—Ah, então você não se casou? E suponho que devo te parabenizar ou dar os pêsames.
—Não tenho motivos para mentir, o que eu ganharia? Então não faço ideia de onde você tirou que eu me casei.
—Olha, isso não importa mais. Se você teve um casamento ou não, não é da minha conta, Belial —respondi, sem nenhum interesse—. Cada um é dono de suas ações e destino, você escolheu um caminho e eu escolhi outro. As coisas não mudam apenas por ter um papel assinado, e acredito que você entende isso, certo?
Com uma frieza que eu conhecia muito bem, ele nem mesmo piscou desta vez, continuou em pé como se estivesse congelado.
—Claro que entendo, uma assinatura nunca faz diferença, especialmente quando é dita por alguém que se vitimiza, mas na verdade é pior do que aquele que acusa.
Franzi a testa, sendo eu quem segurou seu olhar com indignação crescendo em meu ser. Como ele se atrevia?
—O que você está insinuando?
—Não é óbvio? —apoiando seu peso na mesa, ele aproximou seu rosto do meu—. Quanto tempo você foi amante do morto antes do divórcio? Porque é estranho você ter se casado assim que os papéis chegaram ao meu advogado.
—Isso não é da sua conta, além disso, eu não tenho que lhe dar explicações.
Voltando a se endireitar, ele sorriu com arrogância.
—Tudo bem, não é necessário que você fale, já tenho minha resposta.
—Ah, entendi. O ladrão pensa que todos são da mesma condição. Muito engraçado —disse, soltando algumas risadas—. Está bem, suponho que as pessoas pensam o que querem acreditar, perfeito. E agora que você terminou de se defender, poderia me deixar trabalhar em paz? —fui o mais educada possível, na verdade eu nem reconheço a paciência que tenho, já teria até jogado a cadeira nele, mas acho que todos os obstáculos me ensinaram a lidar com as coisas com calma e não perder a razão diante da menor provocação.
—Você está me dispensando?
—Pois é isso que estou tentando, mas você está grudado no meu pé como uma mosca em um bolo. Olha, eu só estou aqui para fazer meu trabalho, se você tem algum problema, fale com seu avô, foi ele quem me pediu para aceitar, já que um certo presidente deixou à beira da falência uma marca que tinha o melhor prestígio.
O rosto de Belial endureceu, seus olhos pareciam querer saltar.
—Não fale sobre algo que você não sabe —disse com voz profunda e séria—. Você não... Vou falar com o avô, não é possível que você tenha vindo aqui só para zombar de mim e demonstrar seu ódio e ressentimento pelo que aconteceu no passado, o que os outros vão pensar?
Suspirando longamente, relaxei minha postura. Ele estava como um adolescente zangado.
—Odiar você não faz parte do meu trabalho nem do meu passatempo, e se algo eu entendi é que não importa o que os outros pensem de mim. No fim das contas, aprendi a ser feliz com o que conquistei, e não teria conseguido isso se eu tivesse continuado ao seu lado. Então fique tranquilo, sua presença não desperta absolutamente nada em mim.
O ponto dessa conversa foi dado, e dessa vez ele pareceu entender. Sem dizer uma palavra, ele se virou e saiu do meu escritório.
—Ai, senhor... —suspirei—. Tem pessoas que podem se tornar intolerantes.
Percebi que a porta não estava fechada, então fui fechá-la, mas quando estava prestes a fazer isso, ouvi a conversa das funcionárias que me receberam.
—É ela, né? —disse uma animada com a fofoca.
—Eu acho que sim, você viu como o chefe saiu? —acrescentou a outra.
—Exalando testosterona... —confirmou a mais alta, mordendo os lábios.
—Pelo amor de Deus! Eu não estou falando disso, embora... Sim, o chefe está como fruta madura, pronto para ser mordido.
