Capítulo 4

1793 Palavras
Capítulo 4 Desperto na mesma posição em que fiquei ontem, mas agora estou completamente coberta pelo lençol e Dylan nem ao menos me chamou para ir para a cama. Me sento, entretanto, meus músculos do pescoço protestam, tento virar minha cabeça para o lado, o que só acaba por piorar a dor. Me levanto e vou para a cozinha onde pego a caixa de remédios, tomo um Advil e subo para o quarto, meus olhos se arregalam ao constatar a hora pelo relógio na cabeceira. Já são quase nove horas! Não há mais chances de ir para a escola. Vou para o banheiro e tiro o lençol jogando-o no canto do chão e ligo a água. Ao entrar, meus músculos do pescoço relaxam na água quente e acabando com a tensão. Saio do banheiro e coloco minha casual calça jeans e uma blusa branca, penteio meus cabelos e deixo-os secar naturalmente. Desço para a cozinha e encontro Dylan olhando pensativamente para a geladeira e por um momento fico confusa. Onde ele dormiu? — Bom dia, Eve — Ele diz quase cantando e sorri — Como você está? — arqueio a sobrancelha, Dylan parece estar novinho em folha, resultado de uma noite bem dormida. — Estou com torcicolo. Por que não me acordou para ir para a cama? — Você estava em um sono profundo, então aproveitei a cama da sua mãe! — Gay, muito gay! — E eu reparei que as cobertas dela têm cheiro de lavanda e não a sexo! — Dylan! — repreendo-o, mas o sorriso é maior e eu acabo rindo da sua constatação. — Por falar na sua mãe, onde está a dona Linda? — Você sabe, voando, e ela acaba ficando sem tempo para f********o, por isso sua roupa de cama está cheirando a lavanda — Se eu falar de sexo com outra pessoa que não seja com Dylan eu fico envergonhada, vermelha, pegando fogo, mas com ele é diferente, sempre pude compartilhar meus receios com Dylan — E David? — pergunto, mudando de assunto. — Está bem, ficou triste porque eu o deixei dormir sozinho — David é namorado de Dylan já faz um longo tempo e a história de ambos não foi um mar de rosas. O começo foi complicado, a família de Dylan não o aceitou por ser gay e foi expulso de casa ainda adolescente. Já éramos amigos e eu e minha mãe o acolhemos na época, ele morou um tempo conosco até que conheceu David, o homem que tirou seus pés do chão. No início David ficou com ciúmes por causa da nossa amizade, mas com o tempo ele compreendeu que uma amizade como a nossa é bela e rara. Eles foram embora no começo do ano passado para conhecer um pouco das riquezas do mundo, agora voltaram e estão morando juntos. David é cinco anos mais velho que Dylan, é formado em Direito e é uma pessoa realmente legal, eu simplesmente o adoro. Enquanto isso, Dylan ainda tem que terminar o colegial junto comigo. — Por que você não o chamou para dormir aqui também? — Ele falou que teve um dia estressante e cheio. — Está pronto para qualquer dia esbarrar com a sua família? — Dylan faz uma cara de quem chupou limão azedo e não gostou. — Acho que isso irá acontecer a qualquer momento, mas não poderia me importar menos, eu finalmente me sinto realizado. — Eu vejo — Me lembro claramente de dois anos atrás e é maravilhoso vê-lo bem, eu compartilhei de sua dor por não ser aceito por sua sexualidade pela própria família, que deveria compreender que as vezes não almejamos o futuro que eles planejaram para nós. — Ele me pediu em casamento — Dylan confessa com um largo sorriso em seu rosto. — Me diga que você aceitou?! — Claro que aceitei, em parte foi por isso que nós voltamos, além de querer voltar para onde eu cresci, queria contar para a minha melhor amiga que ela será minha madrinha! — Eu vou ser a madrinha? Já marcaram a data? — pergunto perplexa. — Ainda não, porém vamos em breve, já que atingi a maior idade. — Dylan, estou tão feliz por você! — dou a volta na mesa da cozinha e abraço-o apertadamente — Obrigado por não me acordar para ir à escola — sussurro sorrindo em seu ouvido. — De nada, Eve — Nos afastamos e o observo alegremente. Dylan vai se casar! — Primeiro dia de volta à escola e já está faltando — brinco. — Não é como se eu gostasse de estudar. — Sei — arqueio minhas sobrancelhas em sua direção, não era um grande segredo que Dylan nunca gostou de estudar. — Hoje nós vamos sair para jantar e queremos que você venha junto. — Acho melhor não ir, esse é um momento que vocês dois precisam estar juntos a sós. — Você sabe que nunca atrapalha, Eve! Nós dois queremos saber o que tem acontecido nessa cidade, além disso queremos saber se você deu o seu cartão “V” — sinto um calor rastejar por minhas bochechas — Ah, meu Deus, Everly! Você deu? — Dylan praticamente grita. — É obvio que não! — Então por que você ficou vermelha? — No começo da semana fui a praça para desenhar e esbocei um homem, ele se chama Joshua e me deu seu número, deixou claro que se eu quisesse desenhá-lo