Pré-visualização gratuita Fuga - Parte 1
Peter Hood, um homem branco, alto, forte e loiro de olhos azuis, estava sentado em um bar dentro de um hotel, ele tomava vinho branco com toda a calma do mundo, enquanto assistia TV, que passava um noticiário comum.
Até que um idoso bem vestido com um terno branco se senta ao lado dele, e pede vinho também, o garçom trás, e ele dá um gole, depois ele resmunga:
- Não se fazem mais vinhos como antigamente.
Mas Peter não respondeu nada.
- Nunca vi você por aqui antes, rapaz. De onde você vem?
- Estados Unidos.
- Ora, americano? O seu casaco sugere outra coisa.
Peter olhou para um remendo no seu casaco, e ele tinha a bandeira da Austrália costurada no ombro.
Ele deu mais um gole no vinho.
- Como escapou de lá? Aquele lugar consegue ser pior que a Coréia do Norte. - disse o idoso.
Peter deu um sorriso de canto de boca, e depois de beber seu vinho de uma vez, ele começou a contar:
- A história é bem divertida... eu fui f*****o a trabalhar para os Australianos, eles foram me pegar em Pilgrim, que é onde era meu orfanato, tudo isso pra me fazer passar por um programa miserável de super agentes.
- E o'que aconteceu?
- Bom, Deus não dá asas a cobras não é? Mas eles cometeram esse erro. Foi num dia comum, eu estava fazendo a mesma parada pro almoço de sempre, logo após milhares de exames de sangue e depois de ter bebido um monte de coisas estranhas, pra testar o metabolismo e tolerância, sabe?
O idoso franziu a testa.
- Bom, você deve estar querendo saber a parte interessante, vamos parar de enrolar então.
Peter começou a contar a história, ele estava no refeitório, sentado sozinho numa mesa enquanto todos os outros estavam em suas mesas comendo e conversando.
- Haviam no total cento e vinte pessoas que participaram do programa super agentes da Austrália, todos nós estávamos no refeitório, almoçando como em um dia qualquer.
O refeitório era uma cela enorme com umas paredes cinzas e lizas, com janelas e grades de metal e sempre dois guardas tomando conta, eles estavam muito bem armados com coletes de metal enormes e uma escopeta nas mãos.
A cozinheira jogava um grude amarelo nos pratos, e as pessoas comiam com gosto, exceto Peter, que não ousava sequer encostar na comida.
- A comida daquele lugar era h******l, uma gororoba de borracha amarela, com alguns pedaços de frutas e um gosto amargo. - descreveu ele.
Peter encheu a taça e deu mais um gole no vinho.
- Mas todos comiam aquilo com gosto.
O idoso também deu um gole no vinho, e pensativo, ele perguntou:
- Por que você ficou separado dos outros?
Peter deu uma risada infeliz, e explicou:
- Bom, na época eu não entendia, mas hoje vejo. Lembra quando eu disse que eles tinham cometido o erro de dar asas à cobra? Pois bem, não sentar com os outros foi escolha minha.
O idoso ficou surpreso.
- E por que não?
- Porque eles fediam a mijo forte, e comiam aquele grude achando a coisa mais deliciosa do mundo, mas isso não é culpa deles, coitados, já estavam mortos mas ainda nem tinham se dado conta.
- Como assim?
- A corporação os fazia tomar banho de urina todos os dias, cinco vezes ao dia, e eles nem sequer se davam conta disso.
O idoso continuou confuso.
- Era a forma deles de peneira, para separar o joio do trigo. Apenas aqueles cujo o organismo respondeu positivamente ao estímulo do programa, teria as super habilidades e se manteria sã, quem tivesse enfim adquirido as habilidades e de fato tivesse se tornado um super agente, se recusaria a tomar o banho, justamente por isso, da mesma forma que escolheria se afastar dos outros, por conta do cheiro insuportável.
- Assim o próprio trigo se separaria do joio sem terem o trabalho de ir lá e fazer isso.
