Romeu
Os sons monótonos dos instrumentos me deixam louco.
Parece que eu mesmo estou pronto para tirar os cabos das tomadas, cortar a eletricidade, e esperar tudo isso acabar!
Imagens da nossa última conversa começa a ecoar na minha cabeça.
— Irmão... Quantas vezes eu já disse isso! Use o cérebro Felix! Bem, não foi à toa que a natureza lhe deu essa massa cinzenta no crânio!
Felix riu e orgulhosamente se autodenominou um maníaco por adrenalina.
— Entenda, Romeu, a culpa não é minha! É adrenalina! Eu preciso que ele viva normalmente!
— Procure adrenalina de outro jeito!
— Com o quê? Ele sorriu com os seus trinta e dois dentes brancos perfeitos como a neve...
— Ganhando dinheiro, por exemplo! Causa adrenalina também! Jogar na bolsa é incrível, é pura adrenalina!
— Bom, mano, isso não é para mim agora! Eu... chegarei a isso em... anos! Quando eu me tornar como você, um velho e triste oligarca.
— Eu não sou um oligarca.
— OK! Eu sei. Você é apenas um cara rico, muito rico. Escute, calma, vai ficar tudo bem, mano...
Eu odiava a sua linguagem de pássaros, uma mistura de anglicismos idio*tas com gírias românticas de prisão.
Como eu poderia perder isso?
Eu sabia que a sua mãe era uma mulher frívola, sim, gentil, ingênua, mas simplesmente frívola. Você não pode confiar em alguém assim para criar um homem. E o pai... o pai amava demais a sua jovem esposa para se opor a ela.
Eu me culpei pelo fato do meu irmão ter se tornado do jeito que ele se tornou! Nem o meu pai, nem a minha madrasta. Eu culpei a mim mesmo!
Era necessário mandar Félix para a “escola de cadetes”, onde rapidamente aprenderia a “amar a sua pátria”.
E eu não estaria sentado na enfermaria agora, esperando o terrível veredicto dos médicos.
Eu me pergunto o que eles vão dizer?
O cérebro do seu irmão está morto, não adianta manter o corpo vivo!
Morte cerebral!
Ele já estava com morte cerebral quando entrou no carro para participar de corridas ilegais! E onde?
Num país onde, em princípio, se pode obter a pena de morte para tudo o que é ilegal!
Saio para o corredor. Eu preciso tomar café. Uma pequena porção da única adrenalina que sou capa de consumir agora.
O meu assistente mais próximo, o chefe do meu serviço de segurança, Pavel Streltsov, caminha pelo corredor com passos rápidos e claros. Sagitário, esse é o apelido que dei para ele. Sim, tenho um ponto fraco, dou apelidos a todos. Eu não consigo resistir.
— Romeu Igorevich, encontramos algo interessante.
Ele entregou o telefone de Felix.
Eu estou surpreso. E o que há de tão interessante nisso? A buc*eta nua de alguma mulher?
— Leia a mensagem. Respondeu Sagitário, como se tivesse examinado os meus pensamentos.
Já estou com treze semanas, amor, você não se importa mesmo?
— O que isso significa?
— Bom, pelo que entendi, uma senhora está grávida de um filho do Félix.
— Grávida? Então... ela vai ter um filho com o meu irmão?
— Bem, ela escreve que já está com treze semanas, os abortos na Rússia podem ser feitos até a décima segunda. Mais tarde apenas por motivos médicos ou... devido a grandes complicações.
— Ou você pode se livrar do seu bebê por muito dinheiro!
— Você quer se livrar disso?
— Não. Quero que essa jovem cade*la dê à luz a esse bebê! Talvez este seja nosso único herdeiro!
— Bem... ela pode não ser uma v***a e...
— Não importune, sagitário! Eu não gosto disso, você sabe! Olho para o “segurança”, percebendo que não devo descontar a minha raiva nele. — O que mais você descobriu?
— Bem... O nome dela é Anastasia Lvovna Romanova.
— Nossa, com certeza ela não pertence à família real né? Um sobrenome muito comum.
— Anastasia Lvovna mora na região de Moscou, um novo micro distrito em Khimki.
— O que Felix esqueceu nesses Khimki? Como ele se envolveu com ela?
— Bem... isso é... É mais provável que ela tenha se iludido com ele. A menina não é uma va*dia, ela tem ensino superior.
— De quanto tempo ela está agora?
— Provavelmente cerca de quatro meses. Bem, na última foto. A foto de uma gestante no terceiro mês foi enviada há muito tempo.
O que quer dizer, que ela já deu à luz.
— Quando?
— Ainda estamos acertando a data exata. Mas... ela enviou esta mensagem em janeiro, e agora é início de novembro.
— Houve apenas uma mensagem?
— Não. Talvez os anteriores tenham sido excluídos. Ou talvez posteriores também. Enquanto procuramos, estamos tentando descobrir.
Eu faço as contas na minha cabeça. Treze semanas... três meses. Além de mais seis.
— Acontece que ela deu à luz em julho? Presente de aniversário para Félix?
— Sim...
Um presente de fato! Um presente do destino!
Um bebê do Félix!
Eu preciso dele. Farei qualquer coisa para tirar esse bebê da sua infeliz mãe.
— Então. Prepare o avião, decolaremos em breve. Colete todas as informações sobre esta mulher. O quê, onde, quando, como? Eu quero saber tudo! Com quem ela mora, com quem ela dorme, com o que ela respira!
Quanto a criança?
Eu não tenho ideia do que fazer. Como convencer a mãe a desistir do filho?
Mas sou obrigado a trazer este herdeiro para a nossa família.
Esta é a única chance de ajudar o meu pai e a sua esposa a sobreviver à provável morte do seu amado filho.
Anastácia.
— Minha querida, cabelos dourados, linda! Quem é minha linda garota? Vamos dar um passeio agora?
Olho para a bebê e o meu coração se enche de ternura e amor por ela!
Minha Alice! Querida!
Tão linda! Calma, quieta! Como um anjo!
Desde as primeiras semanas de vida, ela não acordou quase hora nenhuma à noite. Eu a alimento às doze e depois só às sete da manhã.
Ela também dorme muito durante o dia e quase não chora!
Às vezes até tenho pena que ela só esteja dormindo, tenho vontade de brincar com ela, observá-la, conversar com ela, arrulhar, embora ela ainda seja um bebê e esteja aprendendo a pronunciar os primeiros sons.
Às vezes acho que ela sabe. Ela sabe que acabou neste mundo completamente por acidente. E que a pessoa mais importante da vida não precisa dela...
Aquele que garantiu o amor eterno.
Ele alcançou o seu objetivo e partiu para o pôr do sol. Aberração moral.
Suspirei, olhando para o bebê, que estava deitado com ar importante num modesto carrinho.
Eu me pergunto se ele a visse? O que ele diria?