Capítulo 1

2356 Words
EVERLY Minha cabeça lateja enquanto olho ao redor e instantaneamente me arrependo de ter bebido tanto. O pânico me percorre quando não consigo reconhecer imediatamente o local onde estou. Consigo perceber que estou em um quarto; a luz que entra pela janela é cegante enquanto tento descobrir onde estou. A última coisa de que me lembro é do encontro anual do Alfa, uma festa à fantasia para a qual fui com minha família. Minha irmã e eu escapamos para nos encontrar com os futuros Alfas, meu pai sempre insiste que preciso me aproximar deles, já que sou a próxima na linha de sucessão e vou assumir a matilha quando fizer dezoito anos no final do ano. No entanto, por mais que eu me esforce, não consigo lembrar como acabei neste quarto. Gemo, esfregando os olhos e esperando ver direito, o álcool ainda queima no meu sistema e me deixa confusa. Mas quando tento me virar, de repente percebo o braço pesado que está sobre a minha cintura. Viro a cabeça para o lado, rezando para que o braço pesado pertença à minha irmã e que ambas tenhamos desmaiado em algum lugar. Mas meus piores medos se concretizam e tento conter meu grito de horror quando encontro um homem nu deitado ao meu lado. E ele não é apenas qualquer homem, mas o “Blood Alfa” em pessoa, Alfa Valen da Matilha Nightshade. Esse homem possui metade da cidade e é de uma matilha rival. Meu pai vai me matar se descobrir!  — Merda! — Murmuro baixinho antes de olhar para baixo e perceber que também estou nua. O leve desconforto entre minhas pernas me faz perceber dolorosamente que perdi minha virgindade e não tenho absolutamente nenhuma lembrança disso. Bem, lá se vai o momento mágico. Ele deve ser um péssimo amante, rio comigo mesma. Logo ele, é claro que tinha que ser ele. Meu celular vibra no chão ao lado da cama, e quase me jogo para pegá-lo. O rosto da minha irmã aparece na tela. Rapidamente atendo, sussurrando no telefone e cuidando para falar baixo. — Alô? — Onde você está? Papai vai surtar. Eu disse a ele que você está comigo, mas ele me pediu para voltar para casa! — Ela grita pelo telefone. Olho ao redor antes de olhar pela janela, tentando descobrir onde estou. Droga. Percebo que ainda estou no hotel onde ocorreu o encontro do Alfa. — Ainda estou no hotel Banks — Sussurro, e ela pausa, ficando quieta por alguns momentos. — Meu Deus, por favor me diga que você não transou com o Alfa babaca? — Ela sussurra, sabendo que papai vai me matar, provavelmente até me renegar, se descobrir. A reputação do Alfa Valen é escandalosa e aterrorizante. Olho para o deus Grego deitado na cama ao meu lado, completamente desacordado e alheio a mim, atordoada. Eu adoraria ver o horror em seu rosto quando acordar, mas ele pode acabar parando atrás do meu pai na fila para me matar. Droga, eles podem até conspirar juntos para tornar minha morte excepcionalmente horrível. — Não, claro que não. Eu apenas caí no sono em um dos quartos aqui, completamente sozinha — Minto, esperando que Ava acredite em mim. Não vou envolvê-la neste meu pequeno problema se papai perguntar a ela; ela é péssima em mentir. Ela não sabe e não pode se meter em encrenca por minha causa. — Cale a boca. Se papai perguntar, diga a ele que você ficou com a Amber e comigo. Vou pedir para a Amber te buscar no caminho; estarei aí em cinco minutos — Diz, desligando. Olho rapidamente ao redor, pegando minhas roupas do chão e me espremendo no vestidinho colado. Jogo as asas de fada ridículas na lixeira do banheiro. Olhando no espelho, tento consertar minha maquiagem, meu rosto ainda está coberto de quantidades ridículas de glitter, e a máscara que minha irmã pintou no meu rosto ainda esconde metade dele. Rio comigo mesma, sabendo que o Alfa provavelmente acordará confuso quanto a mim e se perguntará por que está coberto de glitter. Vagamente me lembro de conversar com ele, me sentindo atraída por ele por alguma razão. Mas agora, ao observar seu corpo paralisado, não posso deixar de imaginar quem se aproveitou de quem. Dou uma última olhada nele, pego meus saltos e minha bolsa antes de correr até a porta do hotel e abri-la, só para bater de frente com o Beta do Alfa Valen. Bato em seu peito, e ele recua, me encarando. Eu o reconheço das apresentações da noite passada, embora felizmente ele não pareça ter ideia de quem eu sou, já que eu estava