Capítulo 1

1245 Words
Estou arrumando minhas malas, ou pelo menos tentando, enquanto Matheus remexe em meu guarda-roupa. Por algum motivo, ele pensa que seu capacete de motoboy estiloso está ali. O fato é que, todas as vezes em que meu irmão comete um erro como esquecer as coisas na casa de uma das amantes, a culpa sobra pra mim. Porque eu sou a irmã mais nova tímida que só assiste tudo, calada, e não ousa contar a mãe o fato do irmão mais velho dormir com metade da cidade em um mês. — Como você aguenta ele? Daniel entra no quarto descalço, já completamente à v*****e com a casa depois de dezoito anos de amizade. Literalmente. Toni chega logo atrás, escancarando um sorriso no rosto enquanto se joga em minha cama. Com sapatos. Pego a vassoura em um dos cantos da parede, e a lanço em sua direção. — Sem sapatos! Conhece as regras. Ele resmunga, mas obedece e começa a varrer o chão. Tenho uma espécie de cartas atrás da porta do meu quarto, com algumas regras que devem ser obedecidas com toda a perfeição. Quando um dos quatro do g***o quebra alguma, precisam obedecer qualquer ordem que eu dê a eles. — E não faço ideia de como aguento ele Dani. O loiro sorri, exibindo as covinhas fundas na bochecha. Minha mãe invade meu quarto, despreocupada com a quantidade de garotos ali contida, e avisa: — Pedro está esperando vocês lá embaixo. Ele disse para apressar vocês. Sinto um gelo no estômago só de ouvir aquele nome. Sei que somos amigos desde que me conheço por gente, e ele já me viu fazer mais coisas embaraçosas do que qualquer garota normal deixaria mas... Pedro é meu amor platônico desde que me deu um pirulito usado na caixa de areia do parque, quando uma garota má puxou meu cabelo. Desde então ele tem sido muito mais que um amigo do meu irmão, além de meu amigo, é minha paixão secreta também. Antoni termina de varrer o quarto e sai para buscar uma pá, Matheus desiste da procura em meu guarda-roupa, e Daniel estende a mão para me conduzir até a porta de baixo. Atravessamos a pequena sala de estar do primeiro andar e descemos pelas escadas luxuosas, rápido o suficiente para nosso amigo não se irritar nos esperando. Nas portas duplas de entrada, Daniel calçou seus chinelos simples, como se não fosse filho de um dos maiores empresários de São Paulo. Maria abriu as portas para nós, e graças a isso avistamos o carro conversível de Pedro, estacionado em frente ao meio-fio da casa. Andei saltitante até o banco da frente, feliz por conseguir chegar antes que os outros. Me sentar na frente no carro de cada um deles era sempre um desafio, e quase sempre uma conquista deliciosa. Daniel era o que mais bem aceitava ficar no banco de trás. — Oi gatinha. Pedro retirou os óculos escuros, revelando os intensos olhos castanhos, e os apoiou no cabelo quase que da mesma cor. Meu corpo todo se arrepiou com a palavra, mesmo minha mente estando ciente da brincadeira implantada nas palavras. — Oi garoto. Eu respondi brincando. Meu irmão e Toni reclamaram assim que me viram sentada no banco do carona, mas aceitaram a derrota, e se sentaram no banco de trás. — Para onde vamos? Perguntei ansiosa, contorcendo as mãos em cima do colo em nervosismo. Conferi se havia trazido o celular e carteira, apesar de saber que nenhum deles jamais me deixaria pagar pela comida que consumiria. Ou por qualquer outra coisa. — Eu pensei de ir no cinema. Parece que vão lançar quele filme novo dos super heróis na sala vip, dei uma ligadinha lá hoje cedo. A voz dele era linda. Grave na medida certa, ao mesmo tempo suave e firme. Encarei meu irmão e Antoni atrás de mim, os que geralmente mais implicavam quando não eram eles a escolher o local de encontro. — Por mim tudo bem. — Matheus disse. — Ok. Dani e Toni concordaram. Pedro arrancou com o carro pelo condomínio, e só parou para a portaria abrir a cancela. Ele dirigia rápido, o vento fazendo cócegas no meu rosto, me trazendo a sensação de liberdade. Eu amava quando Pedro dirigia daquela forma, e exatamente por isso minha motivação para ficar no banco da frente era maior em seu carro. Pedro estacionou o carro quando chegamos no shopping, e todos descemos em um pulo. — Eu e Toni vamos comprar os petiscos. Agarrei o braço do meu amigo e comecei a puxa-lo, capaz de escutar os outros terminarem de organizar o que cada um faria. — Eu e Matheus vamos atrás das bebidas— Disse Daniel. E por fim, Pedro avisou que compraria os ingressos. Eu e Antoni caminhamos até o mercado mais próximo do cinema, já que era o lugar mais prático para se comprar comida em um shopping. Enchemos o carrinho de compras de salgadinhos, chocolates e alguns doces, recebendo olhares de julgamento de muitas pessoas que passavam por nós. Depois de pagar tudo, carregamos as sacolas cheias de volta para o cinema, chegando ao mesmo tempo que Daniel e Matheus. — Feliz último dia de liberdade! Dani ergueu os braços que carregavam fardos de cerveja e coca-cola e entrou na sala de cinema onde Pedro havia reservado nossos lugares. Meu estômago se embrulhava só de me imaginar voltando para aquela universidade, com meus amigos maravilhosos em meu encalço. Me sentei no banco ao lado de Peter, só pra sentir aquela corrente elétrica que atravessava meu corpo todas as vezes em que ele sorria para algo no filme. As propagandas começaram, o som alto nos imergia até no spray para cabelo que eles tentavam vender. Abri um pacote de douritos para beliscar antes de começar, e nem protestei quando Pedro esticou sua enorme mão para roubar alguns. Olhei disfarçadamente para aqueles dedos longos, imaginando mil formas de acidentalmente entrelaçar nossos dedos. — Ei Met, — Pedro inclinou a boca para perto do meu ouvido, sussurrando o apelido que só ele usava.— Preciso te contar algo depois do filme. Soltei um ruído de protesto. Eu simplesmente odiava aquele mistério de contar algo só no dia seguinte, ou só depois das próximas horas. E Pedro simplesmente amava aquilo, amava o mistério. — Não. Me conta agora. Sussurrei perto de sua orelha também, quando ele se virou de volta para frente. Pedro pareceu ceder, porque abriu um sorriso exibindo os caninos pontudos e as covinhas marcadas. — Está bem. Ele esticou os dois dedos e os flexionou bem perto do meu rosto, indicando que eu deveria me aproximar. Meu coração pulava e retumbava dentro do peito, pude sentir minhas bochechas queimarem. Estávamos tão perto, que se eu apenas me inclinasse um pouquinho... — Encontrei uma garota. Quero que avalie ela para mim. Acho que estou afim de algo mais sério e... Meus ouvidos zuniam. Eu não entendi mais nada direito depois do "encontrei uma garota". Eu devia saber, que em algum momento ele pararia com a galinhagem e tentaria se manter firme com uma garota só. Eu só não imaginava que seria tão... rápido? E por que aquilo doía mais do que vê-lo beijando outras garotas? Outras muitas garotas... estampei um sorriso no rosto e concordei com a cabeça, incapaz de deixar meu amigo preocupado com meu estado interno. Então me virei para a tela do filme, e só tirei os olhos de lá quando nós levantamos para sair. No fim, agradeci pelas mortes do filme, que me deram uma desculpa para chorar.
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