Quando começaram a surgir os primeiros clientes, Sara observou que eram conhecidos, habituais, pois todos se cumprimentavam como se fossem velhos amigos. Embora ninguém se sentasse no balcão, ela percebeu que sempre que entravam, a olhavam dos pés á cabeça, mas sempre sorriam e ela devolvia a simpatia.
Alguns moços mais atrevidos até a convidaram para jantar, mas Sara simplesmente sorria e recusava. Ela começou a pensar que realmente os homens eram todos iguais, fosse na cidade grandes ou pequena, só tinham conversa fiada. Enquanto eles seguiam em frente sem danos colaterais, as mulheres saíam sempre de coração partido.
Mas Sara nesse momento estava imune. Embora alguns tivessem um aspecto bastante atraente, com corpos bem tonificados e rostos bonitos, ela não queria saber mais de romance ou paixões. Não, isso não era mais do seu interesse. Ela queria trabalho, uma casa e dedicar-se a si mesma.
Até poderia ter-se convencido disso durante os próximos anos, se por acaso não se tivesse virado para a pessoa que acabava de sentar-se ao seu lado. Alto, musculoso e cabelo preto, os olhos dela encontraram com os seus."UAU! Olhos azuis!!! "
Deu-se conta que estava fixa num intenso, brilhante e hipnótico azul. Num rosto masculino com feições duras mas que lhe traziam uma beleza inquestionável, o cabelo escuro puxado para trás era curto. E a boca? "Céus...que boca maravilhosa! Aqueles lábios eram feitos para beijar. "Sara até podia imaginar muito mais coisas que aqueles lábios poderiam fazer, sem dúvida nenhuma.
Quando ouviu alguém pigarrear, imediatamente acordou do seu transe e olhou sobre o ombro. Atrás daquele "Adónis" estava mais um verdadeiro pedaço de mau caminho que lhe sorria. Como percebeu que estava de boca aberta e antes que entrasse mosca, ela virou-se rapidamente para a frente e tentou acabar o resto do seu café sem dar mais nas vistas.
__ Boa noite Marta! Como estão as coisas por aqui?
Por muito que se esforçasse, o calor que irradiava do corpo daquele homem com "H" grande, estava a afectá-la de alguma maneira. Estava a ficar quente demais, um calor que se tornava quase insuportável de aguentar. E não ajudou em nada quando ouviu aquela voz baixa e grossa que lhe provocou calafrios.
"Oh Inferno! Inferno! Que se passa contigo Sara, é só um homem, por amor de Deus." Pensou tentando dissipar todas as sensações confusas que a invadiam.
__ Boa noite Marta! - Repetiu o homem que o acompanhava.
__ Olá Rafael, olá Marco. - Cumprimentou a senhora atrás do balcão , os fitando com um sorriso. __ Está tudo bem, obrigada. As sanduíches estão quase prontas.
__Tudo bem, não há problema. - Os dois homens entreolharam-se, esboçando um sorriso de lado. __ Nós tomamos um café enquanto esperamos.
Não sabia como era possível, mas aquele sorriso ainda o tornava mais irresistível. Marco concordou com a cabeça e sentou-se mais á frente. Tinha um rosto descontraído quando presenteou Sara com um enorme sorriso. Ela sorriu de volta mas com um nervosismo suave no seu corpo, que começou rapidamente a piorar quando Rafael se virou para a encarar .
Imediatamente prendeu a respiração, o seu olhar era intenso, mas enigmático. Ela percebeu que ele se inclinou um pouco e inalou, ficou com um ar perplexo durante uns segundos e bruscamente desviou o olhar. Apesar da viagem cansativa, Sara não tinha nenhum cheiro desagradável, ela sabia, mesmo assim ficou um pouco desconfortável.
Cada vez mais se convencia que os homens só serviam para destabilizar uma mulher. Ela estava feliz por não ter incluído homens no seu plano de vida nova, porque este já começava a destabiliza-la sem razão aparente. Ainda um pouco constrangida, ela quase saltou do banco quando ouviu um sussurro nas suas costas, muito perto de sua orelha.
__ Olá, beleza! És nova por aqui? - Um rapaz atraente com cabelo longo, loiro e olhos verdes, lindíssimos questionou . __ Vens para ficar?
