Pré-visualização gratuita Os irmãos
A infância dos irmãos
A casa dos Sallow jamais conheceu o som do riso.
As paredes altas e frias da mansão pareciam engolir qualquer traço de calor humano. O vento sussurrava pelos corredores, carregando momentos do passado e o peso de gerações marcadas por ambição, medo e silêncio. Era a casa onde reinava a máfia inglesa. E foi ali, naquele ambiente gélido, livre de amor, afeto ou qualquer tipo de brincadeira, que os irmãos Sallow cresceram.
Ralph se lembrava bem. Ele e Louis eram tão próximos porque só tinham um ao outro. Enquanto o avô contava com todos os homens para comandar, criava os netos como soldados — frios,duros e, imbatíveis. Na mente de Sir Cedric Sallow, sentimentos eram fraquezas. E ele tinha uma única esperança: que um de seus netos estivesse à altura de herdar o império.
Precisavam estar.
Era inverno. Ralph tinha oito anos e os dedos das mãos estavam dormentes, mas não ousavam reclamar. Louis, apenas algumas horas mais velho — embora todos pensassem que eram dois anos — já sabia como suportar a dor: de dentes cerrados e olhos secos. Não chorava. Nem mesmo quando era surrado, jogado dentro da piscina congelada ou derrubado pelos cavalos. Louis sempre se erguia, firme, silencioso, sem pedir clemência.
O avô os observava da poltrona de couro envelhecido, a bengala de madeira escura apoiada ao lado. Sir Cedric Sallow era um nome temido até mesmo entre os homens mais poderosos da Inglaterra. O último capo da máfia inglesa.
— Homens não choram. Homens não precisam de afeto. Precisam obedecer e vencer — dizia ele, olhando os netos com frieza.
Ralph, mais calmo, mais silencioso, vivia tentando agradá-lo. Louis, ao contrário, já havia entendido que a única forma de ser ouvido era fazendo o mundo sangrar.
Em uma tarde sombria....
Naquela tarde gelada, Sir Cedric os fez ajoelhar no chão do salão por mais de uma hora. O motivo? Um vaso quebrado que nenhum dos dois admitiu ter derrubado.
— A lealdade entre irmãos vale mais do que a verdade — murmurou Louis, com a voz cortante. — Ele nos odeia do mesmo jeito.
Ralph apenas assentiu, lutando contra as lágrimas. Tentando ser forte. Tentando, em vão, merecer amor.
Mas amor não crescia naquela casa.
Cresciam ordens. Cresciam punições. Cresciam olhos que jamais olhavam com ternura. E assim, os dois irmãos foram moldados — por ausência, por desprezo, por promessas de poder.
Um império construído com medo.
E uma única verdade: no coração de Louis, só havia espaço para um sentimento puro. Esse sentimento era Ralph.
Poucos sabiam, mas eles haviam nascido no mesmo dia. Apenas algumas horas os separavam. A verdade era que Louis não era mais velho, e sim um irmão gêmeo, escondido nas mentiras da família Sallow. Mas esse detalhe pouco importava para eles. Haviam aprendido a amar somente um ao outro. E ninguém mais.
Compartilhavam segredos. As comidas roubadas. A morte do avô — sim, aquela morte. Eles tinham dez anos quando Sir Cedric caiu morto diante da lareira. Diziam que foi natural. Mas Ralph e Louis sabiam a verdade. E guardaram o segredo como se guarda uma coroa.
Com a morte do velho, outro capo subiu ao poder, Osborn.. Os irmãos, ainda crianças, foram enviados a escolas internacionais — tecnicamente herdeiros, mas longe demais do trono para incomodar.
Até que, dez anos depois, os demônios retornaram. E Louis tomou o que julgava ser seu por direito. Matou o capo Osborn. E se tornou o novo monstro no topo da máfia inglesa.
Mas para consolidar seu reinado, precisava de mais. Precisava se casar com a herdeira de Osborn. Precisava de Georgina.
A mulher certa, a aliança perfeita.
O problema era simples: Georgina preferia a morte do que se tornar esposa de Louis.
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Ralph estava sentado no sofá de couro escuro. Ao lado dele, dois homens da confiança da máfia riam alto, já meio bêbados. Mais adiante, Louis estava recostado, relaxado, recebendo se.xo o**l de uma mulher loira da qual nem se lembrava o nome.
Atrás dela, uma segunda mulher fazia o mesmo com Adonis, o braço direito de Ralph. Adonis era leal a Ralph — e só a ele. Mesmo com Louis sendo o capo.
Ralph havia recusado o agrado. Não estava "a fim", como diziam. A verdade era outra: sua cabeça estava longe dali. Estava no casamento do irmão. Em Georgina.
— Ralph... — chamou Louis, notando o olhar perdido do irmão. Com um gesto brusco, afastou a mulher à sua frente. — Chega. Sai.
A loira se afastou rápido, os olhos baixos. Louis fechou a calça com calma, ajeitou o paletó e caminhou até o sofá.
— Vem comigo. Vamos conversar.
Ralph levantou sem pressa. Caminharam até um canto mais afastado da sala, onde a música já soava distante.
— O que foi? — perguntou Ralph, fixando o olhar em algum ponto indefinido da parede.
— Você não está bem, eu sei disso.
— Não é nada... — murmurou Ralph, mas a voz traiu o silêncio.
Louis o encarou com dureza. Ia responder, mas naquele instante, o telefone tocou.
Adonis atendeu. Ficou em silêncio por alguns segundos, depois virou-se para os dois.
— Senhor... Georgina fugiu.
— Como assim, fugiu? — a voz dele saiu seca, grave.
— Saiu da casa. Ninguém sabe onde está.
Louis deu um passo para trás, como se tomasse um soco no estômago. Depois cuspiu um palavrão e girou sobre os calcanhares.
— Filha da pu.ta.! — gritou, batendo a porta ao sair.
Ralph foi atrás do irmão, não podia deixá-lo machucar a noiva, não podia
Georgina estava correndo por um motivo.
Pavor de Louis