Entrevista

1355 Palavras
Jully Assim que Ares sai do apartamento, tomo um banho rápido para me refrescar antes de me preparar para voltar para casa. Depois de me secar e me vestir, dou uma última olhada no espelho. Minha expressão reflete cansaço, mas também determinação. Saio do banheiro e percorro o apartamento, pegando minhas chaves e celular antes de sair. O ar lá fora está fresco, o que ajuda a clarear minha mente. Sigo em direção ao meu carro e me lembro das peças que Ares mencionou. Ele disse que precisava que eu verificasse os freios e a suspensão. Não fazia muito tempo que havia verificado tudo, então seu pedido me pareceu estranho. – Oi pai – cumprimento, tentando desviar a atenção de sua expressão irritada. – Como estão as coisas por aqui? Ele suspira e me olha com desaprovação. – Jully, eu já te disse que não quero que durma fora de casa. – Me olha severamente. – Não quero ter que te falar isso novamente... – por mais que meu pai ficasse repetindo isso, ele nunca me fazia nada. Ele e meus irmãos ainda me tratam como se ainda fosse uma criança. – Não gosto desse seu piloto de estimação, por que ele se esconde? Que segredos ele tem que guardar? – Pai, por favor, já falamos sobre isso um milhão de vezes, ele tem seus motivos, para ser discreto só isso. Preciso correr, estou atrasada. – A maneira como eles me tratavam me deixava frustrada, mas sei que é porque me amam. Meu pai parece insatisfeito. – Atrasada para o que? – Meu irmão mais velho entra na sala com a namorada da vez. – Por que tem que ser tão curioso? – Mostro a língua para ele. – O Fantasma vai aparecer para a próxima corrida? – A namorada da vez pergunta. – Por que ele nunca aparece em nenhuma das festas? Olhei para ela com ar de poucos amigos. Todas as mulheres queriam saber quem era Ares, o piloto que nunca se mostrava, além da fama, era óbvio que ele tinha muito dinheiro, o que atraia as interesseiras. – Talvez seja melhor se concentrar no que você já tem, do que almejar o que nunca terá. – Forcei um sorriso falso. – Lindinha. Detesto essas mulheres que meus irmãos fingem que são importantes de alguma maneira, cresci vendo os dois quebrar muitos corações e também muitas "Marias Gasolinas" que não dão a mínima para eles de verdade. Meu irmão mais velho lança um olhar de desaprovação para mim, claramente irritado com a minha resposta. Minha língua afiada sempre parece provocá-lo, mas não consigo me conter quando se trata dessas mulheres passageiras em sua vida. – Você não precisa ser tão amarga, Jully – ele responde com um tom sarcástico. – Ah, você sabe que eu sou assim – respondo, dando de ombros. – Afinal, alguém tem que manter essas moças com os pés no chão. Ele revira os olhos e vira a atenção de volta para a namorada. Eu sorrio, satisfeita por ter encerrado a conversa. Com isso, me despeço deles e me encaminho para o meu quarto. “Me encontre na garagem hoje às 22h30, quero saber como se saiu.” Ele sempre consegue fazer com que aquelas malditas borboletas se agitem no meu estômago, tenho que matar cada uma delas constantemente. Odeio o jeito que me sinto perto dele, mas por sorte, gosto demais da sua amizade para querer arriscar. Corro para a entrevista de emprego, tenho a oportunidade de ser secretária de um figurão. Uma amiga minha conseguiu para mim, mas ela deixou claro que o homem em questão tem uma reputação complicada. No entanto, se consigo lidar com meus irmãos e com Ares, esse novo desafio não será um problema. Chego ao prédio onde a entrevista acontecerá. As mãos um pouco suadas, respiro fundo e me dirijo à recepção. A mulher atrás do balcão sorri e me cumprimenta, e eu digo a ela que tenho uma entrevista marcada. Depois de esperar por alguns minutos, sou chamada para a sala onde a entrevista será realizada. O homem à minha frente é impressionante, com um ar de autoridade e