Capítulo 3

1586 Palavras
Dois dias depois Sofie narrando _ " . . . Eu estava pensando na sua saia preta com aquela blusinha rosa minha , sabe ? " _ ouço Rubi no telefone . Eu e ela não tínhamos ido a escola hoje porque ia ter uma festa mais tarde e ela queria que tudo estivesse perfeito o que significava pra ela , passar o dia no salão de cabeleireiro e se arrumar pra mais tarde . Não que eu goste de fazer isso mas ela é minha amiga e vou sempre apoiar ela . _ " A regatinha ? " _ digo começando a procurar a saia no guarda-roupa rapidamente . _ " Sim ! Você acha que ficaria muito exagerado ? " . _ " Muito pelado ? " _ pergunto em dúvida se era essa a pergunta . _ " Sim ! " . _ " Não ! " _ digo e respiro fundo parando de fuçar no guarda roupa . Só podia estar no guarda roupa da minha mãe . Saio do meu quarto rapidamente indo pro quarto dela e entro indo até o closet dela . Já cansei de buscar minhas roupas aqui porque a nova empregada vive confundindo as roupas pelos tamanhos de nós duas serem iguais . O que me irritava é que não tínhamos nada em comum além das roupas de balé . Nossos gostos eram diferentes e ela não entendia isso . Tento acender a luz do closet mas percebo estar com a lâmpada queimada . Ótimo, mas motivo pra reclamações da minha mãe . _ " Vou separar a saia pra você ! Posso te ligar depois ? ? Tô meio ocupada agora ! " _ Digo pra Rubi . _ " Tudo bem mas pelo amor de Deus não esquece a saia ! Preciso dela pra amanhã ! " . _ " Ok ! Beijo ! " _ digo e desligo a ligação ligando a lanterna logo depois . Ainda dava pra enxergar sem a lanterna se a porta do closet estivesse aberta mas é difícil achar porque a saia é preta e tinha muita coisa preta aqui . Ouço o barulho de um carro vindo do lado de fora e paro prestando mais atenção . Minha mãe estava em casa ? ? Era estranho porque ninguém me avisou que ela chegaria da turnê hoje e meu pai com certeza não era , ele sempre está em reunião nesse horário , quer dizer , em todos os horários . Então não pode ser meu pai . Olho pras roupas mais uma vez e sorrio vendo minha saia no cabide . Pego e desligo a lanterna começando a sair enquanto olho pra ela vendo se estava intacta . Rapidamente fica tudo escuro , um breu , e eu levanto a visão meio assustada vendo a porta fechada . _ " Mãe . . . " _ começo a falar e sinto uma mão na minha boca rapidamente me mantendo calada enquanto arregalo os olhos completamente assustada agora e tento me soltar . Ouço a voz rouca , obviamente masculina no meu ouvido sussurrando um " Shhhhhh " pra que eu ficasse quieta . Ele me segura por trás rápidamente me mantendo quieta enquanto eu ainda tentava me soltar e logo ouço um barulho do lado de fora do closet . _ " Tem certeza de que não tem problema ? " _ escuto a voz de uma mulher do lado de fora do closet e paro sem saber o que fazer . Aquela voz não era da minha mãe. Sinto meu coração acelerado . Ouço os barulhos de alguns beijos e paro de me mexer tentando entender o que significava aquilo . _ " Tenho ! Minha filha está na escola e minha mulher não vem em casa a muito tempo ! " _ ouço meu pai falando e estaco na mesma hora sem acreditar no que escutei . Ouço as roupas serem jogadas no chão e sinto minha barriga doer com aquela novidade enquanto minha garganta começava a arder indicando que eu estava prestes a chorar . Como assim ele tava traindo a minha mãe ? ? Como as coisas chegaram a esse ponto ? ? Desde quando isso tá rolando ? ? Ouço os gemidos dos dois enquanto sinto as lágrimas descerem devagar pelo meu rosto e sinto a mão do cara atrás de mim se soltar da minha boca devagar enquanto eu tentava respirar , enquanto chorava tentando não fazer barulho . . . Eu não fazia ideia do que fazer agora . Estava em choque . Eu saia daqui e enfrentava tudo aquilo ou guardaria aquele segredo pra sempre ? ? O que minha mãe acharia disso ? ? Ele me abraça com