10 anos depois.
Uma garotinha em seus dez anos recém completo corria na mansão do Duque, alegremente ia até sua mãe.
Danara estava sentada na sala do piano bordando luvas de inverno para presentear sua filha, a menina encontra sua mãe e se ajoelha no chão deitando sua cabeça sobre o colo dela. Enquanto aproveitavam o momento mãe e filha um homem irrompeu portas a dentro desesperado.
- Minha senhora. - Disse o homem. - Temos um problema enorme em nossas mãos.
- O que houve Elien? - Perguntou Danara. - Desse jeito vai acabar assustando Ávelyn.
A garotinha assistia a cena com curiosidade, tentava entender o que estava acontecendo, imaginava que o homem tinha vindo avisar que seu pai logo chegaria, mas ao ouvir a palavra "problema" ficou em alerta. Ela era conhecida no ducado pela inteligência, aos seis anos planejou e projetou sozinha a construção de um sistema de irrigação que mais tarde seria adotado não apenas em seu ducado, como também em boa parte do território do reino. Aprendeu a andar aos seis meses de idade e aos nove meses já falava, aos dois anos brincava de balançar gravetos imitando seu pai que treinava e aos três seu pai se deu por vencido e começou a treina-la a contra-gosto da duquesa. Ela leu muitos livros de política avançada e tinha bastante interesse em jogos de tabuleiro, brincava de planejar estratégias, as vezes seu pai entrava na brincadeira.
Jhonatan estava comandando o campo de batalha aquela altura e dois dias atrás tinha enviado um pássaro com uma mensagem para sua filha.
A mensagem detalhava uma situação hipotética que acontecia em um campo de batalha, Ávelyn deveria enviar o pássaro mensageiro de volta a seu pai com uma estratégia que resolvesse o problema, aquela era uma brincadeira divertida para a garota, o que ela não sabia é que aquela não era uma mera situação hipotética. Seu pai estava em uma situação complicada, ele não conseguia pensar em nada e com ele estava o rei. Ele disse ao rei que sua filha resolveria, mesmo desacreditado o rei sabia que não tinham muitas opções e acabariam por sair daquela batalha com muitas baixas, acabou por apostar suas fichas em sua protegida mesmo que parecesse loucura, tudo que eles tinham que fazer é não contar pra ninguém que o plano era de uma criança quer desse certo ou errado.
Ávelyn não levou nem quinze minutos para encontrar um método eficiente, ao ler o bilhete com a estratégia o rei logo entendeu os motivos de Jhonatan em lhe pedir o que acabou por pedir na noite em que a menina nasceu, porém não muito tempo depois ele entenderia ainda mais, ficaria gravado a ferro e fogo em suas pálpebras de modo que ele veria mesmo quando fechasse os olhos para dormir.
- Me desculpe minha senhora. - Disse Elien em uma reverência. - Mas o assunto é sério, tomei a liberdade de enviar uma mensagem para meu senhor, o Duque, alertando-o. Tenho certeza de que ele virá rapidamente, mas a senhora precisa fugir.
- Do que você está falando? - A duquesa se exaltava.
- Estão vindo pra cá, os inimigos estão vindo pra cá. - Falou. - Pelo que descobri ele acham que estamos escondendo uma Neankanaua e querem pega-la para si.
- Que absurdo está dizendo?
- A senhora precisa fugir, nós vamos ficar e tentar segura-los, usaremos tudo que pudermos como armas. - O homem quase chorava, não era ym guerreiro e muito menos soldado. - Não vamos aguentar muito tempo, eles vão nos aniquilar e avançarão para capturar a senhora e a menina, talvez tentem usá-las para barganhar na expectativa de que o duque entregue a Neankanaua para eles.
- Por que eles tem tanta certeza de que há uma Neankanaua aqui? - Ela estava desesperada.
- Um dos espiões deles a viu por acidente, dizem que é uma criança. Viram seus cabelos prateados e olhos viotela, o que se espalhou no lado inimigo é que ela estava brincando em um dos campos do ducado e tinha um pequeno animal morto em suas mãos. - A duquesa lembrou de quando isso aconteceu, foi um breve momento de descuido, o único em dez anos. - O espião deve estar enganado ou louco. - Disse o homem. - Começaram a guerra por causa disso, o que o meu senhor está enfrentando é apenas uma distração bem elabora para afasta-lo do ducado. Ninguém seria louco o suficiente de invadir com ele por perto. Minha senhora, não percamos mais tempo, precisa fugir.
- Quanto tempo até chegarem? E de que lado eles estão vindo?
- Não vai levar mais que alguns minutos. Estão todos montados, são cerca de três mil homens homens montados, estão vindo do sudeste. Fuja com a menina, não somos fortes, mas ao menos serviremos de escudo. - Falou. - Padeceriamos em desgraça se algo acontecesse com minha senhora e minha senhorita.
Danara olhou para sua filha e temor se abateu sobre ela, não daria para as duas fugirem. Ela precisava salvar aquela criança.