—Para ser mordido e levado, esse cabelo n***o azabache perfeitamente penteado, esses olhos de cor azul claro, esse nariz reto, esses lábios rosados, dentes perfeitos, essa barba começando que eu quero tocar, esse queixo quadrado, esses ombros fortes, todo esse corpo esculpido em madeira dura e resistente... Ai... só penso no que tem debaixo desse terno e minhas pernas tremem.
—Ei, se acalme, você está se empolgando demais, e m*l é de manhã. Deixe sua mente maliciosa para seus sonhos noturnos, a ex-esposa dele pode nos ouvir.
—Que inveja ter tido a oportunidade de provar esse homem tão delicioso. Se tivesse me casado com ele, nem morta o soltaria.
Tossindo levemente, fiz minha presença ser percebida, e elas giraram rapidamente.
—S-se-nho-ra...
—Já que vocês estão todas juntas, preciso que vão ao financeiro e me tragam o orçamento usado no último desfile, preciso saber o quanto poderei usar para a realização de um próximo projeto.
—E-eh... S-sim, é claro, agora mesmo —elas assentiram imediatamente, movendo-se atrapalhadamente de um lado para o outro.
Ao voltar para minha cadeira, inevitavelmente sorri com as piadas daquelas três funcionárias.
Bem, a beleza física não se pode negar, mas como tal, ela é temporária. Assim como um vestido; ele pode parecer bonito por fora, mas se não for feito com bons materiais, não vai durar nada. Para que algo funcione e seja duradouro, é preciso trabalhar duro, só assim se pode garantir que o produto é bom.— Enfim… —peguei meu celular e comecei a ligar para alguém que eu precisava falar —. Zia?
Belial POV
Com passos firmes e sem me deter, entro no meu escritório e deixo meu corpo cair na cadeira.
—Merda —resmungo, cerrando os punhos sobre a mesa—. Por quê?
—Belial, eu tenho o gráfico das vendas desta semana, elas continuam caindo e… Algum problema?
—Sai daqui, Carter —digo, ignorando a pergunta.
—Parece que alguém está zangado, será que tem a ver com uma certa mulher de olhar misterioso.
Levanto meu rosto e ligo o computador diante de mim.
—Você acha pouco ter me chamado de e******o no meio da apresentação dela? Será que ninguém mais me respeita?
Rindo feito um i****a, ele se senta sem permissão.
—Bom, você sabe como sou honesto. Eu não costumo mentir só para agradar.
—Bom, essa sua honestidade vai te custar seu emprego. Foque em fazer o seu trabalho como funcionário e não se meta.
—Então você está mesmo zangado.
—Você acha pouco? Ela entrou bem diante do meu nariz e eu não pude fazer nada. Ela deve estar zombando da minha incompetência neste exato momento.
—Se você se acha incompetente, não ajuda muito.
—Faça outro comentário como esse e eu não respondo…
—De acordo, vou tentar ser imparcial, mas olhe pelo lado bom. Ana é uma mulher com grande prestígio por suas criações. Bercelli renascerá das cinzas com a ajuda dela. Tivemos sorte dela ter aceitado. Ninguém se arriscaria tanto depois do erro que você cometeu.
—Ainda bem que você é imparcial.
—Bom, o que você quer que eu faça? Não vou mentir. A César o que é de César, e ela é uma mulher de sucesso.
—Mulher, mulher... Você não para de elogiá-la, será que gosta dela?
—Ela é bonita, admito, mas não vejo ela dessa forma. Além disso, não esqueça que sou casado.
—Casado com o d***o —foi minha vez de atacar, e ele apenas assentiu.
— Tomara que eu pudesse negar, mas meu casamento é um inferno com a irmã da Ratja. Eu a suporto apenas pelo nosso filho.
—Um filho que não é seu —eu acrescento.
—Não de sangue, mas eu o criei. Conheço o garotinho desde que ele estava na barriga da mãe.
—Mas isso não muda o fato de que ele não é seu. Ela usa apenas o amor que você sente pelo filho dela para não te dar o divórcio, você não percebe? E eu sou o e******o?
