CAPÍTULO 04

2841 Words
Bianca O plano para a minha folga era apenas comer e dormir, o dia e a noite toda. E eu estava cumprindo muito bem esse papel, até que meu telefone tocou, tirando-me da minha bolha. O peguei apenas para verificar que se tratava de um numero que não conhecia, e eu não iria atender. Até que o sistema identificou como um escritório de advocacia. Franzi minhas sobrancelhas por um momento, e por fim decidi atender. — Bianca? — uma voz desconhecida surgiu, poderia dizer que se tratava de um homem mais velho. — Sim? — respondi. — Boa tarde, estou entrando em contato com você em nome de Carlos Moratti. Me chamo Marcelo Antonelli, e sou o advogado do mesmo. Gostaria de encontra-la para que possamos conversar pessoalmente. Carlos Moratti? A Sensação que tenho, é que já ouvi esse nome antes, porém não faço ideia de quem seja. — O senhor não se confundiu? — perguntei confusa. — Do que se trata? — Bianca Andrade, filha de Lilian Andrade correto? — Isso mesmo. — Confirmei. — Então não há confusão. — Do que se trata? — perguntei afim de conseguir mais informações. — Eu não gostaria de ter essa conversa por telefone, quando podemos nos encontrar? — Eu não respondi de imediato, não conhecia o cara, mas ele sabia meu nome, e o da minha mãe, eu estava no mínimo curiosa. — Podemos nos encontrar em algum café de sua preferência, desde que seja um lugar mais reservado. — Tudo bem. — Concordei. — Podemos nos encontrar em uma hora? Hoje é minha folga, seria melhor. Caso contrário apenas na semana que vem. — Daqui uma hora está ótimo. — ele respondeu. — Me mande por mensagem o endereço do local que achar mais adequado por favor. — Tudo bem Dr. Marcelo, até breve. — respondi. Depois que encerrei a ligação enviei o endereço de um café que frequentava as vezes, em seguida fui para o banheiro tomar um banho e me arrumar. Optei por um jeans justo, e uma blusa delicada. Arrumei meus cabelos e fui para a cafeteria. Ao chegar, escolhi uma mesa reservada e me sentei. Só então me dei conta de que eu não fazia ideia de como era o homem que estava para me encontrar. Peguei o telefone para ligar para ele. — Boa tarde. — Uma voz masculina chamou minha atenção, meus olhos foram de encontro a ele, me deparando com um senhor que aparentava ter seus sessenta anos. Ele sorria amigavelmente para mim. E seu rosto estranhamente me parecia familiar. — Bianca? — Isso mesmo. — respondi tentando me lembrar, por que ele parecia tão familiar. — Prazer Bianca, eu sou o Marcelo Antonelli. — ele disse estendendo sua mão para mim. Eu o cumprimentei com um aperto firme. Então ele se sentou na cadeira a minha frente, depositando sua pasta na cadeira ao lado. — Boa tarde, o que desejam pedir? — Uma atendente prontamente nos atendeu. — Para mim apenas um café expresso, por favor. — Dr. Marcelo a respondeu e então olhou em minha direção. — Um suco de laranja. — respondi. Depois de anotar o pedido, a atendente se retirou. A acompanhei com os olhos, enquanto ela preparava nosso pedido. — Creio que deva estar curiosa. — Dr. Marcelo disse quebrando o silêncio e chamando minha atenção para ele. — Um pouco, principalmente pelo fato de você saber meu nome, e o de minha mãe. Dr. Marcelo lançou-me um sorriso amigável, e estava prestes a falar, quando a atendente retornou com os pedidos, os depositando sobre a mesa. Sorri em agradecimento enquanto ela se afastava. Então voltei meu olhar para o Dr. Marcelo, que já tomava um pouco de café. — Como eu te disse mais cedo, estou aqui em nome de Carlos Moratti. E pela sua reação, sei que não faz ideia de quem seja. — Realmente não sei. — Fui sincera. — Qual o motivo desse contato? Eu não entendo. — Vou ter explicar tudo agora. — Tudo bem, estou toda a ouvidos. — respondi enquanto pegava o copo de suco para beber. — Carlos Moratti era o seu pai. — ele disse, me fazendo engasgar com o suco. Ele rapidamente pegou alguns guardanapos que estavam na mesa e me entregou, eu os