Capítulo 3
AYLA NARRANDO
Ayla — Fogo? — Repeti, rindo de lado enquanto Heitor se afastava ligeiramente. — Sabe o que dizem, não é? Quem tem medo do fogo nunca deveria brincar com fósforos. E eu tenho mais do que fósforos, eu tenho o maçarico.
Ele parou no meio do movimento, fechando os olhos por um instante, como se tentasse manter a paciência. Era isso que eu fazia com ele. Cutucava, desafiava, esperando ver até onde ele aguentaria antes de ceder.
Heitor — Ayla... — Ele começou, mas eu o interrompi.
Ayla — Não me vem com esse "Ayla" como se eu fosse uma criança birrenta. Você sabe tão bem quanto eu que não é isso.
A festa ao nosso redor continuava pulsando, mas naquele momento parecia que tudo havia diminuído de intensidade. Era só eu e ele. O salão vibrava ao som da música, mas a tensão entre nós tinha sua própria frequência, mais baixa, mais intensa.
Heitor — O que você quer de mim? — Ele perguntou finalmente, a voz baixa, como se não quisesse que ninguém mais ouvisse.
Eu sorri. Ele sempre tentava me desarmar com perguntas diretas, como se isso pudesse me intimidar.
Ayla — Talvez eu só queira te conhecer melhor. — Respondi, dando de ombros, mas meu olhar dizia outra coisa.
Heitor — Me conhecer melhor? Você sabe muito bem quem sou eu. — Ele arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços. — Sei exatamente o que você tá tentando fazer.
Ayla — Ah, é? E o que eu tô tentando fazer, Heitor? — Inclinei-me um pouco mais, aproximando-me dele, mantendo o sorriso provocador nos lábios.
Heitor — Tá tentando me tirar do sério.
Ayla — Talvez eu só esteja curiosa... Adoraria experimentar o gosto da sua boca. Sentir ela descendo pelo meu pescoço, meu peito e .... o resto você sabe. — Soltei, com a naturalidade de quem comentava sobre o tempo.
O olhar dele mudou instantaneamente, os olhos se estreitando em reprovação.
Heitor — Você tá louca? — Ele perguntou, a voz saindo baixa, quase um sussurro, mas firme. — Eu tenho idade pra ser seu pai!
Ayla — Nossa priminho que exagero. Você não é tão velho assim. — Dei um sorriso de lado, desafiando-o. — E, sinceramente, quem se importa? Porque eu mesmo adoro homens maduros assim como você.
Heitor — Seu pai se importa. E muito. — Ele respondeu, desviando o olhar por um momento, como se quisesse evitar a conversa. — Isso sem falar que ele me mata se souber de qualquer coisa.
Ayla — Meu pai não precisa saber de tudo. — Retruquei, sentindo a adrenalina subir com o desafio.
Heitor — Ayla, chega. — Ele disse, a voz mais firme agora. — Isso não vai acontecer. Nunca. Você não faz meu tipo, e eu tenho meus rolos. Sem falar que nossa família tá em paz, pra mim querer atrapalhar tudo caindo no seu joguinho.
Mas, mesmo enquanto ele dizia essas palavras, havia algo em sua expressão que me dizia que ele não estava tão convicto assim. Ele podia negär o quanto quisesse, mas a tensão estava lá, no ar entre nós.
Antes que eu pudesse provocá-lo ainda mais, a figura imponente do meu pai apareceu do outro lado do salão. Ele estava vindo em nossa direção, mas, para minha surpresa, seu foco não era em mim.
Marcelo — Caralhö Heitor! Não avisou que chegou porque? — Meu pai falou com a voz carregada de autoridade, mas amigável.
Heitor imediatamente se endireitou, a postura relaxada de antes desaparecendo. Era quase engraçado ver como ele mudava na presença do meu pai, como se ficasse constantemente em alerta.
Heitor — Só vir dar uma passada rápida para parabenizar as gêmeas, coisa rápida. — Heitor respondeu, acenando com a cabeça.
Marcelo — Tá tudo tranquilo aí? Ayla tá causando? — Meu pai perguntou, os olhos rapidamente avaliando a cena ao nosso redor.
Heitor — Tudo na paz. — Heitor respondeu, mantendo a voz neutra.
Meu pai assentiu, parecendo satisfeito. Ele colocou uma mão no ombro de Heitor, um gesto que me surpreendeu.
Marcelo — É bom te ter por perto, Heitor. Depois de tudo que passamos, é bom saber que estamos do mesmo lado agora.
Heitor — Somos família, não tinha porque continuar com aquela situação. — Heitor respondeu, a seriedade na voz dele indicando que ele realmente valorizava aquelas palavras.
Eu observei a interação em silêncio, tentando não revirar os olhos. Meu pai podia ser amigável com Heitor, mas eu sabia que, se ele suspeitasse de qualquer coisa entre nós, a situação mudaria num piscar de olhos.
Marcelo — Ayla. — Meu pai me chamou, finalmente voltando sua atenção para mim.
Ayla — Sim, pai? — Respondi, tentando parecer inocente.
Marcelo — Não exagera hoje. Fica na linha.
Ayla — É meu aniversário. Dá um desconto. — Respondi, sorrindo de lado.
Marcelo — Dá um desconto? Só não esquece que sou eu que mando nessa porrä aqui. — Ele respondeu, mas havia um leve sorriso no canto dos lábios, indicando que ele não estava realmente bravo.
Ayla — Tá bom, tá bom. Vou me comportar. — Respondi, piscando para ele.
Meu pai bufou, balançando a cabeça, mas parecia satisfeito. Ele deu um último aceno para Heitor antes de se afastar, provavelmente para checar outra parte da festa.
Assim que ele saiu, voltei minha atenção para o Heitor.
Ayla — Parece que você ganhou pontos com ele. — Comentei, provocando.
Heitor — Eu não tô interessado em ganhar pontos com ninguém. — Ele respondeu, me lançando um olhar de advertência.
Ayla — Tem certeza? Porque, pelo que eu vi, ele gosta de você agora. E, sinceramente, eu também.
Heitor balançou a cabeça, soltando um suspiro.
Heitor — Ayla, você realmente não tem limites, tem?
Ayla — Não quando eu quero alguma coisa. — Respondi, dando um sorriso que eu sabia que o deixava desconfortável.
Ele não respondeu. Apenas balançou a cabeça novamente antes de se afastar.
A festa continuava, mas algo me dizia que aquilo era só o começo. Não éramos mais crianças, e o morro tinha suas próprias regras. Agora, estávamos no centro do tabuleiro. Maya com seu jeito calculado, e eu com meu caos.