta, sem um bilhete ou algo que explicasse algo.

Entro em meu quarto e noto que estava sozinha, a sede não é tão longe e posso ir andando até lá, faço com que Ísis se sente e a convenço a me deixar sair. Entrar na sede é melhor comigo como humana do que como uma loba que parece bastante possessiva.

Respiro aliviada ao sentir o meu corpo se tranquilizando depois que se tornou humano, caminho pelo meu quarto e escolho um vestido leve e uma sapatilha para poder ir caminhando. Olho para o quarto simples e vejo os meus livros ali no canto, estava me preparando para no próximo semestre poder ir para Valência estudar medicina e depois voltar para Palma a ilha onde residimos.

Sei que Thalan encontrará um meio para poder sempre nos ver, depois que viajar para a faculdade. Olho para tudo mais uma vez e saio de casa andando tranquilamente, sou cumprimentada por vários outros lobos que sei que me desejam e apenas sorrio ouvindo a minha loba rosnar.

— Já ouviu falar em educação? — Digo rindo baixinho.

“Direi ao Vandon a sua educação”

— Ele não fará nada…

Digo rindo e sinto o meu peito vibrar desejando a transformação. Paro de andar e tento controlar a explosão dessa loba raivosa com desejo de esquartejar os dois homens que apenas me disseram “oi”.

— Se acalme… — Digo e fecho os olhos me controlando.

“Pertencemos a eles!”

Sento no grande chafariz de frente para a sede e tento me acalmar vendo os pequenos lobinhos brincando com os jatos de água que saem do chão, é lindo ver os diversos lobinhos vermelhos brincando o que me faz lembrar que existe uma possibilidade de que dentro de mim haja filhotes.

Sacudo a cabeça e volto a caminha sentindo a minha loba pensando sobre o assunto. Ela parece ter ficado em choque e aproveitarei essa oportunidade e seguirei para a sede.

Assim que entro no grande prédio vejo Thalan caminhando pelo corredor e me aproximo dele, sei que ele sentiu o meu cheiro no momento que passei pela porta. O calor entre minhas pernas aumenta assim que ele abre aquele sorriso sedutor e o vejo caminhando até mim.

Thalan me recebe com um beijo cheio de promessas e demostra toda a sua possessividade quando aperta os cabelos na minha nunca, sem trocar nenhuma palavra sei que ele logo estará comigo. Posso sentir Ísis rosnando ao perceber que temos que deixá-lo naquele momento para poder resolver o que veio fazer aqui.

O vejo se afastar indo em direção ao salão onde todos devem estar reunidos e principalmente continuar olhando para o Thalan, ainda mais agora que ele disse que pertenço a ele. Subo para o mezanino e me sento na última fileira de cadeiras e fico meio escondida por uma pilastra.

— Precisamos formar uma aliança com os Sioux e nada melhor do que uma aliança por meio de um casamento! — Ouço o nosso pai falar.

Sinto o meu coração palpitar forte e os olhos de Thalan se encontra com os meus.

— Pai, podemos conversar? — Thalan pede se aproximando do alfa Roux.

Mesmo de longe posso ver o olhar censurando o filho e quando o Thalan me olha, nosso pai segue o seu olhar e me encontra ali, ficou tão claro como a água que havia algo entre mim e o filho do alfa. Não deixo de perceber quando o nosso pai se irrita.

— O casamento está marcado para amanhã e isso é tudo! — Nosso pai exclama.

Estava em choque naquele momento, enquanto sentia o meu coração se despedaçando com a decisão final do alfa sentia o desespero em minha loba, ela estava com a mente acelerada e a controlar será difícil.

Mas preciso saber o que acontecerá, preciso ter noção do que Thalan irá decidir.

As lembranças de tudo o que aconteceu em sua toca voltam a minha memória assim como o beijo possessivo que ele acabou de me dar antes de entrar as escondidas para assistir à reunião do conselho.