novamente, poderia ligar. — Eve, isso foi uma indireta bem direta! — Ele é mais velho. — Esse é um pensamento totalmente ultrapassado. — E... — Há algo mais? — Ele é nosso professor de cálculo! — Oh senhor! — Ele coloca suas mãos na boca abismado, mas logo tira e sorri — Vai ser como aqueles romances de professor e aluna que eu leio. — Definitivamente não! Dylan, eu não sou esse tipo de pessoa, acho que nunca me submeteria a algo do tipo. — E se não fosse nosso professor? — Então eu poderia considerar. — Eu preciso conhecer ele! — Amanhã você irá e eu estou tão feliz por você estar de volta — digo, tentando mudar de assunto desesperadamente — Não ficarei mais sozinha. — Boa hora para voltar para Montesano, não? — Boa hora, Dylan. [...] — Por que você está me dando isso? — pergunto para Dylan quando ele coloca o quinto copo de uma bebida adocicada de cor rosa. — Porque você precisa ter novas experiências como qualquer adolescente — olho para Dylan e em seguida para David, eles estão girando e rindo de algo. — Dylan, eu acho melhor essa ser a última — ouço a voz repreensiva de David e eu pego o canudinho com os meus lábios e começo a beber a bebida enquanto assisto os dois. — Eu estou bem, David — Na verdade acho que nunca estive tão bem! — Você não irá se sentir assim amanhã, querida — Abro um sorriso mostrando todos os dentes. — Dylan vai cuidar de mim! [...] O despertador soa tão alto, parece um animal morrendo! A primeira coisa que percebo é que tudo dói. Bato no despertador e ouço um estrondo que me acorda rapidamente, o maldito despertador caiu. Cambaleio até o banheiro e me olho no espelho, pareço a mulher do Frankenstein. Então me lembro da escola. Tenho que ir para a escola! Tomo banho o mais rápido que eu consigo e visto jeans, uma regata e blusa de frio junto do tênis. Ouço uma buzina e pego a bolsa, pelo menos não terei mais que pegar ônibus. Entro no carro e olho para Dylan. — Você está uma droga ou sou só eu? — Eu estou belíssima, acho que é só você — deito minha cabeça no banco e fecho os olhos, mesmo assim ela não para de doer. — Você parece estar com uma dor de cabeça assassina. — Por que você me deu tanta bebida ontem? — Ele me olha claramente divertido. — Porque você precisava ter o seu primeiro porre! — Bem, eu não quero um desses nunca mais! — Desgraçado! Chegamos à escola no momento exato em que o sinal soa e ando lentamente até a primeira aula de cálculo. Infelizmente Dylan não está nessa sala comigo e me deixa na porta com um beijo na testa. Olho para a sala e vejo Joshua me olhando atentamente, os seus olhos parecem estar em chamas ou talvez seja apenas impressão minha. Vou até o meu lugar, me sento e deixo o material em cima da carteira. Joshua começa a ministrar a matéria, porém minha mente caótica não consegue prestar atenção, a dor em minha cabeça se torna tão grande que coloco minhas mãos nela e sinto o suor molhá-las. Meu estômago começa a dar reviravoltas e sinto ânsia, saio correndo da sala sem me importar com os risos que me acompanham, empurro a porta do banheiro me enfiando em uma cabine e começo a vomitar, até que sinto alguém segurar meu cabelo em um r**o de cavalo. — Coloque tudo para fora, Everly — A voz diz. Ah não! Joshua! — Vá embora! — digo, tentando afastá-lo com a mão, mas começo a vomitar novamente, suas mãos vão para minhas costas em uma espécie de carinho. Apesar de estar vomitando praticamente as minhas tripas, ainda sinto arrepios com o seu toque. Dou descarga e Joshua coloca na minha mão vários pedaços de papel. Limpo minha boca e passo reto por ele sem olhá-lo nos olhos, dirijo-me a pia, onde enxaguo minha boca tentando me livrar do sabor amargo. Ao me virar encontro Joshua com uma expressão assassina, como se quisesse me matar. — Você bebeu ontem? — Sim — sussurro, prevendo que serei repreendida. — Não deveria, ainda é uma menina muito nova. — Eu sei — Se você... — vejo-o apertar as mãos em fúria. — Se você? — repito, incentivando-o a me dizer o resto. — Nada. Vá para a enfermaria e veja se tem algum analgésico, pois tenho certeza de que você está com dor de cabeça. Não faça isso novamente e traga-me as anotações, isso pode me dar sérios problemas — Ele se vai, me deixando sozinha. [...] Joshua Vejo Everly chegar com um menino, ele lhe dá um beijo na testa e isso me deixa com uma fúria interior massacrante, se eu não posso tê-la, então ninguém pode! Ela se senta em seu lugar, mas parece estar distante. Confirmo isso ao vê-la saindo correndo da sala e vou atrás dela, pausando a aula. Vejo-a entrar em uma cabine no banheiro e começar a vomitar seu estômago para fora, e isso comprova o que pensei me deixando nervoso. Ao cuidar dela quase falo uma besteira. Se você fosse minha... Mas Everly nunca será.
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