4 - Deixando tudo para trás

1424 Words
A dor deu uma trégua, só um pouquinho mesmo. Consegui começar a pensar em outras coisas além do sentimento insuportável que estava me dominando. Meu primeiro pensamento foi: "Será que o bebê está bem? Será que ele sobreviveu a tudo isso?"  Fiquei apavorada. A angústia substituiu a dor intensa. Eu não podia perdê-los também, afinal, eles eram tudo o que restava de minha conexão com Nolan, com a vida que eu ainda desejava muito. Quando abri os olhos, percebi que estava de volta ao meu quarto, o mesmo onde eu cresci na casa dos meus pais. Uma nova onda de lágrimas veio, pois estar aqui significava que não era apenas um pesadelo r**m, era real. "Mocinha?" Minha mãe entrou com um copo d'água e me ajudou a sentar. Minha garganta estava seca, e bebi o copo inteiro de uma vez. "Quanto tempo faz?", perguntei, minha garganta doía. "Quase dois dias." Meu primeiro pensamento foi que perdi o aniversário dele, e odiei o fato de ainda estar pensando nele antes de mim mesma. Mas sempre fiz isso, mesmo antes dele me notar. "Ele quer falar com você quando estiver pronta." Assenti, ainda ansiando por ele e por seu abraço. Achei que ele tinha mudado de ideia, o que me deu forças para sair da cama e tomar um banho. Passei um pente no meu cabelo, mas nada podia consertar as olheiras sob meus olhos inchados e vermelhos. Bom, ele vai ter que me ver assim. Fui até o escritório dele, ou melhor, do pai dele que ele estava usando no momento. Bati e abri a porta sem esperar por uma resposta. Nolan estava sentado atrás da mesa e pareceu surpreso ao me ver. Fiquei feliz por vê-lo m*l, mas não tão m*l quanto eu. "Willa", ele respirou, fazendo um gesto para que eu me sentasse. Não consegui ler sua expressão. Seu rosto estava tenso e seus olhos estavam duros, não como os olhos castanhos escuros e suaves que eu costumava ver quando ele olhava para mim. Eu não falei nada. A responsabilidade era dele. "Lamento como tudo aconteceu. Você me colocou em uma situação bem complicada, mas não era para ser assim. Eu deveria ter conversado com você após a festa", ele passou a mão pelo rosto, e meu coração acelerou. "Eu entrei em pânico, mas agora que estamos mais calmos", ele olhou para mim. "Preciso que você aceite o nosso término para que possamos seguir em frente. Nós dois." Meu coração apertou, e eu não entendi direito. "Willa, preciso que você aceite que não serei seu companheiro e futuro líder da Alcateia Blue Ridge." O último pedaço de mim se despedaçou. Consegui me afastar dele sem implorar, sem fazer as perguntas que estavam passando por minha mente. “E o bebê? Por quê? Por quê?” Eu não notei ninguém pelo caminho enquanto corria para a clínica. Correr não era algo típico para uma Luna, mas dane-se, eu não seria mais uma Luna mesmo, afinal. Ignorei a enfermeira na recepção e entrei direto no consultório da Dra. Lilian. "O bebê está bem? Preciso saber", exigi. Seus olhos suavizaram ao me ver nesse estado, ela devia saber. … O bebê estava bem, eu não, mas isso já era alguma coisa. … Felizmente, ninguém estava em casa. Rastejei para a cama na casa onde vivi antes de Nolan me reivindicar como sua companheira. Agora, alguns meses antes de me tornar sua líder, eu estava de volta aqui, com o coração partido e confusa. Pode ter sido horas ou dias depois que minha mãe conseguiu falar comigo. "Querida, eu sei que é difícil. Seu pai e eu nem conseguimos imaginar a dor, mas precisamos conversar." Eu me sentei e ela colocou uma bandeja de comida na minha frente, sopa e fatias grossas de pão caseiro. A única razão pela qual eu comia ou bebia alguma coisa era pelo bebê. Eu não tinha apetite e teria desperdiçado tudo se não fosse por eles. "Queremos saber o que você quer fazer. Vamos te apoiar, não importa o que escolha." Sua voz era suave. Meu pai entrou no quarto e colocou a mão no meu ombro, sentando-se ao meu lado na cama. "O que você quer dizer?" Minha garganta estava seca, e minha voz rouca, mas não me