Capítulo 7

606 Palavras
Já era de noite quando chegamos no Cadeião de Pinheiros III. Fiquei meio assim por que aqui é a Detenção Provisória, e não pros caras que tem mais uns 20 anos pra cumprir atrás das grades. Eu nem disse nada, por que se eu abrisse a boca, era esporro na certa. Fomos entrando ali, ainda algemados. Revistaram a gente outra vez. Não entendi não, eles acham mesmo que nós deve ter tirado uma arma ou uma faca de algum lugar pra arrumar quiaca ali dentro? Tem nem como, pô. Depois da revista, eles foram levando a gente até uma cela, que tinha quatro beliche, duas encostada em cada parede, e só. Nos jogaram ali dentro, e quando sentei em uma cama, um cara baixinho de terno entrou ali metendo postura. Da onde eu estava eu não sai, não falei nada e nem fiz nada, apenas fiquei encarando aquele homem ali. - Sou o Rogério Martins, diretor desse presídio. - cruzou os braços. - Vim aqui informa-los que aqui é completamente diferente do Carandiru, não vai ter folguinha o dia todo não, aqui tem trabalho pra vocês, e amanhã mesmo cada um vai para uma área. Café da manhã é as dez, se perder, vai ficar sem. Almoço as uma da tarde e a janta as sete. Banho de sol a partir das três da tarde, e futebol só aos sábados. Marcão: E as visitas? Rogério: É aos domingos também, a partir das seis da manhã. - respondeu, e depois de olhar para os caras, seu olhar parou em mim. - Tu deve ser o Sinistro... Balancei a cabeça confirmando, e ele se aproximou um pouco. Fiquei meio assim né, se ele tentasse algo, dava nem pra eu reagir, por que tava algemado. - Um dos integrantes da CDL, preso por dois homicídios, roubo, furto, extorsão, e estelionato. - me olhou de cima a baixo, e eu já fiquei meio assim. - O senhor irá começar a passar por psicólogos toda terça e quinta. Sinistro: Ih ala, por que dessa p***a ai? Não sou maluco! Ele deu uma risada baixa, negando com a cabeça, e eu fiquei sem entender nada. Rogério: É pelo psicólogo, não pelo psiquiatra. Sinistro: E isso tem alguma diferença? Os dois mexem com a cabeça e pronto, p***a. Ele bufou, apertando os punhos, e eu continuei com a minha cara fechadona. Rogério: Tu ainda não entendeu que aqui dentro tu não manda em c*****o nenhum? Tu vai passar num psicólogo sim, p***a. Eu nem dei mais ideia. Se eu fosse mermo, não iria abrir o bico, pô. Eu tô ligado que ele só quer que eu vá nessa p***a, pra ver se eu falo sobre algo da facção, mas sou nem maluco, e muito menos X9. Se eu abrir a boca pra qualquer parada da facção, no dia seguinte eu amanheço morto. O arrombado lá saiu dali, logo após um guarda tirar nossas algemas. Deitei naquela cama, e me estiquei. O colchão era meio duro, mas de boa de dormir pô. Agora eu finalmente tinha uma cama e não precisaria mais dormir no chão frio. Graças ao pai lá de cima, carai. Marcão: O cara mó folgado, pô. Túlio: Daqui uns tempos tá morto. Ele tá achando mermo que os caras que eram do Carandiru escuta calado, e deixa passar suave? Tá malucão mermo. Maurício: E o Sinistro, vai passar por psicólogo, ala. - me olhou, e eu fiz careta, negando com a cabeça. Eu não ia não, pô. Pra que essa p***a? Vou falar nada mermo, sou nem doido. Jurei lealdade ao comando, e essa p***a eu ia cumprir de qualquer maneira.
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