no fundo da sala quando ele foi apresentado. Agradeço por ter o rosto pintado, porque ele poderia me reconhecer como filha de meu pai sem isso, e isso é a última coisa que preciso. Ele sorri para mim, claramente achando engraçado que eu esteja fugindo do quarto do Alfa. — Meu Alfa está aí dentro? — Ele pergunta. Eu abaixo a cabeça, esperando que ele não me reconheça, e assinto rapidamente. Passo por ele, tentando não encostar nele — Você está bem, ou precisa de uma carona para casa? — Ele pergunta, me fazendo parar. — O quê? Você dá carona para todas que têm uma única vez com os Alfas? — Rio dele, e ele sorri. — Só para as bonitas — Ele diz, e eu reviro os olhos, acenando para ele antes de sair correndo para encontrar minha irmã. Precisamos ir para casa antes que meu pai envie uma equipe de busca para vasculhar a cidade de Mountainview procurando por suas filhas. *** 3 semanas depois Uma noite. Aquilo foi o suficiente para jogar tudo o que sempre soube no lixo. Eu sabia que algo estava errado quando me senti m*l por mais de alguns dias. Lobos raramente ficam doentes. Finalmente, depois de passar a última semana doente, meu pai, Alfa da Matilha Shadow Moon, me arrastou para ver o médico da matilha. Nossa cidade, Mountainview, é habitada inteiramente por lobos e composta por quatro matilhas. A matilha do meu pai é a segunda maior, o que significa que temos uma posição relativamente alta na região. Além disso, o fato de ele ter apenas duas filhas significa que eu, como a mais velha, serei a próxima na linha de sucessão. Bem, eu era até o Doutor voltar para a sala de exame depois de fazer alguns testes e virar esse sonho de cabeça para baixo. A expressão de decepção no rosto do meu pai aperta meu coração. Uma noite, um homem, o maior erro da minha vida. — Ela está grávida. Meu coração afunda no estômago. Não, não pode ser. Eu só fiz sexo uma vez, e nem me lembro porque estava bêbada. Como diabos isso pode estar acontecendo? Meu pai me olha com um olhar perplexo de onde ele está sentado antes de voltar a olhar para o médico da matilha. — Isso está errado; faça o teste de novo. Ela ainda não encontrou seu par. Ela não pode estar grávida — Diz meu pai. Eu me encolho na cadeira. Tenho apenas dezessete anos, quase dezoito, e a regra número um que todas as lobas têm na cabeça é se guardar para seus pares. Isso é um grande problema, especialmente para o meu pai. Isso traria vergonha à nossa família, pois quebrar a única regra sagrada das lobas é uma grande coisa. Claro, os homens podem se divertir (um pouco de preconceito, não é mesmo?), mas se nós fizermos isso, especialmente alguém como eu, em uma posição de poder, é desaprovado. Eu seria uma desgraça para a família. — Alfa, eu testei a amostra de urina duas vezes — Diz o Dr. Darnel, mas meu pai balança a cabeça, não acreditando em suas palavras, ou não querendo acreditar. — Não, teste de novo; está errado. Minha filha não é uma prostituta sem matilha — Diz ele, com decisão em sua voz. Eu me encolho com suas palavras: uma mulher que engravida de alguém que não é seu par. É a pior coisa de que se pode ser chamada, além de traidora, embora as duas sejam tratadas da mesma forma. Prostitutas sem matilha são proibidas nas terras da matilha, apenas permitidas em território neutro: a avenida principal da cidade e as duas ruas atrás dela de cada lado. A maioria das lobas que engravidam em outras cidades é banida como fazem com aqueles que traem ou cometem traição entre as matilhas; lobos desertados. Sem nenhum contato com a matilha, eles se tornam selvagens, enlouquecendo-os e forçando-os a viver fora das cidades. Ninguém quer ficar sozinho lá fora. Não é seguro e não é como ninguém quer viver. Nossa cidade é diferente. Nós não banimos as mulheres da cidade. Nosso tratamento é um pouco mais... humano, eu acho que se poderia dizer. Em vez disso, nós apenas as tornamos lobas desertas, livres para seguir com suas vidas, mas sem a ajuda da matilha. Eu costumava olhar para elas com desdém, aquelas mulheres que eu via tentando sobreviver com suas “escolhas ruins”. Talvez isso seja meu karma; logo serei uma delas. Enquanto passo esse cenário em minha cabeça, a sala começa a parecer estar ficando sem ar. Me pergunto se vou desmaiar. — Sim, Alfa, vou testar novamente — Diz o Dr. Darnel antes de sair correndo da sala e para