O apartamento era um refúgio no topo do mundo, no décimo sexto andar de um elegante prédio no centro de Nova York. A vista que se estendia diante de mim era simplesmente deslumbrante, uma visão privilegiada da cidade que nunca dorme. Eu sempre me maravilhava com a grandiosidade dos arranha-céus e as luzes cintilantes que pintavam o horizonte.
Apesar de não gostar de depender do dinheiro do meu pai para ter esse luxo, eu precisava engolir meu orgulho e aceitar a realidade. Por enquanto, eu não tinha outra escolha. Mas isso estava prestes a mudar, afinal, eu estava começando a ganhar meu próprio dinheiro como assistente de Ian Novak.
Ao entrar no apartamento, exausta, joguei minha bolsa sobre o sofá e tirei as sapatilhas doloridas dos pés. Sentei-me no acolchoado macio, mas minha mente estava tomada por pensamentos sobre o que vi no restaurante. Ian ao lado daquela morena deslumbrante. Ela era linda, com um estilo sexy e um poder feminino que eu achava que me faltava. Sentia ciúmes, mesmo sem ter nada com Ian. Esse era um dos meus problemas.
Eu tinha em mente seduzi-lo e conseguir ser sua esposa, mas como eu faria isso? Deitei no sofá e me perguntou em voz alta:
- Como eu posso ser como aquela mulher? Ela é linda, irresistível. Mesmo com roupas boas e charmosas, eu nunca vou chegar aos pés dela.
A irritação se apoderou de mim e decidi ligar a TV para me distrair antes de tomar um banho.
No entanto, o canal que escolhi só me lembrou desse pesadelo. A apresentadora estava comentando sobre a aparição de Ian com a tal morena. Respirei fundo, com raiva, e peguei o controle remoto para desligar a TV.
- Essa mulher está me perseguindo. - murmurei para mim mesma.
Decidida a deixar esses pensamentos de lado, levantei-me e tomei um banho, esperando que a água quente pudesse acalmar minha mente inquieta. Escolhi meu melhor pijama confortável e, ao vesti-lo, lembrei-me do que Hugo diria:
- Ele me mandaria atear fogo nessa roupa.
Um sorriso distraído se formou em meus lábios por um breve momento, mas logo fui arrancada desse devaneio ao lembrar do ocorrido. Ian era o homem com quem eu sonhei nos últimos cinco anos. Planejei minha vida inteira ao seu lado e agora, que consegui um emprego tão próximo dele, não sabia o que fazer para conquistá-lo.
Eu nunca tive um relacionamento, nunca estive com ninguém. Antes da faculdade, eu era apenas uma nerd com o objetivo de me tornar uma mulher de negócios bem-sucedida. Mas quando entrei em Harvard, esbarrei no garoto de olhos azuis que roubou meu coração, e desde então me guardei para ele. Eu queria ser completamente dele.
No entanto, as coisas não estavam seguindo o plano que tracei. Ian estava mais próximo de mim do que nos últimos cinco anos, mas ele não fazia ideia de que eu estava ali. Ele estava acompanhado. Ao desistir de esquecer esse fato, deitei-me em minha cama, chateada, e tentei adormecer.
Enquanto as sombras da noite envolviam meu cansado corpo, minha mente continuava inquieta, repleta de perguntas sem respostas. Eu sabia que precisava encontrar uma maneira de conquistar Ian, mas como eu faria isso? O sono finalmente me envolveu, mas os sonhos turbulentos não me trouxeram qualquer alívio.
***
O barulho da campainha me acordou, me assustando. Eu sabia que era o Hugo. Ele nunca tinha muita paciência e apertava a campainha como se fosse um desesperado. Levantei da cama resmungando:
- Santa paciência, como ele consegue ser tão irritante?
Saí do quarto pisando forte, ainda do jeito que estava, até abrir a porta com uma careta. Hugo nem se importou e passou por mim com uma bolsa no braço. Fechei a porta e ele virou o rosto, afastando um pouco os óculos escuros, para me medir dos pés à cabeça.
