Ambos me olham, cheirando o ar enquanto os observo. Pelo cheiro, sei que são lobisomens de alta patente.
"O Alfa Ezra solicita sua presença na Casa da Matilha imediatamente." O homem de cabelos escuros que está desbotado nas laterais rosna. Parece ter vinte e poucos anos e, pela autoridade emanando dele, posso dizer que ele é o Beta da Matilha. Seus olhos rapidamente se voltam para mim e ele me analisa dos pés à cabeça, com uma expressão estranha no rosto.
Ele está com raiva, ou é choque? Não consigo dizer, mas seja o que for, ele disfarça rapidamente. Ele pressiona os lábios e engole em seco, voltando sua atenção para o meu pai.
"Essa é a sua filha?" Ele debocha, apontando para mim, sem nem tentar esconder sua antipatia enquanto fala; acho que é raiva. Sim, definitivamente irritado, pois quando seus olhos se encontram com os meus novamente, seus olhos frios de um cinza-azul gelado me encaram como se ele quisesse me matar com suas olhar afiados como adagas.
"Sim, esta é minha filha, Katya. Eu sou Derrick." Meu pai se apresenta antes de estender a mão. "Não peguei o seu nome?" Meu pai diz, desviando a atenção do homem de mim, o que me faz querer correr e me esconder no carro para escapar de seu olhar intenso.
O homem aperta sua mão firmemente. "Beta Mateo, este é o Alex, um dos nossos Gamas." Ele apresenta o outro homem. Ele tem mais ou menos a mesma idade, com cabelos loiros caindo nos olhos cor de avelã, mas ele parece mais entediado do que qualquer outra coisa.
Ambos são enormes, do tamanho do meu pai. Mas o Beta Mateo tem mais músculos e é alguns centímetros mais alto, usando uma camisa preta e jeans azul escuro.
"Ouvi dizer que você era um Beta na sua antiga Matilha?" Mateo questiona, e meu pai assente. "Bom, poderíamos usar um pouco de ajuda para treinar alguns dos membros da nossa Matilha. Se você estiver disposto?" Ele pergunta com um sorriso.
Meu pai assente. "Ótimo." Meu pai diz para ele antes de apresentar minha mãe. "Esta é a Shirley, minha esposa e companheira."
"Prazer em conhecê-los." Minha mãe diz a eles, se aproximando e apertando suas mãos. Os olhos do Beta continuam voltando para mim, sua raiva agora se foi, mas ele parece confuso. Toda vez que ele olha na minha direção, ele cheira o ar, seus lábios cerrados enquanto ele me observa mais uma vez, e eu percebo as pontas de suas presas se projetando um pouco, como se ele estivesse tentando controlar seu lobo.
"Se vocês nos seguirem, nós vamos escoltá-los até a Casa da Matilha. Vocês podem ficar com alguém até que a propriedade esteja disponível." Mateo explica, se virando nos calcanhares e entrando em seu BMW preto. Voltamos para o nosso carro e o seguimos pela cidade adormecida. É uma cidade bastante grande e com uma aparência muito melhor do que a da nossa cidade natal.
"Veja como são legais? Vai dar certo. Tem que dar." Minha mãe diz entusiasmada demais.
Seguimos o carro deles até o fim da cidade antes de virarmos em uma estrada e entrarmos na floresta por mais dez minutos. Paramos em uma entrada em formato de ferradura em frente a uma mansão enorme de três andares feita de arenito, com arbustos verdes volumosos na frente. Janelas grandes em forma de arco e videiras crescendo pelas paredes de pedra até o telhado. Saio do carro e meus sapatos fazem barulho no chão com as pequenas pedrinhas que o cobrem. Olho para a Casa da Matilha. Definitivamente é mais luxuosa do que a de casa.
O Beta Mateo nos leva até a porta branca, a abrindo e fazendo um sinal para entrarmos. Por dentro, temos pisos de mármore branco e um suporte para chapéus na parede próxima à entrada com um vaso grande que parece caro. Minha mãe olha ao redor, maravilhada. Duas escadas levam ao patamar acima, com vista para o andar em que estamos, e eu encaro, maravilhada, absorvendo tudo aquilo.
Caminhamos em direção à porta entre as duas escadas. Vejo alguns bancos ao lado dela, e Mateo bate na porta antes que uma voz profunda mande entrar. Um arrepio percorre minha espinha.
Ele entra e fecha a porta atrás de si antes de voltar e dizer para meus pais entrarem e para eu esperar ser chamada. Espero o que parece ser horas antes da minha mãe sair, se sentando ao meu lado. A Casa da Matilha está quieta e ninguém está andando por ali, e não consigo ouvir ninguém mais.
"Ele está conversando com seu pai, e depois vai querer conversar conosco individualmente para garantir que nossas histórias sejam iguais." Minha mãe me explica em voz baixa.
