Ricardo estava sentado no jardim nos fundos da casa com Estela entre a suas pernas apoiada no seu peito, mesmo estando frio ela havia insistido tanto para poder aproveitar um pouco a luz do jardim, que ele não conseguiu negar a ela. Os olhos dela observavam tudo com uma curiosidade latente, algo que Ricardo adorava ver, a suas bochechas coradas devido ao vento frio que circulava por eles. Ele havia tido o cuidado de a agasalhar bem, e tinha forrado uma manta grasso no chão para que ela ficasse mais confortável, naquele momento ela observava a paisagem com um olhar de satisfação no rosto.
_ Me conte um pouco sobre você? - pede ela depois de um longo silêncio entre eles.
_ O que quer saber? - pergunta ele, os seus braços a segurando com firmeza contra si.
_ Tudo, mas pode começar com a sua infância, você deve ter sido um garoto travesso. - diz ela rindo. Ricardo suspira, ele sabia que Estela estava curiosa, mas o que ele tinha para falar não era muito bonito.
_ Tudo bem, - diz inalando profundamente. - Minha mãe era empregada na casa do meu pai quando se conheceram, naquela época ele era mais jovem e atraente e acabou a conquistando com a sua fala mansa.
Pelo tom de voz de Ricardo, Estela sabia que as informações que viria não eram boas e arrependeu-se por ter perguntado, ela não queria estragar aquele momento tão bom entre eles.
_ Não precisa me contar se isso te traz más lembranças. - diz ela inclinando a cabeça para traz para olhar nos seus olhos.
_ Eu quero que você saiba querida, afinal, agora você faz parte da minha vida, - diz ele dando um beijo rápido nos seus lábios antes de continuar. - Eles viveram um romance rápido, a minha mãe tinha esperança de que o meu pai a assumisse como esposa, ela vinha de uma família muito humilde e não pensou que ele estava apenas a usando. Quando ele descobriu que ela estava grávida, lhe deu dinheiro para que abortasse e a expulsou da mansão, deixando claro que nunca se casaria com ela. Meses depois ele noivou com a mãe das minhas irmãs, ela era uma mulher da alta sociedade com uma fortuna considerável. Algum tempo depois ele descobriu que a minha mãe tinha tido um filho e a procurou, mas não foi para me conhecer, mas sim para avisar a ela que sumisse e o deixasse em paz.
Ricardo faz uma pausa, aquelas lembranças eram amargas para ele, fazia com que o seu ódio por seu pai aumentasse ainda mais, o que a sua mãe havia passado estava além da humilhação.
_ Como esperado a minha mãe não o ouviu, ela me manteve ao seu lado e continuou trabalhando para algumas pessoas, mas quando o meu pai descobriu ele proibiu qualquer um de a contratar, ele tinha esperanças de que ela fosse embora para outro lugar, mas acho que ela nutria a esperança de que algum dia ele pudesse se aproximar novamente de nós.
_ Não posso imaginar o quanto ela devia ter sofrido. - diz Estela acariciando os seus braços.
_ Sim, ele foi muito cr**l com ela, - diz ele antes de continuar. - Fomos despejados quando eu era bem pequeno e fomos obrigados a morar num casebre numa região perigosa, a minha mãe saia todos os dias para revirar o lixo para trazer algo para eu comer, ela foi definhando aos poucos, aquilo me matava, mas eu era muito pequeno para fazer algo a respeito. Quando ela chegou no seu limite ela procurou-o, lembro que ela me vestiu bem e disse que íamos dar uma volta, eu fiquei feliz com aquilo, não queria ver ela mais triste do que já estava, mas infelizmente ela nos levou até a casa dele, passamos o dia na chuva esperando que ele aparecesse para nos ver, quando ele apareceu, foi para humilhá-la, ela implorou para que ele me acolhesse, mas ele não quis, e quando ela insistiu ele deu um tiro na sua cabeça a matando na minha frente, acho que eu devia ter uns cinco anos naquela época.
_ Meu Deus! - diz Estela chocada com aquela informação. - Como ele pode fazer isso?
_ Ele queria proteger a máfia da família, e achava que eu e ela éramos um risco para seus herdeiros legítimos. - explica Ricardo.
_ Mas você era filho dele? Ele não podia fazer isso com você. - diz Estela profundamente triste.
_ Ele nunca me viu como o seu filho Estela. Me lembro que ele mandou os seus homens me abandonarem num beco sujo, eu fiquei com medo de que ele voltasse e sai de lá, me escondendo numa casa abandonada que tinha na região, no outro dia homens armados reviraram o lugar atrás de mim, ele tinha mandado me matar. - Ricardo sente o corpo de Estela tencionar encostado ao seu. - Depois daquilo eu sai de lá e fui para outro lugar, roubava para sobreviver, até encontrar uma organização que pagava para que eu espionasse alguns lugares para eles, e assim ou fui crescendo nas ruas, eles davam-nos um lugar para dormir e comida, em troca éramos seus olhos e ouvidos.
Estela estava tão horrorizada com tudo que Ricardo estava lhe contando que ela não tinha coragem de o interromper, ela sentia que ele precisava colocar tudo aquilo para fora, e ela também queria o conhecer melhor, mesmo que isso fosse tão difícil de ouvir.
_ Quando tinha quinze anos foi preso e passei um tempo no reformatório, foi lá que comecei a trabalhar com tráfico de informações. Tinha um cara que conhecia muita gente e eu e ele começamos a negociar o que sabíamos com os guardas da prisão, o que nos rendeu um dinheiro enquanto estávamos lá, eu aproveitei para aprender o máximo que podia, e quando sai comecei a trabalhar com isso. Eu era bom com computadores e aprendi rápido como usá-los a meu favor, em pouco tempo eu já tinha uma quantidade razoável de pessoas que precisavam dos meus serviços, mas não era só isso, a medida que o meu nome crescia no mudo do crime a busca por outros serviços também apareceu, então comecei a trabalhar de assassino, e nunca ganhei tanto dinheiro na minha vida como quando trabalhava com aquilo.