CAPÍTULO 1
SIENA
Seus olhos escuros são como duas adagadas perfurando o meu coração, cravando fundo, destruindo-o completamente.
— Olha para você, p***a! É isso que eu ganho por te amar todo esse tempo?
Sua mão direita agarra meu queixo, apertando-o firmemente.
Ele intensifica o seu aperto quando não o respondo. Eu sei que a minha falta de submissão o deixa fora de si. Não ter o controle sobre mim o deixa fora de si.
Eu não me importo se ele deixar minha pele marcada outra vez, ou que fale que eu não sou nada sem ele.
Já não me importa se os meus pais me odeiam porque fiz a escolha errada.
Ele já tirou tudo de mim. Não há mais nada para ele quebrar que já não tenha feito.
— Vai bancar a rebelde, outra vez? — Se aproxima, roçando os seus lábios na minha bochecha.
Meu estômago se revira em sinal de asco. Deus, como eu pude suportá-lo todo esse tempo?
Fecho os olhos quando minhas costas colidem com força contra a parede e sua voz furiosa ecoa no meu ouvido.
— Devo lembrá-la como odeio ser ignorado, Siena?
Nego, empurrando o seu peito.
— E-u quero o divórcio! — grito finalmente, sentindo o coração acelerar no meu peito. É como se eu tivesse retirado as correntes que me prendiam a ele.
Seus olhos brilham, e vejo algo sombrio passar por eles. Recuando dois passos, ele sorri e, ao julgar como não está afetado pelo que eu disse, só tem uma resposta para isso.
— Até que a morte nos separe, querida. Lembra? Este é o preço da sua liberdade.
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Eu me chamo Siena Leblanc. Siena Leblanc. Siena Leblanc, este é o meu nome. Repito mentalmente enquanto olho o meu reflexo no espelho. Não há mais Londres, e antiga eu está morta.
Observo meu longo cabelo castanho com ondas perfeitas caídas sobre meus ombros, olhos verdes marcados, lábios exuberantes. A estética perfeita é como uma verdadeira acompanhante de luxo deve ser. Esta é quem eu sou há exatamente dois anos.
Retoco o meu batom vermelho e, com uma última borrifada do meu perfume, saio do quarto andando em direção à sala, encontrando Aria, minha colega de apartamento se entupindo de sorvete, para variar.
— Uau! Adorei os brincos de esmeraldas. Combinou com a tonalidade dos seus olhos — comenta, levando uma generosa porção do sorvete à boca. Sorrio, dando uma voltinha para a sua analisada final. — É da nova coleção Mackenzie Royal? — Balanço a cabeça afirmando. — Anton?
— Não. — Reviro os olhos.
— Hector Vilard. Anton não conseguiria ser gentil mesmo se sua vida dependesse disso.
Aria assente.
— Hector é muito fofo. Se todos os nossos clientes fossem como ele…
— O último com quem saí me cobrou pelo champanhe que bebemos em seu iate.
— Babaca! — respondemos em uníssono.
Aria pende a cabeça para o lado e seus lábios se tornam uma linha fina.
Arqueio uma sobrancelha.
— Fala…
Ela sorri e leva outra colherada do seu sorvete de flocos aos lábios, saboreando-o lentamente. Largando a colher no pote, finalmente diz o que está passando pela sua cabecinha.
— Se eu estiver certa, Anton estará lá.
— E?
— Você sabe como ele age todo territorial para cima de você, Siena.
— Não me importo — digo sinceramente.
Há muito tempo a opinião masculina deixou de ser algo que eu devesse levar em consideração. Anton e eu nos conhecemos em uma festa enquanto eu era acompanhante de um senador. Gostei do seu olhar de desejo em minha direção e de como foi ousado e sedutor naquela noite. Desde então nos vimos algumas vezes e saciamos um desejo mútuo. Nada além disso. Ele não é meu dono, e muito menos dita as regras.
Percebo um lampejo de um sorriso surgir nos lábios rosados de Aria e seus olhos brilharem excitação. Sinto o meu celular vibrar na minha pequena bolsa de mão e o alcanço, visualizando uma mensagem de Hector, avisando que já está à minha espera.
— Hector chegou. Deseje-me sorte. — Inclino-me, deixando um beijo em sua bochecha antes de sair.
— Toda sorte do mundo, Si! Quero detalhes. — Sorri, jogando-me um beijo no ar. — Diga olá a Anton por mim! — grita assim que eu fecho a porta atrás de mim.
Balanço a cabeça negando. Sem Anton essa noite.
Pego o elevador e, após alguns minutos, estou encontrando uma limusine estacionada na frente do meu prédio.
— Senhorita…
O motorista de Hector acena e o respondo com um sorriso cortês enquanto ele abre a porta e oferece sua mão, ajudando-me a entrar.
Hector Vilard sorri assim que deslizo no assento ao seu lado. Seu sorriso se amplia e, alcançando minha mão, ele a leva aos lábios em um gesto cavalheiro.
— Siena Leblanc, a minha bela preferida. Você está estonteante, querida!
— Olá, Hector! É sempre um prazer revê-lo. — Sorrio.
Ele estende uma taça de champanhe para mim, e eu pego sem nenhuma cerimônia.
— Devo dizer que o prazer é todo meu, bela. E estou muito feliz que esteja usando o meu presente. Verde, definitivamente, fica bem em você, Leblanc. Seus olhos são duas verdadeiras joias, como você.
O nosso trajeto até a festa beneficente não poderia ser mais agradável. Hector se tornou o meu cliente vip. Tem me requisitado com mais frequência. É um cinquentão, mas confesso que tem o seu charme e sabe usá-lo como ninguém. Quando nos conhecemos, fui bastante específica até onde ia os meus serviços, e sexo não estava incluso. Felizmente ele entendeu e, apesar de uma hora e outra soltar os seus galanteios, nunca me desrespeitou.
A voz do motorista de Hector ressoa do pequeno comunicador, anunciando que chegamos ao grande salão de festas. A limusine é estacionada, a porta é aberta e Hector é o primeiro a descer, em seguida, estende sua mão, ajudando-me a sair do automóvel.
Ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e beija a minha bochecha.
— É hora do show, querida! — Assinto e enlaço seu braço assim que ele estende em minha direção, escoltando-me através da chuva de flashes e murmúrios em nossa direção.