*Início* Louise Lehmann
Eu sempre me considerei uma menina impulsiva e inteligente, sempre achei que sabia de tudo, de como as coisas funcionavam e principalmente das consequências que atitudes tomadas no calor do momento me trariam ao longo do percurso da vida.
Eu sempre costumei dizer desde pequena que eu sou a única dona do meu destino, que se eu não tivesse pulso e coragem não chegaria a lugar nenhum. Eu sempre fui muito intensa e sempre me entreguei de corpo e alma a tudo que me propus a fazer. Papai costumava brincar e me chamar sempre de: minha menina maluquinha. Ele sempre dizia que eu tinha capacidade de voar alto e chegar muito longe. Mas para ser a dona do seu destino é preciso ter paciência e sabedoria, como sempre dizem: A pressa é inimiga da perfeição e pagamos um preço alto por ela.
Eu sempre quis ser a dona do meu destino e eu realmente fui… Mas nada, absolutamente nada saiu como esperado.
Eu tinha apenas onze anos quando me apaixonei perdidamente pelo meu vizinho extremamente gato e possessivo de quinze anos. Algumas meninas dessa idade ainda estavam brincando de bonecas, casinha, essas coisas que “meninas normais” deveriam estar fazendo. Já eu estava ocupada demais babando e suspirando pelos cantos por Olivier Donovan, assim como ele por mim.
Na verdade o meu interesse por ele começou justamente depois do dele por mim, até então eu nem mesmo pensava em beijar na boca. Aos onze anos eu já chamava bastante atenção por onde passava, sempre gostei de andar bonitinha, graças a minha mãe que fazia de mim uma boneca, ela não me deixava colocar os pés fora de casa se estivesse desarrumada. Sempre usei meu cabelo cortado em frangainha por que a minha mãe achava que eu ficava a coisa mais linda e eu realmente ficava.
Inclusive até hoje isso me dá um ar de… Menina mulher sabe? Tenho olhos castanhos, 1,67 de altura e uma pele levemente bronzeada, mas o meu charme mesmo sempre foi minha franjinha com meus looks extravagantes. Depois da tragédia que mudou a minha vida eu escondi por muito tempo essa Louise, mas essa não é uma história que eu esteja disposta a contar agora.
Oliver estava sempre me cantando, eu era nova sim, mas não era boba e eu sabia quando ele estava flertando comigo. Aos doze anos começamos a “namorar escondido” aquela coisa de beijinhos, quando o hormônio feminino está a flor da pele começando a aparecer, eu me tornei mocinha muito nova e a curiosidade sempre existiu em mim.
Olivier sempre foi carinhoso, estava sempre me mimando, não apenas com presentes isso nunca foi deslumbre para mim. Eram as atitudes que contavam, os momentos que passávamos juntos. Meus pais tinham uma empresa pequena mas lucrativa, a família de Oliver também era controlada, estudávamos na mesma escola mas em salas diferentes. Nos víamos sempre lá ou na nossa casa quando nossos pais não estavam.
Olivier sabia exatamente como me envolver e todos os momentos que ficávamos eram intenso demais, e tudo aquilo foi despertando minha curiosidade. Aos treze anos no nosso “Aniversário de namoro”cometi o primeiro erro da minha vida, me entreguei a ele de corpo e alma, ele foi exatamente carinhoso e paciente comigo e dali em diante tivemos várias outras noites como essa. Olivier foi mudando em questão de um ou dois meses, foi ficando possessivo ao ponto de não me deixar falar com minhas amigas e eu não podia olhar para o lado quando estávamos juntos.
Tanto que chegou ao ponto tão extremo que meus pais perceberam nossa relação e aquela foi a primeira vez que vi meu pai decepcionado comigo, o jeito que ele me olhou naquele dia fez meu coração sangrar. Eu sempre fui o orgulho dele e daquele dia em diante só dei a eles decepção e desgosto. Meus pais sentaram comigo e tiveram uma séria conversa, principalmente com os olhares que Oliver me direcionava, eles me alertaram muito, muito mesmo mas eu estava apaixonada demais para entender o que eles queriam dizer.
Aos treze anos eu apanhei pela a primeira vez na minha vida, e não foi dos meus pais.
— Louise minha filha, estamos te esperando para jantar. — Mamãe bate na porta do meu quarto.
— Estou sem fome mãezinha.
— Como assim está sem fome?
— Quem está sem fome? — escuto meu pai se aproximar da porta. — A minha menina maluquinha nunca está sem fome. Abre a porta Louise.
— Papai, eu.. eu.. só estou um pouco cansada hoje, me deixa dormir um pouquinho ta bom? — tento soar o mais normal possível mas sei que falhei miseravelmente.
— O que está acontecendo Louise? Abre essa porta agora mesmo!
— Papai.. — antes que possa dizer qualquer coisa a porta é aperta com apenas um chute, tento correr para o banheiro mas meu pai me alcança me segurando pelo braço enquanto minha mãe acende a luz.
— QUE p***a ACONTECEU COM VOCÊ LOUISE? Quem deixou você desse jeito e por quê? — a expressão assombrada do meu pai olhando para o meu corpo me deixa incomodada. — EU VOU m***r ESSE DESGRAÇADO! — ele finalmente entende o que aconteceu.
Corro em sua direção segurando seu braço tentando pará-lo. Pulo em suas costas abraçando seu corpo tentando a todo momento impedir uma tragédia.
