O acordo

1164 Palavras
Andréia sabia que não dava para evitar mais o inadiável. Ela tinha uma importante decisão para tomar, e não podia pensar apenas na sua felicidade. O futuro de toda a sua família dependia dela, da filha mais velha. Por ser a primeira das irmãs Collalto, e a que já passou um pouco da idade de casar, tinha que ser ela a fazer aquele sacrifício. O problema é que estava praticamente noiva de Enrico, um rapaz que conheceu na faculdade. Ele nunca foi do agrado de seus pais por pertencer a uma classe social inferior. Não que Enrico fosse totalmente sem eira e nem beira, mas fazer parte da classe média não era algo que Anna e Afonso idealizavam para alguma de suas meninas. Mas Andréia não se importava nenhum pouco com aquilo, estava apaixonada por ele e pronto. Imaginava que nada fosse capaz de separá-los, até uma crise financeira atingir sua família. - E então… Vai continuar fazendo todo esse suspense?- Insistiu Afonso, quando todos já estavam na sala de jantar, na mesa do almoço.- Nossos convidados estão prestes a chegar…- - Convidados? O senhor não me avisou que teríamos convidados.- Andréia ergueu uma das sobrancelhas, desafiando o seu pai a falar a verdade. - Então é por isso que ainda não nos deixou sentar. Meus pés já estão formigando de ficar tanto tempo em pé.- Resmungou Virgínia, do outro lado da mesa, próxima de sua mãe e de sua irmã Theresa. Bastou um único olhar fulminante de Afonso para que ela se calasse. - Convidei Antônio e Gregório Salvatore para almoçarem conosco. Acho que antes de dar uma resposta decisiva, você poderia ter a chance de conhecer melhor…- - Pai, com todo o respeito que te devo, conheço Gregório Salvatore bem o suficiente para saber que ele não passa de um conquistador barato, que está mais interessado em saber qual a próxima mulher que vai levar para a cama, do que em casamento.- - Andréia! Que linguajar é esse?- Perguntou, furioso.- Não admito que fale desse jeito, como se fosse uma v.a.g.a.b.u.n.d.a.- - No entanto, a sua filha só reproduziu o que todos falam de mim.- Disse Gregório, surgindo repentinamente, com seu pai a tiracolo, na entrada da sala de jantar. Todos se assustaram com a chegada não anunciada dos homens. Afonso ficou envergonhado e desconcertado com a situação. Ele olhou com uma cara tão f.e.i.a para a sua empregada, por não ter avisado que os convidados já estavam ali, que a mulher encolheu os ombros, temerosa. - Sinto muito por isso.- Disse Afonso para as visitas. - Não tem nenhum problema, Afonso. A moça só está apreensiva com o casamento, é muito normal.- Respondeu Antônio, condescendente. Andréia quase revirou os olhos de tanto tédio. - Por favor, vamos sentar.- Falou Anna, tão constrangida quanto o seu marido. Em seguida, voltou-se para a empregada, que continuava estática de medo.- Berenice, sirva a mesa.- A mulher prontamente foi providenciar o almoço, como instruiu sua patroa. Foi preciso que alguns minutos se passassem, para que Andréia tocasse no assunto de seu interesse. Afonso tentou amenizar o clima de tensão que havia se instaurado no ambiente, desde que Gregório flagrou Andréia falando m.a.l do mesmo. Ninguém sabia como abordar o assunto “ casamento”. Até a própria Andréia, que era uma das mais interessadas, parecia ter um nó na garganta. - Soube por seu pai que você já tem um namorado.- Disse Antônio para Andréia, sendo vago quanto a sua afirmação, esperando que a jovem desenvolvesse o assunto. - Sim, o Enrico. Nos conhecemos na faculdade.- Andréia olhou de Antônio para Gregório ao continuar com suas palavras.- Também sou formada em economia.- Ela voltou sua atenção para Antônio, que ainda a observava.- Mas ele é advogado.- - E a senhorita tem planos com ele? Pretende se casar?- Perguntou Gregório, parecendo muito interessado. Ele não era nada a favor com a ideia de se casar, mas precisava garantir que seu dinheiro não seria cortado. Não suportaria ter que viver de salário, como um trabalhador normal. Andréia abriu e fechou a boca, parecia bastante confusa quanto aquele assunto. - A verdade, é que não pretendia casar agora, tinha outros planos em mente.- Respondeu Andréia, sendo o mais sincera possível.- Sempre quis trabalhar ao lado do meu pai, na fábrica, mas ele nunca aceitou.- - Estou totalmente de acordo com o Afonso. Não criamos nossas filhas para que trabalhem como homens.- - É um pensamento um tanto retrógrado para alguém do século vinte, senhor Salvatore.- Contrapôs Andréia. Tanto Anna quanto Afonso arregalaram os olhos, constrangidos com a língua afiada da filha. Já Greg, parecia se divertir bastante com aquele debate, mas ainda não queria expor suas opiniões. - Serei bem direta, com todos vocês. Sei que tanto o meu pai quanto o senhor, têm interesse no meu casamento com o senhor Gregório. Pois muito bem, eu pensei bastante, mesmo diante tanta pressão, e cheguei a conclusão que, todos podemos tirar um bom proveito dessa união.- - Isso significa que você aceita o acordo?- Perguntou Afonso, empolgado. - Depende. Porque eu só aceito me casar com o Greg, se o senhor me ceder um cargo na diretoria financeira da fábrica.- Disse Andréia, determinada. Todos que estavam na mesa a encaravam, incrédulos. - Só pode ser uma brincadeira.- Disse Afonso, por fim, lívido. - Estou falando muito sério, mas fica ao critério de vocês, principalmente do senhor, papai.- Anna levou uma de suas mãos a tocar no braço do marido, inclinando o tronco para a frente, em seguida, no intuito de soprar algo em seus ouvidos. - Pense bem, querido. Estamos arruinados e a Andréia é nossa única salvação. Depois, com o casamento, ela deverá obediência ao marido. Caberá ao senhor Gregório domar a fera.- Afonso parecia considerar o que tinha sido dito por sua esposa. Talvez, ele tivesse que ceder um pouco aos caprichos da filha. - Tudo bem, eu te concedo um cargo na diretoria financeira, mas vai ser uma experiência. Qualquer passo errado, você voltará a se dedicar apenas ao lar.- Disse Afonso, por fim. - Todos estão de acordo?- Perguntou Andréia, empolgada, olhando para Antônio e Gregório. - Não tenho porque fazer nenhuma objeção quanto ao assunto.- Disse Greg, com indiferença. - Se o seu pai e o seu futuro marido concordam…- Opinou Antônio, também não expondo nenhuma ideia contrária. - Perfeito. Sendo assim, mais tarde o Enrico virá até aqui, e eu colocarei um ponto final no namoro.- Disse Andréia, seu semblante mudando ao perceber que agora viria a parte mais difícil de sua escolha: Enfrentar as consequências . - Precisamos organizar uma festa de noivado. O casamento de uma Collalto com um Salvatore, será o evento do ano.- Disse Anna, entusiasmada. Enquanto todos comentavam sobre a tal festa que pretendiam comemorar em homenagem a Andréia e Greg, o rapaz não deixou de notar o quanto a sua futura noiva parecia abalada. Pelo visto, não seria tão fácil terminar o relacionamento com o tal Enrico.
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