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1548 Palavras
Três meses depois: Juan A igreja está lotada. Todos vieram prestigiar meu casamento, inclusive o insuportável do meu ex-cunhado. Acredito que veio apenas por formalidade do momento; com certeza não é por gostar de mim. Apenas Miguel está no altar; Celeste e Rafael não vieram, nem tampouco Emanuel. Minha sogra está ao lado do filho, ela parece triste. – Flor Vanilla, serei um bom marido para sua filha; não precisa se preocupar com nada. – Juan, minha filha é uma moça honrada que está se casando para cumprir o acordo e compromisso firmado. Receio, no entanto, que por melhor marido que seja, não fará a minha bonequinha feliz, e isso está me destruindo por dentro. Miguel olhou na direção da mãe como se fosse matá-la. Segurei no seu ombro, mostrando com esse ato que entendia toda a situação. Flora é a única filha que Flor tem; é perfeitamente natural estar insegura em relação à felicidade dela. – Farei o meu melhor, asseguro a senhora disso. Ela começou a chorar como se não confiasse na minha palavra. Miguel iria repreender a mãe, mas foi impedido pela marcha nupcial. Sebastião Domênico levava sua filha pelo braço, guiando-a até o altar. Ela não sorriu ou pareceu feliz; está cumprindo com sua obrigação comigo e honrando sua família. Ao chegar no altar, Sebastião entrega sua filha a mim sem dizer nada. Padre Lucas sorri para Flora, que corresponde balançando sua cabeça. O olhar da minha mãe em nossa direção é de desaprovação com meu casamento. Não me importo com sua opinião influenciada pelos diários de Mirela. Estou cumprindo com um papel esperado por todos. O padre começou a cerimônia falando sobre o casamento e a importância da família perante Deus e toda a comunidade. – Flora Acácia, você aceita Juan Magalhães como seu esposo? – Sim! – E você, Juan Magalhães, aceita Flora Acácia como sua esposa? – Aceito! O padre finalizou a cerimônia declarando que perante Deus estávamos casados, sem falar sobre o beijo, como se soubesse que Flora não queria. Provavelmente foi um pedido dela. Não houve um sorriso dela para mim ou algo que mostrasse sua felicidade. Flora cumpriu seu papel comigo como uma boa filha da Organização faria. Os aplausos foram os únicos momentos de animação da cerimônia. Segurei a mão da minha noiva, percebendo como está fria. Ela tentou soltar minha mão, mas não permiti, segurando com força. Seguimos em direção ao carro, sendo seguidos pelos convidados. Ajudei Flora a entrar, já que seu vestido é muito volumoso. Quando terminamos de entrar, o meu motorista seguiu o caminho até minha fazenda, onde a festa seria feita. Durante as últimas semanas, tudo foi organizado para este evento, da comida até os arranjos de flores. Foi um dinheiro bem gasto, já que faz muito tempo que minha família não dá uma grande festa. Flora não olhou para mim em nenhum momento durante o trajeto até a fazenda. Está pensativa demais, e isso me causa um certo incômodo. Sei que não está feliz com o casamento; isso é bem evidente. Pelo menos poderia fingir alguma reação. – Vai ficar com essa expressão de desgosto e desdém a noite inteira? Aconselho que melhore essa cara; vão pensar que está se casando obrigada comigo. – Juan, pode me deixar quieta, por favor? Estou morrendo de dor de cabeça. Ainda terei que lidar com vários convidados e tirar fotos. Só me deixe em paz. Você já conseguiu o que queria. Sou sua esposa agora, pertenço a você até o fim da minha vida. Se puder, somente fingir que não existo será ótimo. Ao invés de esperar minha ajuda para sair, ela mesma sai do carro como um furacão. Consegui alcançá-la, segurando seu braço para que ela não vá sem mim. – Se comporte, Flora. Não quero ter que disciplinar você no dia do nosso casamento. – Desculpe, só estou nervosa. Estendi minha mão para ajudá-la a chegar até a entrada. Ela aceitou sem questionar. Todos os convidados já estavam aqui, apenas esperando nossa chegada. Assim que entramos, fomos recebidos com aplausos e comemorações. Flora tentou parecer feliz, mas qualquer um que olhasse para ela saberia que está tudo menos feliz. A guiei até a mesa principal reservada para os noivos, recebíamos os cumprimentos das famílias, assim como os presentes pelo casamento. Flora fingiu bem, sorrindo como se estivesse apaixonada, segurou minhas mãos, convenceu a todos, menos a mim, que sei do seu fingimento. Quando a mãe de Flora se aproximou para nos cumprimentar, ela não conseguiu mais disfarçar, chorando muito. Fiquei incomodado com o jeito