capítulo 3

1265 Words
Eu sempre odiei sermões. Desde pequena, preferia mil vezes levar uma surra do que ouvir as mil e quinhentas explicações diferentes de como eu estava errada. Matheus descobriu isso depois de um tempo, e usava sua enorme habilidade em falatória para me punir. No momento, ele usava essa habilidade em especial enquanto dirigia seu carro, falando sem tirar os olhos da estrada. Eu percebi quando Toni revirou os olhos no banco de trás. Notei quando Dani bocejou, e Peter teve que morder a bochecha para não rir. — Tá me ouvindo? É perigoso! Eu saí de casa pra te buscar e aí, você simplesmente não estava onde eu esperei. E daí, as secretarias disseram que você tinha saído com um garoto. Um garoto! Sabe o quanto um garoto desconhecido pode ser perigoso?! Uma veia estava saltada em seu pescoço contraído. Sua pele ficou vermelha, como se estivesse prestes a explodir. Os olhos claros arregalados em choque, como se tivesse me avistado roubado um banco. Agradeci aos céus pelo fato de a faculdade ficar apenas a pouco tempo de distância da casa, então pude pular para fora do carro assim que meu irmão começou a estacionar na rua. Corri para dentro da porta, sem saber ao certo onde me enfiar até... lembrar dos quartos dos meninos. Quando Dani, Pedro ou Matheus me irritavam demais por causa de uma discussão, eu sempre corria para o mesmo canto. Antoni, era o pequeno refúgio para o qual eu corria, onde eu me escondia sempre. No primeiro ano de faculdade todos nós tentamos morar em casa e dirigir até a faculdade. Mas o tempo de trânsito era absurdo, por isso nós mudamos para uma casa mais próxima. Eu não sabia como lidaria com a proximidade extrema entre mim e os garotos, mas tentaria lidar com isso. Todas essas coisas invadiram minha mente de tal forma, que só percebi que estava no quarto de Toni quando ele mesmo entrou pela porta. E a fechou atrás de si. Meu amigo passou os dedos pelo cabelo castanho claro, mordendo o lábio inferior. — Ele vai te achar... você sabe né? Suspirei, me jogando na cama depois de tirar os sapatos. Estiquei os braços e comecei a me espreguiçar, como se a cama fosse minha. — Pode deitar comigo e me ajudar a esquecer disso? Qualquer outra pessoa no mundo veria aquela frase com malícia. Mas não ele, não Toni. Ele sorriu, e trancou a porta para que ninguém entrasse. E então se esparramou na cama ao meu lado, abrindo os braços para que eu me aproximasse. Me encolhi perto de seu corpo, apoiando a cabeça em seu braço. — Toni? — Hm. Ele parecia impossivelmente sonolento. Eram o que? Dez da manhã? A viagem nem havia sido longa, nem tínhamos tanta coisa para arrumar. Mesmo assim, lá estava Antoni, com as pálpebras nitidamente pesadas de sono. — Você já se apaixonou? Conheço os garotos desde sempre. Nossas mães eram amigas na faculdade, se casaram e tiveram filhos na mesma época. A mãe de Pedro, teve um filho antes, a minha mãe um filho depois. A mãe de Dani, teve dois filhos antes e três depois, já a de Toni só teve ele mesmo. Mas magicamente, os quatro nasceram no mesmo ano. Com toda essa convivência e i********e, eu nunca havia visto nenhum deles doido de amores por uma garota. Em uma época da minha vida, cheguei a cogitar que eles simplesmente não eram capazes de amar. Eu não entendia como eles podiam sair com tantas garotas diferentes por vez, e mesmo assim não se apaixonar por nenhuma delas. — Sinceramente? Não. Acho que não. Levantei a cabeça para encarar aquele rosto, que agora exibia um olhar sério e pensativo. — Mas você já amou? Era complicado perguntar sobre o amor para os garotos. Quando estavam juntos, eles riam e caçoavam das minha perguntas relacionadas a isso, faziam piadas e me