peguei e limpei a minha boca. Eu não poderia ter ouvido certo, não é? — O que disse? — perguntei. — Como pode dizer algo assim com tanta convicção? — Carlos sempre teve contato indireto com Lilian, para saber de você. — Isso não faz sentido, minha mãe não fazia ideia de onde meu pai se encontrava. — Querida, sinto muito que descubra assim, mas ela sabia perfeitamente onde encontra-lo. — Isso não é possível... — Eu estava constantemente em contato com ela, inclusive eu era o intermediador entre eles para ajuda nas despesas de sua faculdade, e seu apartamento. Então acredite quando eu digo que ela sabia. — ele disse em um tom totalmente confiante. Para mim tudo era muito insano, mas... esse homem sabia exatamente quem eu era. Isso seria possível? Carlos Moratti, era meu pai? — Um momento, você disse era? — perguntei, mas admito que essa simples palavra, me deixou com o coração na mão. — Não há uma forma melhor de te contar isso. — ele fez uma pausa, dando um longo suspiro, então continuou. — A morte dele foi confirmada semana passada. O motivo do meu contato é para falarmos a respeito de sua herança. — Espera, como assim na semana passada? Por que estou sendo avisada apenas agora? — Me desculpe Bianca, eu apenas estou agindo conforme a vontade de seu pai. Eu sou advogado, e amigo dele a anos. E essa era a vontade dele, Carlos não queria que você sofresse por alguém que nunca conheceu. Então fui orientado por seu pai que caso algo viesse a acontecer... eu deveria entrar em contato com você apenas alguns dias depois de seu falecimento. Eu simplesmente não sabia o que falar, uma tristeza grande tomou conta de mim, perdi minha mãe a pouco tempo, e agora, descubro que a única esperança que eu tinha de família, estava acabada. Sim, eu não conhecia o meu pai, porém, eu sempre quis conhece-lo. E ainda hoje, eu tinha esperanças de um dia, poder encontra-lo. — Ele não tinha esse direito. — disse magoada. — Eu não o conhecia, mas eu sonhei a vida toda em conhece-lo. E agora, eu nem mesmo pude me despedir. — Eu sinto muito. — Ele foi egoísta, do inicio ao fim. Nunca me procurou, e agora que morreu, mandou um advogado atrás de mim... para que? Uma herança? Eu não quero nada dele! — disse com amargura. — Você é a única herdeira Bianca, tudo já é automaticamente seu. — Não. — eu disse enquanto balançava a cabeça em negativa. — Entendo que precise de tempo para assimilar tudo o que está acontecendo, mas nem tudo é como você pensa. Carlos deixou duas cartas escritas para você, uma delas está aqui comigo. — ele disse abrindo a pasta e pegando um envelope, em seguida o estendeu em minha direção, juntamente com um cartão de visitas. — Leia com calma, e me ligue de cabeça fria, assim podemos conversar melhor. E então, nós colocaremos tudo em seu devido lugar. Tudo bem? Eu estava magoada com tamanho egoísmo de meu pai, mas ao mesmo tempo curiosa pelo conteúdo da carta. Minha mãe não falava muito do meu pai. Era um assunto totalmente delicado para ela, então, eu não fazia nem mesmo ideia do que aconteceu. Porém, naquele momento eu me lembrei de uma das últimas falas dela para mim. “Filha, se o seu pai vir a te procurar, por favor não o afaste, dê a ele a oportunidade de reparar todos os anos ausente, e me perdoe, pois isso não passou de egoísmo da minha parte.” Pensando apenas nisso, eu estendi minha mão e peguei o envelope, então me levantei. Eu estava prestes a ir embora, então me virei mais uma vez para Dr. Marcelo. — O que aconteceu com ele? — perguntei. — Um acidente de carro fora do país. — respondeu, enquanto me olhava tristemente. Assenti ao ouvi-lo. — Você tem o meu contato, e lembre-se, sua mãe também iria querer isso e você sabe. — Tudo bem. — Respondi forçando um sorriso para ele. — Obrigada. Me virei caminhando em direção a saída, o deixando na mesa terminando seu café. Entrei em meu carro e fui diretamente para meu apartamento. Minha cabeça estava rodando com essas informações. Tinha