Anastácia
Não gosto de ir à clínica infantil.
Não gosto de hospitais desde criança. Ou melhor, desde que me tornei mãe da Maria. Mãe, não madrasta.
Sempre tentei ser uma verdadeira mãe para as filhas do Leo. É verdade que tive problemas de me aproximar da mais velha.
Mas com Maria...
Ela claramente sentia falta da mãe. Ela precisava abraçar alguém, sentar no colo de alguém, esfregar o nariz, rir e até chorar...
Quando uma criança de um ano fica sem mãe é muito triste.
A primeira esposa de Leo, Albina, partiu inesperadamente. Apendicite.
Leo disse que ela era muito paciente. Quando ela deu à luz, ele foi com ela para a maternidade, então ela se preocupou mais com ele do que consigo mesma. Ela nem sequer gritou uma vez, embora tenha doído. Ela aguentou.
Então ela sofria de apendicite. Maria estava doente naquela época, estava com febre e quando o estômago de Albina começou a sentir dor, ela decidiu que não poderia se preocupar consigo mesmo e que a dor iria parar. Não parou. Ela foi levada ao hospital com peritonite e o seu coração parou. Leo me contou tudo isso.
Ele a enterrou e não conseguiu recuperar o juízo por seis meses. Foi quando nos conhecemos. Ele estava vivenciando a morte da sua esposa. E então foi quando Gena tinha me abandonado pela primeira vez. Primeiro amor, primeira traição, primeira dor... O filho que perdi. E as palavras do médico de que provavelmente esta era minha única chance...
E lá estava um lindo viúvo com dois filhos! Um leão. Meu Leo.
Não, por muito tempo apenas conversamos e caminhamos. Ele estava com um carrinho e eu estou com um cachorro. Naquela época eu também tinha um cachorro, Timka.
Conversamos sobre tudo que existe sob o sol. Leo era professor universitário, escrevia artigos científicos e era extremamente interessante estar com ele.
Então, de alguma forma, tudo aconteceu der repente. Era inverno, escorreguei, Timka me arrastou na coleira, quase caí, e Leo me apoiou e me abraçou. Mas eu não conseguia largar ele. Ficamos amontoados perto um do outro. Duas solidões.
Eu tinha então vinte e dois anos, Maria dois, Leo quarenta e dois e Anastácia doze. Sim. Tinhamos o mesmo nome. Brincávamos que éramos uma família de estudantes pobres.
Leo riu, dizendo que os seus colegas professores sempre tiveram medo de que Deus me livre de terem um caso com um jovem estudante. Ele nunca teve medo, ele tinha a sua amada Albina. E isso tinha que acontecer. Eu apareci. Eu era uma aluna.
De alguma forma, entendi imediatamente como me comportar com Maria.
Mas com a sua filha mais velha, Tácia, foi muito difícil. Ela não me aceitou. Ficou com muito ciúme. Também é uma idade muito difícil. E eu era muito jovem. No começo não entendi nada, só chorei. Leo também entendia pouco. Ele não a criou, tudo era responsabilidade de Albina. Quando ela ficou sozinha, não soube no que se agarrar.
E então, de alguma forma, meninas mais velhas abordaram Tácia na rua. Eu estava saindo da loja. E vi as meninas batendo nela. Eu corri até ela com fúria. Até bati em uma com a bolsa, a minha mãe veio até mim mais tarde para resolver o problema com a polícia, então contei tudo a ela! A menina é órfã, enterrou a mãe, não podiam importuná-la! E fui ao diretor da escola. Em geral, esqueci que tinha apenas vinte e dois anos e tinha acabado de me formar na faculdade!
Sara de alguma forma descongelou depois disso. Ficou mais calmo. Percebeu que eu não queria tomar o lugar da mãe dela, mas simplesmente... ajuda-la com tudo. Isso é tudo. Compreendendo perfeitamente que se Albina estivesse viva eu não estaria aqui.
Não, eu sabia que Leo me amava! Ele me amou! Mas se Albina estivesse viva, ele não teria olhado na direção da outra mulher. Ele era assim comigo também...
