O Príncipe e a Lua Rejeitada

1- Almas destinadas

Eu, assim como todos os outros na matilha, tinha uma queda pelo futuro Alfa desde que éramos crianças. Mas nem todos estavam apaixonados por ele como eu estava.

Não que realmente tenhamos conversado além de uma vez em que ele esbarrou em mim por acidente, ou que ele tenha me notado, mesmo quando eu não conseguia parar de olhar para ele. Meus pensamentos eram consumidos por ele, talvez isso fosse obsessivo, mas nada do que eu tentasse me impedia de fantasiar sobre aquele homem.

Até que eu era bonita, mas ninguém nunca me deu esse elogio. Gostava da escola e tinha amigos, mas não me destacava. Não como a namorada linda, naturalmente loira e alta que ele teve durante a maior parte do ensino médio. Ela sabia como chamar a atenção de todos.

Isso foi até o aniversário de dezoito anos, durante o verão, depois de me formar.

Eu estava passando pelos campos de treinamento para dar uma volta antes dos meus pais acordarem, um pouco antes da nossa tradição de fazer mais panquecas do que poderíamos comer e assistir filmes pela manhã toda para nos recuperarmos.

Senti um cheiro delicioso, mais do que isso, era reconfortante e convidativo. Isso me lembrou da floresta depois da chuva, mas o céu da manhã estava limpo e não havia chovido nos últimos dias.

O futuro Alfa, Nolan, estava bloqueando o meu caminho. Engoli em seco, seu cabelo castanho escuro estava úmido de suor, e seus olhos castanhos faiscaram para um preto meia-noite.

"Minha", ele rosnou.

Um milhão de borboletas explodiram dentro de mim e todo o meu corpo zumbia enquanto o choque me prendia no lugar. Eu não podia acreditar, tudo o que eu já sonhei e nunca ousei colocar em palavras, além das minhas fantasias ridículas, estava se tornando realidade.

Naquele dia, ele me tornou sua de todas as maneiras possíveis. A partir daquele momento, meu mundo girava em torno dele ainda mais do que antes.

Isso foi há mais de um ano e ainda não conseguia acreditar que ele era meu, somente meu. As coisas não eram perfeitas, ambos estávamos ocupados aprendendo como assumir os novos papéis que seriam nossos assim que ele completasse vinte e um anos. Quando ele se tornar oficialmente o Alfa, estarei ao seu lado como sua Luna.

Ainda não parecia real, eu ainda o olhava como fazia no refeitório, com desejo e vontade. A única diferença era que agora ele devolvia esses olhares com a mesma intensidade.

"Troque os garfos. Você sabe disso, Willa", repreendeu-me a atual Luna, Natalie, mãe de Nolan.

Minhas lições de Luna consistiam principalmente em planejamento de festas, memorizar os nomes e rostos dos membros de outras alcateias, passar a imagem de uma pessoa centrada e inabalável, mas calorosa, e pensar no que Nolan estava fazendo.

Para ser honesta, eu estava tendo dificuldade com todas essas coisas, exceto a última. Todos os tons de bege pareciam exatamente iguais e eu nem sabia que existia mais de uma cor de pêssego.

"Desculpe, Luna", murmurei, captando seu olhar furioso.

Nada de murmurar.

"Luna, Willa", Jack, o futuro Gamma de Nolan, entrou na sala, cumprimentando-nos. "Camilla está aqui e pede uma audiência."

"Bem, isso é fantástico", o sorriso de Luna Natalie era genuíno, mas meu estômago se revirou no mesmo instante.

Camilla, a ex-namorada de Nolan do ensino médio? O que estava fazendo ali?

"Você consegue terminar a preparação, não é?" Natalie se virou para mim, e eu assenti.

"Claro, Luna", sorri para ela apesar da minha curiosidade e do medo provavelmente infundado.

"Eu vou ajudar", acrescentou Jack, pegando a bandeja de talheres de Luna Natalie.

"Obrigada", murmurei quando ela saiu da sala.