- Sim...
- Então, suponho que você foi o felizardo.
Peter virou a taça de uma vez.
- Infelizmente...
- Mas ainda tem uma coisa que não compreendo, por que as coisas aconteciam assim, dessa forma?
- Para isso você precisa entender como funciona o processo de transformação de um cara normal, para um super agente.
- Resuma, por favor.
- Tsk. Mente, é a resposta.
O idoso franziu a testa mais uma vez.
- Para se tornar um super agente, você não toma nenhum tipo de soro mágico, ou sofre alguns experimentos físicos, é muito, muito mais complexo do que isso. Eles te fazem ver certos flashes de cores por horas, quando vêem que você está tendo um princípio de epilepsia, eles param, e te fazem ficar vendo umas imagens completamente esquisitas, por horas, depois voltam a ligar as luzes.
- Bom, isso é estranho.
- O objetivo desse programa é remodelar a matriz cerebral fazendo um novo comando cognitivo, abrindo nossas mentes e nossos horizontes, eles criaram um soldado que não teria a necessidade de sentir dor ou fome, pelo menos não por vários dias. Da mesma forma, um super agente não teria mais algumas necessidades básicas de uma pessoa comum, e ainda vem o pacote de super habilidades junto.
- E quais seriam?
- Pff, pergunta difícil. Super agilidade, super percepção, super blá blá blá, mas vale reforçar a super percepção. Esse programa é genial, faz com que não seja necessário criar uma fórmula para injetar alguma coisa em alguém, para que tenha superpoderes, basta você injetar um tipo de "soro" audiovisual na cabeça de alguém e essa pessoa vai receber aquilo, e o cérebro vai assimilar e admitir, fazendo com que o cérebro funcione de forma abrangente, e com nossa habilidade de aprender tudo rapidamente, nos tornamos os subordinados perfeitos para uma missão, super agentes. Mas se a experiência der errado, os neurônios da cobaia serão retardados, fazendo com que ela não tenha noção de nada, sofrendo uma falência cerebral nervosa, mas sem matá-la, como se na cabeça da pessoa ela vivesse no paraíso o tempo inteiro.
- Então por isso aqueles homens tomavam banho de urina?
- Sim. Pra eles aquilo poderia ser... sei lá, um banho numa jacuzzi bem rica com todo tipo de sabão super cheiroso e caro também.
- Eles não sabiam...
- Não, por isso estão mortos sem saber, mentalmente. Nenhum deles conseguiu se manter inteiro durante o estímulo, com exceção de mim, eu era o trigo no meio do joio, diziam os fiscais.
O idoso ficou impressionado.
- Pois bem, voltando ao dia da minha fuga.
Peter Hood estava sentado apenas olhando para aquela comida h******l em sua frente, e ele repara na câmera que rodava de um lado pro outro, olhando tudo.
Até que de repente alguns dos presos começaram a brigar, e eles pegaram garfos e facas, e começaram a atacar um ao outro. Em instantes, uma briga generalizada começou no refeitório, com todos tentando atacar a todos, e alguns vieram para cima de Peter, que se mantinha tranquilo, mas teve que se defender.
Um homem vinha atacá-lo com uma faca, mas Peter o segurou pelo pulso e o torceu, fazendo o homem soltar a faca, depois lhe deu uma joelhada no rosto e bateu a cabeça do homem na quina da mesa, e ele caiu desmaiado.
Um outro veio com um garfo, e Peter desviou bem na hora quando já estava prestes a furá-lo, e o homem continuou tentando, mas Peter ia pra trás se desviando aos poucos, e alcança uma bandeja com a gororoba amarela, e joga no rosto do homem, depois bate com a bandeja na cabeça dele, e ele cai.
Peter olhou de relance uma cadeira voando em cima dele, e então se abaixou na hora, depois jogou a bandeja na cabeça de outro que cai por último, depois os soldados entram e começam a render todo mundo.
