5- Missão

1068 Words
Capítulo 5 Gibi narrando : Cheguei de moto na contenção, acelerando e fazendo aquele barulho que todo mundo já sabe que sou eu que tô passando. O vento batendo na cara, meu pensamento tava rápido, mas eu sabia que tinha que ficar esperto, porque no morro, qualquer vacilo pode ser fatal. Quando parei a moto e olhei ao redor, a visão foi meio inesperada. Lá estava ela, uma loira, linda pra c*****o, mas... tinha algo estranho nela. O sol tava de rachar o couro, um calor dos inferno, mas a mina tava de vestido, até os pés, e eu não entendi muito bem o que ela tava fazendo ali, daquele jeito. Eu olhei pra ela de longe, tentando entender se era algum tipo de turista ou sei lá, algum tipo de engano. Nessa hora, o instinto de quem cresce no morro grita mais alto. Fui me aproximando devagar, sem pressa, observando ela. Ela tava com aquele olhar meio perdido, olhando pros lados, mas não parecia saber muito bem pra onde tava indo. Eu cumprimentei os menor ali que tava na contenção e me aproximei dela. Ela olhou pra mim com os olhos arregalados, como se estivesse com medo. E era pra estar mesmo. — E aí, mina? — eu falei, tentando manter o clima tranquilo, mas já sacando a situação. Ela me encarou, ainda com aquele olhar de quem não sabia bem o que tava fazendo ali. — Eu sou Gibi, sou o dono do morro — eu disse, me apresentando, mas de um jeito mais direto, sem enrolação. Ela arregalou ainda mais os olhos. — Muito prazer, Gibi. Eu sou Rafaela. Missionária Rafaela — ela respondeu, com um tom meio hesitante. Eu franzi a testa. — Prazer é só na cama Rafaela – eu digo e vejo a mina ficando vermelha na hora – Mas então tu é missionária? — eu perguntei, ainda tentando entender o que ela queria ali. — Sim, sou missionária — ela disse, firme, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Eu dei uma risada, sem acreditar muito. — Então dona missionária, o que aconteceu? Que tu veio parar aqui no meu morro? Tá perdida, é? — eu perguntei, ainda com um sorriso de canto, tentando ver se ela tava falando sério. Ela me encarou, parecia que estava ponderando se devia ou não me responder. — Eu vim passar um tempo na casa da minha tia. O nome dela é Bete, ela tem uma lanchonete bem na frente da praça — ela explicou, e na hora já liguei o nome à pessoa. — Já sei quem é — eu falei, acenando com a cabeça, já sabendo da tia dela. Ela me olhou com um pouco de surpresa, mas continuou falando. — Então eu posso ir? — ela perguntou, meio cautelosa. Eu olhei bem pra ela e antes de responder, me forcei a pensar. Primeiro, eu queria entender o que ela tava fazendo ali. — Calma aí, mas por que você tá no meu morro, então? Me diz aí — eu perguntei, sem pressa de liberar a entrada dela. Ela parecia bem sincera. — Estou aqui porque Deus me mandou — ela falou, olhando nos meus olhos. Aí eu não consegui segurar a risada. Fiquei sem palavras por um segundo e então dei uma gargalhada, achando graça, mas também me sentindo desconfortável com o que ela dizia. Eu dei uma risada meio nervosa, ainda sem saber o que pensar dessa mina. Ela tava falando sério, parecia que não tava nem aí pra quem eu era ou pro que acontecia no morro. Ela tinha uns olhos tão firmes, como se tivesse uma missão real. — Deus te mandou? — eu repeti, tentando processar. — Então tu tá no lugar errado, mina. Esse aqui não é lugar de missão não. Ela me olhou direto, sem vacilar, e disse: — Onde Deus manda, a gente vai. Eu não tô aqui pra causar confusão, só tô fazendo o que ele me pediu. Eu continuei olhando pra ela, sem saber se ria ou se ficava mais sério. Nunca vi alguém tão na minha cara falando desse jeito. Na real, a mina não parecia estar com medo de nada. E, com o rolê do morro, era pra ter mais receio, ainda mais com a fama que eu tenho. Mas ela não tava nem aí. — Você é maluca, né? — eu falei, dando uma risadinha irônica. — Mas, de qualquer forma, vai lá pra casa da sua tia. Só vou te dar um toque: aqui no morro, as coisas não são tão tranquilas assim, não. Melhor ficar de boa, ficar na tua. Ela assentiu com a cabeça, meio que entendendo a ideia, mas parecia que a cabeça dela tava em outro lugar. Eu a observei por mais um segundo e depois dei meia volta, sem dizer mais nada. Não sabia se aquilo era só mais uma doida ou se realmente ia dar trabalho. O que eu sabia é que, no fundo, não podia deixar ela entrar no meu morro sem um toque. Sai acelerando a minha moto até a boca, pensando no que tinha acontecido, até que cheguei e desci da moto. Fui caminhando até minha sala, e quando entrei, o Nando tava lá, já me encarando. — E aí, Gibi? Qual foi dessa cara aí, mano? — ele me pergunta, levantando uma sobrancelha. Eu paro, me encaro com ele e respondo: — Tu acredita que chegou uma mina nova no morro? Uma moradora nova, mano. Ele me encara, meio curioso, e perguntou: — E aí, qual foi? Qual é da mina, é gata? Eu dou uma risada sem graça e falo: — Gata, mano, mas a mina é mó sinistra, véi. Ela disse que é missionária. Você acredita nisso? A mina chegou na minha cara, dizendo que tá aqui porque Deus mandou ela. E mais, falou que tem uma missão pra cumprir no morro. Nando não conseguiu segurar o riso e começa a gargalhar. — Tá rindo de quê, caralhø? — eu falo, meio bolado, olhando pra ele. — Tô falando sério, véi. A mina falou esse bagulho sério pra mim, tipo, com toda a convicção. Nando, ainda rindo, balança a cabeça e diz: — Mano, ela só pode ser louca, véi. Quem é que chega no morro assim, toda perdida e falando esse bagulho? Não tem cabimento, não. Continua .... Deixem bilhetinhos amores ❤️ 📚
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