Bianca
Acordei com o barulho do despertador, enrolei um pouco, até que ele despertou novamente, só então tomei coragem para levantar, eu sabia que era preciso comer, e me preparar para o trabalho.
A noite havia sido muito agitada, e eu definitivamente não tinha dormido o suficiente para repor minhas energias.
Ao mesmo tempo que amava meu emprego, eu o odiava. E nesse momento, eu definitivamente estava o odiando.
Nessas horas, eu me sentia grata por finalmente ter terminado minha pós em administração, afinal, agora eu poderia dormir um pouco mais, sem me preocupar. E em breve, poderia arrumar outro emprego e regular meus horários.
Conforme comecei a estudar, devo admitir que me interessei muito pela área, mas essa foi definitivamente uma sugestão da minha mãe, ela disse que eu deveria investir nessa área, pois combinava perfeitamente comigo. Segui seu conselho, e devo dizer, ela estava certa, pois eu simplesmente amei estudar administração de empresas, tenho que admitir que minha mãe era uma mulher muito sábia.
Lembrar disso, me faz lembrar dela... Que saudade, do tempo que não volta mais. Mas eu sou eternamente grata a ela, pois ela sim, foi uma guerreira, ela foi mãe, e pai. Cuidou de mim, com muito amor e carinho, sempre me dando tudo de melhor. Ela era simplesmente danadinha, eu não fazia ideia de como ela conseguia juntar tanto dinheiro, mas ela sempre dava um jeito em tudo, até o final...
Soltei um suspiro e em seguida me levantei da cama, peguei o celular para checar as horas, e eram 15:00. Eu precisava comer alguma coisa, dar uma ajeitada na casa, e me preparar para trabalhar. Afinal, hoje era sábado, e era sempre uma loucura.
Caminhei em direção ao banheiro, para lavar o rosto e escovar os dentes. Em seguida, caminhei para a cozinha, afim de preparar algo rápido para comer.
Eu estava com vontade de comer macarrão com carne moída, e foi exatamente o que fiz. Depois de aproximadamente trinta minutos meu almoço já estava pronto.
Eu estava sentada terminando de almoçar enquanto checava minhas redes socias, e por um momento, me peguei pensando naquele homem que estava na boate, se eu tivesse o nome dele, poderia ao menos tentar achar suas redes sociais...
Putz! Não, eu definitivamente não estava em meu juízo perfeito, por que diabos eu estou pensando nisso?
Larguei meu celular sobre a mesa, e me levantei, afim de arrumar a cozinha e ajeitar tudo para trabalhar.
Não, eu definitivamente não deveria ir por esse caminho, afinal, eu provavelmente nem o veria de novo.
***
Vivian me olhou de cima a baixo assim que veio de encontro a mim, ao finalizar sua analise me lançou um sorriso divertido.
— Isso é para caso o gostosão apareça? — ela perguntou de forma sugestiva.
— Não, isso é para mim. — respondi.
A quem eu queria enganar? Quando escolhi esse vestido que acentuava totalmente minhas curvas, com um zíper traseiro totalmente sexy era exatamente naquele homem que eu estava pensado, eu sabia que ele provavelmente não voltaria, mas aquele e se... estava me atormentando, mesmo sabendo que não deveria.
— Qual é Bianca, você não usa vestidos a muito tempo, seu padrão é calça de couro apertada e cropped. O que é muito sexy, devo dizer. Mas hoje, você está querendo com certeza matar alguém, e eu aposto que seja o gostosão.
— Eu nem mesmo sei se ele voltará. — disse tentando me defender, mas era impossível, ela me conhecia, bem demais. — E se voltar, eu irei para bem longe dele, da mesma forma que fiz ontem.
— Ah, Bianca... de caras como ele, você não foge, não tem como. — Vivian disse com um sorriso sacana — Ele obviamente quer você, então você deveria aproveitar... f***r e esquecer.