— Me perdoa papai! Me perdoa por favor? Eu estou te implorando não faz comigo, não faz isso com o senhor. Eu preciso de você aqui, eu preciso do senhor ao meu lado! Não estraga sua vida estou te implorando por tudo o que é mais sagrado nesse mundo, não vá até lá, não mexe com ele. Eu vou mudar.. eu juro que vou mudar, eu só preciso de tempo para conseguir fazer ele entender que eu não quero mais, eu só… Não vá até lá papai. — a essa altura já não estou mais em suas costa e sim em sua frente. Ele olha mais uma vez para meu corpo me abraçando apertado logo em seguida se desmanchando em lágrimas cortando lentamente o meu coração.
— Eu não criei você para isso Louise… Você sempre foi a minha menina, a minha princesinha.. eu nunca encostei um dedo para ferir você, nem eu nem sua mãe. Ele não tinha esse direito eu não posso aceitar. Desde quando isso tem acontecido? — pergunta me encarando.
— Papai… — incapaz de responder sua pergunta, apenas quebro o beiço chorando outra vez. Eu não preciso responder essa pergunta. O meu choro extremamente dolorido fala por si só. — Vai Felicity, arrume a banheira para ela. — pede com a voz embargada enquanto minha mãe caminha sem reação para o banheiro. Ela está em choque.
Poucos minutos depois sinto outro abraço vindo por trás de mim, e é apenas aqui neste abraço que me sinto viva e acolhida. Me perguntando em qual momento eu deixei de ouvir os meus pais?
É sempre assim, começa com uma agressão verbal, possessividade, ciúmes até mesmo do vento, seguido por um empurrão, logo depois vem o puxão de cabelo. Depois o famoso: “eu não fiz por m*l, me desculpa! Naquele momento não era eu, eu estava descontrolado. Eu faço isso porque tenho ciúmes, eu amo você e tenho medo de te perder… E inúmeras outras desculpas que infelizmente agente acredita!
Acredita, porque aprendemos que aquele é o “jeito deles demonstrarem amor” Amor é o c*****o!
Aquela noite me rendeu duas costelas quebradas.
— As coisas não vão ficar assim minha princesa. — Mamãe diz enquanto penteia o meu cabelo na banheira. — O médico já está vindo examinar e medicar você. Conversei com seu pai e vamos nos mudar daqui, ainda essa semana vamos vender a empresa e começar tudo de novo em outro lugar.
— Mas é o trabalho de anos de vocês mamãe… — ela me interrompe.
— Você é e sempre será a nossa prioridade Louise, você é a nossa vida a coisa mais linda que nos aconteceu. Se você não está bem, nós não estamos bem. — diz beijando o topo da minha cabeça. — Você ainda é apenas uma criança com uma mentalidade de adolescente. Com o tempo vai saber lidar e superar tudo isso, eu deveria ter prestando mais atenção em você…
— Pelo amor de Deus mamãe! Não diga uma coisa dessa nem de brincadeira. Vocês foram os melhores pais do mundo, eu que sempre fui teimosa demais, quis apressar o processo, atravessei uma linha que não devia. Mas nada disso é culpa de vocês assim como não é inteiramente minha. A culpa é dele que tem uma mente fodida.
— A melhor sopinha do mundo, feita pelo melhor cozinheiro do mundo. — Meu pai grita atrás da porta. — se enxuga e vem comer como nos velhos tempos, minha menina maluquinha. — faço uma careta na mesma hora.
— Ah não papai, o senhor não vai fazer isso vai?
— Mas é claro que eu vou hora. — olho para minha mãe.
— Você sabe que ele vai, então nem adianta me olhar com essa cara. — Mamãe me ajuda a levanta e também a me secar. Coloco um conjunto de dormir, composto por calça e blusa de manga comprida, assim não ficaremos nos lembrando disso. Tento andar o mais normal possível devido a minha costela, para não chatear novamente o meu pai.
— Papai, isso é tão constrangedor. Me deixe comer sozinha? — digo fazendo um biquinho mesmo sabendo que não tem acordo.
— Senta aí e abre a boquinha que o aviãozinho quer entrar.. — Tento revirar os olhos para fingir que estou chateada, mas é impossível quando ele faz um barulho engraçado de um avião com a boca.
Eu sempre reclamo, mas adoro quando ele faz isso. Inclusive ele fez isso todos os dias durante os 15 dias que fiquei em recuperação. Parece até que estávamos sentindo que iríamos nos despedir, ele eu e minha mãe, estávamos tão grudados um no outro nesses últimos dias. Na verdade sempre fomos grudados um no outro, apesar da pressão psicológica que vinha passando, nunca deixei afetar os meu relacionamento com meus pais.
Meus pais saíram para resolver os últimos detalhes da viagem enquanto eu fiquei em casa organizando as últimas malas, já não sentia mais tantas dores e optamos por adiantar nossa partida.
A chuva caia intensamente lá fora e os raios e trovões clareavam a noite fria e escura da Cecília, a energia já não estava presente quando ouvi leves batidas em minha porta. Naquele momento sentia que nada estava certo, senti um enorme aperto no peito, tanto que em outras circunstâncias eu não abriria a porta assim de uma vez segurando apenas uma lanterna. E ao abrir recebi a pior notícia da minha vida.
— NÃO NÃO NÃO NÃO NAAAAAAAAAAAAAOOO… É mentira é mentira! Só pode ser mentira…
— Ei acorda! Louise querida, você está tendo outro pesadelo meu amor. Essas coisas não tinha parado de acontecer? Eu estou aqui agora, estou aqui para cuidar de você.
— Me remexo na cama inquieta, me sentando em seguida. Percebendo está tendo outro pesadelo.
Continua