prólogo
— Eu detesto a arrogância dela, como se fosse a dona do mundo. — Clarência murmurou, seus olhos fixos na figura de Preta, que desfilava com um par de saltos altos Valentino Garavani, banhados a ouro, impossíveis de ignorar. O vestido preto, de gola alta, abraçava sua silhueta esbelta, reminiscente das curvas de uma viola.
— Mas ela é a dona de tudo, por ora. Mantenha a compostura; esses saltos ainda serão a causa de sua ruína. — Inácio replicou, sua voz tingida de acusação e exaustão pela discussão incessante. A verdade era clara: ninguém tolerava a ideia de uma mera criada ascender ao trono.
Preta lançou um olhar triunfante ao casal, sua sombra delineada realçando o brilho vitorioso em seus olhos. A falta de estima deles não a afetava; ao contrário, alimentava seu regozijo.
— Que prazer tê-los aqui. — Ela disse, afastando uma mecha rebelde de seus cabelos castanhos que teimava em acariciar seu rosto oval, de um tom ébano.
— Como poderia ser diferente? Somos família, de sangue nobre. — Clarência cuspiu as palavras, seu nariz arrebitado contrastando com seus olhos azuis pequenos, que lembravam a vastidão do céu. Clarência era uma mulher de beleza notável, apenas um ano mais jovem que a falecida Isabel.
Um sorriso discreto escapou dos lábios de Preta, sinalizando que as palavras de Clarência não a haviam atingido.
— Estamos contentes com o novo rumo de Luiz Felipe. — Inácio interveio, tentando dissipar a tensão criada por sua esposa. Afinal, Preta era sua superiora, e embora a vontade de traí-la não lhe faltasse, faltavam-lhe os meios para destruí-la.
— Isabel teria adorado estar aqui. — Preta falou, nostalgia tingindo sua voz. Ela fez uma pausa, seus lábios carnudos e vermelhos se movendo suavemente — Na segunda-feira, ele começa o treinamento na empresa. — Completou.
— Sim, e eu estarei supervisionando-o nesses primeiros meses, para capacitá-lo a compreender o funcionamento do setor financeiro. — Inácio afirmou.
— Perfeito. Com licença, preciso cumprimentar o vereador. — Preta disse, seu olhar seguindo o homem robusto que acabara de chegar ao jardim imperial, onde a celebração ocorria.
— Não suporto mais essa humilhação, deve haver algo errado com essa mulher. — Clarência resmungou, desdenhosa.
— Já investiguei tudo. Vamos dar tempo ao tempo. — Inácio tranquilizou-a, saboreando um gole do vinho produzido na vinícola. O Vale do Douro era o maior produtor de vinho do país, inigualável na região, e agora sob o comando de uma mulher cujas origens eram um mistério.
Naquela tarde, a mansão luxuosa no quintal parecia um cenário saído de um conto de fadas. O sol dourado banhava as paredes de pedra, criando sombras suaves e realçando os detalhes arquitetônicos. O jardim exuberante estava repleto de flores, e as rosas, em particular, eram as favoritas de Isabel.
Os convidados da alta sociedade chegavam em seus carros elegantes, cumprimentando-se com sorrisos e gestos corteses. As mulheres usavam vestidos esvoaçantes, e os homens, ternos impecáveis. Todos sabiam que estavam prestes a participar de algo especial.
Dentro da mansão, o salão principal estava decorado com requinte. Lustres de cristal pendiam do teto alto, lançando reflexos prismáticos nas paredes. Os móveis eram uma combinação de antiguidades e peças modernas, criando um ambiente acolhedor e sofisticado. Isabel sempre prezou pelo bom gosto, e sua influência estava presente em cada detalhe.
As rosas eram o tema central da festa. Elas adornavam os centros de mesa, os corrimãos das escadas e até mesmo os guardanapos de linho. A fragrância doce pairava no ar, envolvendo os convidados em um abraço floral. Isabel costumava dizer que as rosas eram símbolos de amor e beleza, por essa razão em todos eventos não faltam rosas nas decorações
À medida que a tarde avançava, os convidados se reuniram no jardim. O sol começou a se pôr, tingindo o céu de tons de rosa e laranja.
Preta consultou seu relógio de ouro, um modelo clássico com um toque moderno dado pelo mostrador branco.
Era um presente de Isabel, o primeiro de muitos. A empresa enfrentava desafios financeiros, mas a paixão de Preta pela viticultura, adquirida ao lado de sua Senhora, revelou-se um talento inesperado. Sua compreensão profunda da complexa arte da vinificação surpreendeu até os mais experientes, e Isabel, reconhecendo seu potencial excepcional, ofereceu-lhe a chance de uma vida: administrar seu próspero vinhedo.
[....]
Enquanto isso, Preta encarou Consuelo, a governanta da casa e sua substituta desde que assumira a administração da vinícola. Apesar de suas novas responsabilidades, Preta continuava a cuidar da casa e dos filhos de Isabel, agora crescidos, mas ainda vistos como crianças por ela.
— Onde está Luís Felipe? O banquete deve começar. — Preta perguntou, insatisfeita, ciente de que Luís Felipe estava aprontando algo.
— Senhora, ainda não o vi desde a cerimônia de formatura... — Consuelo respondeu, temerosa, pois sabia que sua senhora não tolerava falhas. Preta não se deu ao trabalho de ouvir mais desculpas, afastou-se da multidão e seguiu pelo caminho de pedras entrelaçadas com grama sintética até a garagem, onde uma coleção de carros de luxo estava alinhada.
Ela se aproximou do Rolls Royce Phantom, cujos vidros laterais estavam embaçados. Segurando a maçaneta cromada, Preta abriu a porta e se deparou com uma cena íntima, os dois jovens flagrados corando de vergonha.
— Dou-te 5 minutos para se organizar, 5minuto Luís Felipe — Ela ordenou, seus olhos ardendo com uma fúria quase palpável.
Assim que se virou, ouviu uma risada abafada. Preta retornou ao jardim, onde a atmosfera era agora suave, graças ao saxofonista que enchia o ar com sua melodia doce e delicada.
Não era apenas a música que era suave; o toque gentil e o movimento sutil de sua língua traziam lembranças calorosas da noite anterior. Preta suspirou, perdida em pensamentos.
Quando a música cessou, Luís Felipe fez uma entrada triunfal, e o coral imediatamente mudou o ritmo para uma melodia mais animada. Ele subiu ao palco acompanhado de Larissa, sua namorada.
Luís Felipe se aproximou do microfone e entregou o bastão a Larissa.
— Minha mãe era uma mulher de paz e luta, seus últimos dias foram serenos, ela buscava transmitir calma. Queria tanto que ela estivesse aqui para ver mais um passo da minha jornada; a ela devo tudo. — Ele discursou, sua voz solene tocando o coração de todos. Sofia, a caçula, abraçou seu irmão, e Preta sinalizou para Otávio se juntar a eles, intensificando a emoção da cena, uma imagem perfeita para os investidores.
Tudo estava impecável até que a atenção dos irmãos foi capturada por algo no centro da multidão, deixando todos curiosos. Preta seguiu o olhar deles e lá estava ele, vestido com um terno azul italiano que realçava sua musculatura definida, seus cabelos castanhos penteados com precisão...