Prólogo. Não chore mais - Parte 1
Aviso importante:
Esta história, apesar de ser um romance, contém diversos gatilhos. Por isso, recomendo que leiam com atenção e respeitem seus próprios limites. Se, em algum momento, sentirem desconforto, não se forcem a continuar.
A trama aborda temas sensíveis, incluindo tentativa de suicídio, violência doméstica, traição, agressão, cárcere privado e cenas explícitas de sexo.
Sendo assim, trata-se de uma obra destinada a maiores de 18 anos.
Agradeço por escolherem me apoiar nesta jornada e espero que apreciem a leitura.
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Carolina
Velórios são macabros.
Não importa quanta dor esteja em seu coração, as pessoas querem que você continue encarando repetidamente o corpo dentro do caixão, esquecendo-se de que o morto ali já foi alguém que fez seu coração sorrir.
"Mas de que importam os sorrisos?" Me pergunto.
Faz muito tempo que me esqueci dos motivos para dá-los.
Por isso, deixo que as lágrimas espessas rolem pelo meu rosto sem controle. Talvez seja esse o único momento em que posso chorar sem ser criticada.
Meu marido, Thiago, odiava o quanto eu chorava quando nos casamos. Ainda que tivesse todas as justificativas do mundo para liberar minha dor através das lágrimas, o belo anjo que se mostrou como um salvador para minha família em um momento difícil tornou-se o demônio que devoraria minha alma.
Ele me observa de canto, me vigia para ter certeza de que não estou tentando me aproximar de ninguém, que não tento explicar os verdadeiros motivos que me fazem chorar hoje.
Perder meu pai foi um grande choque. Ele e minha mãe eram tudo que me restava. Achei que, se esperasse pacientemente, encontraria um meio de contar a eles o que estava acontecendo comigo, que poderia me livrar de Thiago. Entretanto, na viagem para me encontrar, meu pai sofreu um acidente e perdeu a vida.
Se Deus tem seus preferidos, o demônio também tem.
Mesmo estando no carro com meu pai, Thiago saiu apenas com escoriações leves, enquanto meu herói perdeu a vida.
Sinto novamente o peso de seus olhos sobre mim.
Não sei o que ele disse aos convidados, mas enquanto olho para dentro do caixão, todos me evitam como se eu carregasse uma praga.
Não querem nem ficar no mesmo espaço que eu.
Queria, ao menos, ver minha mãe, confortá-la.
Meu pai era o seu mundo. Se meu coração dói desse jeito, imagino o que ela deve estar sentindo, como sua mente deve estar nublada. Mas tem sido difícil vê-la. Ela entrou em choque ao receber a notícia, passou um dia inteiro dormindo, e eu fui tratada como a filha ingrata que não a visitou—quando, na verdade, o único motivo para minha ausência foi meu marido.
Ele é a causa de todas as minhas dores que não estão ligadas à morte do meu pai.
Sem a permissão de Thiago, não posso sair de casa. Ele sempre manda um de seus cães de guarda me acompanhar, porque sabe que eu tentaria fugir. Não seria a primeira vez. Desde o início dos abusos, tentei escapar várias vezes, mas a segurança da mansão sempre impediu que eu levasse meu plano adiante.
Thiago queria mais do que a empresa quando fez um acordo com minha família. E conseguiu.
Os Ferreira de Castro são uma família grandiosa pelo império que construíram com a produção de soja, enquanto meus pais estavam em ascensão no mercado de alimentação saudável. Nosso nome era reconhecido pela produção de alimentos de qualidade, seja para quem tem alergias ou para aqueles que escolhem um estilo de vida diferente, como o veganismo. A Lifebio era uma parte imensa da vida do meu pai.
Devido a um desfalque cometido por seu melhor amigo, meu pai se viu afundando em dívidas que não poderia pagar sem vender tudo o que tínhamos. Busquei soluções por todos os lados, mas Thiago nos encontrou primeiro.
Já tínhamos uma relação comercial com sua família. Eles nos forneciam ótimos produtos e, ao perceber nossa situação piorando, ele sugeriu um contrato de casamento, que nos garantiria o dinheiro necessário para manter o negócio—desde que eu permanecesse casada com ele até que todo o montante fosse devolvido.
Meu pai odiou a ideia. Minha mãe gritou, dizendo que eu não precisava fazer algo assim. Mas Thiago garantiu que queria uma esposa apenas para acalmar seus pais. Uma mentira conveniente que o livraria de aborrecimentos por um tempo.
Eu, ingênua, acreditei que tudo não passaria de um acordo comercial e não percebi a malícia escondida por trás de seus olhos brilhantes.
Não seria necessário fazer uma cerimônia. Eu não precisaria cumprir nenhum dever matrimonial. Poderia continuar ajudando meu pai. E isso funcionou… no primeiro mês.
No instante em que percebeu que a empresa começava a caminhar bem, ele revelou sua verdadeira face.
Nossos encontros — apesar de morarmos na mesma casa apenas para manter as aparências —, que antes se limitavam a cumprimentos e pequenas conversas, tornaram-se o estopim para discussões intermináveis. Até que, em uma dessas brigas, Thiago ergueu a mão e me golpeou com toda a força, sem se importar com o gosto do sangue em minha boca.
Eu teria o abandonado naquele dia. Mas ele viu em meus olhos que eu escaparia, que não deixaria sua violência impune. Então, me impediu de levantar. Apenas bateu mais, garantindo que eu não pudesse sair sem ajuda.
Lembro-me claramente do olhar do médico que veio me atender no dia seguinte.
Ele não ficou surpreso com o que viu. Não se importou nem um pouco com meus pedidos de ajuda, com minhas súplicas para que fizesse algum sinal, qualquer coisa que indicasse que tentaria me salvar.
Não houve nada disso.
Apenas mais uma ilusão.