Pré-visualização gratuita Capítulo 1
Capítulo 1
Iris Brown
— O quê? Você está me pedindo para seduzir alguém?!
Minha voz saiu mais alta do que deveria, atraindo olhares curiosos das mesas ao redor. Meu rosto esquentou de raiva, mas a mulher à minha frente, elegante, sorriu de lado, cruzando as pernas com a calma de quem tem o mundo sob controle. A luz amarelada do lustre do hotel realçava seus traços impecáveis, a maquiagem sem falhas, o vestido de grife que gritava sofisticação. Eu, por outro lado, me sentia deslocada nesse ambiente luxuoso. Meu jeans surrado e a blusa simples deixavam claro que eu não pertencia aqui. Ela tomou um gole do vinho caro, me analisando como se estivesse avaliando um produto. Eu ainda não tinha entendido como ela chegou até mim, estava tudo confuso, mas ela me abordou com uma história esquisita de emprego do nada e eu resolvi vir até esse hotel luxuoso para escutar sua proposta.
— Exato. — Ela sorriu, tranquila. — E, se você for inteligente, vai ao menos considerar a proposta antes de sair por aí fazendo cena.
Eu apertei os punhos embaixo da mesa, lutando para manter a compostura. O restaurante desse hotel era sofisticado demais para mim, e cada detalhe aqui gritava poder e dinheiro. Era o mundo dela. Não o meu.
— Considerar? — Soltei uma risada sem humor. — Eu não sei que tipo de mulher você pensa que eu sou, mas pode esquecer.
— O tipo de mulher que precisa de dinheiro. — Eva rebateu sem perder a postura.
Meu estômago revirou.
— Eu não estou à venda.
— Não? — Ela arqueou uma sobrancelha, deslizando um envelope pardo pela mesa. — Então abra e me diga que não está.
Meu instinto gritava para eu me levantar e ir embora. Mas, contra toda a lógica, meus dedos hesitantes puxaram o envelope para perto. Quando o abri, meu sangue gelou.
Meus olhos correram pelas páginas. Papéis, fotos... informações demais. Sobre mim. E principalmente o quanto eu estava devendo.
Minha respiração ficou presa na garganta.
— Como... como você sabe disso?
Ela sorriu, divertida.
— Digamos que eu gosto de saber com quem estou lidando.
Levantei os olhos para ela, o coração martelando no peito.
— Eu não vou fazer isso.
Dessa vez, ela suspirou, como se eu estivesse sendo ingênua.
— Vou deixar você pensar melhor... — Ela pegou a bolsa, ajeitou o vestido e se levantou. — Logo entrarei em contato, irei deixar a conta paga, e a propósito me chamo Eva Walton.
E então, sem pressa, simplesmente foi embora, me deixando aqui, sozinha, com a cabeça girando e um gosto amargo na boca.
Eu saí do hotel sentindo o peso do mundo sobre os ombros. As luzes de Londres brilhavam indiferentes à minha tragédia pessoal. O hospital não ficava longe, e meus pés me levaram até lá sem que eu percebesse.
Esse lugar já era como uma segunda casa, embora fosse um lar que eu daria qualquer coisa para nunca mais precisar visitar.
Caminhei pelos corredores brancos, sentindo o cheiro forte de antisséptico que grudava na pele. Meu peito apertou quando cheguei ao quarto da minha irmã Sandra. Ela parecia tão pequena naquela cama, os fios dos aparelhos conectados ao seu corpo, o som ritmado das máquinas preenchendo o silêncio opressor.
Engoli em seco quando o médico se aproximou.
— Precisamos conversar, Iris.
Minhas pernas ficaram fracas.
— Não é nada bom, né? — minha voz saiu rouca.
Ele suspirou, confirmando o que eu já temia.
— O estado da sua irmã está se agravando rapidamente. Precisamos encontrar um doador compatível o mais rápido possível. Caso contrário...
Ele não precisou terminar a frase. Eu já sabia como aquela sentença terminava.
Meu mundo começou a girar. Meu coração batia rápido, uma mistura de desespero e impotência tomando conta de mim.
— Quanto tempo ela tem?