carinho e tampa meus ouvidos tentando evitar de que eu ouvisse aquilo mas tudo era difícil demais . Eu já tinha ouvido e agora aquilo estaria na minha cabeça para sempre . Eu já pensei algumas vezes que o casamento dos meus pais não estivesse muito bem por conta das turnês da minha mãe mas . . . eram pensamentos rápidos . Eu não me deixava ser levada por eles porque sempre que ela estava em casa , sempre que estavam juntos , eles pareciam tão felizes . . . Eram almas gêmeas , todo mundo diz isso . A mídia diz isso , eu acredito nisso . . . ou pelo menos acreditava . Será que tudo aquilo é só encenação ? ? Será que sempre foi encenação ? ? Será que é só mais uma invenção deles pra mídia ? ? Será que nada na minha vida é verdade ? ? Começo a sentir minha respiração acelerar mais ainda . Eu já estava cansada da minha mãe dizer que eu era ótima bailarina e seguiria seus passos se nem ela mesma acredita nisso . Tudo o que ela mais faz e me cobrar a perfeição . Eu estava cansada da gente ter que esconder tudo , fingir que o Fábio não faz falta sendo que ele faz . Meu irmão faz falta . Faz falta todos os dias , ele era a única coisa que eu tinha na minha vida que era de verdade , ele . . . ele cuidava de mim . . . ele se importava . . . e agora toda vez que aparecemos na mídia , tenho que fingir que tudo está bem , que me recuperei , mas é mentira . Sinto minhas pernas fraquejarem enquanto ainda me esforçava pra respirar e ele me segura pra que eu não caísse enquanto eu chorava . Ele se abaixa devagar se sentando no chão comigo na sua frente enquanto me abraçava e eu ouço o coração dele acelerado no peito . Ele se importava . . . Ele . . . Ele tinha cheiro de banho recém tomado mas o casaco tinha cheiro de cigarro e menta . Sinto as mãos largas dele em mim me segurando com firmeza enquanto esperava eu me acalmar e passo a mão pelo braço dele subindo na intenção de ir pro seu rosto . Era ele . . . Esse era ele . Como ele era ? ? Como . . . Procuro meu celular rapidamente querendo ligar a lanterna não me lembrando direito como o perdi , mas ele puxa minhas mãos sabendo exatamente qual era minha intenção e me abraça de novo e eu sinto como se aquilo fosse um pedido pra que eu não fizesse aquilo . Ele não queria que eu soubesse quem ele era . . . Sinto a mágoa dentro de mim mas mesmo assim levanto as mãos devagar levando até o cabelo dele . Ele não me impede dessa vez . Se essa for uma tentativa de me distrair do que estava acontecendo lá fora eu aceito . . . aceito . Sorrio um pouco sentindo os cachos largos logo acima da cabeça , não dava pra distinguir se era um cabelo enrolado ou ondulado daquele tamanho , mas eu gostava da textura , o cabelo menor dos lados . . . Sinto a mão dele no meu rosto limpando as lágrimas com cuidado e sinto as borboletas na barriga . Levo minha mão até o rosto dele sentindo a madibula , o nariz fino mas um pouco grande pra frente , reto , não tinha curva , os lábios pequenos , tinha uma entradinha de leve no queixo , a sobrancelha não era tão grossa e os olhos fechados me permitiram sentir os cílios longos . Tinha o pequeno bigode , quase não dava pra sentir . . . Tudo o que indicava é que ele não era velho . Vinte anos talvez ? ? Paro com a mão na orelha esquerda dele sentindo o brinco um pouco surpresa com aquilo e desço a mão pelo pescoço fino sentindo a corrente no pescoço . Qual eram a cor dos olhos ? ? E o cabelo ? ? Que tipo de pessoa ele era ? ? Por muito tempo me perguntei se eu já tinha visto ele mesmo sem saber que era ele mas . . . eu não conheço ninguém que tem uma corrente como aquela . Sinto as mãos dele no meu quadril né puxarem pra perto e desejo nunca mais sair dali . Tudo na minha vida fora daquele closet estava decepcionante demais e não tem ninguém com quem eu queira estar mais do que ele nesse momento .
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