- Isso ainda não faz muito sentido pra mim. - disse o idoso.
- O que quer dizer?
- Por que eles começaram a se atacar do nada?
- É muito simples, a razão do programa do super agente existir, é que eles acreditavam que o cérebro humano era uma tela em branco, que era pintada ao longo do dia, e que no final dele, quando as pessoas dormem, volta a ser uma tela em branco, pronto para ser pintada de novo. E a ideia consiste nisso, desbloquear todo o potencial e adicionar mais, impedir que a tela volte a ser branca, e quem não fosse forte o suficiente pra aguentar, estaria sujeito a qualquer coisa, e foi oque fizeram. Colocaram nos altos falantes um ruído que causa estresse e raiva nos mais sensíveis, fizeram isso pra confirmar quem tinha ou não se adaptado ao programa.
- E oque aconteceu depois?
- Aí é que a coisa realmente começou a sair dos trilhos.
Os guardas espancam todos os que tinham surtado, porém Peter Hood foi retirado dali por quatro guardas, e levado até a sala do presidente da corporação, Kylie.
Assim que ele entra, os guardas o soltam, e ele fica de pé em frente a mesa do presidente.
- Que alegria você nos deu hoje, Sr. Hood. Depois de onze anos submetendo você a um tratamento severo do programa, você enfim despertou as habilidades de um super agente, isso é muito bom.
- Podem me deixar ir embora agora?
- Como poderíamos? Você é uma peça rara, é a segunda pessoa no mundo a conseguir tal feito.
- Segunda pessoa? Quer dizer que existe outro como você? - perguntou o idoso.
- O primeiro a passar por esse programa foi... bom, ninguém especial, só um conhecido meu.
- Um amigo? Huh... que interessante.
- Ele morava em Pilgrim comigo, éramos nós dois e mais um amigo nosso, ele era meio sem habilidade para fazer qualquer coisa, mas tinha o coração enorme. Eles foram a primeira e única família que eu tive.
- E onde está esse seu amigo?
- Nos exames contam que ele acabou falecendo um tempo depois de ter despertado as habilidades, o cérebro dele entrou em colapso.
- Que loucura.
- Não é? Mas a parte mais louca ainda está por vir...
- Levem o Sr. Hood de volta pra cela dele. - ordenou Kylie.
Os guardas seguraram ele, e o levaram pra cela, mas andando pelos corredores, Peter vê pela janela um grande portão da lateral daquele laboratório, e lembrou de quando um dia ele e James brincavam de gritar o nome de alguma coisa que eles realmente gostam de comer, e isso era a senha pra abrir qualquer porta pra eles.
Ele também reparou que os guardas andavam segurando um rádio, e eles sempre falavam por ali pra sair por aquele portão.
Rapidamente, ele segurou o cacetete de um dos guardas, e o quebrou batendo na cabeça dele, e os outros três já vieram com armas de choque para pará-lo, mas Peter usou o corpo do guarda desmaiado como escudo, e ele acabou sendo eletrocutado.
Logo ele sacou a a**a daquele guarda, e atirou na cabeça de dois dos guardas, e depois ele baleou o terceiro na barriga, e ele caiu no chão, e foi se arrastando pra trás, ele pega um rádio no bolso do colete, e quando estava prestes a pedir por socorro, Peter deu um tiro no rádio.
- Eu vou perguntar só uma vez, onde é o núcleo do programa?
- Vá... vá pro inferno!
Peter então pisou no ferimento da bala na barriga do guarda, e ele começou a gritar.
- C-Certo... certo! Nos andares superiores, tem uma porta reforçada, a senha é 9102467, basta entrar e iniciar o protocolo para encerrar o esquema!
- Você está mentindo?
Peter colocou a a**a na cara dele.
- NÃO! EU NÃO ESTOU! EU JURO!
Ele viu que o guarda estava falando a verdade.
- Muito obrigado.
Então ele matou o homem dando um tiro na testa dele.
