Kate Madson
Emma me deu uma cópia da chave do apartamento para que eu tivesse liberdade de entrar e sair a hora que eu quisesse. Saímos juntas do prédio, cada uma rumo aos seus afazeres; ela para seu curso de artes cênicas e eu para o meu glamuroso trabalho de estourar pipocas no cinema.
Minha primeira parada era a casa da minha aluna de balé, que ficava relativamente perto do apartamento de Emma se comparada à distância que eu enfrentava quando morava com minha mãe. Com tempo sobrando, desci do ônibus algumas quadras antes para poder utilizar o caixa eletrônico que ficava em uma loja de conveniências no caminho.
Eu precisava verificar meu saldo e sacar um pouco de dinheiro.
O que eu tinha na carteira era tão pouco que m*l cobriria um táxi em caso de emergência. Além disso, com Emma já me proporcionando um lugar para ficar, eu não podia deixá-la arcar sozinha com as despesas enquanto estivesse morando com ela.
Chegando ao caixa eletrônico, inseri o cartão na máquina esperando ver na tela as opções de extrato, saldo, saque e outros serviços como ocorre geralmente. Em vez disso, fui recebida por uma mensagem em letras vermelhas: "Cartão bloqueado". Minha primeira reação foi de confusão. Talvez eu tenha inserido o cartão incorretamente? Rapidamente, retirei o cartão e repeti o processo, mas o resultado foi o mesmo, a mesma mensagem fria piscando de volta para mim.
Por que meu cartão estava bloqueado? É apenas um erro de processamento, uma desmagnetização ou será que minha mãe está envolvida? Não, ela não faria isso... ou faria? Afastei esse pensamento antes que eu começasse a ficar paranoica.
A pessoa aguardando atrás de mim por sua vez, começou a demonstrar sua impaciência, murmurando alto enquanto eu lutava para manter a compostura. Com um suspiro pesado, guardei o cartão de volta na carteira, mentalmente me preparando para a inevitável visita ao banco para solicitar um novo. Esse é apenas mais um problema na minha já tumultuada vida, um para o qual eu sinceramente não tinha tempo agora.
Retomei meu caminho até a casa da minha aluna. Agora, precisava focar em ensinar a pequena aspirante a bailarina, uma tarefa que, apesar dos meus desafios pessoais, sempre conseguia me alegrar.
***
Desliguei o telefone, sentindo uma pontada de culpa por mentir novamente para Gavin para não ter que ir trabalhar, mas a urgência da minha situação financeira não me deixava outra escolha. Precisava ir ao banco e entender de uma vez por todas o que estava acontecendo com meu cartão e acessar ao dinheiro que tenho lá.
A agência onde eu abri minha conta ficava próximo da casa onde eu morava com minha mãe, um local que até muito recentemente eu chamava de lar. Agora, cada passo naquela direção reavivava memórias de uma vida que parecia ter sido de outra pessoa, em outra época.
Respirei fundo, tentando afastar os pensamentos sombrios, e caminhei até o ponto de ônibus. Peguei o primeiro ônibus, tentando manter a calma concentrando-me na paisagem que passava pela janela, mas minha mente insistia em voltar para os problemas. A transferência para o segundo ônibus foi rápida e quase uma hora depois, eu estava parada diante da porta do banco.
O ar-condicionado do banco bateu em meu rosto assim que entrei, trazendo um arrepio que percorreu minha espinha. Aproximei-me do balcão de atendimento, meu coração batendo forte quando solicitei falar com um gerente da minha conta, explicando que meu cartão havia sido bloqueado e eu precisava entender o porquê e resolver a situação.
Demorou um pouco até eu ser conduzida a sala do gerente, um homem de meia-idade com uma expressão gentil e profissional.
- Boa tarde. Gostaria de saber por qual motivo houve o bloqueio do meu cartão e solicitar um novo? — indaguei, tentando manter a calma.
- Claro, um momento por favor. — Ele digitou algo no computador e, após uma breve pausa, olhou para mim com uma expressão cautelosa. — Parece que o cartão foi bloqueado por perda ou furto, solicitado pela senhora Mary Madson.
- Seu sobrenome agora é Brandon. – Minha voz era quase um sussurro. – Por que autorizaram ela a bloquear o cartão se a titular da conta sou eu?