Ah... fecho os olhos, sentada à mesa da cozinha. Sinto as lágrimas rolando.
Eu realmente sinto falta dele.
E Tácia também está desaparecida. Mas... é uma história diferente com ela. E é melhor não lembrar de nada agora.
Eu rapidamente me arrumo e visto Alice.
Eu rolo o carrinho para fora da entrada. E por que fui chamado à clínica? Qual é a inspeção de rotina? Quais testes? Parece que fizemos tudo conforme o planejado em três meses?
Tenho muito medo que agora na clínica comecem a me fazer perguntas desnecessárias.
Felizmente, tudo corre bem. Eles coletam sangue do dedo de Alice e passaram um cotonete na sua boca. Eles explicam que este é um procedimento padrão, testando possíveis vírus. A criança é alimentada com fórmula e pode ter estomatite.
Não me lembro de ter acontecido algo parecido com Maria. Embora, comecei a ir ao médico com Maria quando ela já tinha mais de dois anos.
Voltamos para casa. Vejo um SUV branco familiar no estacionamento.
Interessante, ele aqui de novo. Visitando alguém? Ou ele comprou um apartamento?
Qual é o sentido de comprar um apartamento aqui? O seu carro provavelmente vale mais do que vários apartamentos desses juntos.
Pois é... a questão habitacional me preocupa muito. Nós nos mudamos para o meio do nada...
Fiz uma hipoteca quando tinha um emprego permanente, agora sou autônoma. É verdade que estou pagando o empréstimo deste apartamento, que foi deixado pelo pai para as meninas. Mas tenho constantemente medo de que o banco invente alguma coisa e aumente o p*******o ou os juros. Ou eles vão inventar outra coisa. Então não sei o que vai acontecer.
— Boa tarde.
Um arrepio percorre o meu corpo. Eu reconheço a voz. Linda, suave, não tão baixa quanto a de Leo, mas agradável.
Eu me viro e o vejo. O homem bonito de ontem.
Ele ainda é bonito hoje.
E eu... Pareço mais decente hoje. Eu pintei os olhos, alisei o cabelo e não vesti jeans, mas um vestido longo de tricô e aquelas mesmas botas plataforma de inverno que não dá para andar por mais de duas horas.
E ainda assim, ao lado dele, eu não pareço nem um pouco... bonita...
— Boa tarde. Repete o cara bonito, e eu apenas olho para ele.
Quero ser sarcástica, responder algo como: foi um bom dia até ver o seu carro, mas decido que não adianta ser rude. Desta vez, a sua carruagem branca está estacionada de acordo com todas as regras.
Parece que não é mais educado ficar calada. E eu sou bem educada.
— Olá! Ele sorri, aparentemente satisfeito por ter recebido uma resposta minha. Empurro o carrinho com a Alice adormecida na minha frente, indo em direção à entrada.
— Você está passeando de novo?
— Não, estávamos na clínica.
— Espero que a sua filha esteja saudável?
— Sim, obrigado. Apenas uma inspeção de rotina.
— Tudo bem.
Continuo avançando. O estranho está um pouco mais longe agora.
— Com licença, mas qual é o seu nome?
O que? Por que ele precisa disso? Eu pareço confusa. E ele sorri e estende a mão para mim.
— Eu me chamo Romeu.
— Desculpe, não estou com vontade de conhecer ninguém. Quero dizer isso com arrogância, mas sai meio-assombrado. E então eu percebo que as minhas bochechas ficam um pouco vermelha.
— Você nem vai me dizer seu nome?
Eu olho para ele, sem entender o que há de errado.
O que ele quer de mim? Talvez ele seja algum tipo de golpista?
Bem, vocês sabem, existem caras assim. Um gigolô.
Ele encontra uma mulher, se apresenta como um Pinóquio muito rico e, em algum momento, você descobre que ele tem problemas com os seus negócios, precisa urgentemente de dinheiro, e então pede à mulher que faça um empréstimo para si mesma e lhe dê o dinheiro. Essas pessoas geralmente têm um bom carro e roupas caras. Mas, na maioria das vezes, ele primeiro aluga um carro, depois diz que o entregou para conserto e muda para o compartilhamento de carro ou táxi.