— Não muito. Estamos fazendo o possível, mas você precisa considerar todas as opções.
Eu quis gritar. Quis chutar alguma coisa. Mas tudo que fiz foi segurar a mão fria de Sandra, fechar os olhos e sussurrar:
— Aguenta firme. Por favor.
Fiquei aqui por um tempo, vendo minha irmã adormecida, seu rosto pálido, tão frágil... E então, incapaz de suportar aquilo, saí do hospital, me sentindo sufocada.
Eu precisava de ar.
Eu precisava de um milagre.
Quando saí do hospital, minha mente era um turbilhão. Minhas pernas me levaram até uma praça próxima. Sentei-me em um banco, abraçando os próprios braços, enquanto o vento cortante da noite me envolvia. Minhas mãos estavam geladas, meus pensamentos, caóticos. O que eu podia fazer? Onde eu ia conseguir tanto dinheiro?
A imagem do envelope que Eva deslizou pela mesa veio à minha mente. Meu estômago revirou.
"Isso é loucura", eu me disse. "Eu não posso aceitar isso."
Mas e se fosse a única saída?
Eu estava tão perdida nos meus próprios tormentos que quase não percebi quando o som ecoou pela rua.
Um tiro.
O som cortou a noite como uma lâmina. Meu coração disparou, e minha primeira reação foi me abaixar, os olhos arregalados varrendo a praça deserta.
Passos apressados. Sussurros tensos. Depois, silêncio.
Eu deveria sair daqui. Eu deveria fingir que não ouvi nada.
Mas, em vez disso, meu olhar caiu sobre os arbustos próximos. Algo se mexia ali. Um gemido baixo, rouco.
Com a respiração presa na garganta, me aproximei.
Entre as sombras, um homem estava caído. O terno escuro contrastava com a pele pálida, e uma máscara cobria parte do seu rosto. Sangue manchava sua camisa, escorrendo do ferimento no abdômen.
Antes que eu pudesse reagir, sua mão forte segurou meu pulso. O toque quente e pegajoso de sangue me fez prender a respiração.
— Me ajude — ele sussurrou, a voz carregada de dor.
Senti um nó se formar na minha garganta.
— Engraçado — soltei uma risada amarga, meus olhos ardiam. — Quem vai me ajudar? Quem vai ajudar a minha irmã?
O homem não respondeu. Apenas me encarou, seus olhos carregados de algo que eu não soube decifrar. E por um momento achei que o conhecia.
Meu coração martelava. Eu deveria ajudá-lo? Fugir? Chamar uma ambulância?
Minha mente gritava que ele era problema. Grande problema.
Mas não importava.
O medo tomou conta do meu corpo, e num reflexo, eu me soltei com um movimento rápido. Meu cotovelo encontrou seu abdômen ferido, e ele grunhiu de dor. Aproveitei para correr, minhas pernas se movendo antes mesmo que eu processasse o que estava acontecendo.
Eu corri.
Corri como se minha vida dependesse disso.
Então, meu celular tocou.
Minha mão tremia quando peguei o aparelho. Número desconhecido.
Hesitei por um segundo antes de atender.
— Iris — a voz suave e controlada de Eva preencheu o silêncio.
Meu corpo inteiro congelou.
— Como vai? — Ela fez uma pausa, como se saboreasse a tensão do momento. — Quer reconsiderar o que me disse hoje?
Minha respiração estava entrecortada.
— Eva, eu não...
— Ah, sim — ela me interrompeu, e sua voz ganhou um tom quase casual. — Se você concordar, eu posso fazer algo pela sua irmã... Não, eu prometo providenciar uma fonte de rim adequada para ela imediatamente.
Meu coração quase parou.
Minhas pernas vacilaram, e eu precisei me apoiar em uma parede.
— Você... promete?
— Prometo — ela garantiu. — Desde que você faça sua parte.
Fechei os olhos, sentindo meu mundo ruir.
— Eu faço.
Eva sorriu do outro lado da linha.
— Ótimo. Então, vamos ao trabalho.
— Então... quem eu preciso seduzir?
Houve uma pausa.
Então, Eva disse, com um sorriso na voz:
— Meu marido.