—A minha situação é diferente, Belial. Eu amo esse garoto como se fosse meu, enquanto você não conseguiu se libertar da Ratja. Não há filhos entre vocês, mas você não é capaz de quebrar um compromisso de noivado há cinco anos.
—Ela perdeu um filho, entenda que isso não é fácil. Para mim também foi um golpe duro. Um ser inocente pagou pelos meus atos, eu não podia deixá-la sozinha.
—Então você a ama? Vai cumprir a promessa de se casar com ela?
Meu silêncio encheu o ambiente.
—Entendi. Me responde uma coisa, o que teria acontecido se a Ana estivesse grávida? Você teria deixado ela ir tão facilmente? Você mesmo me disse que sua visão sobre ela estava mudando, e que seu avô deu aquela cabana para vocês desfrutarem juntos, onde eu não acredito que vocês tenham ido apenas para ver as estrelas.
—Chega. Não fale mais do passado.
—Tudo bem, não vou te incomodar mais. Continue com seu tormento.
Carter saiu, mas a menção da cabana trouxe memórias. Pensamentos que estavam tão frescos como uma pintura recém-feita.
Ao fechar meus olhos, era como se eu estivesse voltando àquele momento.
Ana se agarrando aos meus ombros e pedindo para que eu a tocasse como não fazia há meses, esfregando seus s***s no meu peito, buscando meus lábios com os dela, tudo isso com as bochechas rosadas de ter bebido algumas taças de vinho.
—Faça amor comigo, Belial, por favor me tenha em seus braços e me acaricie, faça o bebê que você deseja. Me ame, eu te peço.
E assim aconteceu, eu não sou de pedra, seus movimentos sugestivos me levaram a possuí-la naquele mesmo instante. Seus gemidos de prazer preencheram a cabana, ruídos que só eram abafados quando nos beijávamos ou quando eu beijava seu corpo, levando-a à beira da loucura e do êxtase, sempre terminando da mesma forma, com uma explosão que se libertava em seu ventre. Um ato que se repetiu nos dias seguintes em que ficamos naquela cabana. Éramos como dois animais no cio.
A ligação no meu celular fez com que eu abrisse os olhos, obrigando-me a atender.
—Meu querido —ela diz com uma atitude exagerada.
—O que foi, Ratja? —respondo, olhando para a tela do meu computador.
—Estou com sua avó, e adivinha só?
—O quê? —respondo sem emoção.
—Ela vai doar uma grande quantia de dinheiro para a empresa. Ela diz que isso vai te ajudar a recuperar parte do investimento no último desfile, não é ótimo?
—Ratja...
—Meu querido... Eu faço tanto para te ver feliz. Quando vamos nos casar? Sua avó está ansiosa, você não acha que deveríamos dar esse presente a ela?
—Escuta, agora não posso te responder, estou ocupado, ok? E você também deveria estar trabalhando, suas férias acabaram. Todos estamos trabalhando em meio a uma crise.
—Mas eu também estou trabalhando, consegui que sua avó...
—Falo do trabalho que é feito aqui no escritório. Já tenho problemas suficientes para aguentar que você não esteja comparecendo ao seu posto.
—Belial, você está de mau humor? Não era hoje o dia em que aquela designer iria se apresentar? Aquela que seu avô mencionou? Ou será que ele as deixou na mão? Porque se for assim, posso pedir para minha irmã...
—Não, você já fez o suficiente com essa última ideia que acabou resultando nisso. Daqui para frente, vou seguir apenas as minhas próprias ideias.
Desliguei após me desabafar e foi justo quando entrou a pessoa responsável pelo meu mau humor naquela manhã.
—Belial...
—Excelente jogada, vovô. Você trouxe meu pesadelo vivo, o que está tentando alcançar?
—Que você use o cérebro e pelo menos aprenda algo sobre conquistar as coisas por mérito próprio.