Me preparei para a crítica que viria em um tom sarcástico:
- Livre-se dessa coisa horrorosa. Parece que comprou em um brechó. - Ele olhou para o apartamento, um pouco bagunçado, e disse: - Seu apartamento é um reflexo seu. Depois das compras, você precisa arrumá-lo. - Bufei de raiva. Se eu não durmo direito ou alguém me acorda, fico de m*l humor. Hugo completou: - Vamos tomar café, temos um dia cheio. Loja, salão, você precisa até mudar de personalidade. Sabe que vai começar logo no trabalho e...
O interrompi dizendo:
- Eu sei, mas se você não parar de me criticar, vou te jogar do décimo sexto andar. –
Ele deu um sorriso e disse:
- Flor, vamos logo.
Deu palminhas para que eu me apressasse. Voltei para o quarto, lavei o rosto, escovei os dentes e escolhi uma roupa. Olhei para dentro do meu closet e vi tudo o que Hugo odiaria ver. Optei por uma blusa branca de gola, uma calça de alfaiataria marrom e calcei uma bota preta. Deixei meus cabelos soltos e coloquei apenas os óculos. Assim que saí do quarto novamente, o crítico de beleza reclamou, dizendo:
- Você parece minha avó quando tinha a sua idade.
Revirei os olhos e sentei à mesa de vidro em frente à grande janela. Nova York estava com o céu cinza, assim como meu humor. Enquanto comia, Hugo fez questão de passar a lista de lugares que visitaríamos.
Em quinze minutos, estávamos no elevador, saindo no térreo e enfrentando o caos de Nova York. Eu estava começando a acordar de verdade quando disse:
- Hugo, eu aceitei isso, mas...
Ele me interrompeu:
- Nada de 'mas'. Você viu aquela morena sexy ao lado do Ian? Ele me lembrou daquilo que eu queria esquecer.
Respondi:
- Claro, e por que está me lembrando?
Hugo respondeu:
- Temos que encontrar a mulher interior dentro de você, aquela que vai deixar aquela mulher no chinelo.
Ri, pela primeira vez no dia, e disse:
- Acha que ele vai ter olhos para mim?
Hugo, egocêntrico como sempre, disse:
- Amor, depois desse dia, com uma transformação completa, ele só terá olhos para você. E a primeira coisa que faremos é entrar em uma loja de lingerie. Você precisa disso urgentemente. Não vai querer decepcionar Ian Novak.
Senti meu rosto arder de vergonha e apenas concordei quando ele deu a mão para parar um táxi.
O caminho até a loja de lingerie foi em silêncio, minha mente cheia de pensamentos tumultuados sobre Ian e minha falta de confiança em mim mesma. Ao chegar à loja, Hugo estava animado, como se tivesse encontrado um playground. Ele me puxou pela mão e começou a escolher peças sensuais, rendadas e provocantes. Eu me sentia desconfortável, mas sabia que precisava confiar no Hugo e em seu julgamento. Ele me conhecia melhor do que eu mesma.
Enquanto experimentava as diferentes peças, Hugo me encorajava constantemente. Ele me lembrava da minha beleza interior, da minha inteligência e do encanto único que eu tinha. Eu tentava acreditar nele, mas a insegurança ainda me atormentava. No entanto, lento foi me deixando levar pela atmosfera da loja, pelo toque suave dos tecidos e pela empolgação de Hugo.
Após escolher algumas peças que me deixavam ao mesmo tempo excitada e envergonhada, seguimos para o salão de beleza. Enquanto me sentava na cadeira, observava meu reflexo no espelho. Hugo se aproximou e sussurrou em meu ouvido:
- Confie em mim, Hanna, você é linda e merece se sentir assim todos os dias.
O cabeleireiro começou a trabalhar em meus cabelos, transformando-os em uma cascata de ondas soltas e sedutoras. Enquanto isso, uma maquiadora realçava meus olhos com sombras em tons quentes e delineava meus lábios com um batom vermelho intenso. Eu m*l conseguia reconhecer a mulher no espelho. Era como se uma versão mais confiante e vibrante de mim mesma estivesse surgindo.
Quando finalmente terminei a transformação, levantei-me da cadeira e me encarei no espelho mais uma vez. Os olhos verdes brilhavam com uma nova determinação, e um sorriso tímido se formou em meus lábios. Hugo se aproximou, olhando-me com admiração.
- Você está deslumbrante, Hanna. Tenho certeza de que Ian ficará sem palavras.