Novo visual

1350 Words
O expediente está puxado. O clima nas agências bancárias é sempre intenso perto das festas, e hoje não seria diferente. Todo mundo resolveu correr para o banco antes de se perder nas comemorações. Eu, pessoalmente, m*l posso esperar para ver o final do dia chegar. Graças a Deus, amanhã começa o meu período de férias. Eu já estou planejando, mentalmente, o que vou fazer. A primeira coisa que quero é dar uma repaginada no visual. Preciso urgentemente de um corte de cabelo, e umas unhas feitas para me sentir renovada. Quero estar o mais apresentável possível para Leo. Ele vai gostar da mudança, tenho certeza. Faltando pouco para o fim do expediente, finalmente consigo ligar para Leo. Desde aquele dia, não conseguimos mais conversar. Fico um pouco ansiosa, esperando que ele atenda. Ele demora, o que me deixa ainda mais nervosa. — Leo. A voz dele do outro lado vem séria, mas tranquila. — Oi. A insegurança toma conta de mim, mas tento disfarçar. Não sei se Estela está por perto, ou como ele pode estar se sentindo. — Dá para falar? Ele responde sem pressa. — Estela não está aqui. Solto o ar, sem perceber que estava prendendo a respiração. — Eu gostaria de saber se... — Está tudo certo. Ele é direto, quase cortante. Não sei como me sinto com isso. Quase deixo a pergunta no ar, mas não consigo. — Está seguro disso? Ele fica em silêncio por um momento. Eu sei que está pensando, ponderando. Até que finalmente, com uma firmeza que me desconcerta, ele responde. — Eu estou. E você? Está? Sinto o peso da pergunta. Como ele está tão certo disso? E eu...? — Sim. Você estava certo. Meus pais estão depositando a esperança de Omar e eu reatarmos. Quando eles me virem com você, vai ser mais fácil para eles entenderem que acabou. O silêncio do outro lado parece longo. Ele me interrompe, a voz mais dura do que o normal. — Que horas vocês combinaram de sair daí? Eu não sabia se ele estava impaciente ou simplesmente determinado. — No dia vinte e quatro. Bem cedo. Tudo bem? — Pare de perguntar toda hora isso! Já disse que está. Sua resposta foi imediata, sem dúvida e eu sinto um arrepio com o jeito definitivo com que ele diz isso. Ele sabe o que quer, e isso me desconcerta um pouco. — Você disse cedo. Que horas? — ele pergunta, cortando os meus pensamentos. — Seis horas, mas acho melhor você estar aqui antes disso. Vai que meus pais... — Eu estarei em frente à sua casa às cinco e meia. — Obrigada. Há mais silêncio. Sinto uma sensação estranha de que ele já não precisa mais dizer mais nada. Ele desliga. O telefone fica mudo, mas minha mente continua a girar em torno de Leo. Um sorriso bobo brota nos meus lábios. Começo a me perder de novo, imaginando como estar com ele... Logo depois que eu o conheci, dei uma olhada no i********: dele. Ele não tinha muitas postagens, e o perfil era fechado e então percebi que Leo gostava de manter sua privacidade. Na época, curiosa como só eu sei ser, comecei a fuçar pelas redes de Estela. Ela não me aceitou. Então, fui até o perfil de Leo, e ele me aceitou rapidamente. Fiquei observando suas fotos, tentando entender um pouco mais sobre ele. Vi muitas imagens dele na academia, puxando ferro, suando, com seus amigos e instrutores. Fotos de um homem dedicado à sua forma física. Tinha também uma foto antiga dele com o seu pai na oficina e foi esse que chamou muito a minha atenção. Percebi que a oficina prosperou bastante, já não era mais o lugar simples e precário que era antigamente. Pergunto-me mesma: ele progrediu sozinho ou quando o seu pai ainda era vivo? Tem tantas coisas que eu gostaria de saber sobre Leo. A realidade me puxa de volta quando ouço o meu nome. — Sofia. Olho para o meu chefe, o gerente geral da agência, e acordo de meus devaneios. — Planejando as férias? Dou