- Vá buscar a minha espada e meu chicote. - Ordenou.
- Não, minha senhora. - O homem estava em choque.
- Vai me desobedecer? - Desafiou. - Vá e me espere no Jardim da entrada.
Ele parecia perdido, não sabia o que fazer, mas acabou por obedecer. Danara pegou sua filha pela mão e saiu da mansão as pressas, praticamente arrastou a menina até a entrada da floresta próxima a mansão.
- Escute Ávelyn, nos vamos brincar agora. - Falou.
- A brincadeira de sempre? - Ávelyn tinha estendido que algo estava muito errado, mas sua mãe já estava sobrecarregada e ela não queria piorar tudo fazendo muitas perguntas. A saúde de sua mãe estava frágil e ela se preocupava com isso. - Para onde devo correr dessa vez?
- Siga para o Noroeste e não pare até encontrar o seu rei. - disse a duquesa.
- Como assim, mamãe? O Palácio fica longe, não posso ir sozinha quando só estive lá poucas vezes. - Rebateu a menina. - Quando o papai chegar ele me leva.
- Não. Você vai na frente, vou esperar por seu pai e iremos juntos, estaremos atrás de você. - Mentiu.
- Tio All vai ficar zangado se eu chegar lá sozinha. - Apresentou uma desculpa.
- Ele vai entender. - Disse Danara. - Me obedece e corra para Noroeste. Me diga: quando você deve parar?
- Quando eu encontrar o meu rei.
- Isso, agora vá.
- Mamãe? - Chamou a menina após ter corrido uns cinco passos. - A senhora vai estar atrás de mim, não é?
- Eu prometo. - Mentiu e Ávelyn enxergou a mentira claramente.
A menina se pôs a correr rumo a noroeste e a duquesa voltou para a entrada da mansão.
- Por favor, minha senhora, apenas fuja. - repetia Elien.
- Acha que eu não estou com medo? Que eu não queria fugir? - Perguntou a duquesa. - Que tipo de nobre abandona seu povo? E mesmo que eu fuja, morreriamos as duas. Não posso cair até que ela esteja a salvo.
Não demorou muito para que guerreiros inimigos invadissem a região central do ducado, eles mataram muitas pessoas e feriram outras mais, tudo teria sido ainda mais violento se eles não tivessem um alvo. Os homens que sabiam lutar haviam seguido o duque para o campo de batalha, o ducado estava sem defesa. Danara resistiu o máximo que pôde, mas seu corpo doente não aguentou muita coisa, quando ela estava prestes a morrer seu marido chegou ao local para ajudá-la.
Jhonatan estava sozinho, tinha avançado na frente de seus homens, montado no cavalo mais veloz, havia pedido ao rei que o liberasse do campo de batalha visto que a guerra estava ganha e assim rei Alfred o deixou ir com a promessa de que logo o seguiria para ajudá-lo. Ele estava ferido e exausto quando finalmente chegou em casa, pela traquilidade no olhar de sua esposa quase morta ele compreendia o plano, " ganhe tempo até que Ávelyn esteja bem longe". Ele já havia arrebatado mais de mil vidas na luta que deixou para trás para correr até sua esposa e mesmo cansado e ferido ainda conseguiu m***r setessentos homens antes de cair.
Logo chegou um soldado para avisar aos outros que o rei estava marchando com seu exército até aquele ducado e cientes de que não tinham chances de vencer, o exército inimigo desistiu de sua preza partindo dalí.
Jhonatan estava ao lado de sua esposa, sentado de forma desengoçada no chão, encostado na parede, estava morrendo. Com as últimas forças que tinha ele disse suas últimas palavras a sua amada esposa que partiria antes dele.
- Eu te amo, se eu puder reencarnar, te amarei na próxima vida também. - Disse e sua mulher se foi com um sorriso e lágrimas nos olhos.
A consciência de Jhonatan aos poucos se esvaía, ele olhava para o caminho que levava a saída do jardim. Sua visão desfocava e voltava a focar, então diante dos seus olhos surgiu a pessoa que ele mais queria ver antes de partir, porém também era a pessoa que ele não queria que o visse naquele estado a todo custo. Ele não podia acalenta-la, não conseguia, não tinha forças e em sua impotência deixou esse mundo em silêncio.
A menina olhava para os corpos de seus pais estendidos no chão, após correr por alguns minutos mata a dentro, o coração venceu a razão e ela voltou, pensava que se não pudesse planejar uma forma de salvar a todos naquele momento, então pelo menos morrer junto de seus pais era melhor que viver sem eles, mas chegou tarde para salva-los e tarde demais para morrer. Sua expressão era fria e perdida, seus cabelos ocilavam entre o prateado e o preto, seus olhos iam do castanho ao violeta vivo e então voltava a ser castanho, a raiva lhe consumia até os ossos, seu sangue fervia em suas veias. Foi por um preve segundo, mas ela olhou para o abismo e o abismo olhou de volta para ela. Ávelyn se aproximou de seu pai e sem deviar o olhos do rosto dele, abaixou e recolheu sua pesada espada, mas na mão da criança de dez anos, a espada parecia leve. Naquela altura a criança tinha sido atiginda por uma sede insaciável, uma sede que só poderia ser aplacada com sangue.