— Aquele cara, está na categoria “f***r e se f***r” definitivamente.
— Você deveria parar com essas paranoias Bianca, só se vive uma vez, uma f**a não vai te fazer apaixonar. O seu problema, é se envolver, é ficar mais do que deveria. Esqueça isso por uma noite, e aproveite.
Fiz uma careta para ela, em seguida caminhei em direção ao balcão para atender o primeiro cliente da noite com um sorriso no rosto.
Como sempre, o movimento aumentava gradativamente, logo estávamos a todo vapor. As três primeiras horas, costumavam ser as piores, e então aos poucos o ritmo se estabilizava, fazendo com que eu e Vivian, conseguíssemos relaxar um pouco.
Eu estava conversando com Vivian quando um cliente se aproximou do balcão.
— Eai Bianca. — Luciano disse enquanto eu caminhava em sua direção.
— Ei Luciano, o que vai beber? — disse lançando lhe um sorriso amigável.
— Um chopp por favor. — Assenti com a cabeça e me virei para preparar sua bebida, em um e em um instante o entreguei juntamente com uma cópia do pedido.
— Por acaso achei seu insta esses dias e estava pensando, não trocamos contato até hoje. — Luciano disse tirando um cartão da carteira, em seguida me entregou, eu prontamente o peguei. — Me chama no w******p seria bom manter contato com você. — Piscou para mim, apenas assenti forçando um sorriso simpático. Então ele se virou, indo em direção a seus amigos.
Assim que o perdi de vista, dei uma olhada no cartão e o amassei, em seguida me inclinei um pouco para joga-lo na lixeira abaixo de mim.
— Isso é algo que faz frequentemente? — uma voz rouca invadiu o ambiente, fazendo com que meu corpo inteiro se arrepiasse. Eu não precisava nem mesmo olhar, para saber de quem se tratava. Era ele.
Subi lentamente meu olhar, até que o encontrasse a minha frente, com aquela mesma intensidade de sempre.
— Talvez. — respondi, tentando não deixá-lo perceber o quanto eu já estava afetada com sua presença. — O que posso lhe servir?
— Um Grand Old com gelo. — ele disse enquanto se sentava na banqueta a minha frente.
Assenti e me virei para pegá-lo, dei uma breve olhada para Vivian, que já me olhava com um sorriso sacana.
Voltei minha atenção para bebida e rapidamente a preparei me virando novamente para o homem, senti meu coração vacilar por um instante ao encontra-lo com sua atenção totalmente sobre mim.
Tenho a sensação de que minha reação a ele será sempre a mesma, toda vez que aqueles olhos estiverem fixamente em mim daquela forma, como se estivesse apreciando cada detalhe, me despindo inteira.
Entreguei a ele a bebida, e então me virei para atender outro cliente que acabara de chegar.
— Boa noite, o que vai querer? — Vivian foi mais rápida, então o cliente se virou para ela.
Rapidamente ela lançou me uma piscadela. Como imaginei, ela fez propositalmente, me deixando sem saída a não ser estar na companhia do homem a minha frente.
Eu estava ali, ociosa, torcendo para que qualquer cliente se aproximasse. Por mais que aquele homem não estivesse dizendo nada, o olhar dele sobre mim, me deixava totalmente sem rumo. Isso não era algo comum de acontecer, então eu simplesmente não sabia o que fazer.
— Ei Bianca. — Arthur disse chamando minha atenção para ele. — Como está o estoque de bebidas? Precisam de alguma reposição?
A pergunta de Arthur me dava exatamente o que eu precisava naquele momento, uma saída, uma fuga. E claro, eu não deixaria a oportunidade passar.
— Ah, sim. Algumas estão no final, mas deixa comigo, vou conferir e repor. Está tudo tranquilo por aqui. — disse passando o olhar pelo local o fazendo acompanhar.
— Tudo bem, qualquer coisa fala comigo. — Arthur respondeu, me dando um sorriso amigável. Retribuí seu sorriso, e caminhei em direção a Vivian, fingindo não notar que aquele homem continuava a me observar.