constrangiam. Mas ali naquele quarto, Toni sorriu. — Só amo duas mulheres no mundo Margarett. Você e minha mãe. Abracei o tronco forte de Antoni, aquela parte do meu refúgio. Olhei para a janela do quarto, para o sol forte do meio-dia. Eu deveria fazer o almoço. Mas estava bom demais ali. — Dani vai cozinhar hoje. Alívio me invadiu. Era mesmo muito melhor quando Daniel cozinhava, já que sua vida estava praticamente imersa nesse mundo desde que ele passou a existir. Seus pais tinham uma grande franquia de restaurantes de alta classe, seu pai administrando e sua mãe como cozinheira chefe do principal deles. Daniel cresceu com a certeza do que faria na vida... seria um chefe de cozinha tão bom quanto sua mãe. Ele nos usava de cobaia para novas criações, e quando elas não explodiam a cozinha ou coloriam o assoalho de casa, aquilo era uma vantagem. — Só comidas normais dessa vez? — Perguntei apreensiva. Toni começou a acariciar meu cabelo. Ele levou uma das mechas castanhas até os lábios, e a apoiou entre o nariz e o lábio inferior, como um bigode. — Não sei se podemos exigir isso dele. Mas ele falou algo sobre macarrão.. Dei um suspiro de alívio. Pelo menos Daniel não teria capacidade de transformar um simples macarrão em algo radioativo, teria? Teria. E como teria... Depois de meia hora abraçada com Antoni, eu acabei cochilando. E quem resistiria com um cafuné daqueles, depois de ter acordado às cinco da manhã para fazer as malas com decência? Eu não. Ele também acabou dormindo. Porque quando a fumaça n***a começou a invadir o quarto por baixo da porta, nós dois pulamos de susto. Depois do salto, Toni destrancou a porta, e corremos para a cozinha, onde o resto dos garotos estava. — Mas o que diabos... Me calei quando vi a cena. Dani nos olhava com os olhos arregalados, uma panela completamente carbonizada em uma das mãos e um garfo enorme no outro, espetando nada menos que um bloco de macarrão endurecido e carbonizado. Meu irmão tentava abanar a fumaça de um dos lados, Pedro ligava um pequeno ventilador do outro. Revirei os olhos, e fiz a coisa mais inteligente que poderiam ter feito... liguei o exaustor. Bem acima da cabeça dos três patetas, havia um exaustor que servia exatamente para aquele tipo de situação. — Você é um gênio. Tentei ignorar as borboletas que surgiram no meu estômago quando Pedro afirmou aquilo. Tentei não sorrir. Mas era mais forte que eu. — Eu quero a suíte. — Afirmei. Todos encararam Matheus com um olhar firme, o olhar de quem concordava comigo. Uma satisfação imensa tomou conta de mim, quando meu irmão suspirou derrotado. — Tudo bem. Você venceu. Exibi um sorriso alegre, mostrando minha satisfação com o comentário. Então andei até meu novo quarto, para onde comecei a arrastar todas as minhas malas. Quando Pedro se ofereceu para ajudar, não esperei que fosse por nada além da pura amizade que sentia por mim. Depois do guarda-roupa cheio, ele tirou os sapatos para se jogar em minha cama. — Então, sobre aquele outro assunto... Ah, a garota. — Eu vou pedir ela em namoro amanhã. Namoro? Eu sabia que Pedro queria algo um pouco mais sério mas... namoro? Me parecia sério demais. Me parecia um compromisso sólido demais, como se a qualquer momento ele pudesse deixar de ser meu. Amigo. Ele sempre foi só meu amigo, mas ter uma namorada implicava com alguns limites que não tínhamos antes. Como dormir juntos, como outros tipos de i********e que uma garota normal não permitiria que seu namorado tivesse com outra garota. — Então chamei ela para vir jantar aqui hoje. Antes do início das aulas. Eu quis chorar. Mas sorri. — Certo. Pode deixar que eu cozinho.

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