"Isto é tortura", brincou ele.

"Não posso discordar de você nisso."

"Eu preferiria treinar sem parar do que ter uma lição com a Luna."

Embora eu não treinasse regularmente, às vezes participava. Mas depois de me unir a Nolan e me tornar a futura Luna, fui obrigada a parar completamente.

"Willa, tem alguém que eu gostaria que você conhecesse." A Luna estava na porta.

Um momento depois, Camilla, a mesma Camilla, entrou descontraidamente.

Ela olhou para a arrumação das mesas antes mesmo de olhar para mim.

"Jack", Camilla sorriu para ele, seus lábios se afastaram revelando dentes brancos ofuscantes. Seus cabelos naturalmente loiros estavam perfeitamente cacheados, era alta e parecia extremamente confiante em um vestido vermelho justo que parecia mais adequado para uma festa, usando saltos altos pretos que mostravam suas longas pernas douradas.

"É bom te ver, já faz muito tempo", Jack sorriu de volta, olhando entre nós duas. "Como está a faculdade?"

"Bem." Ela acenou com uma mão bem cuidada. "Mas Carden Valley é tão monótono, quase não há nada para fazer lá."

Carden Valley puxou minha memória, mas eu não sabia por quê.

"Camilla, não tenho certeza se você foi formalmente apresentada a Willa ainda, a companheira de Nolan", Jack fez a introdução que eu estava esperando da Luna Natalie.

O sorriso de Camilla vacilou por um segundo, e o sorriso radiante que ela tinha para Jack foi substituído por algo meio falsificado enquanto ela me olhava.

Puxei alguns fios do meu cabelo preto ondulado para trás da orelha, lutando para manter meu olhar firme e não olhar para o vestido de algodão branco simples que eu usava. De repente, me senti terrivelmente m*l vestida em minha própria casa.

"É um prazer!" Camilla estendeu a mão, sem dar um passo à frente.

Eu fechei o espaço entre nós e apertei sua mão, respondendo:

 "É um prazer." Forcei meu melhor sorriso falso de Luna. "Nolan e eu estamos honrados com sua visita. Espero que você fique para o aniversário dele." Mantive minha voz calma, mesmo querendo arrancar os olhos perfeitamente delineados dela por algum motivo.

O aniversário de 21 anos dele aconteceria em poucos dias, e eu ajudei em todos os aspectos da festa. Era algo do qual eu realmente me orgulhava, queria que ela visse que eu era capaz, mesmo que não ficasse tão bem de mini-saia. Mas afinal, o que eu queria mostrar? Minhas habilidades de planejamento de festas? Até pensar nisso parecia entediante.

"Claro", ela respondeu.

Meu estômago se contorceu, mas não era essa a resposta que eu estava esperando?

"m*l posso esperar para conhecê-la melhor." Mantive minha posição e continuei sorrindo.

"Igualmente", seu sorriso estava vazio de emoção. "Ah, Willa, é isso?"

Eu assenti.

"Acho que suas colheres de sopa e sobremesa estão trocadas." Desviei meu olhar dela para a disposição dos talheres.

"Realmente", Luna Natalie repreendeu. "Obrigada por notar isso, Camilla."

As duas caminharam para fora da sala, com as cabeças inclinadas juntas, rindo e cochichando.

Eu gemi e caí em uma cadeira.

"Muito pouco luna da sua parte", Jack riu. "Mas sua atuação foi ótima."

Eu o encarei. "Foi tão óbvio assim?"

"Bem." Ele deu de ombros e esfregou a nuca, um sinal revelador de que ele estava tentando não magoar os sentimentos de alguém.

Jack e o futuro Beta, Isaac, se tornaram meus amigos ao longo do último ano, mas eu desenvolvi um carinho especial por Jack quase imediatamente. Fiquei surpresa no início com o quão aceitantes eles eram comigo. Eu definitivamente não era como as garotas com quem eles costumavam sair, mas, no último ano, nós basicamente fizemos tudo juntos como futuros membros graduados e todos morávamos na casa da matilha.

