A FILHA DO REI

SASHA O mundo ao meu redor é um borrão. Comecei a me sentir estranha no caminho de volta do almoço. Cansada, nebulosa, minha cabeça pesada e meus membros estranhamente dormentes, com rajadas de alfinetes e agulhas. Eu atribuí isso ao estresse, exaustão. Deus sabe que eu tive o suficiente de tudo isso. Até a náusea que senti ao sair do carro poderia ser explicada por isso. Mas não do jeito que minhas pernas cederam debaixo de mim, me fazendo desabar no chão enquanto a escuridão avançava. Senti Max me pegar. Ouvi sua voz chamando meu nome. Mas eu não podia vê-lo. Não foi possível responder de volta para ele. Eu não podia fazer nada, exceto cair mais fundo na escuridão me engolindo inteira, e eu estava apavorada. Eu não queria morrer. Eu já sobrevivi tanto. Meu sequestro na Rússia e envio para os Estados Unidos como carga humana. Meu abuso e violação no armazém por um homem destinado a me proteger, não me tomar para si. Sendo levada de volta para a Rússia, um lugar que pensei que nunca mais veria, para minha própria segurança - apenas para acabar capturada mais uma vez nas mãos de um homem tão mau, pensei que poderia morrer em seu esconderijo frio nas montanhas. Eu suportei ser abusada mais uma vez. Colocada à venda mais uma vez. Até que fui salva mais uma vez - por um homem com as mãos manchadas de sangue e um coração culpado por quem me apaixonei ... e que diz que não pode me amar de volta. Agora estou em seus braços. E eu nem consigo aproveitar. Perco a consciência, sentindo mais do que vendo. O choque dele me carregando escada acima até a casa, me segurando contra seu peito como se ele pudesse me salvar apenas me segurando perto dele. Eu ouço o som de portas se abrindo, sua voz frenética como se eu estivesse ouvindo por um longo túnel, as palavras perdidas, mas o sentimento de seu medo permanecendo. Ele está com medo por mim. Eu também estou com medo. Eu nunca me senti assim antes. Eu fui drogada no passado, mas isso parece diferente. Sinto-me m*al do estômago, febril, como se o mundo estivesse girando sem parar e ao meu redor. E se as mãos que me carregam não forem de Max? E se tudo isso for um sonho e eu ainda estiver no armazém? Terror me inunda com essa memória. As mãos que me seguram são duras e insistentes, e me lembro de outras mãos que me seguraram sobre uma pilha de caixotes, uma mão áspera e suada sobre minha boca, abafando meus gritos e súplicas. Outro na minha carne, abrindo minhas pernas, o peso de um corpo. Mas ele fedia a suor e odor corporal, e tudo o que sinto agora é sal e limão, um calor que me diz que estou segura. Sasha. Sasha! Por favor, diga alguma coisa se você pode me ouvir! Eu posso ouvir. É o Max. Alívio toma conta de mim, sabendo que é ele. Ele vai me manter segura. Ele sempre mantém. Mas não posso responder. Não posso deixá-lo saber que ainda estou aqui, presa na escuridão. Eu posso sentir isso me sugando, me puxando, tentando me arrastar ainda mais para baixo. É assim que se sente ao morrer? Já pensei que ia morrer antes. Quando o avião de carga que nos levava para os Estados Unidos - meu primeiro voo - passou por uma turbulência e balançou de um lado para o outro, deixando as mulheres dentro dele vomitando e agarradas umas às outras. A maioria de nós nunca tinha estado em um avião antes. Todas nós estávamos acordando de uma droga. Todas nós ficamos apavoradas. Um flash de memória volta para mim, brilhantemente vívido na escuridão, dos homens nos transportando andando pelo corredor, nos drogando novamente para nos manter quietas e calmas. O medo que senti, pensando que o avião cairia enquanto eu estava drogada, impotente para fazer qualquer coisa a respeito. Que eu iria dormir e nunca mais acordaria. É assim que me sinto agora, enquanto a inconsciência me puxa. Como se fosse isso. Tento me concentrar nas mãos e na voz de Max, para me erguer na direção da faixa de luz que vejo. Mas não adianta. Eu não sou forte o suficiente. Talvez eu nunca tenha sido. Tento chamar seu nome, implorar por ele. Para mantê-lo aqui comigo. Mas não consigo emitir nenhum som. Sinto frio e isso me leva de volta à casa segura de Alex. Sinto-me impotente, meu corpo doendo até os ossos, e tudo o que sinto é náusea e dor, o medo de que talvez nunca tenha escapado. Sinto a dor em meus braços, pendurado em seu gancho, o golpe ardente de seu cinto em minha carne nua. Sinto as lágrimas em meu rosto, sinto o gosto de sal em meus lábios, a culpa e a vergonha quando implorei a Caterina que cedesse para que a dor parasse. Eu não aguentava mais. Eu tento implorar, agora. Para a dor, a queimação, a doença parar. Para alguém me deixar sair desta jaula em que estou presa, escura e sozinha e me sentindo como se estivesse morrendo. Mas não consigo fazer as palavras saírem. Eu não posso me mover.