um olhar afiado. Ele me faz algumas perguntas sobre minha experiência, minhas habilidades e minha disponibilidade. Respondendo com confiança, tento deixar uma boa impressão. No entanto, à medida que a conversa continua, percebo que ele faz perguntas cada vez mais pessoais. Ele quer saber sobre meus interesses, minha vida fora do trabalho, e até mesmo sobre meus amigos. Estreito um pouco os olhos quando noto que ele está quase invadindo minha privacidade. – Não sei em que será útil saber qual é meu tipo de comida favorito. – Respondo com o olhar firme no dele. – Mas eu gosto bastante de comida oriental. Decido ser honesta, mas também cuidadosa com o que compartilho. Afinal, essa é uma entrevista de emprego, não uma sessão de terapia. Finalmente, a entrevista chega ao fim, e ele me olha com um sorriso satisfeito. – Você parece ser exatamente o que estou procurando – ele diz, enquanto faz algumas anotações em um papel. – Vamos entrar em contato em breve. – Obrigada Sr. Ferri. – Sorrio e estendo a mão para ele me levantando. – Oh, por favor, me chame apenas de Nicolas. Agradeço e saio da sala, sentindo um misto de alívio e inquietação. Por um lado, estou contente por ter impressionado o figurão. Por outro lado, ele estava claramente interessado em algo mais do que minhas qualificações profissionais. Nem acredito que eu realmente consegui, Emily vai ficar realmente impressionada, ela disse que Nicolas não deixou que o RH cuidasse da nova contratação e que ele mesmo estava fazendo a entrevista. Bem, talvez ele não estivesse falando sério sobre entrar em contato. Agora resta esperar para ver se é verdade. Vou direto para a cafeteria que costumo passar de vez em quando, o lugar é tranquilo, um ambiente agradável. – Oi, Jully. – Carina entra sorrindo no jardim onde ficam os banquinhos com pequenas mesas. – Vai querer o de sempre? – Por favor. – Devolvo o sorriso. O jardim é repleto de flores, é como estar na descrição de um conto de fadas, um jardim encantado. Se não fosse pelo barulho da cidade, seria perfeito. Mesmo que eu adore o som dos motores, a adrenalina das corridas e tudo o que vem junto com isso, eu também amo estar em um lugar que traz paz. Enquanto aproveito o ambiente tranquilo do jardim, Carina traz meu pedido: um café e um pedaço de bolo. Sinto o aroma do café fresco misturando-se com as fragrâncias das flores ao meu redor. É um daqueles momentos raros em que consigo relaxar completamente. – Então, como foi a entrevista? – ela pergunta, inclinando a cabeça. Dou um gole no café antes de responder. – Foi... interessante. O Sr. Ferri, ou Nicolas, como ele prefere ser chamado, é realmente impressionante. Ele me fez várias perguntas pessoais, o que achei um pouco estranho para uma entrevista de emprego. Carina arqueia as sobrancelhas. – Perguntas pessoais? Isso é meio invasivo, não acha? Concordo com a cabeça. – Exatamente. Ele estava mais interessado na minha vida fora do trabalho do que nas minhas habilidades profissionais. Foi um pouco desconfortável. Rimos juntas, e isso alivia um pouco a tensão que estava sentindo. Carina sabe que sempre que venho aqui, é porque minha cabeça está uma bagunça, meus irmãos continuam me impedindo de correr, meu pai concorda com eles e isso sempre me deixa triste. – E sobre seu melhor “amigo”? Alguma novidade? – ela pergunta com um olhar malicioso fazendo aspas na palavra amigo. Reviro os olhos, mas não posso evitar o sorriso que se forma em meus lábios. – Nada a compartilhar e não existe essas aspas, ele é meu amigo e só. Carina dá uma risadinha. – Claro, se engane por mais quantos anos for, mas eu sempre vejo esse brilho no seu olhar quando falo dele. Termino meu café e me despeço, o meu melhor amigo não é assunto que compartilho com ninguém, mas Carina é uma boa ouvinte.
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