— Agora pode ir. — Ele diz, com um sorriso debochado, mas seus olhos continuam carregados de algo que eu não entendo completamente.
Eu fico ali, tentando recobrar os sentidos, meu corpo ainda tremendo, a mente em guerra.
O que estamos fazendo?
O que isso significa?
— Isso não pode se repetir — eu digo, ofegante, a minha mente ainda girando pela intensidade do que aconteceu. O meu corpo ainda responde a ele, mas eu não posso me deixar levar assim. — Foi só agora. Na casa, vamos andar de mãos dadas, essas coisas que namorados fazem, sem beijinhos...
Leo me olha, e o seu sorriso volta, mas com um toque de humor nos olhos. Ele se inclina um pouco, o canto dos lábios curvando-se para cima.
— Beijinhos? Acho que não caprichei!
Eu reviro os olhos, tentando ignorar a sensação de calor que explode em meu peito. Ele tem essa maneira de brincar com as palavras, de me tirar do sério com um simples sorriso. Mas eu não posso me entregar mais.
— Para, Leonardo!
O sorriso dele desaparece, e a expressão se torna mais séria. Ele me observa com uma intensidade que quase me faz voltar atrás.
— Tudo bem. — A resposta dele é curta, quase uma resignação.
Eu respiro fundo, tentando afastar as emoções conflitantes que se agitam dentro de mim.
Sou uma louca de concordar com tudo isso. Não posso ser tão impulsiva, mas é como se ele fosse uma força que me atrai, que eu não consigo controlar. Ele não é noivo, nem nada. O namoro deles não tem futuro. Leo nem conhece os pais dela. Não há comprometimento real, e, se Estela realmente não se importa com ele, por que eu não poderia me aproximar?
— Você me liga? — Leo pergunta, quebrando meus pensamentos.
— Eu te ligo, vou ver com meus pais o que eles combinaram.
Deus, falta uma semana para o Natal, e tudo parece um borrão de confusão.
— E o que você dirá para Estela se ela perguntar? — Eu questiono, minha insegurança aflorando. Será que estou tomando uma decisão correta?
— Ela não está preocupada comigo. Ela vai com a família para as Bahamas, ficará em um hotel cinco estrelas, frequentará praias de águas cristalinas.
Essas palavras caem sobre mim com um peso inesperado. Há algo na forma como ele fala que faz meu corpo estremecer. Ele não parece se importar, mas eu, de alguma forma, sinto uma raiva silenciosa brotar em mim.
— Eu te ligo! — digo com mais segurança agora, a decisão já tomada em minha mente.
Leo respira fundo e olha para a rua por um momento, depois volta a me olhar.
— Espere. Melhor ficar no carro até esse cara sair.
— Não. Não precisa.
Ele solta um suspiro, e eu saio do carro, dando-lhe um tchau com a mão. Fico olhando para ele até que ele se afaste. Quando me viro, dou de cara com Omar, me observando.
— Ainda aqui? — Pergunto, tentando esconder a surpresa.
— Sim, matando a saudade dos seus velhos. — Ele diz, seus olhos percorrendo meu corpo de cima a baixo. Algo em seu olhar me incomoda, mas eu me mantenho firme.
— É, eles ficaram muito felizes de te ver. Boa noite. — Eu digo, tentando manter a calma enquanto me afasto.
— Você está bonita, Sofia. Emagreceu.
Eu respiro fundo, tentando manter a compostura.
— É, o que é um pé na b***a não faz.
Ele me segura pelo braço de repente, e meu corpo se tensa com o toque.
— Sofia. — Ele diz, seu tom suave, mas com algo mais intenso por trás.
Ergo meu rosto para ele, mas não consigo esconder a apreensão. Ele se aproxima, e sua expressão muda, como se ele estivesse se preparando para algo. A respiração dele muda, e o ar entre nós se torna mais denso.
Eu puxo meu braço com força e me desvencilho dele, os nervos disparando.
— O que você quer, Omar? — Minha voz sai mais controlada do que eu esperava, mas ainda assim, o desdém escorre pelas palavras.
— Eu senti sua falta. — Ele diz, e eu quase não acredito no que ouço.
Ele desapareceu, sumiu da minha vida, e agora, de repente, quer voltar? A sensação de traição me aperta o peito.
— É tarde para isso. Nada que sair de sua boca me interessa. Acabou. Não temos volta. — A firmeza na minha voz soa como um golpe. Eu me sinto mais calma agora, mais segura da minha decisão.
Seus olhos se estreitam, e posso ver a insatisfação refletida neles, mas não me arrependo. Ele me rejeita com o olhar, mas eu já estou além disso.
— Sofia, precisamos conversar. — Ele diz com uma falsa calma, como se fosse possível apagar o passado com palavras vazias.
— Boa noite. — Eu digo suavemente, virando as costas e indo em direção à porta da casa. Por cima do meu ombro direito, eu vejo as emoções passarem pelo rosto de Omar: primeiro a angústia, depois a raiva, até que ele me olha com um olhar hostil.
Mas não me importo. Eu tenho um caminho agora. Eu tenho algo para seguir. E Omar, agora, é só parte do passado.
No dia seguinte...
O som de pardais brigando me arranca do meu sono profundo. A luz suave do amanhecer entra pela janela, tingindo o quarto com um tom dourado. Respiro fundo e me espreguiço, sentindo meus músculos despertarem aos poucos. O dia promete ser intenso, mas por agora, o silêncio da manhã me envolve como um cobertor. Depois de alguns minutos de preguiça, finalmente me levanto da cama.
Olho para o relógio no criado-mudo: ainda é cedo. O ponteiro m*l passou das seis. Mesmo assim, algo em mim não permite que eu fique mais tempo deitada. Quero contar logo ao meu pai que Leonardo passará conosco o Natal e o Ano Novo. Meu coração acelera só de pensar nisso.