Leonardo

1819 Words
Conheci a Lorena no primeiro dia de aula da quarta série, na verdade, nossas mães eram amigas de salão de cabeleireiro, mas nossa amizade começou mesmo na escola, quando nos demos conta, já éramos amigos inseparáveis. Alguns anos depois a Jéssica chegou, sempre simpática e tagarela, enquanto Lorena era o seu oposto, recatada e tímida. Viramos o trio inseparável que trilhou da sexta série até o ensino médio. O que pensávamos que ia acabar após a maioridade, só se fortaleceu ainda mais. A Jéssica se afastou um pouco após o início da faculdade enquanto a Lorena se aproximou ainda mais, mesmo depois que começou a namorar. Quando meu pai faleceu ela não saiu um segundo se quer do meu lado, sempre com aquele sorriso iluminador, apoiou e ajudou quando decidi morar sozinho, ela me acolheu na sua casa por algumas semanas e isso só nos uniu. Fui o primeiro a saber dos seus namorados, e sempre alertei que seria uma fria, se apaixonar por eles. Ela nunca me ouviu! Enquanto tive algumas "poucas" namoradas sempre empurradas por Lorena, a última "vítima" foi a Jéssica, uma noite fomos a uma balada, não tinha bebido porque teria que dirigir como sempre e Lorena queria ficar com um rapaz e já que eu não parava de conversar com ela então, que arquitetou para a Jéssica me beijar. E o clima entre nós três ficou estranho por um Mês, mas depois voltamos a nos falar normalmente.   Nunca tinha me dado conta do quanto a amava, sempre pensei que era amor de amigos, de irmão. Descobri que era amor, quando ela já estava namorando o Lucas e uma noite ela teve uma das suas crises de asma, e a tia Miriam me ligou desesperada, pois, seu carro estava no conserto.   Flashback   — Leonardo me ajuda, pelo amor de Deus! A Lorena teve uma crise de Asma e está desacordada, liguei para ambulância há quase uma hora e até agora nada! Me ajuda por favor? — Tia Miriam súplica, desesperada ao telefone. — Calma! Estou chegando aí! — Atendo ainda sonolento, mas pulando da cama e colocando as calças e uma camisa antes de sair.   Chego lá Lorena está deitada na sua cama, com os lábios roxeados e fria, sinto um aperto só de lembrar! Pego ela em meus braços, a coloco no banco de trás do carro com a tia e seguimos para o hospital, ao chegamos lá, antes dela ser atendida enquanto sua mãe fazia a ficha ela acordou no meu colo. — OI! Obrigada por não me deixar morrer! Eu te amo! — Diz, sonolenta, apertando minha mão. — Vai ficar tudo bem! — Deposito um beijo em sua testa. Minutos depois ela foi atendida, medicada e internada. Tenho a plena certeza que ela me confundiu com o Babaca do Lucas que só apareceu lá quando ela já estava para ter alta. Esse dia foi um dos piores da minha vida com certeza, nunca tive tanto medo de perder alguém igual aquele dia. Um filme da nossa infância, adolescência e de antes daquele momento, passou na minha mente e então descobri que já era amor antes de ser.   Está foi uma semana difícil para ela, tentei dar apoio e suporte em todos os momentos que ela precisou, ao longo dos dias ela foi demostrando ser forte e que já tinha superado, mais o brilho dos olhos único que só ela tinha ainda não retornou. Estou terminando de colocar uma gravata borboleta preta que faz parte de um smoking na mesma cor, passo o melhor perfume e me olho a última vez antes de sair para irmos à formatura da Jéssica. Vou cuidar somente “dela” hoje e quem sabe de uma vez por todas dizer tudo o que sinto.   — Ligo via w******p — Está Pronta More? — sorrio ao ouvir a voz animada dela. — Estou quase! Estamos atrasados! — Então vai logo! Cheguei! — Desligo a ligação.   Toco a campainha insistentemente para irritar, até que ela abre a porta sorrindo e com os olhos brilhando ao me ver, finalmente voltou a ser minha Lorena novamente! Fico hipnotizado ao ver ela com um vestido vermelho que deixa a região do colo a mostra e vai até o joelho, com sapatos de salto alto pretos deixando-a quase da mesma altura que eu.   — Uau que linda! Assim que gosto de te ver! Com um sorriso lindo nesse rosto! — acaricio sua bochecha com a posta do polegar. — Assim você me deixa sem jeito! — Diz envergonhada — ah! Você está muito lindo também, vai arrumar várias peguetes lá e vou acabar de vela como sempre. — Faz uma careta enquanto ajusta minha gravata borboleta. — Desde quando isso? — Solto uma gargalhada — Hoje o dia é todo seu! Não vou ficar com ninguém além de você! — olho no fundo dos seus olhos, sentindo um frio na barriga. — Para de graça vai! — Suas bochechas coram, e me da leve tapa no braço. — Vamos? — estendo uma das mãos indicando para entrelaçá-la, após ela fechar a porta atrás de nós.         — Sim! — Responde, enquanto caminhamos até o carro. — A noite hoje está linda e vai ser maravilhosa!   Lorena   — Você tem certeza que não está perdido Leonardo? — Verifico a hora no celular, percebendo que fizemos esse caminho mais de uma vez — Já perdemos a cerimônia, vamos perder a festa também? — Pergunto furiosa.   — Sério mesmo, que você me fez essa pergunta de novo? — Me olha — Se você me fizer essa pergunta mais uma vez vou ser obrigado a deixar você dirigir e provavelmente não vamos chegar vivos nessa festa. — Ele abre um sorrisinho debochado.   — Que ódio de você sabia? Vou olhar aqui no GPS, porque se não vamos chegar lá só no final, estamos totalmente fora da rota! — Olhando para a tela do celular digo — Vira à direita — levanto a mão esquerda e Leonardo gargalha da minha falta de noção.          — Nossa você é a pior auxiliar de motorista da vida sabia? — Me dá esse celular aqui — Puxa o aparelho das minhas mãos, estaciona o carro e desce em frente ao salão de festas. “você chegou ao seu destino” o GPS anuncia nas mãos dele.   — Vamos chorona! — Abre a porta do carro e estende a mão. — Sinto muita vontade de te bater sabia? — Reviro os olhos e seguro sua mão.   Entramos no salão com música alta e várias pessoas espalhadas dançando, olhamos a nossa volta procurando a Jessica, avistamos ela beijando um rapaz. — Melhor não atrapalhar a formada né? Sussurro no ouvido do Leonardo devido ao som alto do lugar. Ele parece um pouco deslocado.   — Vem, vamos beber alguma coisa! — até a moça parar de beijar ali! — Ele me segura pela cintura enquanto caminhamos no meio das pessoas. — Preciso beber mesmo! E preciso beber muito! — Grito. — Se ficar bêbada, te deixo passar vergonha sozinha e sem carona. — Leonardo me olha sério. — Nossa só falei brincando! Eu em! — Me defendo. Um garçom passa com bebidas a nossa frente e pego um copo, Léo pega apenas refrigerante pois está dirigindo, então sentamos em bancos em frente ao “bar” do salão. Após algum tempo já não estou me aguentando muito bem em cima dos meus saltos devido ao efeito da bebida. — E a Jéssica sumiu junto com homem que ela estava beijando — Leonardo diz olhando ao redor — Vamos embora? Me olha. — Ai amo essa música! Vamos dançar por favor? — Depois eu aceito ir embora, prometo! — Suplico balançando o corpo devido ao ritmo agitado de Thank U, Next. — Ok! Depois vamos embora, porque você precisa melhorar até chegamos na sua casa, se não sua mãe vai me matar! — segura a minha mão enquanto caminhamos até a pista de dança.     A música acaba e começa a tocar Perfect, tento então soltar sua mão, mas ele me puxa pela cintura e automaticamente entrelaço meus braços em seu pescoço encostando a minha cabeça em seu peito, enquanto balançamos nossos corpos no ritmo lento da música, é inevitável olhar em seus olhos esverdeados que brilham igual a uma pedra preciosa, sinto minhas bochechas esquentarem e um sentimento estranho surge, então nossos lábios se aproximam lentamente como se fossem dois ímãs ao se aproximarem. — Desculpa! — me dou conta do que quase aconteceu, minha única reação é sair dali correndo, quero deixar de existir nesse momento. — O que é isso? Estou ficando doida? — Corro pela calçada e olho para trás, vejo Leonardo correndo atrás de mim, resolvo atravessar para outro lado, os carros buzinam, mas não dou muita importância, às lagrimas insistem em cair do meu rosto, entro em um beco escuro na tentativa de me esconder, mas ele me alcança. — O que aconteceu? Você ficou maluca? Quer morrer? — Ele caminha lentamente, em minha direção ofegante devido à pequena corrida. — Me perdoa? — pergunto. — Me fala, o que aconteceu? — Ele se aproxima colocando uma mecha do meu cabelo que se soltou atrás da minha orelha. — Por que ficou assim? — Você não! — Entre soluços o abraço. — Eu? Leonardo pergunta. — Você é meu melhor amigo, meu irmão, não pode existir nada além disso, entre nós dois. — Olho nos seus olhos. — Estou confusa e não é certo te colocar nos meus problemas emocionais. — Ele sussurra — preciso te contar uma coisa! — Grito — não quero saber! Vamos embora por favor? — Dou as costas para ele, andando para a direção onde o carro ficou estacionado. — Ele passa as mãos nos cabelos, grita — não foge! Já no caminho de volta para casa, permanecemos calados, aquela cena não para de martelar na minha cabeça, será que estou perdendo o juízo? Quase beijei o Léo! Primeiro a Jéssica é afim dele! Segundo ele é como se fosse meu irmão que já me viu vomitar na roupa depois de bêbada! Terceiro não pode existir nada além da amizade entre nós dois. Encosto a cabeça no vidro olhando para rua perdida em meus devaneios, evitando olhar para ele. — Fala comigo por favor? — Ele súplica estacionando o carro em frente à minha casa. — Lorena? — Puxa meu queixo fazendo com que eu o olhasse. — Olho para ele fixamente. — Precisamos esquecer o que aconteceu hoje! Vamos fingir que esse dia nem aconteceu, por favor? Você não é a pessoa certa para mim e eu não sou a pessoa certa para você! Somos amigos, melhores amigos, só isso e nada mais. — Tudo bem então! Melhor você entrar — acaricia meu rosto, secando algumas lagrimas que insistiram em cair. — Boa noite. — Dou um beijo em seu rosto e deixo o carro.
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