Capítulo IV

2933 Palavras
1 semana depois. Celicite concordou com o plano sem nenhum único questionamento e apesar de toda a desconfiança que vinha sobre Ávelyn com essa rápida aceitação, ela decidiu dar continuidade ao plano. O dia do casamento chegou mais rápido do que ela queria que tivesse chegado, no instante em que recebeu a confirmação de seu filho e sua protegida, o rei rapidamente colocou em ação o plano de casamento que já tinha traçado com todo o cuidado. A cerimônia seria realisada no jardim leste e para isso o rei mandou montarem uma grande estrutura que protegeria a todos do sol e da chuva, caso viesse a chover. Todos estavam felizes, até Máine foi pega pelo embalo que festas de casamentos costumam proporcionar e ficou animada, mas os noivos estavam tão tensos que pareciam estar indo para uma guerra. O casamento seria realizado de acordo com as tradições, dois enormes tecidos vermelhos foram pendurados na entrada do local da cerimônia para simbolizar o amor entre os noivos, o responsável por reger a cerimônia foi para trás do púlpito, sendo ele o próprio rei, o noivo entrou logo em seguida fazendo com que todos que estava parados em pé diante de seus acentos se sentassem a medida que ele caminha rumo ao altar. Yohan trajava uma roupa tradicional dos lideres do reino de Ultinere, usava uma calça azul marinho, uma camisa branca de mangas com abotoaduras de ouro, um colete de mesma cor da calça com botões dourados sobre a camisa e um sobretudo em um tom mais escuro de azul com padrões dourados, em seus pés calçava botas pretas de couro, seu cabelo estava bem penteado, a cabeleira castanho avermelhada era levemente ondulada, mas não chegava a parecer com a ondulação do cabelo de Máine. Coincidentemente suas roupas combinavam perfeitamente com a cor de seus olhos, ele estava impecável. Não demorou muito para que a noiva chegasse, Ávelyn calçava sapatilhas pretas que combinavam com as botas de Yohan, mas elas foram cobertas pela enorme saia de seu vestido vermelho carmesim com detalhes em ouro. Seu longo cabelo preto azulado tinha sido trançado e a enorme trança foi presa em um coque baixo adornado com presilhas e grampos que eram verdadeiras joias, deixando seu pescoço nú, sua bem cuidada pele não precisou de muita maquiagem, um véu vermelho cobria seu rosto. Ela estava deslumbrante. Ávelyn entrou sozinha, geralmente entraria com o seu pai ou a sua mãe como era comum para uma noiva, mas não se deixou abalar, seu queixo se mantinha erguido como o de uma rainha e de longe se sentia sua altivez, não demorou muito para chegar ao altar. - Está belíssima. - Sussurrou Yohan chegando mais perto de sua noiva. - Acaso está tentado apagar completamente minha o foco na minha boa aparência. - Gracejou. - Você também está fantástico. - Sussurrou de volta. - O que disse? - Fingiu não ouvir. - Como se eu fosse repetir. - Sou o único que quer sair correndo em fuga? - Perguntou sorrindo aos sussurros enquanto o rei seguia fazendo o discurso cerimônial. - Pensei em fugir antes de vir até aqui, mas imaginei que seria uma vergonha pra você ficar esperando no altar. - Respondeu. - Seja grato. - Obrigada por não me deixar esperando no altar. - Brincou Yohan - Disponha. - Devolveu o gracejo fazendo-o rir. Aquela era apenas uma conversa entre amigos, mas para quem assistia de fora pareciam um casal amoroso e feliz com o casamento. O regente parou de falar e pegou um lenço dourado, Ávelyn e Yohan seguraram a mão esquerda um do outro, o rei envolveu as mãos deles com o tecido e fez um nó. Aquele era o momento de fazerem os votos, repetindo o que o orador iria proferir. - Eu Yohan, príncipe herdeiro de Ultinere, juro pelo meu nome e minha honra, proteger e respeitar Ávelyn de Gersurvia... - disse o príncipe. - Eu Ávelyn de Gersurvia, juro pelo meu nome e minha honra, proteger e respeitar Yohan, príncipe herdeiro de Ultinere... O restante dos votos devia ser dito em uníssono representando que o que era dois agora viverá como um. - Compartilhando aquilo que tenho e aceitando aquilo que me falta. Juro diante dos deuses, que ao seu lado protegerei nosso