24.2

1644 Palavras
Gabrielli Alguns dias depois. A barraca está tão bonita, tentei enfeitar da melhor maneira possível, é como se pudesse ouvir minha mãe dizendo que tudo está lindo, Marcele está abraçada comigo olhando com atenção cada detalhe, mamãe teria orgulho de nós por estarmos seguindo seu legado. – Onde quer que a senhora esteja mamãe, espero que veja o que fizemos por você. Te amamos. Jorginho estava nos meus braços olhando com um sorriso nos lábios a beleza do lugar que crescemos, enquanto víamos nossa mãe empenhada em vender suas tortas e churros. Espero que as pessoas venham apesar do que houve, coloco a foto dela perto do balcão, mas antes beijo sua imagem como se pudesse senti-la aqui. Tudo estava devidamente organizado para começarmos a vender, minha sobrinha e meu filho pareciam curiosos com a quantidade de pessoas andando de um lado para o outro, de repente Irma aparece sorrindo para nós e acenando, ela vem até nós e é nesse momento que percebo que um lado do seu rosto está roxo, Marcele também percebe olhando para mim apreensiva. Irma já está quase ganhando seu filho, sua barriga chega primeiro que ela anunciando sua chegada, Irma foi nos visitar algumas vezes, mas sempre ficava incomodada, não sei exatamente por que, imagino que ainda não se sinta parte da Organização, até eu não me sinto parte disso tudo e ainda preciso me acostumar. – Como estão minhas comadres lindas? Onde estão meus afilhados? As crianças começaram a sorrir percebendo a presença da madrinha, Irma leva muito jeito com crianças, tanto nossos filhos como Jorginho são loucos por ela. Ela os beija, como também faz o mesmo com nosso irmão. – A barraca ficou tão bonita, tenho certeza de que sua mãe ficaria muito feliz. Como sou uma pessoa não grata no seu meio, vou ficar aqui e ajudar. – Claro, mas vai ficar sentada, precisa descansar. Sua cia já é o suficiente! Peguei uma das várias cadeiras colocando atrás da barraca para que ela pudesse descansar, Irma colocou sua mão no rosto como se estivesse sentindo dor pela pancada que sofreu. A coloquei sentada ficando bem próxima dela enquanto Marcele olhava as crianças. – Porque ele fez isso, Irma? – Ciúmes. Vagner tem ciúmes se vou na padaria sozinha ou no mercado, se me vê conversando com alguém ou até do meu respirar. Acha que estou o traindo, pensei que o meu amor por ele iria melhorar as coisas, que com o tempo ele perceberia que o amo muito, mas não, Vagner deixa que a opinião dos outros atrapalhem nosso relacionamento. Ele não quer mais se casar com uma ex p**a, mas disso eu já sabia, me enganei pensando que Vagner me daria uma vida honesta e feliz ou até uma família. Ontem quando me bateu disse que vai esperar meu bebê nascer para fazer o teste de DNA, acredita que o filho não é dele. Irma não era de chorar e muito menos de mentir, sabia que não iria inventar uma história ou desculpas esfarrapadas, é nítido o sofrimento dela com toda a situação. – Eu sinto muito Irma, não pensei que Vagner a estava tratando m*l. Imaginei realmente que fosse cuidar de você. – Mas não. Acho que vou sempre carregar o fardo de ter sido prostituta, mas estou bem com tudo isso. Meu filho vai ter uma família, sei que o teste dará positivo, e que Vagner pelo menos vai tratar nosso filho bem. Um pai me fez falta por toda uma vida, se tivesse uma família tudo seria diferente, por isso vou aceitar tudo contanto que meu bebê tenha uma família. Ela está sacrificando sua felicidade e paz para que seu filho seja feliz, Irma não teve nada por toda uma vida, mas compreende que o filho merece mais. – Mas e você? – Estou apaixonada por Teodoro, estamos nos conectando cada dia mais, claro que não aconteceu nada além de abraços e conversas agradáveis, mas tenho certeza de que estou apaixonada. Irma ficou surpresa com minha revelação, mas não posso esconder isso dela, Hugo quer me afastar de Teodoro porque tem ódio de mim por ter se casado comigo, mas não vai conseguir acabar com a minha felicidade, vou ficar com Teodoro e nada vai me impedir. – Gabrielli, se Hugo descobrir você estará em apuros, está arriscando sua vida por uma ilusão. – Hugo já sabe e quer me afastar de Teodoro, mas não vai conseguir, tenho direito de ser feliz e amar. Não tenho culpa pelo erro da família Assis, mereço toda felicidade que me foi negada. Teodoro seria meu marido, um bom marido, diga-se de passagem, Hugo é como o pai dele e como meu pai, tem uma amante e vivi para a Organização. Teodoro não, ele é aventureiro, educado, gentil e sabe como me fazer feliz, com ele não tenho aqueles desejos suicidas. Irma sabia do meu problema, mas sempre me acolheu, Marcele não sabe, mas