Eu me mudei na noite depois que Nolan acasalou comigo e me marcou, só de me lembrar daquela noite sentia arrepios de prazer pela minha espinha. Fiquei completamente chocada e maravilhada que o homem com quem sonhei durante a maior parte da minha vida estava me reivindicando, explorando meu corpo pela primeira vez, com sua língua, suas mãos e então...

"Willa?" Jack olhou para mim, tirando-me dos meus pensamentos.

"Hm?"

"Perguntei se havia mais alguma coisa depois de trocarmos as colheres." Balancei a cabeça e mordi o lábio, me contendo para não perguntar mais sobre Camilla.

Meu estômago afundou quando pensei nela. A dor parecia física, como se alguém tivesse sugado todo o ar de mim e preenchido meus pulmões com chumbo, mas eu sabia que aquilo era só o meu ciúme falando mais alto. O que eles tinham acabou antes mesmo de eu descobrir que era a companheira dele. Eu não o tirei dela, mas, mesmo que tivesse, sou a companheira dele e ela era apenas uma namorada, ou melhor, uma ex-namorada.

"Você está bem?" Jack me estudou, a preocupação estampada em seu rosto.

"Sim, claro." Respirei fundo, tentando controlar minha insegurança.

"Não se preocupe com a Camilla, ela é assim com pessoas novas." Ele deu de ombros.

"Certo", tentei ignorar. "Vou procurar o Nolan."

Consegui me levantar apesar da inveja palpável que estava irradiando em mim. Caminhei pelo corredor, esperando interceptar meu companheiro no escritório do pai dele, o escritório do Alfa Hugo, antes que ele partisse para a próxima coisa em sua agenda lotada.

Tudo tinha sido uma confusão entre o aniversário dele e nós assumindo o comando da matilha logo depois. m*l conseguíamos nos ver.

Eu sabia que vê-lo, sentir seu toque, iria dissipar esse sentimento insano que se enraizou em mim e me encheu de inseguranças. Já tinha sentido isso antes, mas geralmente não estava ligado à inveja, era ligado ao estresse às vezes quando o Nolan ia embora. Acho que era normal os companheiros sentirem uma reação tão visceral à ausência uns dos outros.

Finalmente, lembrei onde ouvi falar de Cardens Valley. Nolan teve uma conferência lá há um mês em um parque que eu não lembrava o nome, ou talvez ele não tenha me contado. Eu realmente precisava melhorar em lembrar todas essas coisas.

Dobrei a esquina em frente à porta de madeira escura do escritório de seu pai, que em breve seria dele. Um barulho abafado veio do outro lado da porta. Um rosnado, um gemido alto e outros abafados, como se estivessem sendo sufocados.

Senti meu rosto corar, o Alfa Hugo e a Luna Natalie não eram excessivamente afetuosos, mas eram companheiros destinados. Era natural, virei-me o mais silenciosamente possível para lhes dar privacidade.

"Nolan, Nolan", o gemido suave veio novamente antes de ser substituído por sons abafados.

Congelei.

Cada célula do meu corpo estava carregada. Engoli em seco enquanto um frio suor cobria meu corpo, combinando com meu medo interno gélido. Devo ter ouvido errado, tinha que ter ouvido errado.

Estendi a mão trêmula para a maçaneta da porta. Estava destrancada, e isso fez meu estômago afundar. Será que eu queria ver isso? Abri a porta só um pouquinho para confirmar que nada estava acontecendo.

Mas o Nolan estava diante de mim, de costas para a porta.

Eu conhecia cada centímetro do seu corpo, a forma como seus músculos se contraíam quando ele estava… Quando ele estava, dentro de mim.

Pernas longas e douradas ainda envoltas em saltos altos pretos ao redor de sua cintura.

"Merda", ele grunhiu.

Eu sabia que isso significava que ele estava perto.

Ele estava perto de terminar dentro da Camilla.