povo, viverei de modo a poder me encontrar orgulhosamente com aqueles que um dia foram guardiães de Ultinere no pós vida. Aceito com prazer este homem/esta mulher que não deixará o meu lado mesmo depois da morte. Não soltarei sua mão até que não haja mais sol... Eu juro. - Eles sequer tiveram tempo se ensaiar, mas foram capazes de acertar o tempo um do outro. Aquela parte do ritual de casamento exigia que o juramento fosse selado com um beijo. Ávelyn sabia que esse momento chegaria e estava tensa, Yohan ergueu a mão livre e começou a levantar o véu afim de descobrir o rosto da garota. - Eu só tenho uma mão livre. - Comentou baixinho. - Se você não me ajudar vai ficar difícil. Ele não parecia incomodado com a idéia de beijá-la, no instante em que Ávelyn se aproximou ele jogou o véu para trás da cabeça dela delicadamente. Yohan levou sua mão direita até a nuca da garota e ela correspondeu automaticamente erguendo levemente seu queixo dando a ele uma visão melhor de seu rosto, o principe olhou fundo em seus olhos e aproximou seu rosto do dela, em algum momento Ávelyn fechou os olhos aguardado o toque em seus lábios, mas o toque não veio. O príncipe desistiu dos lábios da garota no meio da ação e beijou-lhe a testa, as orelhas de Ávelyn foram as primeiras a ficar vermelhas e em seguida o rubor chegou até as maçãs de seu rosto. O que ela pensou que ele ia fazer? E por que diabos fechou os olhos? As dúvidas martelaram em seu juízo. Todo aquele momento se passou em menos de um minuto, mas por alguma razão o tempo pareceu ter corrido mais lentamente só para contemplar aquele casal. Yohan se afastou esperando até que o rei fizesse as considerações finais, Ávelyn não ouviu o que ele disse, estava perdida em seus próprios pensamentos e só despertou quando Yohan se moveu para ficar de frente para os convidados que aplaudiam e alegremente lançavam palavras de felicitações. A garota se posicionou ao lado do príncipe acenando com a mão livre por um tempo, ainda estavam com a mão esquerda atada e deveriam permanecer assim até deixarem o local da cerimônia, no caminho para o banquete. Eles andaram pelo mesmo caminho que usaram para entrar, agora estavam juntos no caminho que antes fizeram separados, uma das mãos atadas e a outra usavam para acenar, a medida que caminhavam as pessoas que ficavam para trás se levantavam e os seguiam visto que fazia parte do ritual, uma vez fora do "salão cerimonial" Yohan desatou o tecido e o entregou ao regente que os seguia. Ávelyn pensou que finalmente teria sua mão de volta, mas Yohan a segurou e continuou a caminhar lado a lado com ela, acabou que a garota decidiu deixar por isso mesmo, no caminho não pode deixar de notar que o príncipe havia se ajustado aos paços dela e sorrir por conta disso foi inevitável. O banquete ocorreu com muita música, dança e comida, Ávelyn se esquivou de todas as vezes em que alguém tentava tira-la para dançar, mas não conseguiu se desvencilhar da insistência de Yohan. - Já vi que estar casada com você, mesmo que brevemente, será um porre. - Comentou enquanto dançavam. - Tirou as palavras da minha boca. - Disse sorrindo. Aquilo era estranho, o príncipe não era conhecido por ser sorridente e proativo, sua fama era de um homem sério que nunca se envolvia em escândalos , focado no trabalho e alguns até chegavam a dizer que seu olhar era tão frio quanto o inverno no norte de Ultinere. Contudo ao lado de Ávelyn ele sorria, gracejava e brigava pelos motivos mais bobos, era quente como o sol. A festa acorreu até tarde da noite, mas em algum momento o rei permitiu que o casal deixasse o local e seguissem para o lugar onde deveriam finalizar o ritual de casamento, o quarto. Eles foram até o quarto preparado para o casal, em cima da mesa havia uma espécie de vinho branco feito de arroz, uma bebida usada especialmente em momentos como aquele. Yohan puxou uma cadeira que ficava próxima a penteadeira. - Sente-se aqui. - Pediu. Ávelyn sabia o que ele ia fazer, por isso apenas se sentou. O príncipe removeu os adornos do cabelo da garota e desprendeu o coque fazendo a enorme trança cair nas costas