10 - Anthony

1050 Words
ANTHONY NARRANDO Estou deitado na cama, encarando o teto sujo do meu barraco, mas tudo que consigo pensar são nos olhos dela. Os olhos da Serena. Aqueles olhos não saem da minha cabeça, é como se estivessem gravados na minha mente, me assombrando. De um jeito bom, se é que dá pra chamar assim. Não consigo esquecer o jeito que ela me olhou hoje. Serena chegou tão perto que eu podia sentir o perfume dela, um floral suave que parecia combinar com a força dela. E, quando ela olhou dentro dos meus olhos, senti meu corpo inteiro gelar. O perfume e o hálito mentolado dela me cercaram, como se ela estivesse me prendendo em algum tipo de feitiço. Engoli seco agora, só de lembrar. Sabe quando você tenta desviar o olhar, mas não consegue? Era isso. Ela tem um jeito de encarar que faz a gente se sentir pequeno, mas ao mesmo tempo, não dá pra evitar querer mais. Mais daquele olhar, mais daquela presença. E quanto mais eu penso nisso, mais percebo que esse jeito intimidante dela, que no início me deixava nervoso, agora tá me deixando intrigado, fascinado até. Cada vez que fecho os olhos, eu vejo os dela. E cada vez que lembro do jeito que ela se aproximou de mim hoje, sinto um arrepio subir pela espinha. Não sei o que tá acontecendo comigo, mas sei que não quero que pare. Serena mexeu comigo de um jeito que eu não tava esperando, e agora tô aqui, desejando que ela volte a se aproximar, que me olhe daquele jeito de novo, mesmo que isso signifique encarar mais uma vez aquele frio na barriga. É... eu tô gostando disso. Tô gostando do jeito que ela me faz sentir. Mas sei que eu não posso, não posso esquecer a minha missão. Eu entrei aqui para aprender ela e o pai dela, E é isso que eu vou fazer. Acordei cedo, como sempre. A rotina matinal é um saco, mas é necessária. A primeira coisa que fiz foi me arrastar da cama e me enfiar naquelas roupas que eu detesto. Pareciam ter sido escolhidas com a intenção de me deixar o mais desconfortável possível, mas fazer o quê? Faz parte do processo. Depois, liguei o rádio. Peguei as chaves do barraco e da moto, saí de casa e respirei o ar da manhã. Fui direto para a padaria e pedi um café pingado, que sempre ajuda a espantar a sonolência. O calor do café fez bem, e logo estava mais alerta. Depois disso, o caminho para a casa do Índio era o próximo passo. Cheguei lá e, como de costume, me apresentei para o vapor que cuida da segurança de toda a família do Índio. Os protocolos de segurança são rigorosos. Após alguns minutos de espera, o portão finalmente se abriu e era a Serena, em cima da sua moto. Ela me deu uma olhada rápida e fez um sinal com a cabeça, indicando que eu deveria segui-la. Fomos direto para a boca. A boca estava sempre movimentada, mas a segurança era redobrada para evitar qualquer problema. Quando chegamos, Serena entrou na sala dela. Eu, por outro lado, fiquei na frente, observando o movimento. Não demorou muito para que alguns caras começassem a chegar. Um deles eu reconheci de imediato: Lúcifer da Rocinha. O Filho do Tártaro, ele não tem um bom histórico. Chris do morro da SM, também estava junto, Sua presença sempre significa que algo grande estava para acontecer. Ele é bem conhecido no mundo do Crime, filho Mensageiro da Morte. Na frente da boca, ficou um exército de bandïdos armados. Parecia uma fortaleza, com todos aqueles homens prontos para qualquer coisa. Eu sabia que o lugar era monitorado por câmeras e que Serena tem uma central de controle, então tentei me manter discreto. O MC também entrou na sala dela e, pouco depois, o Guerreiro chegou. A sala estava ficando cada vez mais cheia. Eu estava do lado de fora, me perguntando se havia alguma chance de ouvir o que estava sendo discutido lá dentro. As câmeras estavam por toda parte e qualquer tentativa de me aproximar poderia acabar me colocando em perigo. O lugar é um verdadeiro labirinto de segurança. As paredes eram cobertas por telas de monitoramento, e qualquer movimento suspeito era rapidamente detectado. Eu sabia que tentar chegar perto da sala agora seria pedir para ser descoberto. Tenho que ser muito cuidadoso. Decidi me manter longe e fingir que estava ocupado com algo mais. Não podia arriscar ser flagrado ali. Enquanto esperava, minha mente estava a mil por hora. Pensava no que poderia estar acontecendo naquela sala. A entrada dos caras mais conhecidos e temidos só podia significar que algum plano de grande escala estava em andamento. Eu precisava de informações, mas ao mesmo tempo, não posso deixar que meu pai descubra que esses homens estavam por aqui, Se não ele vai encher o meu Saco me mandando descobrir o motivo. Eles passaram a manhã inteira trancados, no horário do almoço todos saíram do escritório, Serena de despediu dos dois, O Lúcifer anda de nariz empinado como se fosse o rei do mundo, Já o Chris não encara ninguém, é olhando só pra frente. Serena fechou a sala dela, Montou na moto, o seu primo e o seu irmão cada um em uma moto, Serena e Guerreiro tomaram o mesmo Caminho para casa, Já o MC tomou outro caminho. Almocei na casa de apoio, que fica na propriedade do índio. O almoço estava ótimo, e o ambiente era tranquilo. Enquanto saboreava a comida, ouvi uma conversa vinda de uma mesa próxima onde dois vapores estavam batendo um papo. Um deles comentou: — Será que o filho de Tártaro veio convidar a Serena pessoalmente para um baile que vai ter na Rocinha? Fiquei ouvindo a conversa, mesmo sendo uma conversa aleatória e boba. Eles estavam especulando sobre o convite para o baile, mas se for verdade que ela vai mesmo para a Rocinha, eu espero que ela me leve junto. Mas eu sei que esses caras não estavam aqui só por causa de um baile de favela. Tem alguma coisa rolando dentro do Comando Vermelho, e eu preciso descobrir o que é. Não posso deixar passar essa oportunidade sem entender o que está em jogo.
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