Pré-visualização gratuita Capítulo 1
Capítulo 1
OLÍVIA NARRANDO 🌺
Me encosto na varanda do meu apartamento vendo a vista do morro que fica logo acima da minha casa, deixando os pensamentos vagarem por um passado um pouco distante.
Quando conheci o Matheus eu era mais nova, tinha só quinze anos e me deixei levar por pura ilusão de um rostinho bonito, subi a comunidade a primeira vez com uma amiga, que até hoje mora lá em cima, fui pra um baile e conheci o famoso cobra, filho único mais conhecido como príncipe do tráfico ali.
No começo foi uma maravilha, eu nova, toda inocente, ele não era velho, mais beirava os vinte anos, mais ou menos, eu era virgëm, começamos a ficar naquele baile de beijo, ele queria fazer umas coisas a mais até de fato conseguir me entregar pra ele.
Quando minha mãe dizia que eu iria me complicar se envolvendo com moleque novo, e principalmente envolvido eu nunca dei razão pra ela, e hoje eu vejo, o sentido de tudo que ela me dizia.
São cinco anos de relacionamento, uma gravidez que no final virou um aborto, depois de uma longa discussão aonde ele falava que era muito novo pra ter um filho, que podíamos abortar e no futuro formariamos uma família.
No final daquela discussão, eu levantei pra pegar todas as minhas coisas que ainda estava na casa dele e ir embora, eu ia seguir com aquela gestação sozinha, a criança não tinha culpa de nada, mais não, não saiu da forma que eu esperava, e como um sopro no meu ouvido as palavras, um pouco clichê da minha mãe nunca fizeram tanto sentido.
" Tudo começa com flores Olivia, mas tudo termina exatamente com flores "
Foi assim que meu mundo foi se destruindo aos poucos, aquele dia, quando eu virei as costas pra descer eu caí daquela escada, sem mais e sem menos, segundo o Matheus eu tive uma tontura e cai, mas até hoje isso não me desce muito bem.
Dali pra frente começaram os gritos, os tapas, as flores logo em seguida, as bolsas caras que vinham acompanhado de diversos eu te amo, e no outro dia mais um soco, mais um tapa.
Raquel — Sai dessa varanda Olívia, uma hora dessa ele deve tá fazendo alguma putä lá em cima de depósito de porrä.
Minha mãe fala comigo enquanto coloca os pratos na mesa da sala de jantar, a noite já tinha caído, e eu estava esperando ele pra sairmos pra começar nosso 6° aniversário de namoro.
Seis anos juntos, e uma série de problemas, acho que pra muita gente na situação como a minha é fácil falar, só largar, mais só eu sei, tudo que já ouvi, vi e principalmente vivi na mão dele durante anos.
A vez que eu tentei mesmo separar, que eu bloqueei em tudo, troquei número, fechei a casa, minha mãe foi assaltada e agredida na rua, o que nunca aconteceu, em vinte anos morando onde nós moramos hoje.
E como sempre ele dizia...
" Você será minha até o seu último dia Olívia. "
Olivia — É dona Raquel, eu queria só ter ouvido a senhora...
Resmungo quando escuto o barulho conhecido vindo no final da rua e me afasto da sacada indo na direção da minha mãe, dou um beijo no rosto dela e a mesma respira fundo.
Sei que ela não gosta da situação, eu muito menos, tento pensar sempre pelo lado positivo, uma hora ele vai mudar, ou então uma hora ele desencana de vez e me deixa viver minha vida em paz.
Raquel — Nunca é tarde pra voltar atrás Olívia, já te falei algumas vezes que daremos um jeito. - eu negö com a cabeça sentindo vontade de chorar - eu já falei tantas vezes Olívia, procura o pai desse homem minha filha, ele é o dono de lá, o Cobra só canta de galö, não acredito que o pai dele seja tão mäl caráter assim.
Eu respiro fundo negandö com a cabeça, quem dera se fosse tão simples assim.
Olivia — Mãe não dá, já falei várias vezes com a senhora, quem se mistura com porco farelo come, você realmente acha que o pai dele não sabe todas as coisa que ele faz? - ela negä com a cabeça, dizendo que talvez não. - não sei se acredito...
Resmungo vendo ela me olhar com uma certa pena, queria mesmo conseguir me livrar disso tudo e sumir por aí.
Eu não falo mais nada, só engulo a bola que se faz na garganta e pego minha bolsa sobre o sofá e saio de casa pegando o elevador, provavelmente Matheus já tá impaciente lá em baixo.
Pedi ele pra me levar em um restaurante que eu gosto na barra, se ele vai levar mesmo eu não faço a mínima ideia de como vai ser essa noite.
Escuto o barulho do elevador e paro no hal de entrada do meu prédio, vendo a evoque branca dele parada lá na frente, cumprimento o porteiro que sorrir gentil pra mim, e sigo pra fora do meu prédio, dando a volta no carro e abrindo a porta do passageiro.
Cobra — Ta cheirosa.. - sorrio por ouvir um elogio dele, raramente acontece. - tá bonita também, um milagre. - eu prendo a respiração travando o sorriso, é sempre assim, as vezes um pequeno elogio vem seguido de um balde de água gelada na cabeça.
Olivia — Conseguiu fazer a reserva no restaurante que eu queria? - pergunto me sentindo incomodada e ele me olha de lado, a pele branca, quase sem tatuagem nenhuma chama minha atenção quando ele faz uma curva na principal. - eu te fiz uma pergunta Matheus. - ele respira fundo e negä com a cabeça, me deixando mais irritada.
Cobra — E eu lá vou perder tempo com isso Olívia? - ele fala indignado e eu fico calada, ele não gosta de ser respondido, contrariado, se não se estressa e quem acaba levando o pato? É.. eu.
É sempre assim, nem o lugar que eu quero ir ele pode fazer o mínimo de fazer uma reserva, e me agradar, não custaria nada, são seis anos juntos, daqui a menos de um mês eu faço vinte e um anos, e só um presente de Deus mandando ele pra bem longe pra eu conseguir viver minha vida tranquilamente.