ROMEU
Eu imediatamente sinto uma pegadinha.
Está tudo muito simples.
E algo está errado aqui.
Eu não sou tão idi*ota, Anastácia, como você pensa! Eu entendo que você queira me superar, mas como?
Ligo para Paulo, Ilona está na sala de jantar devorando a suas tortinhas favoritas com caviar preto.
Eu me pergunto se ela realmente adora ou come simplesmente porque o preço do caviar é superior a quinhentos dólares o quilo?
Prefiro caviar de salmão rosa, que é o mais barato.
É verdade que ainda não sou indiferente às iguarias, mas... consigo comer com tranquilidade até a comida mais simples. Purê de batata com costeletas, por exemplo. Ou borscht. Ou... frango frito.
Às vezes até me enfurece ter que passear por restaurantes e comer todo tipo de porcaria, como deflope. Sim, sim, às vezes também assisto filmes e sei que cachorros-quentes simples, são deliciosos.
É exatamente assim. Todos os tipos de ralé se reúnem nessas barracas de rua, que ganham em um mês tanto quanto eu ganho em algumas horas.
— Uh, então você acha que ela concordou em pegar o dinheiro? Ilona lambe graciosamente o caviar de uma tortinha. Por que se torturar tanto, ela deveria ter comido de colher...
Fico em silêncio e tomo um gole de café. Claro que já está frio!
Levanto-me e vou até a máquina de café. Na verdade, adoro fazer café. Mas agora não quero fazer isso. Entendo que não quero porque Ilona está sentada à mesa. O processo de preparar o café é íntimo demais para que eu faça isso na frente dela.
Claro, posso afastá-la. Está tudo bem, ela sobreviverá. Mas... por algum motivo fica interessante como essa mulher consegue calcular a lógica de outra mulher?
— Ilona, você aceitaria o dinheiro se fosse ela?
— Pelo meu filho? Que eu carreguei durante nove meses e dei à luz em agonia? Nossa, ela não é tão estúpi*da como eu pensava.
— Digamos. Eu carreguei e dei à luz. Não sei. Talvez eu não aceitasse.
— Talvez? Interessante! Que fatores influenciariam o seu consentimento?
— Como tudo aconteceu, o valor, como está a minha vida...
— Como está a sua vida?
— Bom, ah, desculpe... digamos que eu tenho vinte anos, não tenho perspectivas de vida, a criança está atrapalhando tudo...
— Ela não tem vinte anos.
— Não tem? Felix só gosta de jovens? Ela olha nos meus olhos e contorce a boca, percebendo que falou demais.
Eu sorrio. Ela estava realmente atraída por Felix? Ela poderia e ele aceitaria, mesmo sabendo que ela estava comigo. Ele é um caçador de emoções.
— Bem, ela não tem vinte anos? Então, desculpe. Eu não sei mais o que pensar. Ela então, não ficou com ele por interesse? Não queria o nome, dinheiro...
— Você faria qualquer coisa por luxo e dinheiro, não é Ilona? E se todo mundo pular do telhado?
— Você me conhece, Romeu, como todo mundo. Eu vou pular também. Então, digamos com vinte e cinco anos, o filho é a primeiro coisa na vida, mas tem educação. Um apartamento, por exemplo...
— Hipoteca.
— Sim. Você pode estar certa! Nesse caso, é necessário calcular as perspectivas. Ela pode pegar o dinheiro. Ter um filho nesta idade não é problema algum. Você está oferecendo a ela uma oferta decente?
— Decente. Continue.
— Bem... a próxima coisa que você sabe dela?
— Digamos que ela seja mais velha. E ela já tem filhos.
— Mais velha? Mais de vinte e cinco? Não pode ser.
Estou em silêncio. Não está nas minhas regras discutir a vida e os relacionamentos do meu irmão. Eu não conseguia entender o que o atraiu ele nessa Anastácia. No começo eu também não consegui.
Agora... Agora eu também não entendo.
Não entendo por que ela age dessa maneira. O que há de tão especial nela? Os seus olhos ingênuos? O seu nariz é reto como uma vara? Lábios carnudos? Se*ios pequenos? O que há de tão especial nisso?
Linda? Digamos. Mas existem muitas mulheres lindas. E não tenho nenhum desejo de... protegê-las. O que está acontecendo comigo?
E ela... Por alguma razão eu tenho. Contra todas as probabilidades.
Tenho certeza de que teve o mesmo efeito em Felix.
Uma essência feminina inexplicável. Eu não entendo mais nada.
— Ela tem mais de trinta? Existem outras crianças? Bem... então esqueça, Romeu. Ela não vai dar o que você quer, querido.
— O que?
— Ela não vai desistir! Nem por um milhão de dólares, nem por dez, nem por vinte.
— Por que? Onde está a lógica?
— Por quê. Não há lógica nisso. Há instinto maternal aqui. E consciência. E sentimentos.
— Como? Eu não consigo entender.