que as duas choravam enquanto se abraçavam. Miguel tentou ir até a mãe, sendo impedido pelo pai. Parecia que ela estava morrendo e não que estava se tornando a senhora Magalhães. Flora Tentei não chorar e ficar firme. Falhei miseravelmente ao ver mamãe aos prantos. Ela sempre se mostrou neutra com toda a situação, tentando me fazer ver o lado positivo de toda minha nova realidade. Ao passar dos dias, minha mãe percebeu minha infelicidade e falta total de ânimo para cuidar dos preparativos desse Calvário. Meus irmãos não estão aqui, minha melhor amiga também não está. Finjo uma falsa alegria por estar me casando com um homem que não fez nada além de acabar com minha vida. Miguel era meu irmão amado, agora parece me ver como uma espécie de mercadoria preciosa vendida para Magalhães. Emanuel está na Espanha, como se tivesse sido banido. Se não fosse por mamãe, não teria conversado com ele hoje mais cedo. Rafael e Celeste se afastaram totalmente de nós. Meu irmão apenas cumpriu com algumas obrigações por conta de um pedido do meu pai. Celeste me ligou pelo celular de mamãe, dizendo que não viria ao casamento por não concordarem e por causa de Miguel. Algo de muito sério aconteceu para que Celeste não tenha coragem de contar. – Filha, se algo de r**m acontecer com você e precisar da mamãe, não tenha vergonha de me procurar. Esse casamento não muda o fato de que sou sua mãe; nada nesse mundo pode modificar isso. – Mamãe, receio que talvez não consiga. Se alguma coisa acontecer comigo, saiba que eu a amo muito. Diga para Emanuel e Rafael que eles são meus irmãos amados e queridos. Sei que papai não dirá as mesmas palavras que a senhora, por isso, diga para ele não vir falar comigo. Tudo que não preciso é ouvir um sermão de como devo honrar a família, ser submissa e deixar meu marido fazer de mim seu brinquedo pessoal. Mamãe se afastou; foi quando Miguel tentou se aproximar. Apenas com um gesto, mostrei que não queria. Não reconheço meu irmão, que sempre foi meu herói. Esse homem não é meu irmão; ele usou esse título para impor sua vontade sobre mim. – Preciso ir ao banheiro, Juan, será rápido. Sai no meio da multidão, sorrindo como se nada tivesse acontecido. Irma está em uma mesa afastada com as crianças. Lucas está em pé perto da mãe adotiva, como se estivesse a protegendo. Como a mesa está no caminho do banheiro, decido parar para cumprimentá-la. Lucas entra na minha frente como se fosse uma ameaça à integridade da mãe e dos irmãos. – Filho, pode deixá-la passar. Flora é amiga como a tia Gabrielli e tia Marcelli. Vá buscar salgados para os seus irmãos, por favor. Lucas acenou como se fosse um segurança. Foi assustador vê-lo agir dessa forma. – Irma, agradeço a sua presença. Alguém a ofendeu ou a fez se sentir desconfortável? – Já estou acostumada, e não me importo. Lucas também me protege como se fosse uma rainha. Meu filho é meu anjo da guarda reserva. De qualquer maneira, agradeço sua preocupação. Sentiu algum efeito colateral com as vitaminas que lhe dei? Fez dois meses que estou tomando as pílulas, e graças a Deus não tive nenhum efeito colateral. Pesquisei algumas informações que diziam sobre os possíveis efeitos colaterais, como engordar por conta da quantidade de hormônios, o que não aconteceu. Meu peso continuou o mesmo; mamãe não percebeu nada, pois fiz como Irma me aconselhou. – Não tive nenhum efeito colateral. Agora é esperar que dê tudo certo. Sei que métodos contraceptivos não são 100% eficazes. – Vamos rezar para que nada dê errado. Vou ser rápida, pois Maurílio pode aparecer e falar algum absurdo. Sei que as mulheres das cinco são tradicionais demais, e talvez sua mãe não tenha conversado com você sobre sexo. Portanto, tentarei resumir: sua primeira vez pode ser maravilhosa ou pavorosa. De qualquer maneira, fique relaxada; pense que será bom. O pensamento positivo já é um bom começo. Se você não sangrar, não se apavore. Tem mulheres que, mesmo tendo o hímen rompido, não sangram, e isso não quer dizer que você não é virgem. Sei como é estar casada com alguém por motivos diferentes do que deveria ser. No entanto, o tempo é o melhor mestre quando se trata de uma situação como a sua. Seja feliz, minha linda; é o meu mais profundo desejo. De todos os conselhos que ouvi nesses últimos meses, esse com certeza foi o mais lindo e sábio. Irma se levanta e me abraça como se fosse uma velha amiga. É tão bom saber que tive o privilégio de conhecê-la sem preconceitos e julgamentos tolos.
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