certa esperança de meu pai aparecer, principalmente pelo que minha mãe havia me falado, porém eu realmente não esperava que algo assim viesse a acontecer. Pelo que Dr. Marcelo me contou, minha mãe sempre soube onde meu pai esteve, então por que ela nunca me disse nada? Por que eles fizeram isso comigo? Ao chegar em casa, me sentei no sofá e olhei fixamente para a carta. Eu estava ansiosa para lê-la, respirei fundo, e a abri. “Bianca, minha querida filha, primeiramente te peço desculpas por nunca ter me aproximado de você, porém gostaria que soubesse que de longe, eu vi você crescer, eu vi cada conquista que teve, e isso me deixou muito feliz.” Um sorriso triste se formou em minha boca. A vida toda, pensei que ele não se importava comigo, mas aqui estava ele, dizendo que esteve de olho em mim esse tempo todo. Respirei fundo e voltei minha atenção para a carta. “Às vezes, quando jovens, cometemos erros, erros que muitas vezes podem ser irreversíveis. E eu, nunca vou me perdoar pelo que fiz em minha juventude. Eu e sua mãe éramos jovens, e apaixonados. Porém, eu resolvi dar ouvidos a pessoa errada, uma pessoa que eu achei que fosse minha amiga, mas na verdade queria apenas destruir meu relacionamento com Lilian. E devo dizer, que ela conseguiu, por minha tamanha ignorância. Eu pensei que sua mãe estava me traindo, e exigi que ela me deixasse fazer um teste de DNA, assim que você nascesse. Sua mãe claramente se sentiu muito ofendida com isso, mas concordou em fazer o exame, com a seguinte condição: Se fosse confirmado pelo exame que você era minha filha, ainda assim ela iria embora, e meu castigo seria nunca me aproximar de você. Ela me fez prometer que eu não me aproximaria enquanto ela estivesse viva. Eu era jovem, e imaturo, quando descobri a verdade, já era tarde, eu já havia perdido vocês.” Balancei minha cabeça em negativa, e já senti lágrimas invadirem meu rosto. “Com tudo, eu decidi respeitar a decisão de sua mãe, mas não deixei de acompanhar de longe seu crescimento, por um dia sequer. Você minha menina, está cada dia mais linda, e eu me sinto muito orgulhoso da mulher que se tornou. Eu não me casei, nem mesmo tive outros filhos, então, deixo para você tudo que um dia construí. Espero que faça bom uso de tudo, afinal, tudo que eu fiz, foi pensando em você. Eu te amo, minha linda menina.” Cheguei ao final da carta entre soluços, sem acreditar que ambos foram tão orgulhosos, a ponto de passarem o resto de suas vidas sozinhos. Isso era realmente muito triste. Dobrei novamente a carta, e a coloquei no envelope, eu a guardaria com carinho. Afinal, era a única coisa que tinha do meu pai. Eu não sabia o que fazer, eu sabia que não me importava nada com essa herança, a única coisa que eu realmente queria, era ter o conhecido, convivido com ele. Apesar de me sentir chateada com a decisão que minha mãe teve, eu não a julgaria. Assim como não julgaria Carlos por não se aproximar. *** Passei os últimos três dias me martirizando sobre o que fazer, e eu quase liguei para o Dr. Marcelo, o informando que realmente não queria nada. Mas apesar da vontade, eu não liguei, pois sabia que ainda estava com a cabeça quente. E depois de reler a carta de meu pai diversas vezes, decidi que estava na hora de falar com o advogado, estava decidida a aceitar tudo. Afinal, na carta Carlos disse que tudo que ele obteve, foi pensando em mim. Então, eu o faria, aproveitaria aquilo que meu pai deixou para mim. Peguei meu celular e procurei o contato do Dr. Marcelo, assim que o encontrei, coloquei para chamar. — Olá Bianca, tudo bem? — Dr. Marcelo atendeu no terceiro toque. — Ei Dr. Marcelo. — Me chame apenas de Marcelo, por favor. Acima de tudo, seu pai era um grande amigo, não há necessidade dessa formalidade. — Ele pediu-me. — Tudo bem... Marcelo. — respondi um pouco sem graça. — Você leu a carta? — perguntou. — Sim, eu li. — Fiz uma pausa, me lembrando de tudo. Então resolvi continuar. — E