longe do olhar mortal do meu pai. Meu pai começa a andar de um lado para o outro, e minha frequência cardíaca acelera quando ele para, se vira para mim. — Ele tem que estar errado; você não é assim. Você não me envergonharia desse jeito — Ele diz, procurando confirmação. Eu me encolho na cadeira. O doutor volta novamente o impede de dizer mais. — Os resultados são os mesmos, Alfa — Diz o doutor antes de olhar para mim com pena. Engulo em seco, encarando com os olhos arregalados o médico da matilha, esperando que ele possa me salvar da ira do meu pai, mas até eu sei que o homem idoso e grisalho não é páreo para ele. Eu também não, pois ainda não me transformei. Depois da transformação no nosso aniversário de dezoito anos, podemos encontrar nossos companheiros. Eu vi amigos e familiares passarem por isso. É considerado sagrado. Eu me pergunto, aterrorizada, o quanto estar grávida vai atrasar o processo. Os corpos não podem mudar durante a gravidez; é um mecanismo de segurança para proteger o filhote que ainda não nasceu. Meu pai rosna, virando-se e me encarando, os punhos cerrados ao lado do corpo enquanto ele luta contra a vontade de se transformar. Muitas vezes, os lobisomens se transformam quando perdem a paciência ou estão se preparando para uma briga. Apesar do quanto ele está tentando, ele ainda está m*l se segurando, seus olhos começando a piscar pretos e seu corpo tremendo de raiva. Meu pai sempre teve muito orgulho de mim e da minha irmã, sempre nos exibindo e contando a todos sobre as filhas maravilhosas que somos e que grande Alfa eu serei quando assumir o comando da matilha. Eu pareço com ele, cabelo escuro e olhos cinza-azulados, herdei essas características dele; e ele me criou à sua imagem, me preparando para assumir o comando. Mas agora, com meu rosto espelhado em seus orbes negros de lobo, ele parece prestes a me matar. Nunca o vi tão bravo na vida, e isso quer dizer alguma coisa. — Ela está de quanto tempo? — Pergunta meu pai. O veneno em suas palavras me arrepia. — Podemos fazer uma ultrassonografia na próxima semana para confirmar a gestação — Diz o médico, e eu olho para minhas mãos. — Não, faça agora para que possamos resolver isso antes que a notícia se espalhe. Eu não vou ter uma prostituta sem matilha como filha. Isso não pode vazar, você entende, doutor? — Diz meu pai. O doutor balança a cabeça nervosamente. Vagamente, percebo que estou de boca aberta enquanto encaro, completamente chocada, com o que meu pai acabou de dizer. Isso vai contra a deusa da Lua, abortar um bebê! — Espera! — Eu digo, finalmente encontrando minha voz. Meu pai me olha e o médico se afasta dele quando sente a aura do meu pai se espalhar. — Esperar o quê? Você não vai manter essa monstruosidade. Podemos esconder isso, ninguém precisa saber, e você ainda pode assumir a posição de Alfa; só precisamos resolver essa escolha errada, então as coisas podem voltar ao normal — Diz meu pai. Ele faz parecer tão simples, como se isso não fosse um pecado contra a deusa da Lua. — Não. Eu não posso fazer isso, pai. Por favor, apenas me deixe conversar com a mãe. Podemos resolver isso — Imploro. — Não, você vai interromper a gravidez, e então vamos para casa. Doutor, pegue o que for necessário. Não vou sair deste consultório até que isso seja resolvido — Diz meu pai. Sinto as lágrimas se acumularem com suas palavras. Claro, eu não queria estar grávida, mas não sou assassina; abortar uma gravidez é pior do que ter um filho com alguém que não é seu par. — Alfa, tenho medo de que se sua filha não estiver disposta, eu não possa realizar tal procedimento a menos que haja um motivo médico — Diz o Dr. Darnel. — Ela está disposta, não é mesmo, Everly? — Meu pai diz, tentando me forçar a concordar, mas eu o encaro de frente. Minha decisão está tomada; não irei seguir em frente com isso. — Não! — Digo a ele, não esperando a reação que segue. Em toda a minha vida, meu pai nunca me bateu, nunca levantou a mão para mim, e o choque de sua ação é mais doloroso do que o golpe em si, quando sua mão conecta com o lado do meu rosto. Posso sentir o contorno de seus dedos marcados na minha bochecha enquanto uma sensação de queimação se espalha por ela a partir de sua palma. — Então você não é mais minha filha — Ele diz e sai do quarto.
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