"Luna"
Sou Luna, nasci numa aldeia indígena,minha mãe era índia,filha do cacique Tuxã ,chefe da tribo.
Era uma noite de lua cheia quando eu nasci, dizem que sou fruto de um amor proibido, minha mãe se apaixonou por um homem branco,mas o meu avô não aceitou, minha mãe já tinha sido dada como esposa quando ainda era criança, só estava esperando completar a idade para o seu esposo vim busca lá.
As meninas da nossa Aldeia se casam aos 10 anos de idade,com homens da mesma tribo ou de tribos diferentes, escolhido pelo pai ou pelo avô.
Quando completam a idade de 20 anos,os maridos vem reivindicar suas esposas,eles as levam consigo e consumam o matrimônio.
As meninas se guardam puras para os seus esposos, se por acaso alguma delas não forem virgens,eles podem fazer o que quiser com elas, expulsa Las da Aldeia,podem ser devolvidas,o que é considerado uma enorme vergonha para as famílias, Ou os esposos traídos, podem lavar sua honra com sangue, o sangue da esposa ou do responsável por tirar a virgindade dela.
Foi o que aconteceu com a minha mãe, ela ficou grávida de um homem branco, então o meu avô traçou um plano,manter a minha mãe escondida,até que a criança nascesse, então ele se desfazia da criança, (que no caso sou eu) e depois a minha vó,que é uma índia muito sábia,conhecedora de ervas e cheia dos seus truques,ela daria um jeito da minha mãe se passar como virgem,e ser aceita pelo seu esposo.
Talvez o plano daria certo, Mas o fato é que minha mãe não estava disposta a abrir mão do seu bebê,e nem do seu amor.
Quando ela entrou no oitavo mês de gestação, ela fugiu, o meu pai a esperava na saída da grande mata,que dividia a nossa Aldeia da cidadezinha,para fugirem juntos.
O meu avô descobriu sua fuga,e sairam ele e minha vó atrás de minha mãe, até que os encontraram,foi então que a tragédia aconteceu, o meu avô lavou a honra da minha mãe com o sangue do meu pai, sem ao menos dá lhe a chance de defesa,a sangue frio,ele matou o meu pai.
A minha mãe ficou desesperada e entrou em trabalho de parto,foi um parto difícil,no meio do mato,a minha vó usou toda a sua sabedoria e experiência com as ervas,mas infelizmente a minha mãe também faleceu.
Eu prematura e tão frágil,eles acreditavam que eu não ia sobreviver, então a minha vó na tentativa de salvar a minha vida me ofereceu para a deusa Lua.
A deusa decidiria se eu viveria ou não.E como se fosse um milagre eu sobrevivi,daí o meu nome Luna.
As meninas da minha Aldeia eram todas iguais,pele parda,cabelos longos, lisos e totalmente pretos, eram lindas.
Eu sou bem diferente delas,minha pele é pálida,que lembra a cor da lua,meu cabelo é preto,longo, com ondas e alguns fios avermelhados,na verdade é mais para um tom alaranjado,que lembra o pôr do sol.
Quando completei a idade de 10 anos,o meu avô me casou com um chefe de uma outra tribo.
As duas tribos eram inimigas no passado,e essa união selaria o acordo de paz.Os casamentos eram arranjados pela família, e era feito duas cerimônias,uma com o noivo e a família dele,a outra cerimônia com a noiva e a família dela.
Assim foi feito o meu casamento,o meu marido é um homem desconhecido para todos aqui da Aldeia, somente o meu avô o viu no dia que fora arranjar ele para mim.
Ouvir comentários entre as mulheres da Aldeia, que o meu marido é um homem feio e velho, porém muito bondoso,por isso o chamam de Cauê, que significa Homem Bom.
Faltam apenas duas semanas para eu completar 20 anos,a idade em que o meu marido virá me buscar,para consumar o casamento,fico apreensiva só de imaginar.
É tarde de sábado, o sol daqui a pouco se põe,decido ir ao riacho para da o último mergulho do dia,o riacho é o meu lugar preferido no mundo, ele passa dentro das nossas terras,faz uma curva por trás da serra e passa por dentro de uma grande fazenda, a temida fazenda.
Os mais velhos da nossa Aldeia nos contam histórias de coisas horríveis que acontecem por lá.
De fantasmas até assassinatos.
Mas a minha vó disse que lá na fazenda, moram O Senhor João Medeiros,que é o dono da fazenda,e os seus dois filhos,que por sinal são rapazes muito bonitos, então os homens da nossa Aldeia, criaram histórias assombrosas para afastar nossas meninas,dos rapazes de lá,e tem funcionado até hoje.
O riacho é lindo,e aquela parte específica onde eu nado todas as tardes,é mais linda aínda.
Há um amontoados de pedras grandes, muitas árvores,moitas e flores silvestres, eu amo, simplismente amo esse lugar, totalmente isolado, por isso sempre fico a vontade,tomo banho nua, canto e passo uma boa parte da minha tarde ali,as águas são quentes durante o dia,mas a noite o lugar fica frio, muito frio.
Estou deitada sobre as águas, flutuando,olhos fechados, pensando no dia que eu terei que enfrentar a realidade, casada com um homem que nunca vi na vida.
E se ele for como dizem, velho e feio? pelo menos é bondoso.
Talvez ele não goste de mim e me devolva, mesmo que uma esposa devolvida nunca mais se case,eu ficaria feliz se isso acontecesse.
Abro os olhos e vejo que já está escurecendo, minha avó deve está preocupada,saio rapidamente da água, eu vou em busca das minhas roupas, mas ..
Onde está a minha calcinha? procuro e não encontro,que estranho, provavelmente o vento a jogou no rio,penso, mas já está escurecendo, amanhã volto e procuro melhor.
Visto o meu vestido, monto no meu cavalo e volto para a Aldeia.