Saio dali e sigo em direção o escritório que nosso pai tem, posso estar sendo imprudente ao ir ouvir a conversa que ele terá com Thalan, mas é a minha vida que também será influenciada com essa escolha de Thalan se tornar noivo de uma loba da alcateia Sioux.

Começo a andar com os pensamentos do sentimento que tenho por Thalan ofuscando os meus olhos e só percebo estar indo em direção ao mar quando me nas areias da praia. Tento controlar a angústia que sinto em meu peito e empurrar a minha loba para um lugar que ela não consiga sair nesse momento.

Não quero que ela sofra mais que o necessário, sei bem que terei que controlar a fúria dela pelas próximas semanas, caso Thalan não consiga convencer o nosso pai, que ele me deseja. Se ele me rejeitar…

Meu olhar se ergue e vejo o sol a pino e que ainda iria demorar muitas horas, para a minha deusa surgir e me trazer algum conforto.

— Por que outra rejeição? Pensei que ele seria diferente, que lutaria por mim…

“SOMOS DELE”

Ísis grita em minha cabeça e seco uma lágrima que escorre por minha bochecha. Sinto os meus pelos se eriçar quando ouço uma aproximação vindo por trás de mim.

Não tenho coragem de olhar, sinto o cheiro de terra molhada e tabaco o que faz com que saiba que é meu pai de criação que estava se aproximando. Tento manter a minha postura despreocupada, mas a minha loba está raivosa dentro de mim, ela quer sair e se afastar dele, ouço-a gritando para correr.

— Greta, querida, conversei com o Thalan e vim aqui para dizer a você que é impossível vocês ficarem juntos! — Respiro fundo, mas a minha força interna quer explodir em cima do homem que me criou.

Ouço o som que meu pai emite, fazendo com que a minha loba se curve, aceitando o que o alfa de nossa alcateia estava falando, tento manter a minha calma para não sentir o peso do alfa que acabou de sentar ao meu lado.

— Não posso então ser reivindicada por ele? — Pergunto e vejo o nosso pai apenas n**a com a cabeça.

— Quero te enviar para a cidade querida, termine sua faculdade de medicina, talvez se um dia superar a sua ligação com ele possa volte para casa. — Ele diz e sinto as lágrimas se formando.

Olho para o homem sentado ao meu lado e constato o quanto Thalan puxou as semelhanças do nosso alfa, tem o mesmo tom de pele e a cor de seus cabelos são idênticos, mesmo ele sendo uma fera quando protege a sua alcateia, dentro de sua toca ele é um lobo que cuida com amor de todos nós.

— Aceito ir embora, mas quero ir hoje, não quero participar desse casamento, minha loba está sofrendo com a rejeição… — Ele apenas concorda e suspira me puxando para um abraço.

— Sempre soube que havia um sentimento entre a sua loba e o lobo do Thalan e me surpreendo o quanto vocês demoraram para se conectar, sinto muito que não posso remediar a situação. — Afasto um pouco e o olho surpresa.

Meu líder sorri para mim. Ele não fala mais nada, apenas se levanta e estende a mão para poder segui-lo. Caminhamos em direção a nossa casa, com o pensamento fixo de pegar apenas o necessário, preciso apenas me organizar e me afastar o máximo possível de tudo o que me lembre de nossa alcateia.

Duas horas depois estávamos saindo de casa com o meu pai dirigindo o carro, minha mãe Tara triste por não aceitar assim como a minha loba o meu destino. Estava fazendo o caminho mais doloroso da minha vida. Iria embarcar para Valência deixando Palma para trás e o lobo que eu amo.

Durante todo o caminho não conseguia falar nada, parecia que minha língua estava pesada e que minha voz foi tragada com o meu coração, para algum lugar longe e distante.

Até mesmo a minha loba estava melancólica dentro de mim, não conseguia entender os sentimentos dela, uma hora era de pura fúria, outra hora era de mágoa e nesse momento ela estava melancólica, quase depressiva.

Mas não me prendi nisso, aceitei o que me havia acontecido e mais uma vez fui rejeitada.