A pequena Ávelyn caminhou serenamente até a pessoa mais próxima que encontrou no meio da confusão.
- Onde eles foram? - Perguntou.
- Minha leide? Graças aos céus está viva. - Falou a mulher. - O rei logo estará aqui, não tenha medo.
- Perguntei para onde os atacantes foram. - Insistiu.
- Não se preocupe, eles voltaram pelo sudeste, fugiram com medo do exército do rei.
Após responder a mulher ouviu alguém chamá-la e se virou para atender, quando olhou outra vez para onde a menina estava, ela tinha sumido. Começou a procurar em volta e encontrou Ávelyn montando em um cavalo preto.
- Ela deve estar indo ao encontro do rei, pobre criança, perdeu os pais tão jovem. - Falou a mulher.
- Eu vi a conversa toda. - Falou uma velha se aproximando. - Aquilo não era uma criança. Montada em seu cavalo n***o até parece uma enviada do deus da morte.
- Besteira. - Rebateu a mais jovem. - Temos que trabalhar, há muitos feridos, vamos! É o que o duque e a duquesa iriam querer que fizéssemos.
O rei chegou cerca de trinta minutos após a saída de Ávelyn e ao constatar que seu amigo estava morto, começou a procurar desesperadamente pela menina. Poucos minutos depois encontrou a mulher que viu a menina antes dela sumir.
- Sua majestade, pensei que ela tinha saído ao encontro do senhor, mas agora que penso bem meu coração estremece.
- Diga mulher. - Ordenou o rei.
- Ela foi para o Sudeste, montada em um cavalo. - Falou. - Ela não foi atrás deles, não é? - O olhar do rei escureceu. - Majestade?
O rei montou em seu cavalo e começou a correr, cinco homens conseguiram acompanha-lo. Ele partiu a toda velocidade, implorando aos céus que mantivessem a garota segura, sua pequena Lyn, não seria capaz de olhar a face de seu amigo na pós-vida se algo acontecesse com ela.
Quando finalmente alcançou o grupo o rei estancou no lugar, ele não conseguia crer no que via a sua frente. Um mar de sangue, corpos dilacerados por todos os lados, homens de guerra muito fortes jogados atoa como se fossem nada, mais de mil homens e todos estavam mortos. De pé no centro da carnificina, uma criança estava de pé coberta de sangue da cabeça aos pés, seu vestido que antes era verde-água se encontrava rasgado e sujo de lama e sangue, segurava firmemente a espada em sua mão e encarava o nada, alheia a chegada do rei. Os cinco homens estavam boquiabertos.
- Vocês receberão seus pesos em ouro, uma promoção e fama. - Disse o rei. - Porque vocês mataram esses homens.
Eles não precisavam perguntar nada, já tinham entedido. O rei desceu de seu cavalo e se aproximou vagarosamente da menina.
- Lyn? - Chamou, mas ela não respondeu. - Lyn, é o tio All.
A menina olhou para ele e após alguns segundos sua consciência retornou e ela o reconheceu.
- Tio All? - Sua mente parecia divagar.
- Sim, sou eu. - Ele se agaichou na frente dela e levou uma de suas mãos ao seu pequeno ombro esquerdo, parecia seguro agora para ele se aproximar.
- Eu achei o rei. - Ela falou. - Mas é o "mei rei"? De qualquer forma, eu ganhei.
- Vamos pra casa. - Disse rei Alfred. O cansaço veio sobre ela e a menina perdeu os sentidos.
O rei pegou a menina no colo e a levou até o cavalo colocando-a em cima dele em seguida, subiu e foi embora. Danara já havia contado para ele sobre os lapsos de furia dos Neankanaua, mas ele não imaginava que era naquele nível. Ele soube também que apesar da natureza pacífica, alguns Neankanaua liberavam uma contidade extraordinário de energia e força quando chegavam ao limite da dor ou do ódio, as vezes isso também acontecia quando alguém precioso estava em perigo, mas era ainda mais raro.
Mais tarde o rei convocou Nathan que estava servindo no exército e atribuiu a ele a alcunha de Barão, usando seus feitos em batalha como desculpa, ele planejou com Jhonatan a muito tempo, mas alguns membros do conselho eram contra. Ávelyn passou a morar com ele e sua filha Máine, ela recebeu tanto amor quanto era possível, devido ao choque ela não se lembrava de ter aniquilado aqueles homens e o rei usou seu poder para acobertar tudo de modo que ela nunca soubesse e pudesse viver sem a mancha de sangue em suas mãos sendo tão jovem. Contudo, antes que as feridas cicatrizassem, mais uma desgraça se abateu sobre ela, uma que ela nunca seria capaz de esquecer.