Luna
Minha expansão de domínio estava baixa, preciso treinar mais minhas habilidades ou iria acabar perdendo o domínio dos meus feitiços.
Avistei de longe a bandeira do reino de Padragon, sabia que Lancelot estava lá. Quando um feiticeiro é salvo por outro alguém que não é feiticeiro também, o corpo sofre um choque de realidade, permitindo que as energias entre eles se interligarem e mesmo que Lancelot não saiba disso, eu estou sentindo seu corpo implorando por socorro.
A floresta estava mais escura que o normal, faíscas cinzas estavam sendo soltas dentre as árvores, tem alguém usando a expansão de domínio nesse exato momento!
— Que os ocultos me protejam! Não posso deixá-lo morrer, devo minha gratidão a ele. — Apoiei o calcanhar em um tronco que tinha a minha frente, fechei os olhos e senti meus poderes vindo a minha mente de forma invasiva, como se algum demônio estivesse por perto querendo que Lancelot morresse.
Havia uma forte presença de demônios ocultos e era com eles que eu tinha que me preocupar, mesmo que Lancelot me mate depois disso tudo, era meu destino salvar a sua vida.
— Você poderia ser mais esperta. Tem tanto poder mas não sabe usufruir de nenhum deles. — Aquele que sempre me acompanhava estava ao meu lado, discorrendo suas palavras inúteis e tentando me usurpar.
— Expansão de domínio de magias ocultas. — Esse feitiço me permitia ver através das sombras, tudo que tocasse em minha barreira de feitiço seria visível, até mesmo os piores demônios.
— A filha de Léia! — A voz era terrivelmente aguda, meus ouvidos tinham uma sensibilidade absurda perante a coisas estridentes e altas demais. — Eu ouvi falar que o clã de Kodo estava a sua procura, então pensei "por que não não a levo pessoalmente"? E o melhor de tudo; com vida. O que é isso?
— Podridão! — Pensei e fechei os punhos, sentindo a energia me invadir e agora sim! Agora eu estava pronta para derrotar qualquer coisa que cruzasse com o meu caminho.
Não demorou muito para que o espírito se revelasse, era o mesmo que estava soltando as faíscas cinzas e eu tenho ciência do seu poder.
— Ouvir dizer que espíritos das sombras são fortes, mas acho que isso não passava de uma mera ilusão. — Ele sorriu, se divertindo com sua magia saindo dos seus dedos, enquanto lançava a mesma em minha direção. — É… fraquinho, fraquinho…
Com sua distração eu pude lhe golpear na cabeça, usando um feitiço que deixava o ser imóvel, mas não funcionou com ele. — Que a podridão lhe tome, lhe use e absorva toda a sua magia maligna, as trazendo todas para mim. — Esse era um perigo que eu nunca corri antes, sua magia poderia facilmente me destruir, ou me fortalecer ainda mais. Nunca sei como funciona o feitiço após conjurado.
— Luna…filha… — Eu via o rosto da minha mãe dentre as árvores, mas, tudo pode ser apenas distração para que eu seja golpeada.
— Agora não, mãe! — Respondi atacando com o punho a cabeça do adversário, isso fez ele cair e em seguida, enfiei a mão em seu pescoço. Meu punho estava mais forte pelo tamanho do ódio que eu carregava em minha alma, vi minha mãe ser morta e esse será meu eterno ódio, e claro, motivos para matar Ulisses na hora certa. Ainda tenho que aprender muitas coisas…
O corpo sem vida e sem cabeça estava evaporando com suas faíscas, junto a ventania. Ouvi uivos vindo do norte e corri o mais rápido que eu pude. Senti a presença de Lancelot por perto e me alertei, mas droga, eu esqueci de trazer uma flecha, eu era boa nisso. Para minha sorte, logo à frente havia alguns homens caídos e com eles havia armas de fogo, espadas e flechas. Peguei uma arma de fogo e escondi em minha cintura, peguei as flechas e seguir em frente.
Lancelot
Se eu não perder a vida esta noite, pode ter certeza que jamais serei o mesmo!
O cheio de Luna estava perto, perto até demais. Perdi alguns companheiros de forma horrível, mas não poderia parar, não antes de dar meu recado ao último homem de Pedragon.
— Vim o mais rápido que pude. Você não me disse que iria batalhar, mentiu ao me dizer que iria caçar! — Luna surgiu das árvores e estava ilesa, apenas com alguns arranhões, enquanto muitos dos meus haviam morridos.
— Era pra isso ser uma caça, mas estavam nos aguardando no caminho. Como conseguiu chegar até aqui sem nenhum ferimento? Não usou nenhuma de suas flechas.