um sorriso leve, e nem disfarço que a minha mente estava longe dali. — Pode apostar que sim. — Amanhã é seu último dia, não é? Dou um aceno afirmativo, já me preparando para o último dia de trabalho. — Sim. O que o senhor deseja? Ele me entrega uma conta e pede um extrato. Pego rapidamente e me encaminho para providenciar. — Você pode providenciar para mim o extrato desse cliente? Aqui está a conta. — Sim, senhor. É para já. O meu olhar volta a se focar no trabalho, mas uma parte de mim permanece imersa nas imagens de Leo, imaginando como será esse reencontro. Dia seguinte, 23 de dezembro, sexta-feira. O dia está apenas começando, mas eu já sei que uma boa parte dele será dedicada ao cabeleireiro. Tenho um encontro marcado com Rafael, aquele que tem mãos mágicas para transformar qualquer cabelo e sempre diz que sabe o que é melhor para mim. Ele garantiu que a mudança vai me deixar ainda mais bonita. E, de certa forma, acho que estou começando a acreditar nisso. Lembro-me de quando ele sugeriu essa transformação pela primeira vez. Eu estava relutante, sem saber se havia uma razão suficiente para cortar o meu cabelo de maneira tão drástica. A mudança parecia algo distante, sem grande sentido para mim naquele momento. Mas agora, as coisas mudaram. Agora, sinto que preciso disso. Quero estar mais bonita. Quero estar ainda mais incrível ao lado de Leo. Algo no fundo do meu coração me diz que, de alguma forma, o que temos vai muito além de uma simples amizade. Eu posso sentir, de maneira quase palpável, que logo ele irá perceber o que está acontecendo entre nós. E quando esse momento chegar, tenho certeza de que ele terminará com Estela. Não há como negar mais. Tudo o que ele me disse, todas as palavras que trocamos, me mostraram que ela não o merece. Eles não têm futuro, isso está claro para mim. E eu estou realmente começando a gostar de Leo, mais do que imaginava ser possível. Tenho esperanças de que possamos passar muitos dias maravilhosos juntos. Talvez, quem sabe, algo mais sério nasça dessa amizade. Mas o mais interessante é que, depois do que ele me disse, não quero mais esconder o que estou sentindo. Quero que o nosso "suposto namoro" seja mais do que isso. Quero que seja real. E mais: eu mesma vou sugerir isso a ele. Não quero mais esperar que ele tome a iniciativa. O que sentimos está ali, esperando para ser vivido, e eu não posso deixar esse momento passar. Sento-me na cadeira em frente ao espelho, esperando a transformação. O salão está tranquilo, uma música suave preenche o ambiente e a luz suave do dia entra pelas janelas. Rafael se aproxima, com aquele sorriso confiante no rosto, como se já soubesse exatamente o que fazer para deixar meu cabelo perfeito. Ele pega as minhas madeixas com delicadeza, ergue-as um pouco e começa a analisá-las. — O corte repicado vai ficar lindo em você — diz ele, com uma calma segura. — Seu cabelo está muito pesado. Eu o farei com graduações, e isso vai criar camadas. Vou marcar essas camadas com as mechas californianas, na cor mel. Vai ficar perfeito. — Tudo bem. Eu confio em você, Rafael — respondo, sorrindo. — Confia mesmo? — ele pergunta, com aquele tom brincalhão. — Porque da última vez, você estava hesitante. Sempre sugiro o corte, e você nunca tem coragem de seguir em frente com ele. Eu rio, lembrando da última vez em que ele sugeriu uma mudança e eu simplesmente não tive coragem de dar o primeiro passo. Mas agora é diferente. Eu sinto uma nova energia dentro de mim, como se algo tivesse despertado. Não só pelo corte, mas por tudo o que está acontecendo na minha vida. O cabelo vai ser só mais um símbolo dessa transformação. — É, mas agora eu criei coragem. Vou fechar os olhos e quero ver a transformação.
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