— Bem, existem tais sentimentos, Romeu. Sentimentos. Amor, por exemplo. Apenas amor. Altruísta. Incondicional. Materno.
Besteira. Eu não acredito que isso exista.
— Muito bem, Ilona. Você pintou tudo lindamente. Só que acabou de cometer um pequeno erro. Essa senhora entrou em contato e, no processo, está pronta para receber dinheiro.
Ela ri com desprezo. Ela descaradamente pega uma colher, pega o caviar preto, coloca-o lindamente na boca, lambendo-o com os lábios carnudos.
— Guarde as minhas palavras, Romeu, será mais fácil para você se casar estupi*damente com ela para ter esse bebé, do que tirar esse bebê dela!
— O que?
Casar? Serio? Não, eu realmente pensei que Ilona fosse mais inteligente.
— Vou dar dinheiro a ela, ela vai me dar a filha. Temos uma reunião em uma hora.
— Posso ir com você?
Por que não?
— Sim. Você pode ir, e ver que nenhum desses sentimentos que você descreveu pode ser maior do que o dinheiro.
Anástacia
— Boa tarde, Anástacia.
— Boa tarde.
Eu estou preocupada. Muito. Não, talvez, não muito... só estou tremendo loucamente. Tenho medo de que algo dê errado e...
E não sei o que fazer a seguir. Eu apenas não sei.
— Como você está se sentindo?
Eu me pergunto por que ele pergunta? Ele entende que estou nervosa?
— Você está bem, Asya?
— Não. Claro que não. De jeito nenhum.
— Claro. Como está a sua filha?
Olho para ele, a princípio sem entender de qual filha ele está falando. E o medo desce pela minha espinha como uma lagarta pegajosa.
Ele está, claro, interessado nas mais novas.
Maria e Alice.
— Elas estão bem. Ela... Maria está com ela agora.
— Não é assustador deixar um bebê com outro filho?
— É assustador, então... vamos terminar tudo rápido.
— Não podemos terminar rápido, porque há nuances e formalidades. E... eu ainda gostaria de ver a criança. Eu nunca olhei para ela.
Ele quer ver! Por que!
Ele não se importa com ela! Ele só precisa dela como troféu! Para manter o seu ego pessoal. Então, dizer: o meu irmão engravidou uma senhora, deixou-a, morreu, e eu, tão nobre, acolhi, sustentei e criei um órfã.
— Anástacia?
— O que?
— Por que você está quieta?
— EU? Estou esperando você me dizer.
— Tenho que dizer?
— E sou eu que tenho alguma coisa para falar? Você me ofereceu esse... acordo.
— Qual deles?
— Você... disse... caramba, no último momento me lembro. Não posso falar sobre isso! Isso é o que ele deveria dizer!
— O que foi que eu disse.
— Romeu, desculpe, não me lembro do seu nome do meio... Sinceramente, pesquisei no Google na Internet, mas me esqueci.
Mas, ele pode ficar sem está formalidade, pode ser apenas Romeu.
Sempre gostei desse nome. Mas agora só me dá cólicas. Nojento.
— Romeu, se você não está interessado, então... eu irei então. Preciso alimentar a minha filha.
— Você está amamentando?
Eu fico vermelha. Por que reajo dessa maneira a ele e a essas palavras?
— Não. Ela toma suplementos.
— O quê, você não tem leite materno?
Que... bastardo!
— Não. Secou. Porque houve estresse.
— Serio. O bebê fica melhor quando amamentado.
— Eu sei. Mas foi assim que aconteceu. Não é minha culpa.
Na verdade, não é minha culpa que isso tenha acontecido. Droga, por que pensei que seria tão fácil?
— Bem, devo ir?
Uma bela jovem entra em um café. Ele olha para Romeu avaliativamente e até parece sorrir para ele com o canto dos lábios. Aparentemente, ela entendeu imediatamente que ele não era um homem comum. Eu estou tensa. Eu me sinto desconfortável.
Pareço... um espinho perto dele.
— Romeu. Gostaria que você repetisse a sua proposta.
— Qual exatamente?
— Você está me tomando por idi*ota?
— Você acha que eu sou um idi*ota?
— Você não quer mais cumprir esse negócio?
— E se eu quiser?
— Então, o que está acontecendo aqui?
— Eu não sei, Anastacia, você sabe melhor.
Droga... estou com raiva de mim mesmo por ser tão idio*ta, e dele por ser tão inteligente...
Ele adivinhou? Mas como? Talvez... ele esteja me observando? O meu telefone está sendo grampeado?
Paulo! Provavelmente ele enviou Paulo para me perseguir!
— Ok, eu entendo tudo. Você recuou. Bem, adeus então. E você não precisa mais vir até nós. Eu não te conheço, você não me conhece.
— Anástacia, espere. Eu realmente gostaria de ajudá-la. Pense nisso. Você sabe o meu número de telefone.
— Eu pensei... Achei que hoje tudo estaria decidido. Mas se você não estiver pronto, é isso.
— Estou pronto.