lembrava o motivo. "Você quer ficar aqui, ou talvez ir para a cidade por um tempo, a cidade dos humanos? Ou podemos encontrar outra matilha para você se transferir temporariamente. Claro, sua tia adoraria ter você com ela." Coloquei a mão sobre minha barriga: "Eu não posso..." Minha voz falhou. Por mais que eu adorasse ir para a casa da minha tia, onde costumava visitar nos verões, mudar para a cidade ou ir para a faculdade e fingir que nada disso aconteceu, eu tinha um lembrete muito real do que aconteceu. Mordi o lábio. Uma parte de mim queria ficar aqui. Isso era uma mentira - uma grande parte de mim queria ficar. Eu queria crescer na frente dele, na frente de todos eles. Eu queria que Nolan tivesse tempo para perceber seu erro e me aceitar de volta. Eu queria ficar para mostrar a ele o que ele estava perdendo e deixar bem claro para todos nesta maldita matilha que eu estava carregando o bebê do Alfa. Não havia como deixar ele escapar impune depois que vissem a prova que estava crescendo dentro de mim. "Vou ficar", disse, assentindo com uma determinação recém-descoberta. Eu lutaria para que esse bebê tivesse um pai. Eu lutaria por ele, mesmo que isso o fizesse entrar em pânico. Meus pais se olharam e depois voltaram os olhos para mim. "Querida", minha mãe colocou a mão no meu joelho. "Nós amamos o quanto você é forte, mas talvez essa não seja a melhor ideia." Ela parecia nervosa. "Por quê?" Perguntei, colocando a mão na barriga e segurando um sorriso. Ela já estava planejando um chá de bebê para nós. "Nolan e Camilla acabaram de nos contar a notícia." Ela me deu aquele olhar de pena novamente. "O quê?" Meus olhos foram direto para os dela. Um frio terrível percorreu meu corpo, apagando de vez aquela faísca de esperança. "Então, embora detestemos como aconteceu e realmente detestamos. Estamos muito orgulhosos do nosso filho por fazer a coisa certa. Por tomar essa decisão difícil que o machucou mais do que você imagina, colocando seu filho antes de qualquer outra pessoa, até mesmo ele mesmo." m*l ouvi o que ela disse. "Saia daqui", encontrei minha voz, com a mandíbula cerrada. O choque estampado em seu rosto me fez sentir apenas uma leve satisfação. "Willa, eu sei que você está chateada, mas…" "Não vou repetir", me levantei e saí da sala. Acho que não tinha mais nada dentro de mim para chorar. Sentei nos degraus e me encolhi, pensando em como alguém que afirmava me amar um dia poderia fazer isso comigo. O que ele me fez passar, eu não desejaria nem para o meu pior inimigo, se eu tivesse um. Bem, talvez eu desejasse isso para a Camilla, mas era apenas desejar a ela o que ela havia feito comigo, mas o que eu poderia ter feito para merecer isso de Nolan? Eu sempre soube que não era suficiente para ele, mas ele me reivindicou, e então toliceamente comecei a acreditar que eu era digna disso, do par que a Deusa da Lua destinou. Não importava o que eu fizesse, como eu me vestisse, ou se inchasse como uma baleia diante dos olhos dos pais dele. Nada do que eu fizesse faria com que ele me aceitasse de volta. Ele fez sua escolha e estava comprometido com uma vida ao lado de outra pessoa. Ele me rejeitou em público. Ele escolheu outra Luna. Ele estava me traindo mais do que aquela vez. Ele a engravidou. E mesmo assim eu ainda o amava. Eu me odiava ainda mais por isso. A pior parte? Eu não pude escolher a rejeição. Não pude me afastar da infidelidade dele. Fui praticamente expulsa e humilhada. Não foi apenas ele. Foram os outros que foram tão complacentes com isso, Beta e Gamma, que eu considerava meus amigos, não o impediram. Os pais dele não o impediram. Ninguém o fez. Não foi apenas a rejeição dele que doeu. Foi o fato de ninguém ter perguntado a ele o que diabos ele achava que estava fazendo. A raiva tomou conta de mim enquanto eu dava uma última olhada no lugar onde cresci, o único lar que conhecia e que até uma semana atrás estava destinada a liderar.  
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