- Sua mãe tem a co-titularidade, o que lhe confere o direito de realizar qualquer tipo de solicitação. Como a senhorita hoje é maior de idade pode protocolar a retirada dela da conta. - Um calafrio percorreu minha espinha ao ouvir isso, um pressentimento sombrio sobre o que aquilo poderia significar.
Eu tinha 17 anos quando comecei a trabalhar e minha mãe veio comigo ao banco assinar os papéis para a******a da conta. Por mais que ela soubesse que eu guardava dinheiro nela, nunca teve ou pediu acesso. Até agora.
- Você poderia, por favor, verificar o saldo disponível? — Minha voz tremia ligeiramente, temendo a resposta.
O gerente assentiu e voltou a digitar. Os segundos que se seguiram pareceram esticar-se interminavelmente. Finalmente, ele parou, sua expressão agora claramente preocupada.
- Sinto muito lhe informar, mas a conta está zerada.
- Zerada? - As palavras ecoavam na minha mente enquanto eu lutava para manter o controle.
Minha vista escureceu por um momento, um misto de desespero e náusea tomando conta de mim. Sentia como se o chão tivesse sido arrancado sob meus pés.
O gerente percebeu meu estado e rapidamente ofereceu um copo de água.
- Aqui, por favor, beba um pouco de água. — Sua voz era calma, tentando me oferecer algum conforto.
Aceitei o copo, agradecendo com um aceno de cabeça. Após tomar alguns goles, tentei me recompor o suficiente para continuar.
- Você pode me dizer exatamente quando o dinheiro foi retirado?
- Na manhã de hoje. — Ele respondeu, olhando para as informações na tela à sua frente.
As peças começaram a se encaixar. A primeira ação de minha mãe após encontrar o bilhete que deixei, não foi tentar me ligar ou verificar se eu estava bem. Não, sua primeira reação foi esvaziar minha conta bancária. A frieza e a premeditação desse ato eram tão chocantes que me forçavam a reconsiderar tudo o que eu pensava saber sobre a mulher que me criou.
- Obrigada pelas informações. — Consegui dizer, levantando-me com dificuldade.
- Se houver algo mais que eu possa fazer para ajudar, por favor, me avise. — O gerente disse, claramente preocupado com minha condição.
Saí do banco atordoada e incrédula. O choque dessa traição me atingiu com força e com a mente fervilhando de raiva decidi que precisava confrontar minha mãe.
Peguei meu celular com mãos trêmulas e disquei o número dela, observando cada toque como se pudesse, de alguma forma, preparar-me para a conversa que se seguiria. O telefone tocou várias vezes, mas ninguém atendeu. Meu humor piorava a cada toque não respondido, até que finalmente a chamada foi direcionada para a caixa postal.
Não querendo desistir tão facilmente, tentei novamente, mas o resultado foi o mesmo. Com a frustração borbulhando dentro de mim, resolvi enviar uma mensagem de texto, na esperança de que ela pudesse ao menos ler e responder. Digitei rapidamente, minha mensagem clara e direta: "Mãe, precisamos conversar urgente. Você tirou todo o dinheiro da MINHA CONTA e eu preciso dele. Me liga"
Enviei a mensagem e aguardei, o telefone firme em minhas mãos enquanto observava a tela ansiosamente. Após alguns minutos, vi que a mensagem havia sido lida. No entanto, não houve resposta.
Por um breve momento, a ideia de ir até sua casa e confrontá-la pessoalmente passou pela minha cabeça. Mas a possibilidade de encontrar Steven lá, de ter que enfrentar não apenas a traição de minha mãe, mas também a presença dele, rapidamente dissipou esse pensamento. Eu não podia, não depois de tudo.
Respirei fundo, tentando acalmar a tempestade que se formou dentro de mim. Esse dinheiro que havia desaparecido era meu, fruto do meu trabalho, das minhas economias meticulosamente guardadas com um propósito.
Eu sabia que precisava de tempo para processar tudo isso e decidir meus próximos passos.
Caminhando pelas ruas movimentadas, cada passo parecia pesado com a nova carga de realidade que eu carregava. A mulher que deveria proteger-me e apoiar-me havia se voltado contra mim de uma maneira que eu nunca poderia prever, corroendo qualquer resquício de esperança que eu pudesse ter de uma reconciliação.
Eu estava, em todos os sentidos possíveis, por conta própria agora.