dela, ele passou a desfazer a trança e em sequência passou a escovar todo o cabelo, a mulher estava adorando já que aquilo era quase uma massagem, mas jamais adimitiria isso. Yohan guardou a escova, foi até a jarra e colocou um pouco da bebida alcoólica na taça de prata, solveu um gole e a entregou para que sua esposa fizesse o mesmo, ela bebeu um gole e devolveu, ele devolveu a taça ao seu lugar na mesa. Tudo aquilo fazia parte do ritual de casamento. Ávelyn estava tensa, ela sabia que a seguir viria a consumação do casamento através do ato s****l. Ela estava aflita, não sabia se estava disposta a doar tanto de si para algo que não duraria muito tempo. Yohan ,por outro lado, parecia relaxado, caminhou pelo quarto removendo seu sobretudo. - Agora que acabou é hora de dormir. - Disse o príncipe pedurando a peça de rouba em um cabideiro. - Sim, é hora de... - Ela estava perdida em pensamentos, sua voz saiu levemente trêmula. - Dormir? - Só então ela percebeu o que ele tinha dito. - Você não quer fazer isso e eu não vou te obrigar a nada. Não é óbvio? - Falou enquanto removia o colete e o pendurava também. Ávelyn observou cuiriosa enquanto o belo príncipe sentava na cama e retirava suas botas, ela ignorou propositalmente o fato dele não ter falado que "ele" não queria fazer também, achou melhor não provocá-lo. Yohan retirou o último sapato e olhou para ela que ainda estava sentada na cadeira. - Temos apenas uma cama, se quiser dormir no chão fique a vontade. - Falou sem mais nem menos. - Se acha que eu dormirei no chão pode tirar seu cavalo da chuva e aquele sofá é pequeno demais pra mim. - Não tem problema, eu não me importo com isso. - Respondeu aliviada. - Não tente nenhuma gracinha, sua pervertida. - Gracejou cruzando os braços na frente do corpo se abraçando dramaticamente. - Você não vem? - Falou diante da hesitação dela. A garota removeu parte do que estava vestindo para ficar mais leve, caminhou até a cama e se enfiou debaixo da coberta. - Se ainda tiver medo de escuro, basta ativar a gema aí perto do seu lado da cama. - Falou. - Um pouco de luz não vai me incomodar, madei colocar ela aí pra você. O fato do príncipe se lembrar que o escuro a deixava desconfortável a fez sorrir. Gemas como aquelas eram bem caras, afinal, poucos eram os humanos capazes de manipular o Nean na atualidade. Ávelyn não dormia mais que três horas por noite, isso quando conseguia dormir, mas aquela vez foi diferente. A garota nem sentiu o tempo passar e quando finalmente despertou o sol estava alto nos céus, porém o que sentiu primeiro não foram os raios de sol passando através dos vitrais da janela e da porta de cristal que dava acesso a sacada, o que ela sentiu primeiro foi o peso em sua cintura, a respiração acima de sua cabeça e o calor corporal de outro ser humano. Quando abriu os olhos pôde ver um par de olhos azuis fixos nos seus, ela estava deitada de lado de frente para Yohan, suas pernas estavam embaraçadas nas dele, sua cabeça descansava sobre o braço direito do homem enquanto seu braço esquerdo laçava sua cintura, com sua própria mão direita ela agarrava pocessivamente a blusa branca do príncipe, eles estavam perigosamente próximos e se encaravam por um longo minuto. - O que está fazendo? - Ávelyn perguntou com tranquilidade. - E você? O que está fazendo? - Rebateu serenamente, a voz ainda estava um pouco rouca. Ela se atentou a suas próprias ações e tentou o melhor para não demonstrar o quão estava envergonhada. - Vamos soltar no três. - Ele acentiu em resposta. - Um, dois, três. Cada um rolou para um lado da cama e Ávelyn levantou em seguida. - Está tudo bem, nada aconteceu. - Concluiu. Ao olhar para Yohan ela viu que ele parecia desolado, encarava o nada e sua mente parecia divagar em tristeza. - O que foi? - Perguntou. - Você me usou. - Ele respondeu drámatico, tal qual um cachorro abandonado na chuva. Ela ficou chocada demais para responder imediatamente. - Como assim? Do que está falando? - Disse finalmente, ainda tentando se recuperar do que tinha ouvido e compreender que parte da história ela tinha perdido. - Você me usou... - Fez