DESEJO OBSCURO

Designer de moda. Era esse o meu verdadeiro trabalho dos sonhos e não ser apenas uma garçonete que trabalhava 10hs por dia em uma lanchonete caindo aos pedaços e que fedia igual os banheiros públicos. Fiz a faculdade como bolsista em uma universidade perto de casa, onde morava com minha mãe e meu irmãozinho de 10 anos, Simon. Sempre me esforcei bastante para conseguir dar um futuro digno pra minha mãe que no momento estava desempregada, sempre fui atrás de qualquer coisa para ter o que comer em casa, mas no momento estava difícil trabalhar com o que eu queria e precisava de um emprego que desse pra sobreviver e o dinheiro de garçonete já dava para o básico. Já tentei trabalhar como costureira aqui pelo bairro mas não valia muito apena só focar nisso, fazia por fora pra ganhar uma graninha extra. Depois que minha mãe sofreu um acidente de carro há 3 anos ela nunca mais conseguiu um emprego por que ela precisava andar sempre com uma bengala ao seu lado. O motorista fugiu assim que causou o acidente e sem a indenização eu tinha que trabalhar o dia todo para ter o mínimo em casa para comer. - Já estou indo mãe. - Dou um beijo em seu rosto enquanto ela estava sentada tomando seu café da manhã. Olhei no relógio do meu pulso e vi as horas. - Estou atrasada. - Bom trabalho filha. A lanchonete em que trabalhava era um pouco perto de casa, precisava caminhar uns 5km até lá. Enquanto andava apressada cumprimentei algumas pessoas que via pela rua. - Oi Sallynha. - A vizinha me para na rua com um sorriso no rosto. Ela era uma senhorinha já de idade e tinha seus cabelos bem branquinhos. - Quando tempo menina, está bonita. - Obrigada Eliz. - Dou um sorriso simpático. - Eu fui na sua casa esses dias mas sua mãe falou que você não tava, acho que estava trabalhando. - É, eu acho que sim. - Você arruma essa barrinha dessa blusa pra mim? é a blusa favorita do meu marido e o docinho rasgou, você sabe minha visão não está me ajudando muito esses dias. - Ela dá uma risadinha e eu sorrio. Docinho era seu cachorrinho que ela andava por todo canto com ele, era uma gracinha. - Já foi no oftalmologista Dona Eliz? - pergunto preocupada. - Que nada menina, eu vou fazer um chá verde que eu olhei em uma revista que é bom para as vistas. - Ela dá uma piscadinha. - Ok dona Eliz. - sorrio com a sua mania de tomar chás. - Me dá a blusa que eu faço e a senhora já pode passar lá amanhã pra buscar. - Muito obrigada menina. Agora deixa eu te soltar por que você ainda tem que ir pro seu trabalho. Tenha um bom dia. - Obrigada. Continuei minha caminhada e cheguei na Hob's Lanches. - Mais um dia no inferno. - falei para mim mesma. - Sem papo furado, hoje estamos cheios de clientes por causa do jogo. - Reviro os olhos e vou até meu armário colocar meu avental. Hob era um cara grande e tinha uma cara bastante fechada, possuía uma barba tão grande que era impossível de ver a metade de seu rosto. - Sem clima pra trabalhar? - Miguel, meu colega de trabalho pergunta aparecendo do meu lado. - Sempre. - Dou um sorriso. - Acho que se mais um bêbado querer bebida grátis eu perco a minha sanidade. - Nem me fale. Arrumei meu cabelo e fui atender os clientes. O dia estava bastante animado e com muito alvoroço por conta desse jogo que eu nem sabia quem estava jogando. As horas passaram devagar e eu pensei que esse dia fosse ser eterno. Quando escureceu senti uma emoção grande por saber que faltaria menos de 1 hora para ir embora. - Tá viva? - Miguel se encostou no balcão ao meu lado enquanto eu passava a mão na testa. Estava ofegante e cheirava a óleo. Ew. - Infelizmente, mas você tá na mesma situação que eu. - O Hob já saiu e pediu pra gente fechar a lanchonete. - Vamos lá. Peguei minhas coisas e saímos trancando tudo. A rua estava um deserto e escuro. Não tinha nem sinal dos carros. - Eu te acompanho até sua casa. - Ok. Fomos andando até em casa e estava bastante frio, nem imaginei estar assim por que ontem estava com uma temperatura melhor então nem supôs em trazer meu casaco hoje. - Toma, você está tremendo. - Encaro seu rosto e ele parecia estar confortável com a temperatura. - Obrigada. - Pego e me visto imediatamente. - Você conhece o Hob há muito tempo? - Ele pergunta erguendo suas sobrancelhas em dúvida. - Meu pai era amigo dele de infância. Foi ele que me arrumou esse emprego. - Ele parece não gostar muito de você... - É eu sei, mas eu também não suporto ele. Ele ri. - Mas o que você sonha em ser daqui alguns anos? - Na verdade eu sonho em ser estilista. É o que eu realmente quero. É isso que eu amo e gostaria de fazer. Mas no momento é apenas isso que me resta. - suspiro olhando para as minhas roupas velhas e sujas de bebida. - Você é determinada e inteligente, você vai conseguir. - Obrigada. - Dou um sorrio tímido. - Bom chegamos, sua casa parece ser bem aconchegante. - Ele põe suas mãos dentro do bolso da calça e da uma visão geral da minha casinha. - Isso seria uma indireta para eu te convidar para entrar? - Olho suspeita. - Não, se não eu mesmo já teria sido direto. - Uau. - Tô brincando. Já está tarde, te vejo amanhã. - Aqui seu casaco. - Falo já o tirando. - Pode ficar, amanhã você me entrega. Boa noite Sally. - Ele me dá um beijo na bochecha e sai. Dou um sorriso bobo e entro. Estávamos sendo apenas colegas por todo esse tempo e hoje foi bastante inesperado. Fiquei feliz por saber que ele era legal e até cavalheiro.