- Você deve estar achando que eu sou c***l agora, que m***r aqueles homens foi uma coisa totalmente gratuita, mas acredite em mim quando eu digo que se ninguém fizesse nada, aquele programa continuaria a torturar mais pessoas e o número de mortes seria muito maior.
- E por isso você decidiu agir como justiceiro? - perguntou o idoso.
- O trabalho é sujo, mas alguém tinha que fazer.
Peter Hood abriu o armário de armas com a chave dos guardas, e vestiu uma roupa de combate, com colete e capacete, ele também pegou uma metralhadora e muita munição.
Ele imediatamente se dirigiu ao elevador, e foi direto ao andar onde estava o núcleo, e assim que ele saiu do elevador, tinham alguns guardas no corredor conversando, e Peter passou de cabeça baixa por eles para não ser visto, até que um parou na frente dele e perguntou:
- Qual seu nome, soldado?
Peter lembrou de que leu o nome do soldado no crachá dele, mas não o estava usando.
- Eu te fiz uma pergunta, soldado.
- Victor da Serra. - respondeu ele.
- Sério? Eu jurava que o Victor não era loiro.
Uma mecha do cabelo loiro dele tinha saído da lateral do capacete.
- SEGURANÇA!
Peter deu um soco no homem, e o apagou, depois ele sacou a metralhadora e já se virou atirando pelo corredor, e os outros guardas começaram a tomar cobertura e atirar nele, mas Peter jogou uma granada de gás que estourou e obstruiu a visão pelo corredor inteiro, e ele rapidamente foi até a porta reforçada e digitou a senha, depois ele entrou e a trancou.
- Eu sabia que naquele momento eu tinha apenas três minutos até os guardas estourarem a porta e me pegarem lá dentro, então eu precisava ser rápido. - explicou ele.
Peter foi imediatamente até o computador central e procurou pelo protocolo de encerrar o esquema, mas ele viu em umas filmagens que os homens que tinham enlouquecido no refeitório estavam sendo espancados até a morte no pátio, sendo até torturados. Peter teve pena deles, e disse:
- Vocês estão livres agora, ninguém merece passar por esse inferno.
Ele apertou um botão, a frequência que os havia deixado loucos aumentou, e eles começaram a morrer um por um.
Depois de ter se livrado deles, Peter ativou o protocolo de encerrar o esquema, e todas as alas, programas e arquivos dos super agentes foram sendo apagados ou desligados.
- Aquele protocolo foi feito em caso de emergência, para tudo ser destruído caso alguma influência externa descobrisse oque está acontecendo.
Peter plantou uma C4 no núcleo, e colocou para explodir em um minuto e meio, depois ele foi até a janela, e viu que lá embaixo era exatamente o portão que ele tinha visto.
- Por sorte, um dos guardas andava com uma C4.
Ele olhou em volta procurando uma forma de descer, e os guardas estavam quase entrando.
Ele viu um cabo saindo do teto, e parecia ser bem longo e resistente.
- Rapunzel, jogue os seus cabelos.
Ele se segurou no cabo e deslizou nele até o andar debaixo, onde tinha um agente de guarda, Peter entrou pela janela e o matou, depois ele trocou suas roupas pelas do homem, e colocou o casaco com a bandeira Australiana costurada no ombro.
A equipe de guardas conseguiu enfim entrar na sala do núcleo, mas arregalaram os olhos quando viram a bomba faltando apenas um segundo pra explodir, e assim aconteceu, no topo da torre vários destroços caíram, enquanto Peter chegou ao portão e gritou:
- Um montão de uvas!
E o portão se abriu, e ele saiu dali correndo.
- Foi assim que você escapou? - perguntou o idoso.
- Da instalação em si, foi. Mas fugir de um país é mais complicado do que parece.
- Então, contador de histórias, vai contar como foi isso pra nós também? - falou o idoso.
Peter riu, e bebeu o resto da taça.
- Mais uma garrafa, por favor. - pediu ele ao garçom.