uma pausa e olhou para ela tristemente. - Como travesseiro. - Completou. A garota suspirou exaustivamente, ela não podia crer no que estava ouvindo, quase foi levada a crer que tinha feito algo que poderia se arrepender e sequer lembrava. - É sério, sinto que esse braço já era. Vou ter que amputar, como vou lutar agora que você destruiu meu braço dominante? - Continuou a história. - Você deve ser uma espiã do reino inimigo tentando inutilizar o futuro rei, renda-se agora ou eu chamarei os guardas. - Declarou. - Mortos não falam. - Disse saltando sobre a cama, entrando na brincadeira. Ela simplesmente aceitou que se zangar apenas daria mais munição a ele e levaria as coisas por um caminho ainda mais exaustivo. - Ousa me desafiar? Não pode me vencer. - Continuou ameaçadoramente. - Sou invencível na arte de... Fazer piadas. - Anunciou ficando em pé sobre a cama. - O que é um ponto gigante e amarelo no meio de um campo aberto? - Oh não!? - Fingiu sentir medo. - Um enigma. - É um yellowfante. - Respondeu o príncipe triunfante. - Nunca me pegarão viva. - Disse saltando para a cadeira próxima a cama. - Mais uma piada e eu vou pular. - Falou com seriedade. - Não deixarei que fuja, vou... - Ele não pode terminar a ameaça. O rei estava parado diante da porta, na sua direita estava Máine e na sua esquerda estava uma serva. - O que estam fazendo? - Perguntou o rei, ele claramente não queria ter visto aquela cena. - Estavamos duelando. - Respondeu Yohan descendo da cama. - E porque? - Questionou rei Alfred sem entender nada. - Porque ela me usou a noite quase toda. - Ele fez de propósito. Máine olhava para Ávelyn chocada e ao perceber o olhar a garota se exaltou. - Não diga desse jeito, vão pensar que sou uma pervertida. - Reclamou com o príncipe. - Do que está reclamando? Quando estava me usando eu era bom, agora reclama? - Fingiu estar ofendido. - Espero que assuma a responsabilidade. Ávelyn apanhou uma das almovadas no pequeno sofá de madeira acolchoada e atirou no príncipe. - Isso é agressão, vou chamar os guardas. - Disse Yohan. - Me usa, me bate e depois o que? Me jogará fora. - Lyn? - Chamou o rei. - Eu esperava mais de você. - O rei entrou na brincadeira. - Tio All, não fica do lado dele. - Pediu. - Tá bom! Tá bom! Vamos parar por aqui. - O rei finalizou aquele jogo, estava feliz em ver as duas pessoas mais improváveis de fazerem algo tão infantil, brincando daquele jeito. - Vim porque Alguém não apareceu para as atividades matutinas e encontrei essa pobre mulher de sentinela na porta do quarto, não atrapalhem o trabalho dos outros. - Ele se referia a serva. - Eu acordei no horário, mas certas pessoas me agarrou e não me deixou sair. - Defendeu-se o príncipe. - Você poderia simplesmente ter me acordado. - Você dormia tão confortávelmente que não me atrevi. - Disse. - Quem em sã consciência acorda uma fera adormecida? - Ha ha, muito engraçado. - Que seja, desça rápido. - Interrompeu o rei aos suspiros. O monarca saiu do quarto e Máine entrou junto com a serva, o principe foi até o banheiro tfazer sua higiene. O dispositivo que ele usou foi o mesmo que Ávelyn criou aos sete anos no projeto de irrigação, a princípio ela queria ajudar os homens que trabalhavam nos campos reduzindo o trabalho de irrigação manual e também aumentar a produção, resolvendo problemas como escacez de alimentos em algumas áreas do reino, visto que seu pai parecia muito preocupado com isso, mas ela também queria reduzir o trabalho dos servos que trabalhavam na mansão dos pais dela, queria poder ter mais tempo para brincar com uma das servas que acabou morrendo com seus pais posteriormente. Ela os via carregar pesados recipiente com água para todos os lados, então pensou em uma maneira de levar água para onde precisassem dela sem que ninguém a carregasse nos ombros ou na cabeça. O rei adorou seu projeto e depois de conversar com seus arquitetos reais iniciou a implantação de encanamentos em algumas partes do reino. O príncipe não demorou muito no banho e logo deixou o quarto indo para junto de seu pai, o rei.
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