11 - Serena

1193 Words
Serena Narrando Acordei antes do sol nascer, como de costume. O silêncio da manhã era minha companhia enquanto seguia minha rotina matinal. Primeiro, fui até o banheiro, lavei o rosto com a água fria que me desperta por completo, escovei os dentes e, em seguida, me vesti com roupas leves e confortáveis. Preparei um chá de ervas frescas, que bebi devagar enquanto observava o céu clarear pela janela. Depois do chá, caminhei até o jardim. O ar fresco da manhã, e o cheiro de terra úmida fazem parte das minhas manhãs. Me sentei com as pernas cruzadas, fechando os olhos para me conectar com a energia ao meu redor. Respirei fundo, sentindo o ar encher meus pulmões, e depois soltei lentamente, permitindo que a tensão do corpo fosse liberada com cada expiração. Antes de começar a meditação, preparei o espaço ao meu redor como aprendi com a minha vó, peguei umas folhas de sálvia, tabaco e milho. A sálvia é para purificar meu espírito, enquanto o tabaco, sagrado para muitos povos indígenas, representava a conexão com os ancestrais. As sementes de milho, símbolo de vida e abundância, estavam ali para que eu pudesse plantar novas intenções e deixar que crescessem em meu coração. Com tudo preparado, iniciei o ritual de meditação. Comecei a cantar baixinho um cântico que aprendi desde Criança, uma melodia simples, mas cheia de significado. A música vibrava dentro de mim, Deixei minha mente se aquietar enquanto meu corpo se harmonizava com o ambiente, sentindo a energia da árvore, me fortalecendo e centrando. A cada respiração, me sentia mais conectada ao meu guia, como se meus pensamentos e preocupações fossem folhas levadas pelo vento. Meditei assim por um tempo, sentindo uma paz profunda que preenchia cada parte do meu ser. Quando senti que era hora de terminar, agradeci silenciosamente à terra, ao céu, e ao meu guia o deus da força. Entrei em casa e subi direto para o meu quarto e fui tomar um banho. A água quente relaxava meus músculos e, ao mesmo tempo, clareava meus pensamentos. Precisava me arrumar rápido, o dia já estava começando e eu sabia que não posso perder tempo. Hoje tenho uma reunião com o Lúcifer, me arrumei e desci as escadas, já sentindo o cheiro do café fresco invadindo o ambiente. Quando cheguei à cozinha, ouvi a voz do meu pai ecoando pela casa. Ele fala alto, e a sua voz rouca é inconfundível, parece um trovão. — Serena, já acordou? — ele perguntou. — Já, pai. Tô aqui — respondi, me sentando à mesa. Minha mãe já estava pronta para ir trabalhar também. — Serena, depois do trabalho, passa na casa da sua avó pra ver como tá o seu avô, tá? — pediu minha mãe, enquanto se levantava para pegar alguma coisa na geladeira. — Pode deixar, mãe. Vou passar lá sim — respondi, me servindo de pão e queijo. Ela se aproximou e completou: — Aproveita e leva o seu irmão também. Ele precisa visitar o avô mais vezes. — Beleza, mãe. Vou levar ele — concordei, já sabendo que seria uma tarefa difícil, Avaré quando some nesse Morro. Só uma extrema urgência para encontrá-lo. Terminei meu café em silêncio, ouvindo meu pai resmungar e minha mãe organizando a bolsa com pressa. — Tô indo. Qualquer coisa, me liga — falei, beijando a testa da minha mãe. Ela me abraçou rápido. — Vai com Deus, filha. E cuidado na rua — ela disse, com aquela voz que sempre carrega um toque de preocupação. — Pode deixar, mãe — sorri, tentando tranquilizá-la. Meu pai me deu um beijo na testa, e falou que vai acompanhar a reunião pelas câmeras. Assim que desci da moto, nem quis perder tempo, fui direto pra minha sala. Os moleques da barreira passaram o rádio avisando que Lúcifer e Chris estavam na área. Quando Lúcifer e Chris entraram, o ar pareceu ficar mais denso. Lúcifer com aquele olhar frio, calculista, Chris sempre com cara de quem não tá pra brincadeira. Eles traziam o peso do Comando nas costas, e dava pra sentir isso na sala. Marquinhos entrou e o meu irmão chegou logo em seguida. — Serena — Lúcifer falou primeiro, a voz dele grave, como se cada palavra tivesse um peso que só ele sabia. — O Comando mandou a gente aqui pra resolver umas pendências. Me recostei na cadeira, cruzei os braços, mantendo o rosto impassível. Aqui, fraqueza não tem vez. — Fala, Lúcifer. Tô ouvindo — respondi firme, sem demonstrar nada além de calma. Ele trocou um olhar com Chris, e dava pra ver que eles estavam medindo as palavras. — A última remessa de vocês atrasou. O Comando não curtiu isso, Serena. Eles querem explicações e, claro, uma compensação. A tensão na sala só aumentou. Cada palavra que saía da boca deles podia detonar um conflito que ninguém ali queria, mas todo mundo sabia que, se tivesse que acontecer, ninguém ia recuar. MC deu um passo à frente, mas um olhar meu bastou pra ele entender que não era o momento. — Entendo o lado do Comando — comecei, sentindo a pressão de escolher cada palavra com cuidado. — Mas o atraso teve motivo. Tivemos que resolver uns problemas internos. Não vou entrar em detalhes, mas a segurança das operações vem primeiro. Sobre a compensação, a gente pode conversar... mas dentro de termos justos. Lúcifer sorriu daquele jeito que nunca chega aos olhos, e Chris se ajeitou na cadeira, claramente desconfortável com o desenrolar da situação. — Justos? — Lúcifer repetiu, a sobrancelha levantada. — Você acha que o Comando vai negociar de igual pra igual? O ar ficou ainda mais pesado. MC e Avaré estavam atentos, prontos pra qualquer coisa, mas eu sabia que aqui, a gente precisava de mais cérebro do que músculo. — Não é sobre igualdade, Lúcifer. É sobre manter as coisas funcionando. Vocês sabem que perder essa parceria agora seria ruïm pra todo mundo. Inclusive pro Comando. O silêncio que veio depois foi ensurdecedor. Lúcifer e Chris se entreolharam, e eu sabia que eles tavam pesando cada palavra minha. — Vamos fazer assim — Lúcifer disse depois de um tempo, a voz dele mais controlada. — Vocês compensam o atraso com uma remessa extra. Além disso, o Comando quer uma fatia maior dos lucros até o fim do mês. Se não rolar, as coisas podem ficar... complicadas. Minha cabeça trabalhava rápido. Aceitar era ceder demais, mas recusar poderia significar começar uma guerra que ninguém ali tava disposto a enfrentar agora. — Fechado — falei, a voz firme, apesar do peso da decisão. — Mas vou exigir uma coisa em troca. O Comando garante que o próximo carregamento chegue sem nenhum problema. Lúcifer deu aquele sorriso torto, como se tivesse aprovado minha jogada. — Você é boa, Serena. O Comando vai considerar. A reunião acabou, mas a tensão ficou. Lúcifer e Chris saíram, deixando no ar a certeza de que essa não seria a última vez que a gente se encontraria pra resolver problemas. Eu sei que esse é só o começo de uma série de desafios que estavam por vir. E, como sempre, eu estarei preparada.
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