Oh, Senhor! Eu realmente pareço uma idi*ota que pode ser “enganada” assim?
Eu sorrio. Em princípio, não apenas pareço... Gean conseguiu... "trapacear" e roubar todo o meu dinheiro.
Fiquei num estado terrível depois da morte do Leo. Ele foi embora, como a sua primeira esposa. Muito repentino para estar preparada e consciente.
Não, o seu coração o incomodava, mas ele não dava importância a isso. E eu... Agora me parece que fui simplesmente muito frívola para entender. Jovem e estúp*ida. Pelo menos, é o que eu acho. Mas, como eu poderia forçar um homem adulto a ir ao médico? Ele não entende o seu próprio corpo? Leo me garantiu que era apenas nevralgia, nada sério. E eu, to*la, acreditei.
Sara estava no último ano, ela estava se preparando para entrar na universidade. Exame de Estado Unificado, um mar de nervosismo. E a Maria estava entrando na pré-escola, e também tendo uma crise de idade.
Foi simplesmente um ano terrível.
Pareceu-me normal que Leo começasse a se cansar mais rápido, ele trabalhava muito. E então, ele começou a mudar. E perder peso.
Obriguei ele a tomar vitaminas, até comecei a repreendê-lo por assumir tantas coisas...
Foi, quando recebi uma ligação do instituto.
Ele caiu durante uma palestra. Ataque cardíaco extenso.
Lembro-me de como sentei com as meninas nos abraçando. Maria estava chorando. Tacia e eu... nem choramos. Simplesmente horrível! Terror e nada mais.
— Agora eles vão nos levar para um orfanato, certo? Você não é nossa verdadeira mãe, é? Bem... quero dizer... sinto muito, você é real, mas... Tacia, indagou.
Eu nem imaginava que isso pudesse acontecer! Mas é verdade, segundo os documentos, não sou ninguém para elas!
Eu estava me preparando para o infe*rno que nos esperava. Fui descobrir tudo na tutela e lá encontrei acidentalmente o Gean. Acontece que a irmã dele trabalhava lá.
Eles me ajudaram. Tudo foi decidido muito rapidamente. Bem, como decidimos? Bem, com algum dinheiro.
De alguma forma, aconteceu naturalmente que Gean começou a cuidar de mim.
Eu estava simplesmente perdida, como se estivesse em como. Eu realmente não conseguia voltar aos meus sentidos.
Ele veio, primeiro trazia buquês, depois começou a trazer frutas para as meninas, algumas guloseimas, bolos, doces.
Um dia ele simplesmente pegou e abasteceu uma geladeira cheia para nós.
Seis meses depois ele me pediu em casamento. Eu realmente não queria.
Claro que gostei do Gean, para ser sincera, lembrei-me do meu primeiro amor, tão afiado e apaixonado. Mas... eu estava com medo, por algum motivo não sentia total confiança nele. Tendo mentido uma vez...
E eu estava preocupado em saber como as meninas perceberiam essa situação. Tacia estava do meu lado. Ela disse que eu ainda era jovem e não deveria me enterrar. Maria não gostava do Gean, mas também me apoiava.
E no começo nem tudo foi ru*im. Até saímos de férias juntos.
Então Gean começou a pedir dinheiro para alguns dos seus projetos.
Eu tinha economias, o que o Leo deixou, como dizem, para um dia chuvoso. Tentei não gastar, guardei para as meninas, nunca se sabe...
Em geral, Gean decidiu que poderia facilmente sacar dinheiro do meu cartão.
E não falar comigo.
Eu era a esposa dele, certo?
E quando comecei a ficar indignada, ele ameaçou que as autoridades tutelares se interessassem pela forma como as minhas filhas viviam.
Escolhi esquecer o dinheiro e Gean.
Ele saiu, percebendo que não havia mais nada para tirar de mim.
Afinal, ele se aproximou de mim sabendo que eu era viúva marido professor. Ele esperava que Leo tivesse me deixado mais...
— Você está pensando em alguma coisa? O homem me tirou dos meus pensamentos.