Pré-visualização gratuita Capítulo 1
Capítulo 01
LACHELLE NARRANDO 🩺
Respiro fundo sentando na cadeira do meu consultório, já estava a mais de vinte e quatro horas de plantão, ainda precisava dar algumas altas e falar com o diretor antes de ir pra casa.
Escuto baterem na porta e viro meu rosto pra mesma, vendo uma das enfermeiras colocando a cara ali
Marlene - Doutora com licença - eu confirmo com a cabeça pedindo pra ela prosseguir - o diretor já está te aguardando no escritório dele. - eu agradeço a mesma e digo que em minutos vou está lá, aguardo ela se retirar, agora preciso torcer pra ele aceitar meu pedido de férias de 90 dias.
Jogo meu material de trabalho dentro da minha bolsa, deixo tudo organizada pra na hora da saída só passar para pegar.
Saio do meu consultório e sigo em direção ao escritório dele, ainda tenho uma cirurgia agendada amanhã pela parte da manhã, o Philips um garotinho de 3 anos com hérnia umbilical.
Lachelle - Com licença. - peço assim que abro a porta dele, vendo o cara de meia idade me olhando, o terno bem alinhado com o jaleco por cima chama minha atenção, provavelmente só estava no escritório hoje. - boa tarde. - resmungo e ele aponta pra cadeira na frente dele.
Diretor - Toda doutora Lachelle pode se sentar - ele continua apontando pra cadeira a sua frente, fecho a porta nas minhas costas e me sento no local aguardando seu pronunciamento sobre meus dias pedidos, afinal a carta já tinha sido entregue no RH - Recebi o seu pedido, com a liberação de 90 dias, gostaria de entender melhor o motivo, você está conosco a 5 anos, desde a sua residência e nunca tirou mais que 15 dias de folga. - eu confirmo, odeio precisar me explicar, acho extremamente chato, afinal é um assunto que pra mim é completamente rüim.
Lachelle - Minha mãe está passando por uns problemas no Brasil, vou precisar voltar para organizar as coisas dela, por isso o tempo maior. - ele me olha com atenção, provavelmente vendo se não tem nenhuma mentira no meu rosto, o que eu acho um absurdo, logo eu que me dediquei mais a esse hospital que qualquer pessoa.
Ele apenas confirma com a cabeça um tempo depois, enquanto assina o que presumo que seja as minhas férias extendida.
Diretor - Peço que cumpra pelo menos seus 15 dias, aí consigo arrumar uma substituta temporária durante esse período. - eu abro um sorriso pra ele, ótimo assim consigo organizar tudo melhor e com tempo de sobra.
Lachelle - Sem problemas - resmungo mais baixo - obrigado e com licença - estico os lábios num sorriso e me apresso a sair daqui, piso no lado de fora feliz, pelo menos vou conseguir resolver esse péssimo problema e voltar para minha vida normal.
Infelizmente ou felizmente tem coisas que só pertencem ao passado mesmo.
Ando pelos corredores do hospital em direção a pediatria apenas escutando o barulho do meu Saint Laurent ecoar por todo corredor, diria satisfatório o barulho que meu salto faz.
Eu olho pra trás e agradeço a Deus por ter conseguido vencer na vida, hoje não é nada pra mim um salto de quase treze mil, mas já foi muito ter treze reais pra conseguir comprar uma cartela de ovo pra almoçar.
Balanço minha cabeça afastando os meus pensamentos entrando no quarto de Philips, que de imediato já sou recebida com grande sorriso no rosto.
Philips - Tia Luizaaaasa - ela me chama pelo meu segundo nome e eu faço uma careta, não sou muito fã, mais no dia que ele chegou aqui ele tava tão mäl que acabei contando meu segundo nome - estava esperando a senhora. - ele é super gentil, um doce de menino.
Lachelle - E ai, tá sentindo muita dor ainda? - pergunto levantando o avental hospitalar, já me certificando como esta a região abdominal dele, tenho apenas ele amanhã cedinho, e depois já fico apenas pra da alta a alguns pacientes. - responde pra mim como ta a dor ? - pergunto mais uma vez e ele balança a cabeça confirmando.
Philips - Já parou de doer, você disse que depois eu vou poder comer um pirulito né doutora. - eu confirmo sorrindo pra ele.
Lachelle - Isso aí garotão, mas precisa se recuperar primeiro. - eu resmungo e ele sorrir amarelo.
Chamo a mãe dele mais no canto para falar mais sobre a cirurgia que realizo amanhã, e não deve durar mais que uma hora se tudo ocorrer como esperado.
Me despeço dos pacientes, já aproveito para dar uma passada no neonatal para saber se está tudo certinho por aqui, não é fácil precisar gerenciar cada setor, muita das vezes fico com pé atrás, com medo de está deixando algo importante passar.
O neonatal em si é um dos piores lugares pra mim, me trazem lembranças do meu passado que eu lutei muito pra deixar armazenado bem no fundo da minha mente, são coisas dolorosas demais, que a Luiza precisou passar, para Lachelle viver hoje.
FLASHBACK ON...
Lachelle - Tia tem muito sangue me ajuda, eu vou perder minha filha tia. - grito desesperada sentindo o sangue escorrendo como cachoeira no meio das minhas pernas. - pelo amor de Deus... - eu imploro a Deus com toda a força que tenho.
Começo a chorar desesperadamente com medo de perder a Liz, já estava de 30 semanas de gestação, eu precisava dela, nada poderia me tirar ela.
Lúcia - Consegui um carro, vamos. - minha tia chega correndo gritando, ela me ajuda me levando ao carro e indo direto para o hospital de referencia da cidade, eles fazem de tudo possível quando eu chego, mas ela já havia morrido dentro de mim, a pelo menos vinte quatro horas.
XXX - Vamos fazer um parto normal, então como ela tá morta mãezinha, vamos precisar muito da sua ajuda para colocar ela para fora.
Eu chorei, chorei por precisar trazer ela sem vida para o mundo, chorei mais ainda esperando um milagre de Deus, e esse milagre nunca aconteceu, ele me deu, ele me tomou, sem nenhum aviso prévio. Mas ele sabe de todas as coisas e é preciso respeitar.
FLASHBACK OFF...
Saio dos meus pensamentos que me perseguem a 12 anos, tento afastar qualquer tipo de emoção ao entrar no neonatal, de caro já vejo um prematuro extremo de 28 semanas.
Lachelle - Algum problema por aqui? - pergunto para uma das enfermeiras chefes do local, que afirma que não há nada demais, então já me retiro daqui indo terminar as altas que eu tinha que dá.
Depois precisava ir pra casa e descansar, ainda tinha mala para arrumar, fora a conversa com a minha tia.