— Vivian. — Chamei sua atenção enquanto me aproximava. — Eu vou buscar uma garrafa de Johnnie Walker e Macallan, estão no final, quer que eu pegue mais alguma? — Vivian semicerrou os olhos para mim.
— Apenas essas.
— Ok, eu volto já.
Sem olhar para trás sai do balcão e caminhei por algumas mesas, até me encontrar na dispensa, era uma porta, com uma placa de aviso: “Entrada permitida apenas para funcionários.” Havia uma trava de segurança, digitei a senha e entrei, a deixando entreaberta pois sairia logo.
Com toda calma do mundo, me dirigi a fileira de Whisky para pegar as bebidas quando ouvi o barulho da porta se fechar.
— Vai fugir sempre que eu me aproximar de você? — Aquela voz rouca, e totalmente sexy invadiu o ambiente, fazendo com que eu estremecesse por inteiro.
Deus! Algo me diz que estou realmente em apuros agora.
Deixei a bebidas no lugar e me virei para encontrá-lo. Ele havia fechado a porta, e estava mais perto do que imaginei.
— O que você quer? — perguntei.
— Se eu te disser, você vai me dar? — Perguntou de forma autoritária, isso fez com que meu coração quase saísse pela boca. — Por que se não me der, não medirei esforços para ter.
A ansiedade tomou conta de mim, eu não daria o braço a torcer, mas isso era exatamente o que eu queria. Mesmo sabendo que provavelmente me arrependeria depois.
— Não acho que isso seja apropriado.
— Não seria apropriado se você não quisesse. — ele disse, se aproximando um pouco mais, e depositando a mão em minha cintura, então ele puxou meu corpo de encontro ao dele.
— E quem disse que eu quero? — sussurrei.
— Não quer? — perguntou se aproximando um pouco mais.
Sim, eu queria, por esse motivo, me senti incapaz de esboçar qualquer reação, estava totalmente extasiada com tudo, seus lábios estavam a poucos sentimentos dos meus, e eu já não suportava mais esperar, quando o barulho da porta sendo forçada para abrir me tirou do transe, fazendo com que eu recuperasse o resto de sanidade que existia em mim.
— Bianca, está tudo bem aí? Já faz alguns minutos que você saiu e Vivian está começando a ficar apertada. — Escutei a voz de Arthur abafada pela música.
Para minha sorte, ele não entrou, apenas afastou a porta o suficiente para falar.
— Tudo sob controle, eu já estou saindo. — respondi torcendo para que não ficasse visível em minha voz o quão desconcertada estava. Tentei me mover, mas fui impedida no mesmo instante.
— Tudo bem. — Arthur respondeu, então o senti se afastar.
— Um jantar. — sugeriu me mantendo em seus braços.
— Pra começar, eu deveria ao menos saber o seu nome. — ele arqueou a sobrancelha para mim, poderia dizer que o surpreendi ao conseguir reagir nesse momento.
— Rafael. — ele respondeu seriamente, com os olhos fixos aos meus, senti meu coração vacilar por um instante. Me senti vulneravél demais, e isso me assustava um pouco.
— Bom Rafael, eu vou pensar no seu caso. — disse enquanto saía de seus braços, ele não me impediu novamente, se manteve apenas observando cada movimento meu.
Eu precisava mostrar a ele que as coisas não funcionariam daquela forma, então me mantive firme, apenas torcendo para que ele me deixasse ir, pois se ele se aproximasse, aquela coragem iria por agua a baixo com toda certeza.
Peguei as garrafas que havia vindo buscar, e sai pela porta a deixando entreaberta e sem olhar para trás.
Senhor! O que foi que acabou de acontecer ali? Que homem é esse? Como ele pode ser tão persuasivo?
Deus, o que deveria me preocupar é... por que eu gostei tanto disso?