"Mas será que naquela cidade os homens atraentes cresciam em arvores? "Antes mesmo de Sara responder, o rapaz sentou-se do outro lado disponível. Ela já estava irritada e aquela atitude presunçosa não ajudou a ficar mais calma, pelo contrário.
__ Depende? - Ela respondeu enquanto bebia um gole de seu café.
Ele rodou seu banco rotativo para que ficasse de frente a ela, a encarando com um sorriso sensual.
__ Depende do quê?
__ De certas situações. - Sara olhou-o inocentemente e sorriu também.
__ Que situações? Talvez eu possa ajudar. - Continuou com um sorriso sedutor.
__ Achas mesmo? - Sara, perguntou com um ar duvidoso enquanto o olhava.
__ Sim, claro. Nada me daria mais prazer de te ter por estas bandas...ao meu redor. - O rapaz desceu o olhar directamente para os s***s.
Sara, imediatamente cerrou os dentes, com a raiva a surgir de dentro dela. Aquilo tinha sido a gota de água no controle da sua irritação.
__ Na verdade ... me ajudarás muito na decisão. - Fez uma pausa, bebeu o resto do café , ficando envergonhada quando vê que todos a observavam curiosos.
Marta estava com um ar divertido, Marco estava curioso e Rafael parecia estar furioso e oscilava o olhar entre ela e o rapaz. Sara até ficou com a sensação de ouvir um suave rosnar vindo de Rafael mas não ligou.
__ Então diz, estou completamente ao teu dispor...__ O Moço piscou o olho, esboçando um sorriso convencido.
__ Uma das coisas que me fará ficar por aqui. - Deu um suspiro de cansaço. O stress da viagem estava agora a surgir nela, não queria começar seu primeiro dia ali com inimizades, mas teria que ser direta naquele ponto. __ È a certeza de que não serei alvo de assédio...da tua parte.
O rapaz rapidamente perdeu o sorriso dos lábios e a encarou perplexo. Ele realmente não parecia estar á espera daquela resposta, pensou Sara. Quando ele ia para responder á sua provocação, reparou que olhou por cima de seu ombro. Acenou com a cabeça, levantou-se e foi-se embora.
__ Isto agora foi estranho. - Murmurou Sara virando-se para Marta. __ Nunca pensei que o moço se fosse sem me responder à letra.
Sara analisou Rafael, o encontrando a beber o seu café , mas com expressão sombria, enquanto Marco e Marta riam subtilmente.
__ Ele teve um pouco de ajuda. - Marco respondeu, fazendo Sara ficar ainda mais confusa.
__ Que tipo de ajuda? - ela perguntou com espanto.
__ Ele acabou por perceber que era altura de sair e deixar de te incomodar, foi só isso. - Sara derreteu-se quando ouviu a voz sensual e firme de Rafael tão perto dela.
Marta aproximou-se do balcão, a olhando com um sorriso , logo em seguida encarando os dois homens.
__ Rafael! Esta moça é a Sara!
Ele olhou-a sem nenhuma expressão no rosto. Sara devolveu-lhe o olhar e estendeu a mão.
__ Muito prazer. - Quando ele a agarrou, Sara sentiu um choque, um calor intenso a subir pelo braço. Sustentou a respiração enquanto o calor se espalhava por todo o seu corpo.
__ O prazer é todo meu, senhorita Sara.
Ele ainda se fixava nela. Os seus olhos relampejavam com um brilho raro, estranho. De repente ela soltou a mão e ele desviou o olhar.
__ Olá sou Marco. Muito prazer princesa. - Disse com ar sedutor e estendeu-lhe a mão.
Sara quando apertou a mão de Marco estava á espera de sentir algo parecido como aconteceu com Rafael. Mas, nada. Nenhum calor, nenhum choque.
__ Sara é nova por aqui, não tem sítio para ficar. - Marta continuou, olhando animada para ambos. __ Eu sei que vocês estão sozinhos há muito tempo, a precisar de ajuda na pousada e seria o ideal para esta moça ter trabalho também, em troca de dormida e comida.- A senhora idosa piscou o olho antes de acrescentar. __ Não a podemos lançar aos lobos, sozinha, não acham?
Nesse momento apesar de ansiosa Sara percebeu que eles tentaram esconder a tensão que os invadiu, mas ela notou que algo os tinha perturbado. Aparentemente tentaram disfarçar mas não fizeram um bom trabalho.