— Ainda tem alguns homens nos observando. Eu vou dar uma olhada por aqui, mate os que consegui. Eu juro que não vou morrer. — Antes que eu pudesse responder, ela sumiu com uma espada em punho e corria como se não estivesse cansada. Isso não é normal, não para um hino, como ela julga ser.
O meu adversário estava com a espada em meu pescoço em questão de segundos, meu lobo está fraco e não poderia me transformar de forma rápida, mas as coisas se inverteram quando os gritos de Luna se fizeram presente. Meu subconsciente conectou-se com a minha alma, era a pronta vez meu corpo estava sentindo tamanha dor, chegou a ser insuportável o suficiente para me fazer reagir diante da cena em que meus olhos estavam vendo.
A dor da carne rasgando para que meu corpo crescesse mais na forma de monstro era quase insuportável. Notei que minhas costelas estavam maiores, isso me causava mais dor, um golpe certeiro e eu poderia ir facilmente ao chão, mas antes que alguma coisa pudesse vir acontecer, Klaus pulou na minha frente, mostrando suas presas e avançando no adversário que estava me ameaçando com sua lança. Meu monstro estava sedento pelo sangue de Malvim, mas Pedragon estava tentando me ferir.
Merlin
Abnerzy nunca mente. Minha suposta filha deve estar em apuros há essas alturas da vida, mas o que eu posso fazer? Me tornei tão inútil ao ponto de perder minha magia, já não posso conjurar nem os mais simples dos feitiços. As pedras pelo caminho que levava ao clã de Onedusa estava com vários lagos de sangue, a chuva parece ter ajudado nisso, mas há vestígios de brigas por aqui. Uma cortina de total transparência estava me impedindo de ir adiante. As folhas estavam se mexendo e não estava ventando, quando no velho Crowler se pôs a minha frente.
— Junte-se ao meu clã que terá seus poderes de volta. — O velho era rabugento, Crowler era o ancião da família Crowler, fazendo do sobrenome da família seu próprio e único nome. Ele é mestre de feitiços das trevas, um dos mais habilidosos dos tempos atuais.
— Se me oferecer algumas coisas a mais eu até posso pensar na possibilidade. Mas, já que sabe até do que eu vou pensar daqui há um minuto, pode me dizer o que é isso? Que barreira é essa? — Aproximei meu cajado da barreira invisível e ele ultrapassou sem nenhum esforço, como sempre foi, mas, a minha mão não estava indo.
— Veja, o problema está em você! — Crowler passou como se somente eu estivesse bloqueado. — Nos veremos em breve. — Entre as árvores ele sumiu.
Não é coincidência Klaus está aqui em pessoa, quando se tem todos esses vestígios de sangue e corpos caídos no lago à frente, onde a água estava cristalina e todo o sangue dos mortos estavam drenados.
— Sua filha está correndo perigo e você não faz o mínimo por ela? — Abnerzy estava indignada, levitando ao meu lado e rompendo a barreira para que eu passasse. — Você é realmente um homem admirável, Melin.
— Ela está com Lancelot, se o conheço bem aquele Alpha, ele sentiu seu cheiro e nesse momento está disposto a dar sua vida para salvá-la.
— Ela não se esconderá para sempre que é uma feiticeira. A garota é inexperiente, não viverá muito tempo. — Ela continuava discorrendo suas doces palavras, como se quisesse me fazer mudar de ideia.
Eu estava indo até ela, mas de repente tracei outro caminho que estava me levando até o clã de Onedusa, tinha uma proposta a lhes oferecer. Eu tenho uma mente antiga, posso ser útil em muitas coisas ainda.
Lancelot é imprevisível, assim como Danira já foi um dia, minha filha estava em perigo. Ele ainda vai levar um tempo para dominar seu monstro e extintos, ela corre perigo!
— Por que acha ela fraca? Léia era uma feiticeira admirável, recebeu um convite para fazer parte do Clã Kodo, você sabe o poder que eles têm. — Léia não me quis, quando me viu à beira da morte pediu para que sumisse. Na comemoração dos 700 anos da família, fui convidado para lhe abençoar, mas ela não gostou de me ver e logo se afastou com a criança. Deveria ter desconfiado desde aquele momento.
— Seus pensamentos são tão inúteis quanto suas palavras. Aprenda a ter raciocínio, Merlin. Você já foi mais esperto algum dia, a idade está lhe afetando?
— Abnerzy, eu preciso fazer uma coisa antes de arriscar a minha vida indo até Onedusa. Ela me odeia.
Eu tinha que pensar em uma forma de manipular os pensamentos de Luna, se Crowler descobre sua vida e onde ela está, matá-la iria ser a coisa mais fácil do mundo. Abnerzy, me leve até ela, sei que está concentrada demais em minha vida, então me ajude!