"Que história? Eles nos baniram por minha causa." Sussurro para ela. Se ele descobrir, ele nos matará, ou pior, me fará ir embora sem meus pais. Minha mãe me cutuca com o braço.
"Shh, se acalme. Está tudo bem. Provavelmente ele não vai te perguntar muita coisa porque você é nossa filha." Ela tenta me confortar, me acalmando o suficiente para não sermos descobertos. Lágrimas surgem em meus olhos e eu as enxugo rapidamente. Se eu estragar tudo, arruinaria nossa única chance de ficarmos juntos.
"O que você disse para eles?" Pergunto baixinho. Preciso ter certeza de que entendi tudo certo. Não posso dizer a coisa errada.
"Eles iriam nos banir. Não é mentira; é a verdade. Ele não precisa saber o motivo. Você tem um lobo, Kat. Ela virá. Você vai ver." Minha mãe tenta me tranquilizar.
"E se ela não vier?" Sussurro.
Ela responde: "Ela virá!" Com determinação em sua voz. Baixo a cabeça. Serei a maior decepção para eles, o que faz meu estômago se contorcer.
Meu pai sai e acena para minha mãe. Ela limpa as mãos na calça antes de se levantar e entrar no escritório, fechando a porta.
"Ele vai te iniciar na Matilha. Não é tão r**m assim. Você só precisa beber sangue dele, Kat, e você sentirá o elo com a Matilha se firmar."
Nojento, eu penso comigo mesma. "E a antiga Matilha?"
"Vai doer um pouco quando você fizer a promessa, como uma enxaqueca. Não vou mentir, até me fez cair de joelhos." Ele sussurra, enquanto ouço minha mãe gritar. Meu pai levanta rapidamente, virando a cabeça em direção à porta. Ouço murmúrios baixos antes da maçaneta de prata se mexer e a porta se abrir. Minha mãe sai cambaleando, segurando a cabeça. Meu pai está ao lado dela, a ajudando a se sentar.
Nervosismo me faz dar um passo para trás, não querendo passar pelo que ela acabou de passar. "Kat, você precisa entrar." Minha mãe sussurra, se recompôs, com os dedos suavemente massageando as têmporas.
O medo me sufoca e eu balanço a cabeça, com muito medo de entrar. Minha mãe é a mulher mais forte que conheço e, se doeu tanto assim nela, eu sei que deve ser doloroso.
Meu pai se aproxima, segura meus braços e me sacode gentilmente até eu olhar para ele. "Kat, fizemos tudo isso por você. Essa é a única escolha que temos para ficarmos juntos, então preciso que você faça isso por nós." Ele ordena, mantendo meu olhar, e eu engulo em seco e olho para a porta antes de assentir.
"Está tudo bem aí fora?" O Alfa pergunta de dentro da sala. Olho para a porta em pânico.
"Por favor, Katya, quando estiver feito, estará feito, vai parar, eu prometo." Meu pai tenta me tranquilizar, mas minha mãe ainda segura a cabeça entre suas mãos.
Solto o ar e aceno com a cabeça. Meu pai me conduz até a porta e me cutuca. Minha mão treme quando seguro a maçaneta e empurro a porta. Mantendo a cabeça baixa, entro, fecho a porta e olho para o Alfa.
Ele está olhando alguns documentos em sua mesa. Ele tem cabelos escuros, longos na parte de cima e desbotados nas laterais. Congelo diante do olhar estranho que ele me dá quando olha para cima. Ele cheira o ar sutilmente, e me pergunto se ele pode sentir que sou diferente. Um rosnado baixo e profundo ronrona de seu peito suavemente enquanto ele segura a mesa com tanta força que seus dedos ficam brancos. Seus olhos de caramelo se fixam na b***a que habita dentro dele e tenho que lutar contra a vontade de correr para fora da sala.
Timidamente, meus pés se movem em direção à mesa. Ele é muito bonito, com barba por fazer, lábios cheios e uma mandíbula forte. Ele também cheira bem, como a floresta depois da chuva; tem um aroma marcante de madeira. Eu arriscaria dizer que ele tem cerca de vinte e poucos anos. Ele me observa por alguns segundos quando paro, sem saber se devo continuar em pé ou o que fazer comigo mesma.
Depois de alguns segundos, seu corpo relaxa um pouco, e percebo marcas de garras em sua mesa onde estava segurando com os dedos. Ele me chama mais perto e forço meus pés a se moverem. Seus olhos acompanham todos os meus movimentos. Droga! Será que ele consegue sentir que eu não tenho um lobo? O cerrar rígido de sua mandíbula se contrai, e a maneira como ele me observa com seus olhos oscilando faz meu sangue gelar.
Ele sabe, e vai me matar.