CAPÍTULO 31

1185 Words
“Talinara” chamo-a tentando ser cautelosa com as palavras, pois percebo que não está bem, “O que aconselha-me vestir para esse encontro com Aline? Acha que tem alguma chance dela ensinar-me etiquetas?” brinco tentando a descontrair, e consigo um sorriso. “Ava, não esteja mais bonita que ela, escolha algo que te apague, isso se conseguir”. “Está dizendo que sou linda?” respondo pensando em caprichar em meu estilo, enquanto brinco, “irei maravilhosa, pois pretendo a matar de raiva” saboreio meu plano “quero que surte, que não consegui conviver no mesmo espaço que eu, e coloque-me para fora na primeira oportunidade que tiver”. “E se o lorde não deixar e as coisas ficarem insuportáveis?”. “Acha que o lorde se importa? Ele quer que nós duas nos matemos por ele, assim como Aline está disposta a fazer, o miserável quer ser exibido como troféu”. Respiro fundo e engulo uma dor amarga que parece descer para o coração e não o estomago, inclino-me para ela, sinto que meus imensos olhos estão engolindo-a, a constranjo ao ponto de a fazer desviar o olhar “Por que acha que a deixou responsável por mim? Ele pode ser um bom dono para você, mas a mim não engana não, mesmo sendo...” recuo sem graça enquanto minhas bochechas passam a corar entregando o que pensei. “O que estava dizendo?” ela pergunta me perfurando com seus lindos olhos castanhos escuros, deixando escapar uma risada sarcástica. “Nada” tento recuar, “não estamos atrasadas?” tento mudar o assunto, “você não planeja deixar Aline esperando, não é?”. “Você é muito inteligente, sabe falar bonito, ajuntar as palavras, mas não está pensando direito em relação ao lorde, pois o jogará nos braços da bruxa”. “Nunca o tirei de lá” retruco. Encerramos o assunto ardido, enquanto começo a prepara-me convicta de que Aline se livrará de mim após chá, então mesmo sentindo um desconforto, acredito que na alma, confesso estar nervosa e apreensiva, mas tento disfarçar. Talinara começa a desfazer minha trança, enquanto penso em deixar os cabelos soltos, naturais, não me identifico com os penteados, acho a maioria feio. “Não compreendo” ela diz puxando conversa, “A noite vocês estavam grudadas pelo pescoço e agora tomarão chá, antes estava nos braços do lorde e do nada ele te lança para o fim. “É realmente muito confuso, confesso” admito observando os cachos que faz em meus cabelos, “Mas anseio pelo desfeche final”. Novamente o silêncio prevalece, escolho um vestido preto para simbolizar meu próprio luto e em seguida saímos ao encontro da megera, estou com medo, mas sigo confiando que o desconhecido, não pode ser pior, do que o que aconteceu até agora. Vemos Aline a distância, ela conversa com um senhor gordo, com um bigode estranho, a pele bem cuidada. A roupa cara e bem cuidada, mostra ser um homem de posses. Puxo Talinara para o canto, evitando que Aline nos veja. “Está louca?” ela pergunta assustada. “Não vê que está ocupada?” respondo apontando para os dois, enquanto os espio. “Esse é o pai dela” diz Talianara na intenção de me fazer mudar de ideia, mas não dá certo. “Ela está aborrecida” comento abaixando o corpo, “cheguemos perto para ouvir o que falam”. “Não é boa ideia, se nos pegar, nos punirá”. “Tem razão” concordo com raiva da covardia de Talinara, “Ela não precisa te punir, está dispensada”. “Ava” ela responde enquanto forma um imenso bico. “Estou perdendo tempo, vá logo” peço áspera, enquanto corro encolhida e encosto na parede do jardim interno, em seguida Talinara corre e encosta ao meu lado. “Precisa estar atenta Aline, isso não pode voltar a acontecer” ouço o homem dizer, “Descobrirei quem é a ninfeta e a história dela, enquanto isso é seu dever é estar com ele, continuar a preferida. “Sei disso, pai a questão é que Robert está deslumbrado, nunca o vi assim, não sei se com ela será igual as outras”. “Não desfaleça, pois também é deslumbrante, faça com que passe, use seus truques, sempre foi boa com isso”. “Verei o que farei, mas minha vontade é sumir com essa menina debochada o mais rápido possível”. “Aline seu objetivo será ela, caso atrapalhe nossos planos, mas se for apenas fogo de palha, não a priorize, nosso tempo está acabando, mas agora arrume esse rosto, tem um chá para servir”. Meu corpo e mente fervilham, estão tomados pela adrenalina e curiosidade, olho para Talinara, essa é a primeira vez que a vejo tão pasma. Em meu intimo estou saltitante por saber que o lorde está fascinado por mim, eu, um trapinho sem rumo. Vejo que Talianara está sem reação, então pego em sua mão, e andamos o mais rápido que conseguimos encurvadas, dando de cara que a senhora de manhã, quando viramos a parede. Nós duas temos o semblante assustado, não sei o que virá depois, Talinara passa a minha frente se levantando, respira fundo e diz: “Então senhorita Ava, essa é minha mãe” ela olha para mim, e dá uma piscadela, voltando o olhar para a mãe, “ela insistiu” explicou para mãe e também me levanto. “É um prazer senhora” tento entrar na onda “sua filha é uma criada um pouco abusada, mas acostumo”. “As duas não me enganam” ela responde enquanto pousa a mão na cintura, “sei que estavam aprontando, mas prefiro não saber o que, entrem rápido as duas em minha cozinha”. Apenas obedeço “Senhorita Ava, Talinara contou que um dia desses a defendeu no café, sou grata por a tratar bem, quero retribuir, coma alguma fruta, deve estar faminta, depois vá para o chá”. Meus olhos se enchem de lágrimas e minha barriga de alegria, estava com fome e com saudade de comer frutas, costumo aguentar de dois a três dias, mas fico feliz em ter comida disponível e me sirvo de algumas frutas cortadas em cima da pia, agradecendo a todo instante. “Não conte a ninguém” ela adverte. “Não tenho para quem contar” sorrio deliciando-me com o sabor adocicado de uma manga, tentando lembrar quando foi a última vez que provei a fruta, como mais dois pedaços, agradeço e despeço-me pensando na conversa que ouvi. Volto para o jardim, dessa vez em pé, na intenção de ser vista. A cada passo a tensão se espalha, penso em ouvir mais e falar menos, mas tentar segurar minha língua é fácil, o difícil é controlar as expressões faciais. Quando nos aproximamos, um aroma adocicado está tomando o lugar, mas minutos atrás não tinha, sinto um calafrio, uma sensação estranha, mas estou aqui, e não tenho para onde voltar.
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