decidi que aceitaria, seja lá o que for que meu pai deixou para mim. — Tudo bem, podemos nos encontrar pessoalmente para que eu lhe passe todas as informações? Ponderei por alguns minutos, por conta do trabalho. Mas decidi que mandaria uma mensagem para Arthur o informando que poderia me atrasar um pouco, seria melhor resolver as coisas de uma vez. — Sim, posso te encontrar em uma hora. — Ok, creio que seja melhor nos encontrarmos em meu escritório para uma conversa particular, pode ser? — Claro, é o endereço que consta no cartão de visitas? — Sim. — Ok, eu estarei aí em uma hora. — Combinado. Ao encerrar a ligação, caminhei para o banheiro, e depois de um banho, fui para meu guarda-roupa. A procura de uma roupa que conseguisse ir até Marcelo tranquilamente, e em seguida para o trabalho. Acabei optando pelo de sempre, uma calça de couro preta, e um Cropped. Colocando apenas uma blusa comportada por cima, para que ficasse adequada para o ambiente. Ao chegar no endereço indicado, observei com cuidado antes de adentrar no lugar. O prédio era extremamente chique, era visível que eu não estava indo em qualquer escritório de advocacia. Caminhei em direção a entrada, e fui recepcionada por uma senhora muito simpática, que prontamente me encaminhou para o escritório do Marcelo. — Boa tarde Bianca, tudo bem? — perguntou com um sorriso amigável no rosto assim que entrei em sua sala. — Tudo, e o senhor? — Tudo ótimo. Sente-se por favor. — ele disse apontando para uma cadeira a sua frente. Enquanto eu me sentava, ele colocou algumas pastas e documentos sobre a mesa. Então depositou sua atenção totalmente em mim. — Você chegou a pesquisar sobre o seu pai? — perguntou. — Não... Hã... — Respondi confusa. — Eu deveria? Marcelo deu um sorriso divertido, e então pegou o tablet que estava em sua mesa e digitou algo. Em seguida o virou em minha direção. Me surpreendi com o que vi na tela, ele estava com a pagina aberta no google, e assim como Rafael, havia um perfil com muitas informações sobre Carlos Moratti. Peguei o tablet das mãos de Marcelo, para observar a foto dele mais de perto. Sorri um pouco ao perceber que eu me parecia com ele. Deci meus olhos para ler as informações que ali continham. A cada informação, mais boquiaberta eu ficava. — Bi... bilionário? — perguntei incrédula. Porra! Meu pai era um bilionário? — Todo o patrimônio do seu pai, está avaliado em 3 bilhões, e como única herdeira, tudo é seu agora. Precisamos apenas passar por alguns processos, e fazer o termo de inventariança. Marcelo me deu um tempo para que eu assimilasse tudo, e passou aproximadamente uma hora me explicando a cerca de todos os bens que o meu pai possuía, tais como responsabilidades a serem assumidas por mim com o tempo, e como seria todo o processo. Eu estava totalmente atônita a tudo que descobri, principalmente o fato de que minha mãe me incentivou tanto a estudar sobre administração de empresas, e de fato não foi à toa, meu pai era dono da Solut Shop, uma empresa mundialmente conhecida por venda de aparelhos tecnológicos, e só de pensar que agora aquilo tudo era meu, me deixava sem saber o que fazer. Felizmente Marcelo me tranquilizou, dizendo que eu não precisaria assumir tudo de imediato, e que eu poderia ir ajeitando tudo no meu tempo. Marcamos um novo encontro na segunda-feira para que pudéssemos acertar mais alguns detalhes. Então me levantei para me despedir e ir para o trabalho. — Bianca, antes de você ir, tenho apenas um pedido a lhe fazer. — Sim? — A um tempo, seu pai comprou algo, especialmente para você. Algo escolhido por ele, e que tem estado lá apenas a sua espera. Seria a última vontade de seu pai, que você o aceitasse. — E o que seria? — perguntei curiosa. — Uma cobertura de luxo, em um dos melhores prédios aqui de São Paulo. Carlos me pediu para que assim que você estivesse ciente de tudo, se mudasse para lá imediatamente.
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