Acordei em meu quarto no apartamento alugado que meu pai disponibilizou para mim naquele momento. Tinha acabado de entrar na universidade, estava no segundo semestre, e amava todos ali. Tudo ali. Mesmo que alguns dos alunos fossem malvados comigo por causa dos meus modos e vestes. Eu sabia que era antiquada, mas gostava das roupas confortáveis, mais largonas, sem muita estampa, muitas vezes bregas. Isso, unido ao meu fundo de garrafas e a franja, me deixava com a aparência de um adolescente fútil e sem graça.
Mas naquele dia, eu estava focada. Era um dia de prova, e tinha passado a noite inteira revisando. Eu sabia que iria tirar uma boa nota, pois me esforçava 100% no que queria. Meu objetivo para o futuro era ser uma boa executiva, para mostrar ao meu pai que tinha capacidade.
Então, depois de tomar meu banho matinal, me arrumei colocando um vestido marrom de botões com uma bota escura, deixando meus cabelos soltos, e colocando meus óculos. Eu não gostava de maquiagem, então, simplesmente peguei meus livros, minha bolsa e saí. O apartamento não ficava muito longe da universidade, então, podia ir andando. Na verdade, gostava disso. Pensava tanto no que iria fazer durante o dia, que repassava tudo mentalmente enquanto andava pela calçada.
Entrei no gramado da universidade e fui diretamente para o corredor, onde milhares de alunos passavam, indo para suas salas. As horas se passavam lentamente enquanto caminhava para a primeira aula, onde faria minha prova. Entrei, e houve muitos burburinhos pela sala, pois um casal popular adorava contar sobre seu dia, seus sonhos para o futuro e muitas outras coisas irrelevantes. Revirei os olhos e fui para o meu canto, sentando em minha cadeira, esperando o professor entrar para fazer minha prova.
Scarlett e seu namorado, jogador de futebol, não paravam de gargalhar, falando besteirol. Os alunos se reuniam em volta deles. Eu apenas tentava viver e ser ignorada, como sempre. Mas, de vez em quando, ela levantava a voz, falando sobre alguma coisa feminina, e todos olhavam para mim. Eu encostei a minha mão na carteira e fiquei esperando o dia realmente começar.
Quando o professor entrou na sala de aula, todos rapidamente foram para os seus lugares. No entanto, algumas das minhas colegas de turma, mais ou menos populares, sentadas ao meu lado, ficavam cochichando, algo que eu não tinha interesse em ouvir. Só desejava que as horas passassem logo para fazer a minha prova e voltar para o meu momento solitário, onde eu poderia continuar estudando, ler um livro, ouvir uma música, qualquer coisa que me distraísse da realidade.
Então, no final da prova, finalmente pude sair. No entanto, algo no meio do caminho chocou-se contra mim, fazendo com que eu derrubasse os meus livros e quase caísse. Não olhei para o homem que estava na minha frente e apenas me agachei para pegar os meus livros, pois teria outra aula em breve.
Foi quando olhei para o seu rosto simpático, que sorria charmoso, os olhos eram azuis como o céu de um dia ensolarado. Sua pele era branca, seu rosto bem delineado com uma barba rala, seus cabelos eram pretos como a noite e os ombros largos. Provavelmente um jogador de algum time de futebol da universidade. Na verdade, ele até estava usando um casaco do time, vermelho, com traços pretos, mas tudo que eu conseguia pensar naquele exato momento era em como esse homem era perfeito, quase um príncipe.
Senti a minha língua adormecer, as palavras fugiram da minha mente e ele falou alguma coisa na qual só escutei segundos depois.
- Você está bem? Desculpa ter entrado bem na sua frente.
Eu estava parada no espaço. O mundo ao meu redor parou de existir. Eu apenas balbuciei, dizendo:
- Eu estou bem, não foi nada.
Coloquei uma mecha do meu cabelo loiro atrás da orelha, nervosa, peguei os meus livros e levantei, assim como ele. Poucos segundos se passaram.
O homem me olhou, e naquele momento, eu só achava que ele estava pensando o quanto eu era esquisita e brega. Eu desejei realmente ser outra pessoa naquele momento, ser igual a Scarlett, determinada, bonita, usando maquiagem para passar uma boa impressão. Nervosa e um pouco amedrontada, eu apenas saí andando apressadamente sem ao menos saber o seu nome.
Depois daquele encontro, corri para a minha próxima aula. Mas o dia, as aulas, as palavras, nada era percebido pelo meu cérebro. Tudo o que eu conseguia pensar era no garoto em quem eu esbarrei. Qual o seu nome, de onde ele era, qual turma, qual ano. Todas essas perguntas me consumiam.
Isso me levou a fazer algo que eu nunca pensei que faria. Conversar com outras pessoas e perguntar sobre alguém que estava começando a despertar meu interesse. Foi a uma pessoa que não era tão tóxica quanto a maioria dos alunos daquela universidade. O nome dela era Nina, e ela sabia muito sobre aquele lugar, inclusive sobre o time de futebol. Perguntei a Nina se ela conhecia algum garoto com aquelas características. E ela sorriu, dizendo:
- Querida, olha em volta. Muitos desses caras são quase iguais, como uma cópia um dos outros.
Timidamente, coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e comecei a fazer algumas perguntas, detalhando como ele era. Então, magicamente, o mesmo garoto passou por nós no corredor. Naquele momento, o tempo ficou mais devagar. Ele conversava com alguns de seus colegas, e eu simplesmente fiquei paralisada, olhando para ele, cada movimento do seu corpo.
Ele passou por nós sem ao menos olhar para mim. Eu não era uma pessoa significante em sua vida. Para ele, fui apenas um esbarrão. Mas para mim, as coisas eram bem diferentes. Apontei discretamente para ele, e Nina disse:
- Ah, esse é o Ian Novak, o filho herdeiro de um dos homens mais poderosos de Nova York.
Depois daquilo, só conseguia ter olhos para ele. E quando o dia finalmente acabou, voltei para o meu apartamento, tomei um banho, coloquei um pijama confortável e sentei na minha cama, deixando os livros de lado. Peguei meu telefone e pesquisei tudo sobre Ian Novak. Era como se o mundo inteiro girasse em torno daquele nome naquele momento.
Homens atraentes nunca foram capazes de capturar minha atenção. Eu sempre fui dedicada aos livros, com uma sede insaciável por conhecimento que superava qualquer desejo por relacionamentos. Meu grande sonho era conquistar uma bolsa em Harvard, o que acabou se tornando realidade devido às minhas excelentes notas. Minha aspiração seguinte era garantir um lugar em uma grande empresa e alcançar uma carreira executiva.
No entanto, naquele momento, minha mente teimava em se perder, repetidamente revisitando o encontro com Ian Novak. Era como se uma venda tivesse caído dos meus olhos, e de repente, me vi consumida por pensamentos inapropriados e anseios que nunca havia experimentado antes.