Capítulo 12

900 Palavras
Bella abriu os olhos com um susto, sua visão turva e o corpo ainda cansado pela noite anterior. Ela estava deitada no chão da adega, e o ambiente estava silencioso e sombrio. Mas o que a fez saltar foi a visão inusitada à sua frente: Ben, o pequeno filho de Francesca, estava sentado com um sorriso travesso sobre um porco gigante, que parecia ser um animal domesticado, com arreios e tudo. O porco olhava para Bella com uma expressão igualmente curiosa, mas o que mais chamava a atenção era a cena bizarra. — Bom dia, moça bonita — disse Ben com entusiasmo, sua voz infantil e cheia de energia. — Minha mãe mandou te acordar e trazer o café! Então, coma tudo e guarde as coisas antes que o mestre venha. O pequeno garoto cavalgou o porco com a mesma confiança que um general comanda suas tropas, imitando até os gestos de um comandante militar. Bella não pôde deixar de rir diante da cena absurda. O caos da noite anterior ainda estava em sua mente, mas a leveza do momento a fez sorrir. Ela pegou a bolsa que estava ao seu lado, retirou o pão e o queijo que Francesca havia deixado, e, com um suspiro, tomou um gole do vinho que estava ao lado. Ben observava-a atentamente, com uma expressão curiosa e satisfeita, e Bella percebeu que o garoto, de alguma forma, ainda tentava manter o ambiente leve, mesmo em meio ao desespero em que ela se encontrava. Depois de alguns minutos, Ben desceu do porco e desapareceu pela porta, deixando Bella sozinha novamente. Horas se passaram, e Bella ficou ali, sem notícias de Salvatore, sem saber o que aconteceria a seguir. O silêncio parecia pesar sobre ela. Ela se sentou em meio a algumas garrafas de vinho, várias de altíssima qualidade, que Salvatore havia deixado na adega, e pensou, sem saber ao certo o que fazer. Bella pegou uma garrafa do vinho mais caro, o que ela sabia ser um dos melhores, e, com um sorriso irônico, abriu a garrafa. Ela tomou alguns goles grandes, sentindo a bebida descer quente pela garganta. A sensação foi instantânea. Ela se sentiu mais leve, mais solta, e a música dentro de sua cabeça parecia começar a tocar, como um convite a esquecer por um momento as responsabilidades que a cercavam. Ela começou a cantar, sua voz rouca misturada com os ecos da adega vazia. Com os olhos fechados, Bella dançou sozinha entre as prateleiras de vinho, esquecendo-se das paredes que a cercavam. No meio do caos que a vida se tornara, ela finalmente sentiu uma pequena sensação de liberdade, mesmo que fosse apenas temporária. Enquanto dançava e cantava, Bella refletia sobre tudo o que a trouxe até aquele ponto. A mãe havia a colocado em um colégio interno quando era mais jovem, acreditando que mulheres precisavam aprender a cuidar de uma casa e ler, mas nunca, jamais, aprender sobre amor ou família. Ela pensou sobre o que havia sido sua vida até ali: uma vida de responsabilidades e expectativas que a aprisionaram. Jordan, seu irmão, tinha se apaixonado por Helena, mas Bella era quem criava o filho dele, Henrico, como se fosse sua responsabilidade, sua carga. Ela sabia que, quando saiu do colégio, pensou que teria a chance de viver sua vida de acordo com seus próprios desejos, mas isso foi interrompido ao ter que cuidar de seu sobrinho, mais uma vez sendo puxada para as responsabilidades de sua família, deixando de lado seus próprios sonhos. Bella sentiu que sua vida não era sua. Ela nunca havia sido dona de seu próprio destino. Tudo o que acontecia com ela parecia ser ditado por aqueles ao seu redor, e, ao beber, ela se sentiu, por um breve momento, como se tivesse o controle, como se fosse capaz de se libertar das correntes invisíveis que a prendiam. — Eu sou uma prisioneira, e ninguém vê isso — murmurou para si mesma, enquanto levantava a taça e tomava mais uma dose do vinho, como se isso pudesse dar sentido à sua dor. Ela bebia com uma sensação de desespero, um desejo de se livrar da angústia, de ser dona de sua vida, nem que fosse apenas por algumas horas. As risadas e os pensamentos fugazes desapareceram, e Bella se entregou ao vinho. Com cada gole, ela se sentia mais leve, mas também mais perdida. Sentia como se, por um momento, fosse finalmente capaz de se libertar da culpa, das expectativas e das responsabilidades de sua família. Quando a garrafa estava quase vazia, Bella se deixou cair no chão da adega, sentindo o peso das escolhas que tinha feito, o peso das escolhas de sua família. Ela sabia que estava vivendo em um pesadelo do qual não conseguia acordar. Mas, por agora, enquanto a bebida a embriagava e o mundo parecia desaparecer ao seu redor, ela se permitia sentir algo diferente. Algo que ela não experimentava há muito tempo: liberdade, embora efêmera. Com os olhos fechados, Bella continuou a cantar, sua voz abafada pelo vinho e pela dor, e, por um breve momento, ela sentiu que estava fora do alcance de tudo que a atormentava. Ela se entregou à solidão da adega e à sensação de liberdade que o vinho lhe dava, sem pensar nas consequências. Ela não sabia o que o futuro lhe reservava, mas, naquele momento, ela se sentia... viva, apesar de tudo.
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