não confio nela, está caindo na conversa de Gregório, inclusive pareceu feliz em morar com ele. Portanto minha irmã está sendo enganada, já cansei de falar para ela, mas não adianta, está deixando aquele estuprador maldito a conquistar com presentes e atenção. – Gabi, minha linda, aqui isso é normal. Os homens traem o tempo todo, mas o que pensa em fazer sobre esse relacionamento com Teodoro? Hugo jamais vai permitir, por mais que não tenha sentimentos por você como diz, fará de tudo para afastá-los. – Ele pode até tentar, mas não vai conseguir, Teodoro disse que vai arrumar um jeito de nos encontrarmos sem que Hugo saiba. Estou feliz como a muito tempo não era, não é errado me sentir assim. Escuto o choro de Davi e vou até ele, a cada dia que se passa vejo mais traços do meu filho que me lembra seu pai abusador, tento não pensar tanto nisso, mas está cada vez mais difícil. Coloco ele no meu peito esperando que comece a sugar como sempre faz. – Linda, só não corra riscos desnecessários, seu filho precisa de você. – Não precisa. Ele tem o pai e uma família inteira, Davi é o próximo na linha de sucessão, todos os cuidados e olhares serão para ele. Se eu morrer ninguém vai sentir minha falta. Uma ideia veio a minha mente, posso forjar a minha morte, assim serei livre para ficar com Teodoro sem ninguém se intrometer ou evitar, vou contar para ele, como um bom estrategista vai saber o que fazer. De repente as famílias se reúnem em frente ao palco onde antes estava tocando uma banda tradicional daqui. Ainda bem que não preciso ficar no meio deles, esse momento é apenas reservado para os membros legítimos, o discurso sempre é feito pelo senhor Assis, mencionava sobre a tradição da festa, falava sobre o motivo dela existir como também como as novas gerações devem se lembrar de manterem a Organização unida em qualquer circunstância. O ato simbólico de jogar as sementes da colheita para cima foi feita por todos os líderes das cinco famílias, estou tão acostumada com essa tradição que sei que vão rezar como sempre fazemos. Depois a festividade começa com as pessoas indo as várias barracas das famílias com várias comidas típicas. – Senhor Rossio, que bom vê-lo. Guardei sua torta de carne e os churros com chocolate como em todos os anos. Ele sorriu para Marcele tocando em seu rosto de um jeito estranho, senhor Rossio sempre a olhou assim como se quisesse minha irmã. Maurílio estava ao seu lado e percebeu a interação, mas a sua atenção estava toda em Irma que comia a sua segunda torta. – Por que o próximo líder da família Rossio não para de olhar para você? – Quer saber a história? Ela é bem longa viu. Marcele entregou as tortas e os churros para eles, mesmo assim ele não parou de olhar para Irma, foram embora, mas Maurílio até virou a cabeça para trás como se quisesse continuar olhando. – Maurílio não parava de olhar para você Irma, por quê? – Maurílio foi meu primeiro cliente, era c***l ao extremo, me batia muito, além da violência com que tinha relação comigo, não posso esquecer como me humilhava também. Deve estar amando ver meu rosto roxo desse jeito, era onde ele adorava b*******a vez ele me bateu tanto que perdi o bebê que estava esperando, o médico disse que seria difícil engravidar de novo, depois disso Jacó me protegeu porque fui até ele, Maurílio não parava de me perseguir como um demônio, mas Jacó cuidou de mim, sabe? O judeu é um homem maravilhoso de um coração enorme, o pior é que não posso nem manter contato com ele porque Vagner e ele se odeiam. Irma comeu um churros olhando para a direção de Vagner, ele veio até nossa barraca com uma expressão péssima no rosto, ele nem sequer nos cumprimentou de tanta raiva que estava. – Irma, pensei que tivesse sido claro com você sobre não vir na festividade, já é complicado demais ter você aqui, ainda por cima perto das esposas dos irmãos Assis, vai sujar a reputação delas. – Já vou embora Vagner, me desculpe. Só não fica nervoso, por favor. Ela se levantou com bastante dificuldade, abraçou a mim, Marcele e as crianças, depois foi para o lado de Vagner, sei que meu pai tem dedo nesse tratamento horrível que Irma está recebendo, vou descobrir essa história. – Obrigada por me receberem meninas, e peço desculpas por qualquer problema que possa ter causado, realmente não foi minha intenção. Naquele momento soube que Vagner estava destruindo Irma pouco a pouco, o fato de ter sido uma filha do abandono a faz aceitar toda essa humilhação para que seu filho não sofra. Não vou deixar minha felicidade na mão de ninguém, não vou deixar que me impeçam de ser feliz.
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